segunda-feira, 4 de agosto de 2008

“QUE BOM QUE SEU PAI NÃO VIVEU PRA VER ISSO”

Quando uma das minhas tias morreu, três ou cinco anos atrás, não lembro, mal tive tempo de lamentar a sua morte. No mesmo dia minha irma, que nos últimos tempos tinha mais contato com ela, me mandou um email que ela havia lhe mandado. Nesta mensagem, minha tia falava mal da minha mãe e de mim. De mim, ela dizia algo como “Lola está medonha de tão gorda. Ainda bem que seu pai morreu antes de vê-la assim”. Achei cruel da parte da minha irmã me enviar este email, e bem naquela hora. Afinal, ela poupou a minha mãe de saber o que minha tia “realmente pensava dela”. E também porque há todo um contexto: meus irmãos são bastante obcecados com o meu peso. Como muita gente, eles, pra não parecerem gordofóbicos, alegam que a preocupação é com a minha saúde, não com a minha aparência. O que é estranho, pois minha saúde sempre foi ótima. Eles não se conformam que minha saúde seja boa apesar da minha aparência. Acho que minha irmã tem se tocado que alguns comentários não ajudam, e parou de começar um papo ao telefone comigo com uma conversa do tipo:

- Você tá bem? Tem ido ao médico?

- Ahn, sim. Fui há um ano e meio fazer um papanicolau.

- Mas você fez todos os exames?

- Bom, os exames normais pra uma mulher de 35 anos. [minha idade na época]

- E aí? O que esses exames disseram?

- Que eu tô bem.

- Ah. Você precisa se cuidar, Lola.

Na realidade eu não conheço uma só gorda que não ouça observações constantes da família sobre a sua “saúde” ou, pros menos hipócritas, sobre sua aparência. Mulher gorda parece que é propriedade pública, e todo mundo se sente no direito de lhe dar dicas de dietas, recomendar cirurgia de redução de estômago, falar de exercícios, do método infalível que deu certo com a filha da prima da melhor amiga... Já vi casos até de mulheres que apalpam barriga, braços e bochechas de gordas. Propriedade pública mesmo! (bom, mulher de modo geral é tratada como propriedade pública, vide as grávidas. Mas entre mulheres gordas é pior).

Voltando a minha tia, pra ela meu amado pai só enxergaria a minha aparência, e se envergonharia de mim. O “assim” que minha tia ficou feliz por meu pai não ter visto não incluía eu estar feliz, trabalhando, estudando, ao lado de um homem que eu amo e que me ama. Só eu estar gorda. Duvido que minha tia escrevesse ou assinasse um manifesto anti-gordos como aquele que citei aqui. Mas, no fundo, ela pensava igual.

E pode ser, sim, que meu pai se envergonhasse da minha aparência. Minha família da parte de pai sempre teve um lado terrível nisso que se refere a quem não se enquadra num certo padrão físico/estético. Uma vez, quando eu tinha uns oito anos, fomos jantar num restaurante, e lá entrou o que parecia ser uma criança no colo da mãe. Mas sua cabeça, maior que o resto do corpo, era de adulto. Pronto. Foi o suficiente pro meu pai perder o apetite e querer sair dali. Essa foi a primeira vez que me dei conta dessa fobia dele, mas depois pude observar como ele se comportava perto de gente em cadeiras de rodas, sem um braço etc. Tanto que, quando essa minha tia começou a definhar devido à esclerose múltipla, meu pai parou de vê-la, porque ele sofria demais. Só se falavam por telefone.

Uma outra irmã do meu pai, uma tia com quem eu tinha mais contato, me tratava muito bem – enquanto eu era magra. Todas as vezes que nos víamos ela falava da minha aparência. Como ela tinha sido bailarina quando jovem, esse assunto era fundamental pra ela. Quando engordei, ela cortou relações comigo, provavelmente por uma série de fatores além da minha aparência. Ela não estava bem de saúde, e viria a falecer pouco depois. Mas ela era outra que não conseguia discutir (e muito menos ver) a condição da minha tia com esclerose múltipla. Tenho certeza que ela não quis mais me ver depois que meu peso voltou.

O que me espanta é que as pessoas em geral vêem a gordura como doença, mas não notam que fobia à gordura (ou a qualquer outra coisa) pode ser muito, muito ruim. É aquele negócio: eu não teria problema nenhum em ter um filho negro ou gay (que evidentemente não são doenças, defeitos, ou nada do gênero), mas detestaria ter um filho racista ou homofóbico.

Devo ser justa com a minha mãe. Há uns dois ou três anos, tivemos uma conversa franca sobre gordura, e eu disse pra ela que achava que ser gorda era meu peso normal, parte do meu biotipo desde a puberdade, e que eu estava cansada de tentar emagrecer e nunca me aceitar como sou. E ela, que sempre teve obsessão pelo seu peso e o dos outros, falou que iria também me aceitar como eu era, sem mais me pressionar a perder peso. Achei um sinal de amadurecimento, tanto dela quanto meu. Pena que esse amadurecimento leve quarenta anos pra chegar. E, pra algumas pessoas, não chegue nunca.

31 comentários:

Suzana Elvas disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Suzana Elvas disse...

Lola, eu tenho uma irmã mais velha três anos que foi ginasta olímpica. Um corpo ma-ra-vi-lho-so. Cintura, coxas grossas, bumbum arrebitado, seios do tamanho certo, cabelos castanho-escuros absurdamente fartos, lisos e brilhantes. Sofri minha infância inteira com "olha sua irmã, tão magra, tão linda", "Você não vai fazer dieta para ficar como sua irmã?", "Que pena, você tem a beleza da sua mãe mas tá tão gordinha, né?". O apelido que meu pai botou em mim era "Gorda". E eu sempre me senti pressionada a ter o corpo da minha irmã.

Na adolescência, comecei a desencanar. Amo minha irmã de todo o coração e jamais as observações dos outros influenciaram de maneira alguma nosso relacionamento - jamais ela disse nada, nem eu a ela. Sabíamos que eram "os outros". Meu pai ensaiou uma época comentários desse tipo, mas passou. Minha mãe jamais abriu a boca - ela nunca ligou para isso.

Hoje, eu e minha irmã temos o corpo parecido - nem gordo nem magro. Meu irmão, por conta de um distúrbio, pesa hoje quase 160 quilos. Na minha família, a gordura (junto com diabetes) é o normal - fomos todos criados à base de bala juquinha, mentex e balas soft. Hoje cuido (mais) da alimentação da minha caçula, porque eu sei como é sofrer por ter uma irmã esguia. Minha filha mais velha vai vestir jeans 34/36 o resto da vida.

Em casa não entram refrigerantes ou balas. Elas comem chocolates mas somente nos fins de semana em em festas. Mas faço bolo para o café da manhã, lasanha, batatas fritas no fim de semana. McDonald's em ocasiões especiais. Libero nas festas (menos o refrigerante, que elas não gostam). Elas comem o que gostam e o que é saudável, com o inevitável "junk food" em raras ocasiões.

Gordura virou sinônimo de deficiência física. É, na visão torta dos dias de hoje, empecilho para um bom emprego, para um "namoro legal", para uma vida sexual plena. E às vezes me sinto perdendo essa batalha - porque é uma luta todo santo dia atravessar o dia desvencilhando-se de preconceitos, idéias curtas, julgamentos errados, raciocínios tortos. Um dos xingamentos que já ouvi minha filha mais velha jogar em cima da irmã é "baleia orca" - repetindo o que já ouvira no pátio da escola. Cansa.

Ale Picoli disse...

Isso é muito triste, Lola. Já contei algumas vezes aqui das avaliações na minha família, sei bem como é isso. Tem uma tia do meu marido que eu tenho certeza que faz esse tipo de comentário sobre mim também, que eu sou "muito gorda pra ele". Eu sou, e daí? Ele gosta. Eu já era gorda quando ele me conheceu e, embora ele não seja especialmente atraído por gordas, ele é atraído POR MIM. E bem, são 6 anos juntos.
Isso me fez lembrar de um dos meus tios, irmão do meu pai. Esse sim é um louco por gordas. Isso é engraçado, pois acho que foi meu primeiro contato com esse tipo de "espécime" masculino, que eu viria a encontrar muito depois de adulta. A primeira mulher dele era bem gorda, linda, com aquela cara de alemãzona. Pelo menos na minha percepção, claro, pra mim, minhas tias todas eram mulheres bonitas. E lembro dele dando tapas na bunda da minha mãe descaradamente, zuando com meu pai, do tipo "a Maria tá boa, hein Valter?". E eu também recebo esses elogios dele até hoje. O mais curioso é que a segunda mulher dele é muito muito magra. É a prova de que amor e atração sexual não seguem os padrões que a gente imagina, mesmo quando nossos padrões já são meio loucos pro mundo em que vivemos :)

:-P disse...

Já ouvi muito isso tb, mas a primeira coisa que pergunto é:
"Vem cá, vc tá em cima ou embaixo quando tá comigo? Nenhum dos dois?
Então não enche!"

È....os anos passam e eu vou ficando cada vez mais grossa...:-P

Beijos

Anônimo disse...

Lolita,
desde que me entendo por gente, sempre tive uma briga com a balança. Na maioria das vezes, por influência (leia-se, encheção de saco) de minha mãe (que falta 1cm para ser anorexica) e meu irmão, ex-modelo. Mas eu nunca me liguei muito no assunto até um dia não me reconhecer mais no espelho. Achei uma foto minha, de uma época em que estava super bem para a minha altura/biotipo e levei alguns segundos para ver que era eu naquela foto. Me lembrei daquela épouca, lá para os late'90s e lembrei que era lindérrima, magérrima, foderosa e infeliz... Mas, gostava da minha aparência. Desde então, eu resolvi que me queria emagrecer um pouco (nada que se encaixasse nos padrões contemporâneos de beleza, mas algo que me deixasse feliz, sem muitos sacrifícios, pois, cá para nós, comer é um dos maiores prazeres desta vida).
Estou seguindo uma dietinha meio-meio, mas está funcionando, me livrei de alguns quilos indesejáveis, não sei se quero me livrar de outros tantos, mas já é um início.
Nada contra a gordura, pelo amor de Deus.
Só acho que a gente tem que ser feliz e ponto. Não sei se o peso vai ou não influenciar nisso, ou o tamanho do manequim, mas que não é fundamental, ah, não é!
O que quero dizer é que, em matéria de felicidade, hoje, mesmo com os meus quilos a mais sou muito mais feliz e realizada do que naquela época de visual top-model, que só pensava em balança, produtos diet, light, e fita métrica!
;)

Beijos

Anônimo disse...

Aliás, até esqueci do que ia falar originalmente... que timing mais infeliz, não?
Acho que todas as pessoas do mundo deveriam assistir Bambi. Lembra daquela cena em que o Bambi recém nascido não consegue ficar em pé direito e o tambor fala alguma besteira... Sua mãe, sabiamente diz "Tambor, quandod não se tem nada inteligente para dizer, é melhor ficar calado..." Não nessas palavras, mas, algo assim...
;)

Leo disse...

As pessoas sempre esperam que a gente seja como elas idealizam. Todos buscam a "normalidade". E acham que você vai sofrer se não for como os outros são, ou esperam que você seja.
Realmente acredito que fazem isso porque querem o nosso bem. Mas não percebem que certas coisas estão além da vontade.

Liris Tribuzzi disse...

Eu tenho uma tia que é gorda. Pelo o que minha mãe conta, sempre foi mais cheinha das irmãs. E sabe o que ela disse pra minha mãe quando eu nasci? 'Será que ela vai ter vergonha de uma tia gorda?'.
Achei o cúmulo quando minha mãe me contou, e eu não devia ter nem 10 anos. Sempre adorei ela, além dela ser minha companheira de filmes, com certeza uma das pessoas que me influenciou na cinefilidade, se é que se pode dizer assim. E eu nunca deu bola pra isso. É minha tia, sempre me tratou infinitamente bem, me deu muito carinho, tudo o que uma sobrinha pode querer.

Anônimo disse...

Pode-se conseguir ignorar o que as outras pessoas dizem, mas fica mais dificil quando vem da nossa própria familia..Por mais que você seja bom em outras coisas, ou tenha qualidades mais importantes, se encaixar num padrão parece estar acima de tudo isso.

Anônimo disse...

Clube proíbe a entrada de mulheres gordas na balada




RIO DE JANEIRO (Do Guia da Semana), 1º de agosto - A discoteca Havana, que fica na Ilha de Jersey, no Canal da Mancha, impediu a entrada de mulheres gordas para tornar seu público mais atraente. A ordem, dada por Martin Sayers, proprietário do clube, foi cumprida pelos seus funcionários, que barraram cerca de 20 clientes consideradas acima do peso.

Uma das mulheres proibidas de entrar na discoteca chegou a falar com Sayers, que admitiu que não queria mais clientes acima do peso no local. Mas o proprietário do Havana foi obrigado a mudar de idéia em relação às mulheres gordas e voltar atrás em sua decisão, depois que milhares de pessoas aderiram a uma campanha de boicote à discoteca.

Sayers pediu desculpas pela discriminação e convidou as mulheres que estão acima do peso para voltarem a freqüentar seu estabelecimento.

Beijinhos
Gil

lu disse...

poxa, que equivocada sua tia. essa gente que se apega a esses padrões pra avaliar as pessoas deveriam repensá-los pelo menos uma vez que tem alguém próximo que está fora deles! impressionante como eles podem ser arraigados...

Anônimo disse...

Lola..cruel mesmo!Certos tipos de comentários nunca saem da nossa lembrança.Também sou da turma da Dieta,a qual invariavemente eu fujo como o "diabo da cruz'!MAS AINDA TENHO ESPERANÇA..,rsrsrs

Sério agora,incrivel o ser humano está sempre inventando algo para discriminar e menosprezar o outro.Quando isso irá parar?È barra quando nossa própria familia faz isso eles pelo menos tem a desculpa de que querem o nosso bem e sentem-se no direito de criticar a vontade,só que eu não deixo barato mando olhar pro próprio umbigo também!

Anônimo disse...

Oi Lola!
Conheci o seu blog hoje e simplesmente amei a sinceridade e o humor gostoso. Moro em Piçarras e também já sofri com a balança. Realmente, o melhor de tudo é se sentir pleno do jeito que você é! Um abraço e parabéns pelo blog,
Dai

Anônimo disse...

de quem é essa primeira imagem?

Nita disse...

eu acho uma estupidez tão grande essa coisa toda de "gordofobia". e pior ainda é essa desculpa de que gordura é sinônimo de falta de saúde. Minha mãe é a prova viva disso. Desde que eu me lembro ela sempre foi gordinha e tals, mas é a mais forte da família. Teve câncer de mama, e não parou de trabalhar. Diversas vezes ela foi fazer quimioterapia de mala na mão para ir pro Rio (eu moro em Campinas, ela trabalhou uns 2 anos no Rio, no esquema de vai no domingo a noite, volta sexta a noite) e nunca se abalou com nada. Ela não tem um problema de saúde sequer, o único que ela tem foi da teimosia de ter tirado o gesso dois dias depois de colocar quando era para ter ficado durante 2 meses.
Sei lá eu porque as pessoas são tão obcecadas com isso. Qual é a grande diferença entre gordos e magros afinal? Se alguém aí souber me responder, por faovor, porque eu ainda não descobri.

lola aronovich disse...

Suzana, é chato que estranhos e nem tão estranhos comparem mulheres a outras mulheres, ainda mais irmãs. Acho que isso não acontece tanto com irmãos. Pode acontecer, claro, mas nesse caso a comparação não inclui a aparência física. Só pra provar que, em pleno século 21, o que ainda se espera das mulheres é que elas sejam bonitas. Mas não cansa não, Su. Se suas filhas não vão ouvir palavras sensatas de vc, vão ouvir de quem?


Ale, vc toca num ponto importante. A gente não se sente atraída por um cara por apenas um motivo (ah, ele é alto), mas por uma série de motivos. I mean, seria rídiculo casar com um sujeito só porque a gente gosta do seu nariz, né? E dificilmente, se uma mulher fosse casada com um gordo, o pessoal ficaria dizendo que ela tem fetiche por gordos. Mas prum homem estar junto de uma gorda ele precisa ter uma tara sexual muito estranha, já que quem em sã consciência ficaria com alguém tão desprezado pela sociedade? E é isso: ele não tá com vc por ser gorda, mas por vc ser vc. E isso inclui montes de coisas além de vc ser gorda. Mas as pessoas não conseguem enxergar isso. A primeira coisa que elas reparam numa mulher gorda é que ela é gorda. E geralmente essa "realização" guia tudo o mais que a pessoa vai ver na gorda. É como se fosse a primeira E última coisa. Pra muita gente.

lola aronovich disse...

Malena, ah, às vezes eu sinto que sou passiva demais, que aguento tudo calada. Acho que temos que ser grossas de vez em quando sim. Cansa ser cordeirinho a vida toda!


Bom, Chris, quem sou eu pra condenar quem quer emagrecer? Não conheço ninguém que nunca tenha feito dieta na vida (bom, talvez alguns homens, mas mulher?! Não conheço mesmo!). A pessoa deve fazer o que quiser pra se sentir melhor. Mas viver uma vida cheia de neuras com a balança, com o que pode e não se pode comer, contando calorias, começando uma dieta nova a cada segunda-feira, uma vida dessas não pode ser muito feliz.
Comer é um dos maiores prazeres da vida, mas não pra todo mundo. O mundo em que a gente vive ensina que, pras mulheres, comer é quase pecado! Acho que essa "culpa por comer" (qualquer coisa que não seja uma saladinha) tem se alastrado muito entre as mulheres nos últimos anos. E sobre o Bambi... Ô filme triste e traumático! Mas concordo com a fala que vc citou.

lola aronovich disse...

É, é isso, Leo. As pessoas automaticamente assumem que seremos infelizes se não fizermos parte de um padrão de normalidade. Infelizmente, a maior parte das pessoas vê a diversidade como algo negativo. Pra elas, mundo ideal seria aquele em que todos fossemos iguais - o mesmo peso, a mesma altura, a mesma cor, a mesma orientação sexual, os mesmos objetivos. Só que seria chato viver num mundo de clones, né? Pra isso que servem as roupas! Todo mundo igual, mas vestido com roupinhas minimamente diferentes, e a gente assume que ISSO é "estilo"!


Li, as gordas têm muita vergonha de serem gordas. Tadinha da sua tia por pensar assim. Mas quantas vezes eu já não me coloquei nessa posição? Tal e tal não vai querer falar comigo por eu ser gorda. Acho que em muitos casos acontece sim de alguém me evitar por eu ser gorda, mas noutros a barreira sou eu que coloco. Agora, sobre criança gostar de gente gorda, outro dia li um blog, não sei qual, que dizia que, pra criança, é muito mais gostoso abraçrar um gordo (mais macio e envolvente) que um magro. Não sei se é verdade, mas nunca tinha pensado nisso.

lola aronovich disse...

É verdade, Cavaca: fica mais difícil ignorar o que vem da nossa família. Mas temos que criar uma certa distância pra saber que nem tudo que vem das pessoas que gostamos é inteligente, sábio, sensato... As pessoas da nossa família também são preconceituosas. Tem que se dar o devido peso a cada "preocupação", né?


Gil, obrigada pelo artiguinho. Mas isso de "mulheres na balada" é sempre uma coisa estranha, independente da mulher ser gorda ou magra. Numa boate concorrida, a mulher será julgada pela aparência pra ver se pode entrar ou não. E as mais velhas acabam ficando de fora. Os homens também são julgados, mas, pelo jeito (faz muuuuuito tempo que não vou a uma balada), há mais homens que mulheres. Então quase sempre há promoções de "mulher paga metade", "mulher não paga". É preciso haver muitas mulheres pra atrair os homens. Ah, lembrei. Tem uma cena de "Ligeiramente Grávidos" em que a irmã da protagonista não consegue entrar numa boate com a mesma facilidade de antes. E ela é magra, loira e linda, só que já passou dos 30 e poucos. O que não entendo é: por que se sujeitar a isso? Por que deixar que um segurança de uma boate ou uma "hostess" te avalie? Vá prum outro lugar! Deve haver lugares em que todo mundo entra e é aceito como é, não?

lola aronovich disse...

Lu, equivocada mesmo! Mas, no caso da família do meu pai, acho que é de família essa fobia com qualquer corpo fora dos padrões. Porque só não vejo isso acontecer com a irmã mais velha, que é pianista e é a única que ainda vive. Aconteceu com essa tia que morreu de esclerose múltipla, com meu pai, e com a outra tia que era bailarina. Ou seja, são quatro irmãos, e três tiveram essa fobia? Devem ter tido algum trauma de infância com a minha avó - é a única explicação!


Lúcia, eu não sei, o ser humano precisa se comparar. E geralmente existe um "Outro" pra exemplificar tudo aquilo que a gente não deve ser. Esse "Outro" precisa ser vilanizado pra que um padrão "normal" seja encorajado e aceito. É o tal negócio de cultivar um inimigo externo pro bem-estar do grupo, porque isso une o grupo. É bem estranho, mas parece que a gente precisa desse negócio de "Nós" contra "eles". Porque "nós" não seríamos "nós" se não fosse por "eles"... Acho que a gente vê uma repetição disso em todo lugar, do maternal à velhice... Seria ótimo se pudéssemos ver o "diferente" como parte de nós. Todos nós como um grupo só, de humanos. Aliás, só de humanos não, porque aí os animais viram os "outros", a quem podemos destratar. E se nós fossemos todos os seres vivos? Menos as baratas e os pernilongos?

Suzana Elvas disse...

Lola, fiz um post uma vez sobre uma enquete que a Marie Claire fez com estilistas. A pergunta era: "A sua moda veste mulheres GRANDES"? (O grifo é meu; mulher grande não necessariamente é mulher gorda.)

Cândida Sarmento, da Maria Bonita, foi na veia. "Moda e gordura não combinam. Cheguei a fazer até 46, mas estou parando, porque o que vendo mais é 38 e 40. É uma opção de trabalho - quem faz moda não pode fazer roupa para mulheres gordas. São mercados diferentes. Se a Maria Bonita começasse a fazer roupas grandes, sei que haveria fila na porta, mas não é essa a minha intenção."

Assim é que o 42 é o novo 38 e, se você não se rebelar, estará condenada a comprar roupas feias e estampas sem graça para sempre. Porque "moda e gordura não combinam."

lola aronovich disse...

Oi, Dai! Que bom que vc chegou aqui! Seja bem-vinda e apareça sempre! E é isso aí, vamos nos aceitar como somos!


Anônimo, não sei de quem é essa imagem. Mas é bonita, né? Peguei no Google Images. Às vezes eu penso se deveria deixar meu blog só texto, pra não pegar imagens alheias...


Nita, a grande diferença entre gordos e magros é que magreza é recomendável, e gordura é inaceitável. Tanto esteticamente quanto do ponto de vista "científico". Geralmente não há nem divisão entre o estético e o médico. Ambos acabam servindo à discriminação. E é apenas mais um padrão que se repete. Usamos a ciência pra condenar gays, negros e mulheres até não muito tempo atrás...

lola aronovich disse...

Então, Su, não dá pra entender essa mentalidade. Quero dizer, entendo que algumas marcas de grife queiram ser "exclusivas" da elite, e essa exclusividade se dá pelo preço e pelo tamanho. Mas TODAS as marcas querem ser assim? Já imaginou, deve dar uma boa grana fazer roupas bonitas pra mulheres gordas. Imagino que haja marcas assim. Nos meus últimos dias nos EUA, fui a uma loja de roupas especializada em "plus-size women", a Lane Bryant. Havia roupas muito bonitas pra mulheres entre os números 14 e 28 (não sei a que isso corresponde no Brasil). E as vendedoras eram todas gordinhas, então não havia um clima de vc se sentir inadequada. Eu nunca havia entrado numa loja especializada em tamanhos maiores. Gostei muito e comprei duas blusinhas, e descobri que meu número pra parte de cima é 16, e pra baixo é 14. E a média nos EUA e na Inglaterra é justamente essa... 14. Daqui a pouco vamos viver num mundo em que as mulheres "normais", na média, terão que comprar roupas em lojas para "tamanhos especiais". Faz sentido isso?

Suzana Elvas disse...

O problema, Lola, é que existem grifes assim, mas quem compra nelas é gente "gorda". E você quer ser tachado de "gordo"? Não.

Aí você se espreme num jeans M. Officer 18 números abaixo do seu, a calça ridicularmente arrochada, mas dane-se. Sua calça é M. Officer. Gorda, eu? De jeito nenhum.

Aqui no Rio, em que se cultua op corpo loucamente, dá pena ver as meninas em roupas que devem ter sido roubadas das irmãs mais novas - de 5, 6 anos. E você percebe pela cava, que é láááá em cima. A cintura não é baixa - é quase ginecológica. "Manequim 44" é palavrão, e por isso a grande indústria adotou o P-M-G - porque o M cobre de manequim 40 a 46.

Lolla disse...

Lola, qual é o seu email? É pra mandar o link do post que você pediu, não sei se posso postar direto aqui (se você não quiser que seus leitores vejam antes de vc fazer o seu post).

Sobre o lance de acharem que gordos estão à beira da morte, é um pezão no saco indeed. Eu, com 68 quilos e 1,72m de altura, sou obrigada a ouvir piadinhas do meu PAI. Acho sim que, no GERAL, é melhor para a saúde estar num peso normal (veja bem, NORMAL, o que não significa se adequar a padrões estéticos), com menor porcentagem de gordura, etc. Mas desde que a criatura já esteja saudável e feliz (e no fundo, mesmo que nem esteja saudável), o que o resto do mundo tem a ver com isso, mesmo?

lola aronovich disse...

Ah, é triste, né, Su? Isso de andar numa calça N números menor que o seu tamanho só pra não assumir que usa um número (44? Deve ser a média!) considerado grande demais. Aliás, isso de seguir a moda e cultuar o corpo já me parece uma grande loucura. Pra mim conforto tem que vir em primeiro lugar, sempre. Sempre me lixei pra moda. Inclusive no breve período em que fui magra...


Lolla, não se preocupa, pode colocar o link aqui nos comentários mesmo (só que, se ele for grande, coloca em duas linhas, porque senão o blogger corta). Ou pode mandar pro meu email: lola@lost.art.br
Vc que sabe.
Pois é, isso do "peso normal" é meio complicado. Se vc tem tendências genéticas a ser acima do peso, isso de ficar tentando todo tipo de dieta e o efeito sanfona que isso gera pode ser muito mais perigoso que qualquer doença diretamente causada pela obesidade. Além disso, a gente nem ouve falar de estudos científicos que desmentem a lenga-lenga que gordo tá com um pé na cova. Esses estudos não saem na mídia. Há mais de uma dúzia de estudos, por exemplo, indicando que quem está um pouco acima do peso (não obeso, mas com sobrepeso, com o IMC entre 25 e 29), vive mais e tem menos doenças que gente com peso normal. Por que a mídia não fala nisso? Porque não convém mexer com a indústria da dieta. A epidemia de querer emagrecer a qualquer custo depende que acreditemos na tal epidemia da obesidade...
E como vai indo o blogger? Melhor que o Wordpress?

Babi disse...

oi lola!
Essa conversa de que a gente tem que ser magro pra ser bonito ou feliz é velha na casa de minha mae. Ela tem 52 anos e faz ginastica pesada todos os dias, umas duas horas. Tem corpo de 40, ou ate menos...
Ela sempre controlou o que eu e minha irma comiamos, e sempre fez a gente malhar. Eu nunca gostei de fazer ginastica, mas até que durante a adolescencia fazia, obrigada, mas fazia. Quando entrei na faculdade parei, porque nao tinha tempo (ou essa era a desculpa que eu dava para a minha mae) e fui engordando aos poucos. Quando estava no ultimo ano, realmente nao tinha tempo para nada, e ficava o dia todo no computador, ou trabalhando na monografia, ou no estagio. Para piorar, eu estava organizando o meu casamento e me preparando para mudar para a Alemanha. Logicamente, engordei mais um pouco,e depois da mudanca engordei mais. Mesmo assim nao sou gorda, peso 60kg.
Bom, sempre tenho que escutar minha mae me perguntando se estou fazendo caminhada ou sei la mais o que. Ela nao sabe como é a vida fora do Brasil, em um lugar que chove e faz frio o tempo todo como aqui. Ela nao sabe como sofri para aprender a cozinhas sozinha, fazer compras sem falar alemao (nao entendia nada dos rotulos) e me virar com o que encontrava aqui.Mas para ela, isso nao interessa.
Viajei com o meu marido para Paris e postei as fotos mo meu blog para a familia poder ver. Qual é o primeiro comentario dela quando vê as fotos? Nao é "que lugar bonito", "que quadro interessante" ou "você gostou do passeio", nao!
A primeira coisa que ela fala é "nossa, quantos quilos você engordou? Pelo menos uns 4! Até seu rosto esta gordo!"
Eu mereco?
Depois dessa me deu até vontade de cancelar o blog.

abraco

lola aronovich disse...

Que coisa chata, Bárbara! Pra quem tem uma mãe tão obcecada com o corpo como a sua, até que vc se saiu muitíssimo bem! É dureza mesmo. Uma pessoa que faz duas horas de ginástica pesada por dia e controla a alimentação há anos não tem como não falar disso pra todo mundo. Imagino que essa obsessão com o corpo seja o papo principal da sua mãe. É como eu, que adoro cinema: muitas das minhas referências e vontades vêm dos filmes. Não tem como ser diferente com quem é obcecada pelo corpo. O melhor que vc pode fazer, Bar (e quem sou eu pra dar conselhos?), é saber, como vc sabe, que sua mãe tem essa obsessão, e ignorar o que ela te diz a respeito. Ela sempre vai dizer algo estúpido como "Uau! Vc engordou!" antes de falar algo sobre a cidade ou a sua experiência. Porque, pra ela, é a coisa mais importante no mundo. Se algum dia vc achar que dá pra conversar com ela sobre isso, e pedir-lhe pra parar, porque um comentário desses não ajuda MESMO, ótimo. Se não, ignore. Mas não cancele o blog por causa disso! Com todo respeito às mães, a influência que nossa família tem na gente é limitada. A gente tem que superar os traumas de infância e viver a nossa vida... Ficar ligando pro que a minha mãe diz ou deixa de dizer... eu acho que parei de prestar muita atenção com 16 anos.

Anônimo disse...

Lola achei muito bom que você falou
dos sentimentos relativos aos comentários de pessoas que te aborreceram. Já fui escultural mas a partir da gravidez, parto, amamentação etc fiquei um pouco gordinha. Agora com o motor nos
"5 ponto 6" ehehehe... apareceu diabetes que "amigada" com a hipertensão tornam-se perigosas.
Há uma endocrinologista me orientando. Não me sinto feia por estar gordinha mas temo por minha
saude. Meu marido, minha filha, mãe e manas me amam do mesmo
jeito .
Creio que você disse a coisa certa:
Lola está trabalhando, está amando, estudando! Seu biotipo na atual conjuntura é este.
Lola, e acho voce tão plena de humanidade, tão transparente, tão leve.
Ah! Se toda gordinha fosse Lola!!!
Abraço da Fatima de Laguna.
P.S.: Seja bem vida ao Brasil, fofinha amorosa!

lola aronovich disse...

Fátima, muito obrigada por todo o carinho! Só li hoje, e claro que seus elogios fizeram o meu dia (tradução literal do inglês. Nem sei se isso existe!). Ah, claro que a gente tem que cuidar da sáude, mas ser gordinha não significa ser doente. Eu acho que toda essa obsessão só surgiu pra que as pessoas que se sentiam mal dizendo "vc é feia por ser gorda" (porque, sei lá, é tão superficial e meio fascista, né?) possam agora, amparadas pela ciência, dizer "vc tem que emagrecer por conta da sua saúde". Fica mais classudo, mas o preconceito no fundo é o mesmo. É não aceitar qualquer um que esteja fora do padrão.
E sobre engordar, toda mulher engorda na menopausa. Isso é cientificamente provado tb, e não tem a ver com alimentação ou exercício. As únicas mulheres que não só não engordam, como emagrecem na menopausa, são atrizes de Hollywood! Sabe-se lá como elas fazem isso, mas deve ser dolorido. E caro.
Abração, Fá!

Samara L. disse...

Eu até que não posso reclamar. Lá em casa todo mundo é gordinho, então ninguém se sentia rejeitado por nada. Todo mundo se amava com todos o quilos. Minha mãe só entrou na neura quando na adolescência eu comecei a engordar demais e muito rápido - tipo uns 15 kg em dois anos - porque desconfiou que algo não estivesse muito bem comigo. E não estava - tenho uma baita tendência para compulsão quando estou mal emocionalmente - o problema era mais com a cabeça enfim.
Sofri preconceito na faculdade, mas tive todos os homens que quis - fora um, mas não foi porque eu sou gorda não - em geral, os melhores. ^_^ O maior preconceito vinha mesmo das próprias mulheres.
Eu sei que eu não deixo isso detonar meu dia. Sou uma gorda hostil para gracinhas e essas coisas da vida pública/corpo público que você falou. Ninguém mexe comigo duas vezes.
Em São Paulo, acontecia muito de me darem o lugar no metrô/trem, porque eu sou uma gorda maçã alta e vivem achando que eu estou grávida. Eu sorrio e aceito porque é melhor viajar sentada.=P