sábado, 24 de julho de 2010

VOTE NUMA MULHER E MUDE A REALIDADE

Mulheres são maioria entre o eleitorado brasileiro, mas apenas 21% dos candidatos a deputado estadual e federal este ano são mulheres. A cota de 30% como um número desejável de mulheres na política foi estabelecida em 1996, e nunca nem chegou perto de ser alcançada. Na maior cidade do país, São Paulo, há 55 vereadores. Quantas mulheres? Cinco. Essa discrepância se repete em todo lugar, e fica maior ainda se analisarmos que, pela primeira vez na história, temos a chance real de eleger uma mulher para presidente.
José Roberto de Toledo escreveu um ótimo texto para o Estadão sobre essa gritante falta de representatividade. Pelos dados que ele levanta, os partidos políticos se comportam como um verdadeiro Clube do Bolinha. É só ver quantas mulheres fazem parte da Executiva Nacional de cada partido:
No DEM, há 57 membros – 4 são mulheres.
No PSDB, há 42 membros – 4 são mulheres.
No PMDB, há 25 membros – 2 são mulheres.
No PT, há 21 membros – 6 são mulheres.
O PT é que o mais se aproxima da cota dos 30%, mas ainda falta. Segundo Toledo, “Fecha-se um circuito viciado: homens preterem mulheres no preenchimento das chapas partidárias, menos mulheres são eleitas, homens mantêm a maioria dos cargos de mando dentro dos partidos. Perpetua-se o machismo.
Se você acha que a situação tá ruim nessa falta de representatividade para deputado estadual e federal, saiba que para os outros cargos é ainda pior: para o Senado, apenas 13% dos candidatos são mulheres. Para governador de Estado, 11%. Esta desigualdade existe em quase todos os lugares do mundo, e todo país que se preza luta contra ela, inclusive o Brasil. Mas ela não parece diminuir por aqui. Na Argentina, primeiro país da América Latina a permitir o casamento de homossexuais, há três vezes mais mulhers no Congresso do que aqui.
Não ter representantes mulheres é um grande problema, e não só pras mulheres, mas pra sociedade como um todo. Toledo cita um relatório das Nações Unidas, que deixa claro que as mulheres na política privilegiam a família e as crianças. Essas mulheres sugerem e aprovam leis mais voltadas ao fórum doméstico, que afeta a todos nós. E têm focos diferentes dos congressistas homens. Como, na pobreza, mulheres e crianças são mais afetadas que homens, se diminuirmos a desigualdade entre os sexos, automaticamente diminuiremos a pobreza. Uma das causas do sucesso do Bolsa Família, por exemplo, é que o benefício é pago diretamente para a mulher, e não para o homem. Mulheres têm maior capacidade de controlar o orçamento.
Mais um bônus de ter mais mulheres na política: estudos “correlacionam o aumento da participação feminina no poder com menores níveis de corrupção”, segundo Toledo.
Portanto, se há tantas vantagens para a sociedade como um todo (ou diminuir a pobreza não é uma vantagem?) em aumentar a participação das mulheres na política, por que isso não acontece? Bom, esta semana Serra deu sua explicação. Ele disse que gostaria de ver mais mulheres na política, mas "mulher não tem disponibilidade de tempo, tem a maternidade, vários fatores que complicam". E completa: "Diferente dos homens, em geral, elas têm três empregos: trabalham fora, cuidam das crianças e às vezes têm que cuidar do marido” (e o marido está liberado pra ter amantes, né, Serra?, desde que seja discreto). Pra fazer bonito na fita, Serra ainda disse: “Mas para a política brasileira, seria muito bom ter mais mulheres parlamentares sem dúvida nenhuma”. Note o detalhe: parlamentares. Mulheres presidentes, jamais!
Tudo na nossa vida é simbólico. Toda a linguagem é simbólica. Quem acha que ter uma presidente mulher não afeta as meninas não sabe o que está dizendo. Se Dilma vencer (Marina não tem chances de verdade), será uma nova geração de garotas que vai crescer sabendo que o cargo máximo da nação não é só pra homens. Muitas que crescem com o sonho de virar top models ou arranjar um marido rico (as opções dadas às mulheres: usar sua beleza ou sua maternidade) podem mudar de sonho. E vislumbrar um cargo que lhes permita mudar a condição de outras mulheres. E homens. E crianças.
Dilma não veio do nada. Ela foi a ministra mais poderosa do governo no segundo mandato de Lula. E tem como padrinho o presidente mais popular da história do Brasil. Mas, infelizmente, ela é um caso isolado. Com sua vitória, pode até acontecer de termos mais representantes femininas em outras áreas da política. Mas a gente precisa contribuir: analise bem tod@s @s candidat@s, principalmente para deputad@ estadual e federal. Veja o histórico de cada, o que ess@ representante aprovou, quais suas linhas de ação. Procure também votar no partido, já que inúmeras vezes, os congressistas votam fechado, de acordo com a determinação de cada partido. Mas analise bem, e veja se, no seu Estado, há opções de candidatas mulheres. Eu ainda não sei em quem votar (sou nova no Ceará) pra deputad@ estadual e federal, mas será numa mulher.

20 comentários:

  1. Hum, acho que seu post está com uns non sequitur... E fico feliz de vc votar no Ceará, em vez do Maranhão (da Roseana Sarney) ou no Rio de Janeiro (da Rosinha Garotinho). Nem sempre mulher é mudança e, nesses casos citados, nem sempre mulher no poder é mulher no poder. E se o PSDB estivesse com uma candidata, e o PT com um candidato? Pra mim, plano de governo 1o, histórico na política em 2o, sexo lá no fim da lista, se é que entra na lista. Ou seríamos sexistas de qualquer maneira.

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  2. Natália, já deixei claro dezenas de vezes que não voto numa candidata só por ela ser mulher. Há um monte de fatores pra se levar em conta na escolha de um candidato. Mas um desses fatores pode ser o gênero. UM dos fatores, não o único fator. Eu jamais votaria numa Roseane Sarney, Yeda Crusius, Rosinha Garotinho, Angela Amin etc. Mas estamos falando de governadoras. Na disputa para o legislativo, há vários nomes de mulheres. Por que não escolher uma delas, desde que (como pus no post) ela tenha uma linha de ação que vc aprove e seja de um partido com que vc simpatize?
    Eu não voto em PSDB/DEM, ou em outros partidos como PP e PMDB. Mas não teria problema em votar no PSOL ou PSTU (partidos mais à esquerda que o PT).
    Como DEM e PSDB tem muito menos mulheres em seus quadros que os partidos mais à esquerda, fica mais fácil chegar a essa equação de "boa linha de ação" com "votar em mulher pra melhorar a representatividade". É só votar na esquerda.

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  3. Auxiliadora Vasconcelos24 de julho de 2010 às 15:33

    Penso que é importante mulheres no poder. Claro que algumas mulheres chegam ao poder através de maridos, pais, familiares que muitas vezes de fato governam. Aqui no Ceará temos uma senadora, que agora é candidata a deputada estadual que nunca saiu debaixo da asa do ex-marido Ciro Gomes, depois do Tasso e agora do cunhado Cid. Acho lamentável pois ela já teve muitas condições de se emancipar ideologica e politicamente. Abraçar projetos mais avançados e com autonomia.
    Dilma é uma mulher que tem história, construída por ela própria isso nos dá garantias, segurança sobre seus posicionamentos e conduções das problemáticas e soluções nacionais.
    É bem verdade que há homens sensíveis às questões das mulheres e à participação da mulher na política e no mercado de trabalho.
    No momento não vejo no Ceará uma candidata que eu possa pactuar com as idéias progressistas (não sectárias e ou sexistas). Infelizmente só votarei em uma mulher para presidente e meus outros candidatos, dep. estadual, federal senadores e governador serão homens. Más contribuo com minha militância política para ver essa realidade diferente. Um abraço.

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  4. Marina jamais pode ganhar, senão isso aqui vira uma ditadura evangelica que nem é no Irã.

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  5. Lola,

    A Natália e Auxiliadora tocaram em um ponto importante que acho que faltou no texto: a grande maioria das mulheres que estão na política serve como testa de ferro dos homens. Aqui mesmo na minha cidade uma candidata do PT conseguiu se eleger como deputada estadual porque o marido era prefeito. Penso que isso é pior do que não ter o percentual de mulheres, porque os números podem mascarar uma realidade sórdida: políticos que colocam as suas filhas, mulheres e até mães na campanha para se locupletar ainda mais (Roberto Jefferson tem uma filha na política, Garotinho tem mulher e filha, e por aí vai). Por isso mesmo a Dilma é tão emblemática, mesmo que a oposição insista que ela é uma criação de Lula, nós sabemos que ela é o braço forte do governo e não o contrário.

    Abraços,

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  6. Concordo com a Natália. Pra que colocar gênero como fator? Aí existem 2 candidatos com o mesmo plano de governo, um homem e uma mulher. Tenho que colocar gênero como fator e depois ver a pessoas em que votei desviar milhões pra casa, apartamentos e viagens para japão com a sua galera?

    Acho extremamente errado usar isso. Assim sendo, votarei em candidat@s baseado nos mesmos fatores da Natália. Não me importo se for homem ou mulher. O que eu quero é um representante no legislativo e na presidência. O gênero não importa.


    Blé blé blés, não sei em quem voto pra ser presida. :/

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  7. Gente, desculpe, mas não considero muito válido esse argumento de “tem que ver como a mulher entrou na política, se foi através do pai ou marido”. Por que isso só é importante quando falamos de candidatas mulheres? Como os candidatos homens entram na política? Muitos entram por causa do pai. Todos têm um padrinho político. Eleger-se (mesmo pra vereador) é algo caro, a campanha é cara, e sempre há muitos candidatos (inclusive dentro do partido, na própria seleção de quem sairá candidato). Começar na política porque o marido foi/é político, pra mim, não quer dizer grande coisa. Tem que ver se a candidata conseguiu seguir vida própria. Marta Suplicy, por exemplo, começou através do marido, Suplicy, mas esse foi só o começo. Ela não se elegeu prefeita de SP (um cargo que seu ex-marido nunca conseguiu alcançar) por causa do Suplicy, certo? Por mais que eu não goste de mulheres de direita, como Roseane, Rosinha, Angela Amin etc, elas têm vida própria, independente do pai/marido que as colocou na política (quer dizer, quem as colocou foi o povo, mas quem as iniciou, quem ajudou, quem apoiou, foram os respectivos pais e maridos). Ana, colocar a mulher, filha, mãe etc (assim como o filho, sobrinho, genro etc) para um cargo de confiança, no gabinete, por exemplo, é NEPOTISMO. Aí temos que ser contra. Inclusive a lei impede. Mas nesse caso não há votação popular, é indicação mesmo. Como cada candidat@ se faz é totalmente diferente. E, pra mim, não importa. (no caso da Patricia Saboya, senadora do CE, não conheço o que ela fez. Pra senador, provavelmente votarei no Pimentel mesmo).

    Valney, por que colocar gênero como fator? Vc não leu meu post? Vou repetir: porque é importante que as mulheres tenham maior representatividade (MÍNIMO 30%). E por que é importante? Porque mulheres tendem a privilegiar ações e projetos que afetam mulheres e crianças, enfim, a família. Porque a maior parte das pessoas afetadas pela miséria é justamente mulher e criança. Diminuindo-se a desigualdade, diminiu-se a pobreza. Isso não são eu que estou dizendo. Há montes de estudos.

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  8. Lolinha,

    descobri outro dia que aqui só não dá para votar em mulher para senador. Presidenta - dilma, é claro. Governadora é uma mulher bem legal, com poucas chances, mas que merece meu voto. Deputadas federal e estadual com muitas chances de ganhar - ambas do PT. A deputada federal é ótima, já votei nela duas vezes e não me arrependo de forma alguma. A deputada estadual é estreante mas tem o apoio da federal e é do PT.
    Para o senado tem uma mulher, mas q não merece o meu voto. Vou votar em dois homens, um eu já conheço, não é grandes coisas, mas é progressista e apoia a dilma. O outro é um cara bem legal, estreante...não deve ganhar, mas acho que a gente tem que votar na pessoa mesmo sabendo que as chances de vitória são pequenas. É uma forma de mostrar que estamos atentos!

    Para conhecer os nomes de todos e até simular seu voto, vá ao site:

    http://tvoto.virtualnet.com.br/

    É bem legal!

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  9. Eu li, lola.

    Só não acho uma justificativa considerável. Não nesses termos.

    Enfim, o que eu estou tentando dizer é que eu concordo com você ao dizer que precisamos de mais mulheres na política, mas pra mim eu prefiro o mérito próprio.

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  10. >Pra mim eu prefiro

    Piauiense detected.

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  11. Essa coisa de mérito próprio é o mesmo argumento que usam contra as cotas, só que ninguém para pra pensar que ele já é utilizado há trocentos anos e ainda não funcionou!

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  12. Por essas e outras que achei muito legal a frase da Dilma sobre o fato de uma mulher ganhar a presidência faria com quem mais meninas sonhassem com isso... crianças e adolescentes, se pautam muito pelo exemplo que tem... Penso que o cenário político deve ser o mais diversificado possível, já que por mais que um político esteja bem intencionado, quem melhor pra entender as necessidades de determinado "grupo" que representantes legítimos desse grupo?

    Bjus Lola!!!

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  13. Oi! Você chegou a ler o texto do VioMundo sobre sexismo e Dilma? Muito interessante também. O título é Sexismo emburrece e mata.

    Meio longe, mas compensa a leitura.

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  14. "Se Dilma vencer (Marina não tem chances de verdade)"

    1) Você nao quer que seus leitores votem "numa mulher", você quer que eles votem na Dilma

    2) Eleição não é corrida de cavalo. Você não tem que votar em quem vai ganhar, você tem que votar em quem, na sua opinião, é o melhor candidato INDEPENDENTE DO SEXO

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  15. Só pra detalhar, o PT tem cotas na sua direção antes da legislação eleitoral. O I Congresso do Partido definiu isso em 1990, aliás foi a única defesa feita por Lula numa instância superior (congresso e encontros nacionais) na História do PT.
    Sempre há um stress na hora de definir as cotas, mas há outro fator a ser observado, sem os cargos de presidente (eleição separada), líder no senado e líder na câmara (definidos por rodísio menor que o mandato dos dirigentes), a cota fica obedecida

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  16. Lola, se o projeto da candidata realmente é interessante na linha de mais apoio às famílias pobres, sim, votemos nela. Agora, supor que a candidata desconhecida terá esse tipo de projeto porque ela nasceu com o dobro de cromossomos X do opositor, aí já é demais. Não importa quantos estudos afirmem que políticas mulheres tendem a se preocupar mais com esses assuntos (aliás, se você pudesse me apontá-los, eu ficaria grata, que realmente sou mto ignorante em ciências políticas), na hora de votar, não se pode votar com base numa estatística dessa, não é? Vai que a dita cuja é justo o ponto fora da curva.

    Ah, sim, vc já deixou claro q não vota por ser mulher. Mas neste post em específico pareceu o oposto, e por isso que eu, que não costumo vir dar pitaco, senti que tinha de me manifestar.

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  17. Lola, talvez fosse o caso de se pensar se, ao invés de fixar um percentual mínimo para candidaturas, não seria o caso de fixar um percentual mínimo de ELEITAS. Talvez aí os partidos realmente investissem na abertura de seus quadros e no fortalecimento das ações ligadas à inclusão da mulher na política...

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  18. Adwilhans, mas como seria possivel estabelecer um numero obrigatorio de eleitas??

    Quer dizer, a eleição só teria valido se um tanto de mulheres alcançassem o cargo?

    Candidatas teriam necessidade de uma quantia menor de votos do que os candidatos?

    Uma quantia de vagas nas Camaras e no Senado seriam reservadas com exclusividade a mulheres?

    Enfim como seria?

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  19. Você está errada!
    A cota de 30% para as mulheres não é para os cargos eletivos e sim para as as CANDIDATAS a uma determinada eleição!
    E isso é tão sério, que se um partido não atingir essa cota, será tirado um homem da candidatura para manter a proporção!
    Agora, se as mulheres não conseguem se eleger, é problema delas!!!!

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