Em 2003, o site Smoking Gun colocou na internet o depoimento de 1977 que Samantha, então com 13 anos, fez numa audiência preliminar sobre seu envolvimento com Polanski (na realidade, só encontrei a primeira parte). Semana passada, Marcelo Rubens Paiva traduziu algumas passagens em seu blog. Mas não vi em lugar algum o depoimento de Polanski sobre o caso. O que conheço da versão dele é o que ele (ou seu ghost-writer, não sei; celebridades raramente redigem suas próprias biografias) escreveu na sua autobiografia de 1984, Roman by Polanski. Traduzo algumas partes, resumo outras, porque é extenso: mais de quarenta páginas. Volto no final.
O editor da Vogue Hommes andava insistindo comigo pra eu lhe conceder uma entrevista. Eu não gostava da ideia―minha fobia da imprensa ainda não tinha desaparecido―e disse isso a ele. Eu lhe dei uma sugestão. Um número recente da revista havia exposto várias fotos de David Hamilton de meninas adolescentes. Elas eram no seu estilo romântico, fora de foco. Disse ao editor que gostaria de fazer uma série parecida com outro estilo, disposta a mostrar como as garotas eram hoje em dia―sexy, espertas, e totalmente humanas. O editor gostou da ideia e pediu para que eu começasse imediatamente. [...] Recebi algumas sugestões de meninas. Eu queria um grupo internacional, selecionando quatro ou cinco garotas de diferentes países: Suécia, França, EUA, Alemanha.
[Seu amigo, o ator] Henri Sera disse que conhecia exatamente a garota que eu tinha em mente. A irmã mais nova de Tim, sua paquera do momento em L.A., Sandra [Polanski usa um pseudônimo, mas está falando de Samantha], seria uma adolescente de aparência fabulosa que queria ser modelo e já havia aparecido num comercial. Ele enfatizou como ela era fotogênica. Ele me deu o telefone da casa onde ela e sua mãe, Jane, moravam.
Meus primeiros dias em L.A. foram muito ocupados. [Entre outras atividades, ele estava consultando advogados para ver como emigrar de vez para os EUA. Ele fala de Natassja Kinski, pra quem pagou cursos de inglês e interpretação].
Passaram-se vários dias até que liguei para o número que Henri Sera havia me dado. Jane, a mãe de Sandra, atendeu o telefone. Ela já sabia que eu podia querer fotografar sua filha porque Henri tinha falado para Tim de Paris. Jane parecia entusiasmada. Ela sugeriu para que eu fosse até sua casa no dia seguinte. [...] A casa era uma típica casa suburbana de classe média da Califórnia. [...]
Jane me convidou para entrar, após elogiar minha loção pós-barba. Na sala havia um homem na frente da TV, sem realmente assisti-la. Na janela estava Sandra.
“Esta é Sandra,” disse Jane. Ela falou para que ela cheirasse minha loção pós-barba. “Não é ótima?”.
A menina disse “Oi”. Cheirou minha bochecha. “É razoável”.
Eu olhei para ela por inteiro, tentando não ser muito óbvio. Depois da descrição de Henri Sera, eu estava desapontado. Sandra era mais ou menos da minha altura, magra e graciosa, com uma voz inesperadamente rouca para sua idade―uma menina atraente, mas nada sensacional.
[Jane apresenta Bob, seu namorado, para Polanski. Eles conversam sobre suas últimas fotos pra Vogue. O cineasta fala a eles sobre as fotos que pretende fazer, no estilo de David Hamilton. Conversam sobre agentes e empresários. Jane o convida para jantar, mas Polanski diz que precisa ir e que vai ligar].
Liguei alguns dias depois e agendei um horário. [Mãe e filha já haviam escolhido as roupas]. Sandra e eu fomos até as colinas, que começavam atrás da casa. Se não fosse pelas roupas e as câmeras, poderíamos facilmente ter andado, ao invés de dirigido. [...] Não levou muito tempo até eu notar que fora de casa e longe de Jane e Bob, Sandra era uma garota diferente―animada e tagarela. Uma típica adolescente da Califórnia, ela pontuava suas frases com a palavra like [algo como o nosso tipo assim]. “Tipo assim, odeio ter minha mãe por perto quando estou fotografando, porque ela diz, tipo, faça isso, faça aquilo”. Ela me contou que tinha um namorado faixa-preta em caratê. [Polanski escreve que, tirando fotos de closes, nota um chupão no pescoço de Sandra. Pergunta se ela conseguiu isso em aulas de caratê com o namorado. Sandra ri, diz que foi o namorado, mas que não foi caratê. Havia pistas de motocross por perto, e alguns garotos estavam lá.]
Pedi a ela que pusesse uma outra roupa. Ela removeu sua blusa e pegou outra. Ela não estava usando sutiã mas parecia inteiramente à vontade―nem um pouco envergonhada. Ela tinha seios bonitos.
Tirei fotos dela se trocando e de topless. Pedi para que ela desabotoasse seu jeans em alguns centímetros e que pusesse seu dedão na cintura do cinto. Ela posou com profissionalismo. Os motociclistas estavam olhando de longe. Achei que ela deveria colocar sua blusa de volta. “Eles não me incomodam,” ela disse. “Eu não ligo”. Insisti, sentindo que sua indiferença diante dos rapazes era uma pose, uma tentativa de parecer sofisticada.
[Polanski explica pra ela que teriam que fazer várias sessões de fotos. De volta à casa de Jane, Sandra mostra uma elaborada capa de uma Playboy que ela gosta para Polanski, enquanto Bob, que é editor de uma revista, Marijuana Monthly, pede para que o cineasta marque um encontro entre ele e Jack Nicholson. Polanski vai embora, prometendo ligar para agendar outra sessão. Vai para Nova York começar a pesquisa para The First Deadly Sin. Volta para L.A. no dia 26 de fevereiro de 1977, após passar dez dias em NY. Liga para Jane, e sente-se um pouco desconfortável porque sabe que ela tinha falado com seu agente, que não quis representá-la, e que Jack Nicholson havia ficado com cópias da revista de Bob, mas não quis agendar uma reunião. Portanto, fica feliz quando Sandra atende o telefone. Marcam a próxima sessão de fotos para 10 de março. Ele chega atrasado, depois das 16 horas, porque estava numa reunião para providenciar o seu green card. No carro com Sandra, Polanski avisa que estão indo para a casa de Jacqueline Bisset. Mostra as fotos da última sessão para ela. Diz que, se ela não gostar de alguma, deve separá-las. Falam sobre o trabalho pra Vogue, sobre o pai dela (divorciado de Jane), sobre carros, sobre a escola. Toda essa conversa se dá no carro, pois o trajeto leva mais de meia hora]
Sandra disse que não gostava muito de maconha―isso era para pessoas mais velhas como a sua mãe. Pessoalmente, ela preferia champagne. Durante um Natal, enquanto estava com seu pai, ficara bêbada com champagne. Ela também experimentou Quaaludes.
[Sandra tira uma carteira do seu bolso e mostra para Polanski uma foto do seu namorado. Conta como o conheceu, e diz que “Fomos pra cama logo”].
Perguntei pra ela quando começou a fazer sexo.
“Quando eu tinha oito anos”.
Isso me chocou. Olhei pra ela pra ver se ela estava brincando. Ela estava séria.
“Com quem?”
"Só um menino da vizinhança,” ela disse. “Com essa idade você nem sabe o que está acontecendo”. Ela falou casualmente. Aquilo não parecia significar muito pra ela.
[Eles chegam à casa de Jacqueline, onde há mais gente. Tiram fotos perto da piscina. Quando Jacqueline chega das compras, oferece a Sandra um copo de vinho branco. Ela recusa. O sol começa a se por, há muito vento, e Polanksi diz reparar que escolheu o lado errado de Mullholand Drive. Que do outro lado, onde vivia Jack Nicholson, ainda haveria luz. Liga para lá, que é um conjunto residencial onde mora também Marlon Brando. Fala com uma das vizinhas, Helena, e pergunta se pode ir para lá. Ele e Sandra chegam na casa, conversam com Helena. Ela informa que Nicholson não está, e que a namorada dele, Anjelica Huston, vai voltar logo. Sandra anda pela casa e pede algo pra beber. Polanski pergunta a Helena se pode abrir um champagne da geladeira, e os três bebem juntos. Helena vai embora, porque precisa trabalhar num roteiro. Sandra, investigando a casa, descobre a jacuzzi de Nicholson. Diz que quer entrar nela. Polanski diz pra ela esperar até que acabem as fotos. Tiram mais fotos. Ele pede pra ela tirar a blusa; ela tira. Ela se troca e põe um vestido na frente dele].
Nós não estávamos falando muito então, e podia sentir uma certa tensão erótica entre nós. Fomos até a cozinha, onde a fotografei sentada na mesa, lambendo um cubo de gelo, comendo um pedaço de açúcar.
[Ele liga a jacuzzi. Troca as lentes da câmera].
Antes de fotografar Sandra na jacuzzi, decidi ligar para Jane. A sessão estava demorando mais que eu esperava. Se Jane soasse chateada e quisesse que a garota voltasse imediatamente, eu a teria levado pra casa. Se não, tanto melhor.
O comportamento de Sandra pelo telefone com sua mãe parecia bastante tranquilo. Ela disse para a mãe que estava na casa de Jack Nicholson, que havia feito várias fotos e que ela estava para entrar na jacuzzi. Nesse momento eu disse oi para Jane e perguntei se ela se importaria se Sandra se atrasasse para o jantar.
[Jane diz que não. Sandra tira a roupa e entra na jacuzzi enquanto ele prepara a câmera. Sandra diz que a água está quente. Ele põe a mão na água para checar, e concorda. Ela se mexe na jacuzzi, molha a cabeça].
Preferiria que ela não tivesse feito isso. Ela não ficava muito bem de cabelo molhado.
[Depois de mais fotos, ele decide que está escuro demais para continuar. Entra na casa para guardar a câmera, sai e fica observando-a].
“Você não vai entrar [na jacuzzi]?” ela pergunta.
Eu disse que estava quente demais e que preferia nadar na piscina. Peguei uma toalha do banheiro, tirei a roupa e entrei na piscina. Nadei um pouco antes de parar na entrada da jacuzzi. Sandra estava olhando pra mim estranhamente. Ela disse que não estava bem.
“O que você tem?”, perguntei.
Ela disse que sua asma estava se manifestando.
“Eu não sabia que você tinha asma,” eu disse, e perguntei se ela tinha trazido algo—um inalador ou algo assim. Ela disse que havia deixado seu medicamento em casa.
"Você não deveria ficar tanto tempo no vapor”, disse pra ela. “Não se você tem asma. Entre na piscina”.
Ela saiu da jacuzzi e andou em direção à piscina, pôs um pé para dentro e disse que estava fria demais. Ela estava ofegante, respirando com dificuldade. Pegou a minha toalha e disse, “Devo repousar um pouco, senão posso desmaiar”. Quando perguntei o que deveria fazer se ela desmaiasse, ela fez alguma brincadeira sobre respiração boca a boca. Saí da piscina e a segui para dentro da casa.
Fomos para um quarto no piso térreo. Eu já havia dormido lá várias vezes quando o quarto era de hóspedes, mas agora ele abrigava uma tela de TV enorme. As janelas e cortinas estavam fechadas, então o quarto estava quase que inteiramente escuro.
Nós nos secamos e secamos um ao outro. Ela disse que estava se sentindo melhor. Eu, muito gentilmente, passei a beijá-la e acariciá-la. Depois, a levei para o sofá.
Não havia dúvida sobre a experiência de Sandra e sua falta de inibição. Ela se deitou e eu a penetrei. Ela não estava impassível. No entanto, quando perguntei gentilmente se ela estava gostando, ela respondeu com sua expressão favorita, “Está razoável”.
Enquanto estávamos fazendo amor, ouvi um carro na entrada. Parecia ter passado a casa, então continuamos.
De repente, porém, Sandra ficou paralisada. A luz no telefone estava acesa, o que significava que havia mais alguém na casa, fazendo uma ligação de outro quarto. Isso fez com que nós dois parássemos, mas não suprimiu meu desejo pela garota. Após meus sussurros de que estava tudo bem, Sandra gradualmente relaxou novamente. Quando tudo acabou, abri a porta um pouco e olhei para o corredor. “Anjelica?”, eu chamei.
Ouvi Anjelica me chamar de volta―“Roman?”―e continuar falando. Pelo som de sua voz, ela estava na sala.
Sandra se vestiu rapidamente e foi para a sala para pegar o resto das roupas que havia trazido. Obviamente envergonhada pela presença de Anjelica, ela se apressou, passou pela cozinha, e foi para o carro. Eu a segui, apresentando-a da melhor forma que pude, fazendo gestos para Anjelica e prometendo voltar. Sandra entrou no carro e sentou-se lá; ela não queria voltar a entrar. Eu achei que deveria. Quando Anjelica terminou seu telefonema, expliquei que havíamos tirado fotos e nadado. Não mencionei havermos feito amor no quarto de TV, mesmo que isso deva ter ficado bastante óbvio. Não lhe falei que havíamos aberto uma garrafa de champagne de Jack―ela estava com uma taça na mão.
[Ele liga para o hotel para checar mensagens. Ele e Anjelica conversam rapidamente; ele lhe conta sobre a asma de Sandra, e se despede].
Sandra falou muito durante a sua volta para casa. Ela me contou sobre suas aulas de violão e sua professora de teatro. Ela estava estudando Sonho de uma Noite de Verão na escola. Tentei não fazer careta quando ela começou a declamar Shakespeare com um forte sotaque californiano, sem nenhum senso de ritmo. Fiz com que ela repetisse as falas e lhe ensinei um pouco de ritmo. Surgiu o assunto dos filmes. Ninguém na sua família havia visto Rocky, então sugeri que fossemos todos juntos assistir ao filme na semana seguinte. Meus motivos não eram particularmente altruístas; era uma forma de poder vê-la novamente.
Levamos meia hora para voltar. Quando chegamos, Sandra entrou na sua casa antes de mim. Jane estava no corredor. Eu disse a ela que não sabia que Sandra sofria de asma. Ela disse que não era sério. Ficamos com Bob na sala e fumamos meio baseado que eu havia encontrado no cinzeiro na casa de Jack.
Embora os dois falassem pouco, pude sentir uma mudança de atitude em relação a mim. Claramente não estavam tão amigáveis quanto antes. Eu não havia notado anteriormente, quando fui pegar Sandra aquela tarde. Qualquer que fosse o motivo da frieza, não podiam ser as fotos de Sandra. Eles pareceram gostar delas.
Não fui convidado para ficar para o jantar. Depois de dar um beijo de despedida em Jane e Sandra e um aperto de mão em Bob, dirigi para o hotel.
Mais tarde naquela noite tive uma chamada estranha de Henri Sera. Ele aparentemente havia falado com Jane pelo telefone, e ela estava furiosa. Ela achou que as fotos estavam horríveis. Eu não podia entender; ela não havia dito nada disso algumas horas atrás. Pedi a Henri para que viesse ao hotel e visse as fotos ele mesmo.
Ele estava um pouco nervoso quando apareceu. Perguntei qual era o problema, mas ele não respondeu diretamente, e só olhou para as fotos. Ele achou que estavam lindas. Se Jane e Bob não gostassem, eu disse pra ele, eu jogaria tudo fora.
Ainda naquela noite tive um encontro com Bob [Robert] De Niro, que me deu uma cópia do romance Magic, de William Goldman. Ele queria saber se eu tinha interesse em fazer um filme do livro, com ele no papel principal.
Passei o dia seguinte na minha suíte no hotel, trabalhando em The First Deadly Sin. Um amigo de Henri chamado Jojo apareceu com um presente de alguns Quaaludes.
[Quando ele vai sair para ir ao cinema com alguns amigos, um deles pergunta se ele tem um Quaalude. Polanski sobe para pegar um e, quando desce ao lobby, há um policial com um mandato de prisão contra ele. Aparecem mais policiais, todos bem-educados, segundo Polanski. Apreendem os Quaaludes que ele tem. Mencionam a palavra estupro e os nomes de Sandra e Jane].
Eu não tinha que dar uma declaração naquele momento, mas perguntaram se eu tinha alguma ideia de por que a queixa estaria sendo feita. Com honestidade, eu disse não. Estava incrédulo; não podia relacionar o que havia acontecido no dia anterior com estupro de qualquer maneira.
[Polanski acompanha os policiais à casa de Jack Nicholson, pois eles também têm um mandado de busca para aquela residência. Encontram um pouco de maconha e cocaína com Anjelica Huston e, por isso, mais tarde, para se livrar da acusação de porte ilegal de drogas, ela teria que testemunhar a favor da promotoria. A fiança para Polanski é de US$ 2,500. Ele paga e volta para o hotel].
Ouvindo os flashes de câmeras pipocando ao meu redor, sabia que meu mundo estava em ruínas. [Ele contrata um advogado criminal]. Enquanto revisávamos o meu caso, a dimensão da catástrofe me espantou. Eu não conseguia compreender; nada na minha vida havia me preparado para a ideia que eu seria um criminoso. [...] Dalton [seu advogado, que tem papel de destaque no documentário de Marina Zenovich] recomendou que eu continuasse trabalhando o mais normalmente possível, e que não falasse sobre o caso com ninguém.
[...] A audiência preliminar me indiciou por seis acusações: dar uma substância controlada para uma menor; cometer atos lascivos; fazer sexo ilegal; perversão; sodomia; e estupro por uso de drogas. Cada acusação parecia pior que a outra quando Danton as leu para mim. Se as janelas do seu escritório no 32o andar não estivessem trancadas, eu teria me jogado lá mesmo.
Através da audiência, fiquei sabendo o que aconteceu naquela noite. Sandra havia ligado para seu namorado e contado a ele que tínhamos feito amor. Tim [irmã mais velha de Sandra] ouviu isso por acaso e contou para Jane. Jane ligou para seu contador, que recomendou que ela ligasse para a polícia. Embora dez testemunhas tenham sido listadas, Bob não estava entre elas. Para efeito do júri, ele não existia.
Outra revelação surpreendente foi que o ataque de asma de Sandra tinha sido fingido; ela nunca havia sofrido de asma na vida. Para que eu não descobrisse isso na noite em que voltamos para sua casa, ela entrou na frente e disse para a mãe: “Se ele perguntar, eu tenho asma”. Por que ela fez isso me deixa perplexo até hoje.
Eu esperava que o quadro completo emergeria se houvesse um julgamento. Eu sabia que não tinha embebedado Sandra e que a garrafa de champagne ainda estava na metade quando saímos. O comportamento animado de Sandra durante a viagem de volta no carro era sinal que ela não estava dopada. Sua experiência sexual―se ela havia me dito a verdade―era bem diferente do que ela havia admitido na audiência.
[...] De todas as muitas premonições de desastre, uma que nunca havia cruzado a minha cabeça é que eu seria mandado para a cadeia, minha vida e minha carreira arruinadas, por fazer amor.
[O editor da Vogue Hommes que o contratara para fazer as fotos se nega a testemunhar sobre o trabalho e sequer a falar com Polanski. Um empregado diz ao cineasta que, como não havia registro por escrito do ensaio de fotos, o editor não falaria. Polanski escreve:] Eu me senti traído.
[Polanski conta que, à medida que as semanas passam, cria-se um consenso que não vai haver julgamento, e sim um acordo em que ele se declararia culpado pela acusação mais leve, porque o depoimento de Sandra não se sustentaria no tribunal].
Eu [assim como o promotor e o advogado de Sandra] não queria que a garota depusesse diante de uma audiência pública. Não era apenas que uma declaração de culpa da minha parte impediria um julgamento e me garantiria um acordo melhor; eu percebi que eu já tinha causado a Sandra um dano considerável. Eu não queria que ela fosse exposta para toda a mídia, o que a marcaria para sempre. Não havia necessidade para que nenhum de nós passasse por essa experiência.
Se as acusações mais sérias fossem deixadas de lado, Dalton me disse, as previsões eram que eu não iria para a prisão se me declarasse culpado. [...] Ainda que eu tivesse que ser preso por um período curto, as chances eram que eu não seria deportado. Isso era fundamental, porque eu já havia decidido que queria viver e trabalhar nos EUA.
[...] A audiência do dia 9 de agosto [de 1977] foi crucial. Para a decepção da mídia, não haveria julgamento. A promotoria retirou cinco das seis queixas, deixando apenas a de “sexo ilegal”―não necessariamente um crime grave. Eu me declarei culpado. A sentença que o juiz me daria foi marcada para setembro. [O que segue é o que já descrevi aqui, e que está no documentário. Ele é avaliado por psiquiatras, que atestam que ele não é um sexual offender. Para uma outra avaliação, ele passa 42 dias na prisão de Chino. Mais tarde, diante do comportamento errático do juiz, Polanski decide fugir:] Eu não ligava para o que aconteceria agora [após a fuga]. Eu simplesmente sabia que faria qualquer coisa a voltar a viver como vivi no último meio ano. Eu aguentei a vergonha e o abuso da mídia, perdi dois trabalhos de direção, e passei tempo na prisão.
Sou eu de novo. Como vocês podem ver, a versão de Polanski difere muito da de Samantha. E é, a meu ver, repulsiva em vários momentos, como quando ele diz que não a acha tão bonita quanto esperava (que é quase sempre uma tática comum de estupradores: negar que a vítima o atraísse), e quando ele fala da experiência sexual da menina. Algumas partes da narrativa, como a conversa na piscina, mais parecem roteiro de filme pornô. Ele nem menciona dar-lhe um Quaalude. Segundo o depoimento de Samantha, ele divide um comprimido com ela. E também não há menção da conversa sobre contracepção que Samantha narra (de Polanski perguntar se ela toma pílula e, ante a resposta negativa, fazer sexo anal). Porém, várias coisas batem nas duas versões, como terem tomado champagne, a “interrupção” de Anjelica Huston durante o sexo, e a asma de Samantha. É incrível que um homem de 44 anos veja uma menina de 13 com asma (ainda que ela estivesse fingindo) e ainda assim ache que tudo bem transar com ela.
Após ler o depoimento de Samantha (que só li pela primeira vez na semana passada), não resta dúvida, para mim, que foi estupro. Eu acredito na vítima. Mas também acredito na perplexidade de Polanski ao ouvir a palavra estupro. Não o estou isentando de culpa. Ainda que um estuprador não saiba que esteja cometendo estupro, é um crime terrível de qualquer jeito, que deve ser punido. Mas é bastante comum que estupradores (principalmente em date rapes) creiam que as moças digam não por charminho, como parte do jogo, aquilo do não que quer dizer sim. Isso não faz o estupro deles menor (continua sendo um crime hediondo), mas mostra que há muita coisa errada na dinâmica sexual de uma sociedade que faz que homens encarem um não como um sim, vá em frente.
Porém, o que está em questão hoje não é se, 32 anos atrás, houve ou não estupro. Foi feito um acordo, e a condenação de Polanski não foi por estupro, e sim por sexo ilegal com menor de idade. Ele receberá uma sentença por esse crime (que não é considerado tão sério) e, principalmente, por ser fugitivo da justiça. É isso que tantos linchadores do Polanski não querem entender: que não importa o que nós achamos, se foi ou não estupro (sim, foi), se o acordo foi ou não justo (não, não foi). Simplesmente não se pode pegar um caso de 32 anos e julgar o réu como se o crime tivesse ocorrido anteontem. Quero dizer, o julgamento moral está sendo feito (e, por causa do contexto pós-anos 90 de não se tolerar mais sexo com menor de idade, está sendo feito com muito mais rigor), mas esse julgamento moral não vai interferir no julgamento da justiça americana.
(Boa parte das fotos deste post eu tirei do excelente documentário de Marina Zenovich, Roman Polanski: Wanted and Desired).
Oi Lola, desculpe a franqueza, mas este blog estava bem mais interessante de acompanhar ANTES do caso Polanski :(
ResponderExcluirQuarto post sobre o Polanski...
ResponderExcluirTa bom Lola, todo mundo que discorda de vc é um moralista que quer o cara linchado , enquanto quem concorda (mesmo os que acusaram o "genio" de ser um engenuo manipulado por uma meninae e sua mãe inresposnaveis/interesseiras etc) é quem tem o distanciamento necessario p/ avaliar o caso com bom senso...
Da minha parte, paro com esse assunto aqui.
Não importa se o comportamento da menina era erotizado, se iniciou cedo sua vida sexual. Um homem de 44 anos diante de uma menina de 13 anos não 'se deixa seduzir'. Mesmo na época ele foi condenado por fazer sexo com uma criança, portanto na epoca já era considerado crime. Não há concepções de comportamento diferentes hoje e no passado, de fato Polanski é um fugitivo da justiça, ele foi condenado. Ele não será julgado por algo do passado, ele já foi julgado.
ResponderExcluirÉ o Polanski, e se fosse outro cara qualquer? A reação das pessoas seria a mesma?
Lola, hoje está nas notícias que o progeto de filmagem de Memórias de mis putas tristes, de Garbo, foi denunciado por apológia a prostituição infantil. Eu lembrei do caso Polanski imediatamente. Apesar de estarmos tratando de duas esferas diferentes, literatura e realidade, um está apoiado no outro, e será que não existe aí uma confusão?será que não filmando esse romance ajudará, desistimulará esse tipo de crime?Se esse for o caso, o que faremos com Jorge Amado, que vira e mexe em suas páginas é encontrado um caso de estupro de menor?o que faremos com a nudes renascentista, enfim esse será o caminho para um decréscimo de casos de abuso à mulher?
ResponderExcluirPara mim é confuso, mas ainda assim não acredito que um filme possa interferir mais negativamente numa sociedade já discimulada que um caso real. Sinto que esse não é o caminho.
Aqui está a materia e tome atenção na fragilidade do argumento da denunciante.
http://www.bbc.co.uk/mundo/cultura_sociedad/2009/10/091005_gabo_denuncia_gm.shtml
Lamento pelo seu Polanski Lola. Lamento pelo meu Garbo. Bj
Caramba, Lola, acho que vc vai ter que desenhar o seu ponto de vista. Porque depois de tantas postagens tem gente que ainda não entendeu o básico: não importa a moral do cara, o crime foi ediondo e estupro não tem perdão. O que está em jogo aqui é, fora todo o bafafá da mídia, o que será feito dele após um crime que foi cometido a tanto tempo. Se ele realmente for preso nos EUA será a titulo de pena exemplar, tipo uma crucificação, mesmo. E o que queremos, ao menos eu quero enquanto feminista, não é esse tipo de coisa, mas que a discussão sobre o estupro, mais do que idivíduos, possa educar esclarecer a sociedade. E eu penso que quem não contextualiza as coisas, deve ser o mesmo tipo de gente que acha imoral uma obra de arte do Renascimento ou da Gécia Antiga, por exemplo.
ResponderExcluirEsse foi o último post sobre o Polanski da minha parte, prometo! Só fiquei devendo um sobre o assassinato da Sharon Tate, e de como Polanski foi o principal suspeito da mídia durante meses. E de como Sharon e seus amigos mortos foram tratados como os causantes de seus próprios assassinatos. Isso em 1969, muito antes do envolvimento de Polanski com Samantha.
ResponderExcluirMas vou deixar esse post pra mais tarde, porque publicar algo assim agora, neste clima, soará mais como uma defesa do Polanski que uma crítica à mídia. Por causa do contexto atual.
Lola querida, uma sugestão para mudar de assunto:
ResponderExcluirhttp://g1.globo.com/Noticias/SaoPaulo/0,,MUL1330628-5605,00-MULHER+QUE+DESAPARECEU+NO+METRO+DE+SP+NARRA+COMO+UM+FLERTE+VIROU+AMOR+BANDI.html
A história em si já é passível de muitas interpretações, mas para variar, o que me chamou atenção foi a misoginia correndo solta nos comentários.
Socorro!?!?!?
ResponderExcluirLola, meu medo agora, é que você seja acusada e considerada culpada, do caso Polanski... Que horror!
Você é muito melhor que isso. Esquece e passa adiante. Estão querendo roubar teu brilho.
Beijos querida.
Olha Lola, eu entendo ver as coisas "de fora" neste caso da lei. Faz mesmo 30 anos e blábláblá. Mas também faz parte da "lei" fazer vista grossa pra quem tem dinheiro, você acha que um Zé Ninguém teria as mesmas regalias?
ResponderExcluirE concordo que é asqueroso ele falar da vida sexual dela, prostitutas podem ser (e são) estupradas e quem liga?
Mas se perguntar a MINHA opinião: A punição deveria ser mais severa, não quero que ele morra ou seja castrado postei aqui: http://aqueladeborah.wordpress.com/2009/10/02/consideracoes-sobre-estupro/
Mas no mínimo preso não?
Quem mata uma só pessoa pode ser considerada uma assasino? E um estupro? Não importa se é 1 ou 100, cada crime deve ser julgado. Se meu pai estuprasse uma garota eu queria que ele fosse para cadeia. Não tenho dó de quem estupra.
Lola, eu adorei essa história que o Júnior sugeriu. Comenta,... vai!...
ResponderExcluirOi Lola, desculpe a franqueza, mas este blog estava bem mais interessante de acompanhar ANTES do caso Polanski :( [1]
ResponderExcluirQuarto post sobre o Polanski... Da minha parte, paro com esse assunto aqui. [1]
Não adianta, estupro é crime e ponto final. E, por favor, como um homem de 44 anos 'se deixa seduzir' por uma menina de 13, ainda mais nos anos 60? Please....
ResponderExcluirCadeia nele.
E tenho dito.
;)
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirLolita, amore mio....adoro você, adoro seu blog, mas tou meio cansada do Polanski também. :b
ResponderExcluirE continuo achando que estupro é estupro, e não tem outro nome pra isso.
bjos.
Zuzo bem, zuzo bem, entendi o recado de vcs: chega de Polanski!
ResponderExcluirJunior, interessante esse link do Globo que vc passou. Eu já tinha lido que uma mulher desapareceu durante alguns dias, mas os detalhes, não. Vamos ver se vira post. Não sei se tenho algo a acrescentar...
Oi, Lola!
ResponderExcluirNão sou a favor de castração química nem nada desse tipo. Apenas desejo que ele pegue a maior pena possível pelos crimes que foi indiciado. E isso porque foi estupro. Se vc não consegue pegar o criminoso por um crime mais sério, pegue-o por um mais leve e dê a pena máxima. Não foi assim com o mafioso preso por sonegar impostos? Acho pueril pensar que o que está em jogo é apenas uma acusação menor.
E quem disse que ele não faria de novo? Provavelmente não fez por medo justamente da repercussão que isso teve, medo de ir para a cadeia, esperança de ser perdoado e voltar a viver nos EUA. Acho errado que ele não pague pelos crimes pelos quais foi indiciado. E nada de dizer que já faz muito tempo. Ora, ele não foi preso antes porque fugiu!
Bjs,
Anália
PS: Eu faço questão de não assistir filmes do Polanski nem com o Sean Penn. Imperdoável!
OI Lola
ResponderExcluirLi todos os post e só queria comentar desde o 1o. Mas só agora resolvi faze-lo (e com medo de receber críticas dos outros leitores pelo que vou falar aqui). Eu não cansei ainda pq achei a história muito interessante. Não sabia de nada disso. Mas to meio que pegando o bonde andando e to querndo sentar na janelinah pq nài li os comentários, só so posts (muito trabalho por aqui ultimamente)
Qdo li o depoimento dela, fiquei com pensamentos dubios. Isso pq no começo ela fala que não queria tirar mais fotos com ele e que queria contar pra mãe dela. Mas pq ela não contou e além de tudo foi tirar fotos novamente? Eu tb acho que qudo a menina diz não, é não; mas será que se ele não fosse o Polanski ela teria denunciado? Será que se fosse o João da esquina ela teria feito a mesma coisa??
E pq agora ela o perdoou? Será que as vítimas de estupro perdooam seus algozes depois de algum tempo? Se fosse comigo eu não perdoaria nunca, nunca mesmo!!!
Lola, parabéns pela cobertura do caso Polanski, traduzir tudo o que traduziu, ir atrás do "depoimento" do réu, assim como do da vítima, contextualizar, discutir a finalidade da pena, tudo isso mostra a vontade de PENSAR e a amplitude de visão que é necessária para se entender as coisas e não acabar caindo em pontos de vista estreitos e simplistas.
ResponderExcluirLolita:
ResponderExcluirA)O cineasta errou, com certeza.
B)Parabéns pela qualidade do seu trabalho, independente dos pontos de vista que possa defender.
C) Abraçalhão daqui. Fatima/Laguna
Pior do que esse caso do Polanski é ter que aturar os comentários. Ignore tudo e continue postando o que quiser.
ResponderExcluiria dizer, mas o alfeu, a fátima e o daniel já disseram.
ResponderExcluiraprendi bastante com a sequência de posts sobre o polanski. gracias.
:)
É, gente, hoje estou concordando com todo mundo que comenta aqui. (Aproveitem!). Por um lado, sei que os posts sobre o caso Polanski meio que monopolizaram o bloguinho na última semana, e que deve ser uma droga pra quem não gostou do meu posicionamento ver mais um post sobre o assunto. Mas, por outro lado, considero este um assunto interessante. Tipo, se eu não tivesse o meu próprio blog, ainda assim gostaria de ver um blog tratando do caso com a insistência que tratei. Independente do meu ponto de vista, me interessaria em ler a versão do Polanski sobre o que aconteceu. E esse é sempre um bom critério pra quem escreve um blog: fazer posts que gostaria de ler. Afinal, se o assunto não interessa ao próprio blogueiro, as chances são que não vão interessar a muita gente. (por isso que, em geral, eu me esquivo de blogagens coletivas).
ResponderExcluirMas, embora eu concorde com os pedidos de “chega de falar do Polanski”, também acho que o blog é meu, e que devo poder falar do que eu quiser. (pode-se dizer que encarna um Alex Castro em mim de vez em quando). Aceito alegremente e até convido sugestões de pautas. Mas não gosto muito de sugestões de não-pautas. Enfim, o fato é que já não ia mais falar do Polanski, porque já disse o que queria dizer. O post 3 sobre o caso nem era pra ter saído, era pra ser apenas um comentário em resposta ao comentário da Marj, mas como aparentemente foi o comentário mais longo que já escrevi na vida, o blogger não o aceitou (já viram isso? Pra mim foi a primeira vez).
Mas o que eu gosto é que, em geral, o pessoal que comenta por aqui é fofinho e bem-educado, mesmo quando discorda.
Samantha, meninas de 13 anos NÃO têm seios? Nenhuma? Não sei, porque não costumo ficar olhando pra meninas de 13 anos, mas parece que uma das causas de competição nas escolas é justamente essa: por que algumas meninas “ganham” seios rápido, com dez anos, e outras só com 15? Tem a ver com a idade da primeira menstruação. Mas essa questão dos seios costuma ser traumática tanto pras meninas que se desenvolvem “precocemente” quanto com as que se desenvolvem “tardiamente”. Eu lembro sempre da Judy Blume e da reunião das personagens mirins entoando o mantra “We must, we must, we must increase our bust”.
Oi Lola, desculpe a franqueza, mas este blog estava bem mais interessante de acompanhar ANTES do caso Polanski :( [2]
ResponderExcluirJá opinei sobre o caso, e só acho revoltante, ainda, que as pessoas se preocupem mais com a idade da menina do que propriamente com o fato de ela ter dito não.
Lola, não alimente os trolls
ResponderExcluirMe lembro de uma outra discussão referente ao texto publicado na trip. Não houve espaço para "versões da história". Houve condenação do cara, inclusve de sua parte. era unanime que o crime não deixava de ser feio pelo tempo que se passou. O quesito TEMPO, era irrelevante e a proposta era boicotar o filme do cara. PONTO.
ResponderExcluirO que vejo aqui é uma tentativa frustrada de defender o diretor por questões de afinidade. deve ser frustrante ver um artista que vc admira tanto condenado e "linchado" dessa forma. E mais ainda, vejo a insistencia no assunto como uma espécie de Mea culpa pela reação do público. Um esturpo é sempre um estupro e o fato de vc gostar mais ou menos dele não quer dizer que ele mereça uma punição maior ou menor.
Será que eu sou a única que não levaria a sério uma meninda de 13 anos falando de sua "vasta experiência sexual" para um diretor de cinema famoso?
ResponderExcluirSe é considerado moralmente (e legalmente) errado na maioria dos países um homem de 40 e poucos anos fazer sexo com uma menina de 13, existe um motivo para isso né? E o motivo é: meninas de 13 anos são geralmente bobinhas.
Eu nem convivo com adolescentes, mas já fui uma. E se gabar de "coisas erradas" que se fez (e muitas vezes coisas que não foram feitas) é praxe em mocinhas dessa idade. Ainda mais quando a menina está querendo impressionar um diretor de cinema.
Para mim, lendo a versão dele, parece o seguinte: ela quis dar uma de "descoladinha", meio que seduzindo, para conseguir um pouco de fama. Mas, obviamente, por ter 13 anos, o principal assunto dela era a ESCOLA! E claro, quando ela viu que ele iria para cima, ela recuou (o que é perfeitamente normal e saudável para uma menina tão nova).
Agora... se já é de senso comum que pessoas aos 13 são bobinhas, ELE, como indivíduo mais velho, deveria não se fazer de bobo dizendo que ela "tinha vida sexual ativa" e tal e tal. Sinceramente, uma menina que fala das coisas da ESCOLA com ele no carro, que titubeia entre ser criança e ser mulher (afinal de contas, é uma adolescente de 13 anos, que faz de tudo para parecer ser "adulta liberal".
Ele, ao tecer tais comentários, está é sendo mal intencionado. Querendo jogar numa menina de 13 boba de 13 anos metade da culpa. Sinceramente, não sei se o Polanski tinha filhas dessa idade na época, mas mesmo quem não tivesse, ele FOI adolescente um dia. Ele passou pela experiência. E sinceramente, ele se aproveitou dela sim. E ainda quis jogar a culpa na menina no final, como se ela estivesse agindo como uma adulta plenamente consciente de seus atos e não só como uma boba de 13 anos que quer parecer mais "cool" do que é para atingir uma certa fama.
Crápula. Que seja preso o quanto antes, e agora por má-fé.
Carol, resumiu o que eu penso. Sem mais.
ResponderExcluirOi, Lolinha,
ResponderExcluirComentei aqui (escrevendo bastante pq não consigo cortar texto) e não falei nada sobre as saudades que sinto de acompanhar os debates e fóruns na internet. A vida concreta anda muito corrida, estou penando bastante com meus aluninhos(as). Então comentei sem ressaltar que estava com saudade de vc e demonstrar meu afeto, o que acho importante.
Quanto a este assunto, já escrevi bastante e não retiro o que disse. Eu acho que o debate contextual em torno da idade - uma questão relevante caso fosse comprovada a versão de sexo consensual - foi, em mim, suplantado pela leitura do depoimento dela.
No entanto, gostei da forma como vc resgatou o cenário dos anos 70, nos conflitou com o circo midiático e nos fez ver que a prisão de Polanski é, acima de tudo, um fenômeno de massa, pois sabemos que é parte da cultura contemporãnea admitir que a opinião pública condena e pune antecipadamente e imputa penas de morte em vida, arruinando a reputação de pessoas que (a priori, de acordo com a lei) podem ser inocentes.
Vc falou que se ele não fosse brilhante talvez não pensasse em defendê-lo. Eu confesso que se Polanski fosse um padre eu não teria um lampejo sequer de condescendência com ele. Penso que todas nós temos direito a considerarmos nossas experiências e nossa intuição em nossos julgamentos.
Ouvi bastante de amigos e amigas que sua prisão deveria ser comemorada não só como um triunfo diante do machismo, mas como o fim da impunidade a um membro do grupo social dos "intocáveis" (pessoas ricas) a quem, obviamente, não se destinam as prisões. De início, eu tinha muitas dúvidas.
Agora eu já acho coerente que ele seja punido. Mas, não deixo de lá bem dentro de mim me perguntar se não seria um pouco hipócrita.
Acho importante que feministas exponham os seus conflitos e tensões interiores. Não acredito no feminismo autoritário e totalitário, o que vai de encontro ao nosso pensamento de construir uma sociedade plural com sujeitos autodeterminados.
Não somos blindadas por nosso compromisso ideológico, temos uma percepcão vinculada a experiências, memórias e vivemos dentro desta cultura (machista). E se pensamos as relaçoes criticamente também devemos assumir que qualquer (qualquer mesmo) postura tomada em defesa do ser humano incorre no risco de que, ao fim, podemos estar erradas.
Eu gostei de acompanhar o caso por aqui, até então jamais havia me aprofundado neste episódio. Admiro (muito) a sua coragem em se expor, em dar a cara, em ser sensível, humana e mesmo admitir-se falha.
Um beijo.
p.s.: Acho que seria bom lembrar que a questão com o Goldman foi o fato de que ele usou a coluna dele numa revista de grande circulação para fazer apologia ao estupro, num texto em primeira pessoa repleto de sexismo e elitismo, em que ele narrava com descabida autocomiseração e absoluto descaso pelo sentimento alheio a violação da empregada de sua família - declarando-se, hoje, um homem muito mais jeitosinho com as mulheres. Arculista e revista simplesmente atentaram contra os direitos humanos e ainda fizeram apologia ao crime, colocando o estupro como algo extremamente trivial na educação sexual das famílias de classe média e negligenciando as desigualdades de classe e raça que originaram nossa sociedade. Aqui não tinhamos a dúvida, tinhamos o fato.
Gente, já cansei de ler os coments... tem o lado q defende a lola, tem o lado que acusa... Alguem falou q o polanski deve pegar a maior pena possivel do crime q ele foi acusado... no caso sexo com menor de idade... isso dá uma pena de que? 90 dias? dos quais ele cumpriu 40... ele não vai ser acusado por um novo crime (alem da fuga), ponto final. Não importa o que pensamos. A Lola concorda que foi estupro, e SE isso fosse hj provavelmente ela estaria pedindo uma pena maior... mas SE não existe.
ResponderExcluirNão acho q esses post já cansaram, pq a Lola colocou o caso do ponto de vista JURIDICO, colocou (ou eu li em outro lugar?) o depoimento da Samanta, e o ponto de vista do Polanski
Li o depoimento da Samantha. Acabei de ler no blog indicado pela Lola.
ResponderExcluirE serviu para reiterar o que escrevi antes: uma bobinha adolescente que na hora do "vamos ver" obviamente ficou com medo. É bem provável que ela achasse que o estupro não fosse acontecer.
E ele, que deveria ser a pessoa madura na situação, agiu com outro moleque de 13 anos e continou agindo ao botar a culpa em uma pré-adolescente (ou melhor, ao DIVIDIR a culpa com ela).
Ainda que ele não pegue a pena que mereça (afinal, já foi julgado e condenado), não acho que isso deva ser um fator para que o crime não seja discutido. Afinal, a natureza do crime continua sendo a mesma. Só muda o foco da discussão: sai da pessoa Polanski e entra no criminoso que comete delito do gênero.
Aliás, muito triste saber que tenha havido um acordo para ele se "safar". Nada como dinheiro e influência, seja aqui, seja nos EUA. Muito triste mesmo.
Ah, e meninas de 13 anos já podem ter seios... ter meninas com menos que isso e já terem corpo formado.
ResponderExcluirE com treze anos eu não era mais virgem e sim eu provocava homens mais velhos (nào com 40, mas com uns 25). Eu fazia isso intencionalmente, CONSCIENTE e sabendo das possiveis consequencias... nas verdade essa era minha intenção, obter sexo... eu me sentia bem com isso...
E isso de não significar sim, eu sei que é absurdo, mas as meninas tbm se comportam assim!!
Chama se cu doce (desculpe pelo palavrão, Lola), mas já cansei de ser xingada pq eu era mto facil e ouvir q menina não pode ser assim... já cansei de ouvir meninas falaram q falam não só pra fazer charme, ou afirmarem q se o cara é "froxo" ou "viadinho" pq pararam no primeiro não...
Po, eu tenho 24 anos e ouço isso de mulheres mais velhas!! No banheiro da universidade!!
Não é só culpa dos homens que essa história de não é sim e blablabla.
Mas até ai só sendo um completo TAPADO para não saber a diferença entre charminho (a merda com isso) e um não de verdade...
Sabe o que eu acho, Lola?
ResponderExcluirQuem vem aqui e se dá ao trabalho de comentar, alegando que vc está repetitiva, só deve ter uma intenção: encher o saco, provocar discussão, irritar e por aí vai, além da pessoa ser uma retardada. Porque se vc não gosta do conteúdo de um blog, simplesmente não visite mais! Simples, fácil!
Não é pq vc não gosta, que as pessoas tb não devem gostar!
Adoro seu blog Lola, mas as vezes acho que vc não deveria escrever e sim desenhar pq muitos que te visitam não entendem o que vc escreve, por mais que vc explique milhões de vezes!
Não se justifique, o blog é SEU! É SEU espaço de reflexão, de expressão, dane-se os que estão incomodados. Há uma infinidade de blogs na internet e acho impossível que essas pessoas não encontrem algum que tenha algo que elas concordem/gostem, sei lá!
Escreva qtas vezes quiser, o assunto que quiser. Quem não tá satisfeito que vá até o "xis" vermelho em cima da página, á direita, e clique!
Não é mágico?
Bjão, Lola!
Eu adorei todos os posts sobre o Polanski e nào vejo a hora e vc postar o posto falando do assassinato da mulher dele. Eu "aprendi" tudo isso auqi no seu blog e fui dar um agooglezada pra descobrir oq ue tinah acontecido. Mas tudo muito superficial. Mas posso esperar pelo seu post sobre o assunto.
ResponderExcluirbjo
Lola, eu gosto da idéia do guest post, mas preciso entender melhor o que você quer para que eu consiga escrever. Espero mesmo que você escreva sobre esse livro - Yes means yes - são poucas as meninas que concordam com isso. E acho que precisamos discutir assuntos polemicos, para que eles deixem de ser!!
ResponderExcluirAh, Lola, outro post que acharia interessante ler por aqui, se é que já não existe, é sobre essa nova paranóia de mulher não poder ter cheiro de mulher... li uma reportagem sobre isso na Revista TPM de julho.
vou tentar te enviar isso depois
mesmo caso New Hit
ResponderExcluirclaro se fosse hoje com a sociedade menos patriarcal as coisas seriam diferentes.
ResponderExcluirLi o livro da Samantha. Nele, ela menciona que só foi entender o que havia acontecido pela fúria da mãe. Houve sexo não consentido, para mim, claramente um estupro. E para Samantha? Ela havia ingerido álcool e outras drogas em comprimidos, afirma que deixou o cineasta dominá-la, e que houve sexo primeiramente numa cama depois na banheira, afirma também que sob os efeitos das drogas só queria que aquilo tudo acabasse. Nos exames médicos foram confirmados a penetração anal e vaginal. Aconteceu em 1977, em uma Califórnia sensualizada, em que eu acredito que até hoje seja, mas na época era pior. Samantha queria ser modelo, e ela e a mãe viram a oportunidade de ter fotos feitas por um diretor que lhe daria visibilidade. Deixo claro, que de forma alguma, acho que a mãe ou Samantha, com então 13 anos, incitaram o estupro. Polanski a procurou anos depois, trocaram e-mails, ele pagou-lhe uma indenização (na qual ela usou para pagar a educação dos filhos). Ela não o odeia, e o crime já prescreveu. A vítima já o perdoou, sendo assim, não entendo o porque esse massacre ao diretor após tanto tempo, nem a Lola, por ela ter coragem de dar sua opinião. Não acho que exista ex-estuprador, é um ato hediondo, e sempre será. Quando ela detalha o ato no livro, me dá muita repulsa ao homem, Polanski, porque não consigo digerir que alguém faça sexo com outro sem consentimento, sem avaliar a idade, etc. Dá nojo. Acho Samantha um pouco fria também, ao relatar os fatos, mas, ao mesmo tempo essa frieza seja para demonstrar que tantos anos depois, ela já superou isso e só queira viver no anonimato que tem direito. E a Vogue francesa que usaria as fotos, ninguém condena?
ResponderExcluirSafira