segunda-feira, 9 de junho de 2008

O CASO MEX/SEX

- Tá vendo aquela água mexicana? Ugh!

Fiquei indignada com o tratamento dado ao México em
Sex and the City. A Lolla Moon, uma brasileira que mora na Inglaterra e tem um ótimo blog, comentou:

Esse lance da água do México... Não levanto bandeiras porque, se fosse pra Índia, por exemplo, não beberia água da bica NEM MORTA. Não conheço ninguém que tenha ido até lá e voltado sem uma infecção intestinal. Do México eu não sei, mas isso tem muito a ver com a personagem da Charlotte, asséptica e certinha, e dentro do contexto, faz sentido. E sim, se elas estivessem no Brasil eu ia achar graça do mesmo jeito. :)”

Comecei a responder nos comentários e ficou longo demais, virou um post. Então aqui vai:

Isso da água do México é ultrajante, Lolla. Porque é um dos clichês que os países ricos, principalmente os EUA, falam de TODOS os países pobres. Eu me lembro quando ensinava usando o Interchange (que é o bestseller da editora Cambridge pra se ensinar inglês no mundo) de um dos subcapítulos do livro. Era sobre o Brasil. Sabe o título? "Don't drink the water". Ah, é de matar. Brasil, México, e outros países pobres têm mil e uma coisas bonitas, e americano se concentra na água?! Sendo que milhões de pessoas bebem essa água todo dia e não morrem nem ficam doentes? Escrevem um capítulo enfocando o Brasil (apenas porque o Brasil é o maior mercado do Interchange, depois do Japão), e falam da água que não se deve beber?! As personagens de Sex and the City vão a um belo hotel mexicano de alto padrão, e o filme se centra no mesmo “Não beba a água”?! As amigas estranham que Charlotte despreze os banquetes do hotel e coma seu próprio lanchinho made in USA. Afinal, dizem elas, “Estamos num resort cinco estrelas”. A resposta dela, "But it's still Mexico" (“Mas ainda é o México”), é uma afronta a todos os países em desenvolvimento. É meio que dizer que não adianta o país se desenvolver, melhorar aos poucos, inclusive oferecendo o melhor aos turistas, sempre será um atraso. E essa fala é um escândalo dentro de um contexto totalmente discriminatório que existe nos EUA, em que a maior parte da população apóia a construção de um muro pra impedir que imigrantes ilegais entrem no país. É jogar lenha na fogueira. É fomentar preconceito. Toda vez que se fala em barrar imigrantes, o pessoal no fundo se refere aos mexicanos. A América é um país feito por imigrantes, mas quer que os “hispânicos” (aqui isso é raça!) morram. Tem medo que os EUA deixem de ser um país que fala em inglês, pra ser um país (horror dos horrores!) bilíngue. Enquanto isso, 10% dos homens mexicanos vivem nos EUA. Pegam um trabalho pesado que ninguém mais quer. Portanto, o contexto do “ainda é México” é muito maior que o universo da Charlotte. É uma fala extremamente ofensiva. E não importa se vem de uma só personagem. Sex and the City valida as opiniões dela. Quando ela tem diarréia por acidentalmente engolir duas gotas de água mexicana, o filme tá dizendo: “Ela tem razão”. Quando o público americano se acaba de rir com a fala, ele assina embaixo do preconceito da comédia. Eu não preciso ser mexicana pra me ofender, porque sei bem que o “não beba a água” não se restringe ao México. E sei o que esse tipo de atitude representa.

Ontem procurei na internet alguma manifestação de repúdio do México contra o filme Sex and the City, mas não encontrei nadinha. Felizmente, a Denise, do brilhante Síndrome de Estocolmo, encontrou por mim. Tá aqui (em espanhol). Leia também a resposta dela às críticas que recebeu por ter, dãã, criticado a comédia romântica da vez.

40 comentários:

Nita disse...

eu não assisti o filme, não vi a cena, só li sua crítica e esse post sobre sex and the city, mas pelo que li aqui, esse negócio todo de it's still mexico foi uma daquelas provocações indiretas, onde você provoca sem dar a cara a tapa para quem discordar, porque pode argumentar que era só "parte do universo da personagem".

Denise Arcoverde disse...

Lola, como eu escrevi lá no meu blog, eu bebi água da torneira não somente no Mexico (Chiapas), mas na Suazilândia (Àfrica), porque eu achei que pior do que ter um problema estomacal seria ser desrespeitosa e ofender as pessoas com quem eu estava trabalhando e que eu admirava tanto.

Passei duas semanas trabalhando na Africa e bebendo - não muito, reconheço que tentava evitar, sempre que possível - água da torneira.

Como disse em meu post, essa idéia de botar uma personagem cheia de preconceito como "crítica" não me convence nadinha. Isso poderia fazer sentido se a Charlotte não tivesse nenhuma empatia com o público mas vi pesquisas aqui nos EUA que indicam que o público se identifica muito mais com Charlotte (provavelmente por ela ser mais conservadora).

Em breve, chique vai ser viajar pro Mexico com sua marmitinha...

Detestável.

Denise Arcoverde disse...

Lola, como estamos falando sobre a mesma coisa, coloquei uma citação do seu post e link para ele lá no meu último post sobre o tema:

http://sindromedeestocolmo.com/archives/2008/06/3990.html/

E vou colocar seu link lá no blog, daqui a pouco :-)

Beijos!

lola aronovich disse...

Eu já ia fazer o mesmo, Dê. Até porque procurei ontem na internet alguma manifestação do México e não encontrei nada. Foi ótimo encontrar no seu blog!

Juliana disse...

Não vi o filme, não posso comentar, mas tenho o que falar sobre a questão da água de maneira geral. Claro que chegar ao ponto de não beber é absurdo, mas o avô do Nick falou a mesma coisa pra ele quando ele veio (e ele é super viajado) e eu fiquei ofendidíssima. Até que comecei a conversar com outras pessoas que conhecem outros países, inclusive europeus, e obtive uma outra explicação pra essa da água que me fez pelo menos respeitar a neura de cada um, quando é por esse motivo (no caso do Nick, era): parece que o sistema de tratamento de água dos países é diferente, e o organismo de quem mora no lugar é acostumado com certas químicas, bactérias, sei lá o quê. Isso faz sentido porque a gente sabe mesmo que o organismo cria anticorpos para a bactéria com a qual entra em contato, especialmente quando criança, ou com freqüência. Se vc nunca saiu do seu país e de repente é exposto a bactérias e coisas que seu organismo nunca viu na vida, pode ser que eles sejam nocivos para você, sim. E isso vale pra qualquer lugar, inclusive para EUA e Europa. Claro que chegar ao ponto de não beber a água pode ser exagero, já que vc vai estar comendo a comida feita naquela água, respirando aquele ar, e seu organismo vai estar se adaptando, mas às vezes não é preconceito puro, não.

Denise Arcoverde disse...

Obrigada, Lola :-)

Juliana, você tem razão, o que não faz mal a quem tem o organismo acostumado, pode fazer mal a outras pessoas que nunca tiveram contato com aqueles micro-organismos.

Eu não tenho medo, como e bebo de tudo. Escrevi no blog sobre uma vez que estava num boteco na frente de um templo hindu na Malásia, conversando com um argentino e um velhinho indiano, que molhou um shapati (espédie de pão) galinha ao curry e me ofereceu. Da mão dele. sujíssima. Tivbe uns segundo pra refletir e decidi que ele não merecia essa descortesia, comi e não passei nada mal.

O problema do filme nem é tanto o lance da água, mas não comer nada de um restaurante chiquérrimo de um hotel cinco estrelas, é um insulto.

Suzana Elvas disse...

Oi, Lola;

Isso me lembra um amigo meu de São Paulo que, vindo de carro pro Rio, me pediu uma lista de lugares onde deveria estacionar o carro, quais eram os locais "perigosos" e onde tinha mais tiroteio. Como se em São Paulo (ou qualquer outra grande cidade do mundo) fosse comum você andar de máquina fotográfica no pescoço, às 2h da madrugada, pelos becos mais escuros e achar que não há nenhuma possibilidade de ser assaltado.

Suzana Elvas disse...

Lola, me lembrei desse link para esse post e como complemento do post sobre o filme "Mandando bala":

http://www.chakuriki.net/en/world/

A história: esse é o mapa do projeto Fool's World Map. O autor é um japonês a quem, em 10 de fevereiro de 2004, um texano perguntou quanto tempo demorava para se chegar de carro dos EUA até o Japão. Aí, o japonês teve a idéia de fazer um mapa do mundo conforme a imagem que pessoas como o texano tinham na cabeça.
Depois de dois anos, o mapa ficou pronto e é hilário. Se você clicar no país vem a descrição; Egito, por exemplo: "Egypt is an island in the Egyptian Sea off the coast of Africa." Tem países como Atlântida, Mu, Utopia, Oz e e "Carnival"; Brasil e Argentina foram realocados para a África, que ainda abriga a Jamaica.
Sente e chore.

Suzana Elvas disse...

E o que dizem do Brasil:

"You must be careful, in Brazil, a lot of hungry monkeys walk on the streets trying to eat tourists and poor men can try to assalt you too. Do not drink brazilian water, it can kill you in seconds."

lola aronovich disse...

Oi, Nita, quem fez Sex não dá a mínima pro que os mexicanos podem reclamar. E sim, jogar a culpa na personagem seria o mais fácil. Pena que o filme viabiliza o preconceito da personagem! Mas vc não vai ver o filme? Nem por curiosidade?

Pois é, Denise, não posso falar "desta água não beberei" - agora literalmente - mas vejo muita frescura nisso de cuidado com o que vc come/bebe quando está num país pobre! Eu venho de e voltarei em breve pra um país pobre, o Brasil, mas sou de classe média. E ainda assim já comi muita porcaria na rua, bebo água de torneira em todo lugar, e felizmente nunca passei mal. Nunca tive intoxicação alimentar. Pode acontecer, claro. Mas condenar um país inteiro e já sair avisando "don't drink the water" é coisa de país rico mesmo. E pobre em espírito.

lola aronovich disse...

Sabe, Ju, no mesmo dia que eu e o maridão fomos ver Sex (31/5), logo depois fomos jantar na casa do meu querido co-orientador. Ele foi nos buscar no cinema (é perto da casa dele), e conversamos sobre o filme, que ele não tem a menor intenção em ver. Eu comentei que o filme era racista, contei o que a Charlotte diz sobre o México, e ele automaticamente disse: "Eu também já passei mal no México". E falou disso do organismo de pessoas de países ricos não estarem adaptados pra qualquer mudança. Eu não sei, eu realmente vejo muito preconceito numa afirmação dessas - don't drink the water, ohhhhhh! (e como mostra a Suzana no mapa que ela indicou, "Brazilian water will kill you in seconds", isso é muito comum). O único lugar em que não bebi água de torneira foi em Moscou. Eu provei, achei o gosto esquisito, e a cor, pior ainda. Ela era branca!
O "It's still Mexico" da Charlotte é ofensivo em tantos níveis diferentes... E realmente, é ofensivo pensar que até um 5-star resort vai servir água e comida ruins, só por ser mexicano. Até parece que quem fica num resort desses é gente pobre como a gente, com grande defesa "natural" às bactérias...

lola aronovich disse...

Su, hilário esse mapa! Quer dizer que brasileiro, quando não tá roubando, tá falando uma língua sem vogais?! Puxa, mas se tem uma língua que tem vogais, é a nossa! Felizmente a gente não tem nenhuma palavra que se escreva "ght". Isso sim é cheio de vogais! Mas olha, não quero nem pensar no que daria se a gente fosse fazer uma mapa-múndi baseado nos "conhecimentos" de boa parte da classe média brasileira... Seria muito diferente desse aí?

Suzana Elvas disse...

Lola, acredito que não, mas o que mais me impressiona sempre é o discurso "temos mais prêmios Nobel, nossas universidades são melhores, nossa educação é melhor" e ver como o americano médio é ignorante - e não está nem aí com isso, ofenda a quem ofender. Assim é que temos o próprio presidente americano falando sandices em discursos oficiais fora dos EUA.
Bjs

Suzana Elvas disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Lola, achei seu blog no favoritos, tenho vindo sempre e gosto muito. O preconceito dos americanos com relação a tudo que não é americano a gente sente muito quando está lá, estudando. Eu me senti muito invisível quando fiquei por lá, e detestei a experiência, que foi na hora errada, tinha de ter ido mais jovem, quando a gente ainda tem paciência e tolerância com a cretinice alheia.
um abraço, parabéns pelo blog,
clara lopez

Lolla disse...

Wow. Nem sei se precisava disso tudo, mas enfim. EU ainda acho que tem muita gente "missing the point". E que, no afã de defender os "frascos e comprimidos" (hehe) você não me entendeu muito bem, dear Lola.

Devagar: Eu não bato palmas para o comentário. É claro que é preconceituoso. Mas, como não gosto de cultivar o "politicamente correto", admito que teria medo de beber água em certos países, conhecidos pela falta de higiene. E se eu, que sou quase nada fresca, tenho esse medo (e coragem de admitir, assim como a Denise ali em cima, que admitiu que "tentava evitar, sempre que possível" a água da torneira), gente, IMAGINA A CHARLOTTE (tipo, HELLO, vocês assistiram a série, né?).

Paranóias e frescura são a marca registrada da personagem. Os Simpsons vieram ao Brasil num dos episódios, meteram o malho no país e a blogosfera disse que "era apenas um cartoon". Taí - a Charlotte, de tão caricata, é quase um cartoon. Então, por que é que os Simpsons podem brincar com estereótipos de terceiro mundo, e a Charlotte não? Só porque SATC, o "filme consumista do demo"?

O filme TANTO não corrobora a atitude dela, que faz com que as demais moças achem graça do comentário da Charlotte. E veja só: Carrie, Samantha e Miranda beberam da água e comeram da comida normalmente, e ninguém passou mal. Justamente a Charlotte, que se protegeu TANTO, arrumou um piriri. Se a culpa fosse da água, TODAS elas teriam tido problemas. Eu entendi o piriri da Charlotte como uma chacota com o preconceito tolo dela. Quase um castigo ("viu, foi falar besteira, teve uma disenteria randômica!"). Mas eis que aí mora a beleza do cinema e da literatura: as muitas interpretações possíveis em torno do mesmo tema.

Do mesmo modo que o México pode não gostar de ser rotulado como "sujo", os EUA podem não gostar do rótulo de "povo ignorante" que recebem de tantos (inclusive de gente que costuma comentar aqui). Como se o "cidadão médio" brasileiro (ou britânico, japonês ou iraniano) fosse, assim, "genial".

De resto, creio que sou mesmo uma pessoa mais relax, e que levar sempre tudo a ferro e fogo é meio desgastante. Agora, fiquei até com medo de falar no blog sobre o lixo/sujeira que vi nas ruas da Sicília; vai que o meu singelo post cria um incidente diplomático? Eu hein... Tô fora, beijos.

Anônimo disse...

Cara, nem sei o que dizer...

Detestável. Enough said.

Lolla disse...

Ah, me permita um adendo/digressão final: depois de ler suas declarações nesse post sobre o preconceito dos EUA contra imigrantes pobres (das quais assino embaixo, aliás), fiquei genuinamente feliz por saber que seu tempo na terra do Tio Samuca está acabando... Beejesus. Deve ser horrível viver num lugar que a gente despreza. Eu, por exemplo, não sei se conseguiria nem visitar a China, quanto mais viver lá.

lola aronovich disse...

Eh, Su, concordo com vc. A gente realmente espera que o pais mais rico do mundo seja tambem o mais bem-informado. O que definitivamente nao eh o caso do americano medio. Eles nao estao bem-informados nem sobre o que acontece no proprio pais! (os noticiarios daqui sao uma desgraca de tao alienantes).

Oi, Clara. Obrigada pela visita. Que pena que pra vc viver nos EUA foi uma experiencia tao ruim. Conta mais detalhes, se puder. O que vc veio fazer aqui? Onde ficou? Veio estudar? Quantos anos tinha? Apareca sempre aqui no blog.

lola aronovich disse...

Lolla, sei que vc nao bateu palmas pro comentario, e nao disse isso no post. Eu nao fico chateada com o comentario do filme por ele ser politicamente incorreto, mas por ser claramente preconceituoso. Tambem nao me importo em ser politicamente incorreta. Por exemplo, no caso que a Denise citou, se eu estiver num pais estranho e alguem quiser me dar uma comida que eu nao goste, pode esquecer. Nao sou de aceitar so pra nao ofender (galinha com curry tudo bem, mas nao como frutos do mar e nada muito "exotico"). Inclusive, posso estar jantando na casa de alguem, e se eu nao costumo comer aquilo, nao vou comer mesmo (por isso sempre aviso a pessoa sobre o que eu nao gosto, e nunca tive problemas. Comunicacao eh a melhor saida!).
Sobre Sex, as amigas nao fazem exatamente graca da Charlotte por ela nao comer a comida. Elas so acham estranho. Mas o filme corrobora a atitude da Charlotte, sim. Primeiro que eh a narracao da Carrie (uma narracao, digamos, "oficial", legitimada pelo filme) que explica que Charlotte se sentiu tao feliz que abriu a boca e "esqueceu" que estava tomando banho no Mexico, e engoliu as gotinhas. Logo em seguida Charlotte passa mal. O filme deixa claro que ela passou mal por ter engolido agua mexicana. Ou seja, ela tinha razao ao trazer seu proprio lanchinho. Foi num unico momento de distracao que ela bebeu agua e passou mal. As amigas riem dela nao por ela ter bebido agua mexicana e passado mal (isso nao esta em discussao no filme), mas por ela fazer coco nas calcas. Nao importa que as amigas nao passem mal (na realidade a gente nem sabe disso - elas podem ter passado mal e o filme nao mostrar, porque toda a estada no Mexico eh rapida), porque elas nao estavam preocupadas com a "sujeira" mexicana. A unica que se preocupa passa mal, o que mostra que ela estava certa em se preocupar (e a plateia ri junto...). Eh uma catarse coletiva contra um pais pobre. Um jeito de extravasar, no escurinho do cinema, em publico, o preconceito que americano tem contra hispanicos. O filme sabia muito bem o que estava fazendo. Os filmes testam suas piadas em exibicoes-teste, e duvido que Sex tenha sido excecao. Tudo bem um filme ser preconceituoso pra arrancar risadas, faz parte. So nao da pra negar que seja muito preconceituoso. Racista, alias, porque aqui hispanico eh raca.
Nao ta em discussao como americano se sentiria ao ser chamado de ignorante, Lolla. Ate porque quem se chama de ignorante sao eles proprios, atraves de mil e um filmes (como o otimo ate a metade "Idiocracy", por exemplo). Eles nao tem a menor ideia do que outros paises pensam deles, porque nao vem filmes/ouvem musicas/leem livros de outros paises. So ficam revoltados quando outros paises se opoem as guerras que eles promovem em nome da liberdade.
E convenhamos, ha uma distancia consideravel em ter uma blogueira brasileria falando mal dos EUA ou das ruas sujas da Sicilia e ter um super blockbuster hollywoodiano insultando um pais inteiro!

lola aronovich disse...

E Lolla, sobre seu adendo, eu estou feliz que volto pro Brasil em menos de dois meses (como estava previsto desde o inicio - eu vim pra ca pra ficar exatamente um ano, nem mais nem menos). Porem, a experiencia aqui foi boa. Acho que minha vida eh muito simples, muito relax tb, e que eu e o maridao poderiamos ser felizes em praticamente qualquer lugar do mundo (quer dizer, num lugar pacifico, e de preferencia limpo, tranquilo e bonito. Certamente poderiamos ser felizes no Mexico. Ainda mais num resort 5 estrelas do Mexico!). Eu nao desprezo os EUA, muito menos os americanos (que eh gente boa, em sua imensa maioria). Mas tem muita coisa errada com os EUA, assim como tem com todos os outros paises. A diferenca eh que os outros paises nao sao o maior imperio da historia do mundo. Mesmo que os EUA fossem a oitava maravilha (o que nao sao), a gente ainda teria muito pra critica-los, por tudo que eles representam. Essa atitude de imperio desprezar paises pobres eh tao tipica... Eh esse o contexto daquela cena de Sex.

Unknown disse...

Lola, eu adoro viver aqui em Washington, DC (que, obviamente, não é o mesmo de viver em North Dakota), meu marido é americano e tenho maravilhosos amigos americanos, não critico povo nenhum, tudo tem seu lado bom ou seu lado mal. Não saberia dizer qual o melhor país, Suécia, EUA ou Brasil. Cada um tem suas vantagens.

Mas se eu estiver com meu Ted, sou como você, fico feliz em qualquer lugar e os EUA podem ser, sim, um país muito interessante, não cho que o povo daqui é pior do que os brasileiros de classe média (ou alta), são todos farinha do mesmo saco.

Quanto a comer, deixa explicar, eu sou super fresca com comida, não pela limpeza, mas pelo sabor, sou meio basiquinha e não gosto d emuita coisa e não tem quem consiga me fazer comer, como peixe... argh...

Mas no caso, o indiano me viu comendo a galinha antes, aí, não davapra dizer que não comia... mas por mais que ame meus amigos, jamais comeria peixe!

Quanto a beber a água, claro que a gente sempre precisa ser um pouco cuidadosa e evitar, se possível, mas eu procuro não ter paranóia, como eu disse, bebi muita água da torneira na Africa, o que pouca gente faria, mas não tive nada.

Eu nunca tinha vido a Charlotte tão imbecil nos seriados, senão jamais teria assistido todos, não me convence esse tipo de "gozação".

Antonio de Castro disse...

adorei a discussão
ainda não vi o filme

gostava da série, mas tow decepcionado cm essas histórias aih estão falando d preconceito cm mexicano

mt mau-gosto

xx

Suzana Elvas disse...

"Eles nao tem a menor ideia do que outros paises pensam deles, porque nao vem filmes/ouvem musicas/leem livros de outros paises."

Voltando ao cinema: chega-se ao ponto de grandes sucessos não-americanos serem refilmados (Às vezes, em seguida) para o "padrão americano". Filmes e seriados como "La femme Nikita", "El mariachi", "Abre los ojos" (Vanilla Sky), "Life on Mars", pra citar os mais conhecidos e recentes.

É só ver as críticas do Oscar desse anos - muitos "estrangeiros" levaram os principais prêmios, mesmo atuando em produções americanas.

lola aronovich disse...

Denise, concordo contigo: dá pra ser feliz na maior parte dos lugares, e os americanos não são muito diferentes dos brasileiros (e outras nacionalidades) de classe média/alta. Eu gosto de Washington DC. Não sei se moraria aí, mas pra visitar é muito bom. E eu também sou fresca pra comer (apesar do duplo sentido da frase). Também sou basiquinha, não como nada que venha do mar, e se tiver sobremesa, prefiro que seja algo com chocolate. E é aquele negócio: eu amo meus amigos, mas felizmente eles me amam também, e não me fazem comer o que não gosto. Às vezes experimento coisas e até gosto, tipo... lentilhas.
Mas eu também não me considero hiper fresca. Praticamente só não como o que venha do mar. E alguns cortes de carne que pra mim não foram feitos pra comer, sabe? Fígado, rins, miolos etc. De resto...
Comecei a ler seu blog de trás pra frente, de 2003 pra cá. Estou em maio/04. Vc ainda está em Estocolmo (eu tinha um monte de amigo sueco, mas nunca pisei lá).

lola aronovich disse...

Oi, Peq. Diabo! Só te conheço dos comentários que vc deixa no blog do Leo. Então, imagino que vc vai ver o filme, já que gosta da série. É, eu achei que corria um racismo no subtexto do filme (não só o negócio do México, mas também a fala da Miranda de "vamos seguir o homem branco!" quando ela e Carrie estão em Chinatown. Essa fala me irritou na hora mas esqueci dela imediatamente. Sério, ao sair da sessão não me lembrava mais. Sabia que tinha mais alguma coisa ofensiva além do insulto ao México, mas não lembrava o que!). Anyway, apesar disso, Sex, o filme, não é ruim. Eu não considero nem de longe "um dos piores filmes de todos os tempos", como a Denise diz. E a Dê gostava mais da série do que eu!

Então, Su, isso de filme estrangeiro não chegar aqui me impressionou muito. É raro um filme não-americano conseguir distribuição. Imagino que em NY e LA seja um pouco diferente, mas espectador americano de todas as outras cidades depende de cineclubes e museus se quiser ver filme estrangeiro. Não passam em multiplex MESMO! Mesmo filme independente americano tem dificuldade pra passar em multiplex. É muito estranho, porque, pô, se um cinema tem 12 salas, não daria pra reservar UMINHA pra passar um filme um tiquinho alternativo? Foi uma experiência interessante estar no cinema do museu daqui vendo um filme - oh god, esqueci o nome do filme! - alemão, com legendas, em que um dos personagens, que já havia vivido nos EUA, fala mal dos americanos. É desconfortável pro público americano (como seria pra qualquer nacionalidade). Mesmo pra parcela minúscula do público americano que se desloca a um cinema num museu pra ver filme com legenda.
Enfim, Su, por isso não sei até que ponto devemos criticar o Michael Haneke por ter refilmado seu Funny Games praticamente cena a cena. Ele queria que americanos vissem seu filme, que critica justamente a violência no cinema americano. No way que americano vai ver um filme austríaco. Com a Naomi Wolf mais americano deve ter visto, embora o filme tenha sido lançado em circuito reduzido, de filme independente. No way out!

Anônimo disse...

olás,

o que eu ia escrever já foi +/- explicado, sobre estarmos ou não acostumados às bactérias da água de algum lugar. e os dois relatos que seguem aconteceram. o primeiro, um namorado que tive, morou (a trabalho) no México naquela cidade da fronteira com San Diego (deu branco agora) e no hotel em que eles ficaram todos os dias quando chegavam do trabalho tinha uma garrafinha de água mineral pra cada um no banheiro, e as instruções: para escovar os dentes.
o segundo, visitei o Egito em 2002 e fui super alertada pra não beber a água do lugar, não comer em restaurantes locais, etc. bom, eu o mesmo namorado, que não gostamos dessas frescuras, descobrimos um restaurante muito simpático, num bairro nada turístico (a minha cara, aliás, detesto fast-food) e comemos uma comidinha deliciosa, caseira, beleza. só que tinha salada e a salada obviamente foi lavada em água corrente. e eu fiquei um dia interinho de cama no hotel com piriri federal que só passou depois de tomar uns comprimidinhos locais "pra turista", e só à noite consegui sair pra tentar comer alguma coisa. uma sopinha deliciosa que me prepararam depois de escutarem minha estória. o namorado, que é casca-grossa, não ficou tão ruim como eu fiquei, mas teve uma leve dor de barriga.
mais: nunca bebi água da torneira em NY, é escrotamente suja, escura e turva. ninguém bebe, por isso sempre todo mundo carrega garrafinhas de água mineral. na França idem, a água é muito pesada. e só pra encerrar, essa foi um mexicano mesmo que me contou: aquele limãozinho que neguinho hoje coloca nas cervejas mexicanas, originalmente era pra você limpar o gargalo e poder beber direto nele. ou seja, o limão era jogado fora.

quanto ao filme, vou assistir esse domingo com umas amigas.

abraços!

Anônimo disse...

Olá Lola, boa tarde...Meus amigos e as namoradas dos meus amigos tivemos um sex and the city date, ontem. Eu nunca vi nada da série, acho que deve ser melhor que o filme, que aliás mostra uma vida que "muita gente" gostaria de ter. Se bem que de facto morar em NY deve ser diferente, a cidade parece ter de facto aquela atmosfera de oportunidades que se vê em muitos filmes. Quanto ao filme, ninguém gostou do racismo contra o méxico. Ninguém riu. O mais divertido foi ouvir um velhinho no inicio do filme gritar lá na frente: Cadê o sexo!

lola aronovich disse...

Aninha, valeu pelos relatos. Eu bebi agua de torneira em NY (e eu bebo MUITA agua, entre 6 e 8 litros por dia) e nao tive problema nenhum. Mas eu devo ter um sistema de ferro, porque ja comi muita porcaria, agua e comida suspeitas, e nunca cheguei nem perto de uma infeccao alimentar (deixa eu bater na madeira). Depois diga o que acho do filme!

Cavaca, nao pensei que vc iria achar o estilo de vida mostrado em Sex tao diferente daquele que vc descreveu de Roma (homens e mulheres se vestindo como se fossem modelos, por exemplo). Mas claro que muita gente gostaria de ter os privilegios das personagens, que raramente falam em dinheiro. Concordo com o velhinho da sua sessao. Agora que temos 4 personagens monogamicas, o sexo ficou bastante ausente do filme!

Anônimo disse...

Ah lola, é que Italiano se gaba de saber tudo sobre moda e comida e isso toda a gente sabe.
É o que se espera deles, especialmente em Roma ou Milão.
No entanto NY, não sei, parece mais sizuda e comercial e acredito mesmo que uma pequena parcela dos novaiorquinos conseguem ser daquela maneira. Aquelas quatro meninas são "victimas" da moda, mas aquilo é tudo exagerado, como disse a própria Sara-Cara-de-Cavalo-Parker (aliás é uma cara de cavalo bem bonita) numa entrevista. E como você já bem disse elas mais parecem gays.

lola aronovich disse...

Relendo, vi que meus comentários são cheios de erros, tipo "depois diga o que ACHO do filme" (eu mais ou menos sei o que eu acho do filme). Mas o pior foi escrever Naomi Wolf ao invés de Naomi Watts. Eu tô senil!

Anônimo disse...

Oi, Lola!

Vi o filme ontem! Fui com duas amigas francesas (moro em Londres) e fiquei preparada pra cena. Elas riram um pouco e poucas pessoas na sala riram messsssmo. Teve um cara que deu uma gargalhada, mas teve bem menos reação do que eu estava esperando. Pra mim, a Charlotte não teve o piriri pelas gotinhas d'água, mas por ter se entupido daquele yogurte/creme que era a única coisa que ela comia, isso sim. Qualquer pessoa em qualquer lugar teria uma reação intestinal parecida, não acha? Perguntei pras meninas o que elas acharam da cena, e elas não acharam nem um pouco racista, mas sim engraçado mais ainda pelo desfecho com a Charlotte, tipo ela teve bem o que merecia.

Gostei do filme no geral, mas a duração pega, a maior parte das pessoas reclama no final. E continuo achando essa série uma das coisas mais irreais do mundo. Nova York não é assim, pelo menos a que eu conheci não era.

Beijos!

Anônimo disse...

Nossa, ainda bem que eu não tenho essa cabeça de "ó meu Deus como os americanos são opressores"... Que recalque, menos, por favor, né? Porque pra mim, Charlotte não queria comer nem beber nada no México com medo da tão falada Vingança de Montezuma"", só isso.
Quando ela passou mal, foi porque ela SÓ comia pudim de chocolate, não foi por causa da água. Ela ACHOU que tinha sido a água, porque ela é uma debilóide.

alice disse...

lola, na época q vi o filme me senti exatamente assim: revoltada! achei o filme todo muito chato, por sinal, super arrastado, longo, sem história, e bem fútil.
[e olha q eu gosto de futilidade, sabe? adoro o discovery home and health hehehe]

mas na mesma hora eu me lembrei de um caso: uma amiga minha morou no equador por 2 anos com a família e o irmão menor (q era bebê ainda) acabou infectado (e assim q se fala?) por uma giárdia, um parasita.

claro q todos eles bebiam a mesma água e comiam a mesma comida, mas tudo indica q ele sofreu pq seria um organismo mais suscetível.

daí não sei até onde é preconceito... aqui mesmo no brasil, eu não bebo água da bica, só filtrada (é a mesma, mas o filtro garante uma pureza maior)

beber água do chuveiro, apesar de corrente, não é 100% potável (pelo menos foi oq eu aprendi qd tinha uns 8 anos, na escola)

se eu fosse à índia, tb teria muito nojo. mesmo vendo filmes indianos (e não a visão que os outros têm da índia), continuo não tendo nem vontade de pisar lá.


mas, enfim, é um absurdo mesmo um blockbuster de grande audiência ajudar a incutir ainda mais esse tipo de ideia. podiam ter deixado mais explícito q se tratava de um ponto de vista equivocado (talvez deixando claro q nenhuma das outras passou mal).

como vc mesma disse, se pelo menos não fosse a voz da narradora q justificasse o efeito colateral como algo natural naquela cena do chuveiro... já pegaria menos mal

Julia disse...

Eu não bebo água da troneira aqui e não beberia em nenhum lugar do mundo.

Aninha disse...

Quando assisti ao filme, entendi que ela tinha passado mal por só ficar comendo aqueles lanchinhos.
Pensei: "Bem feito". Adorei a crítica!
Me sinto idiota :-(

Anônimo disse...

Lolla, eu amo Sex and the City, mas confesso que quando eu vi a cena não gostei nenhum pouco! Achei desnecessário que o diretor do filme incluísse no filme uma fala tao pobre , foi diretamente um. insulto aos mexicanos... Não gostei! Beijos :)

Anônimo disse...

Mas um hotel de 5 estrelas não serviria agua de torneira! O filme realmente insulta os mexicanos... não gostei!

Anônimo disse...

Quando ela come o pudim e as meninas perguntam se ela só iria comer aquilo, ela responde: E México! Ou seja, nada ali era confiável para se comer... Amo os EUA e amo o filme, mas o diretor foi infeliz nessa cena.

Anônimo disse...

Sabe, o ponto em questão não e tomar agua de torneira, ou se a agua dos EUA e mais limpa, ou se o organismo de algumas pessoas são mais vulneráveis em fim... o ponto em questão e que tem coisas que e melhor guardar os para nos mesmos... a cena em que a personagem Charlotte insulta o México e totalmente desnecessária, sabe... nas ultimas 2 décadas mais de 17 milhões de pessoas morreram na Africa de HIV , mas sera que vamos sair por ai dizendo: Eu nunca vou a Africa porque não quero contrair HIV! Isso seria um insulto a um pais de poucos recursos e um insulto a pessoas que são devastadas ano apos ano com a pobreza e a fome... precisamos ver algo de bom nas coisas, eu tenho certeza que a Africa, bem como muitos paises pobres possuem algo. de bom, que possamos contemplar, uma critica quando sincera tende a nos tocar e ate mesmo provocar mudanças. Mas os insultos por outro lado, não acrescenta em absolutamente nada! Então, e isso o que eu penso, para mim aquela cena do filme foi infeliz e pobre em conteúdo.