quinta-feira, 24 de abril de 2008

DIVAGAÇÕES SOBRE CABELO, RACISMO, ACEITAÇÃO DO CORPO E REVOLUÇÕES

Este post será sobre cabelo, já vou avisando. Ontem li um texto muito bonito de uma mulher que começou a perder o cabelo e se desesperou. Só agora, uma década depois, ela está se aceitando (você pode ler aqui; está em inglês). Ela cita uma pesquisa em que 63% das mulheres britânicas que estavam ficando carecas contemplavam o suicídio. Parece tão absurdo pensar em se matar por causa de cabelo (que tanta gente chama de “células mortas”)! Mas é um desses elementos que nos faz mulher, já que cabelo está muito ligado à sensualidade. Pense em todos os comerciais de shampoo que você já viu, e como eles são todos iguais. Agora pense em quantos comerciais de shampoo você vê por dia. E a lavagem cerebral está completa.
O post me fez pensar em várias coisas. Por exemplo, o maridão sempre foi careca, desde antes de eu o conhecer. Eu o acho o homem mais lindo e sexy do mundo e não o trocaria nem se o George Clooney, o Tom Cruise e o Denzel Washington, juntos, pedissem. Nem eu nem ele nunca ligamos que ele fosse careca. Se bem que uma vez compramos Minoxidil, e ele usou, e não funcionou, e era caro pra caramba, e ele parou de usar. Pronto. Fim do grande sacrifício pro maridão ter cabelo. Ele não fala nisso, não encuca com isso, porque não é uma preocupação no universo dele.
Agora vamos comparar com como me sinto por ser gorda. Em como me condeno por isso. Em tudo que já fiz pra tentar emagrecer, sempre sem resultado. Ou melhor: não, não vamos comparar, porque o assunto é cabelo. Esse foi só um exemplo sorrateiro de como o padrão de beleza afeta muito, muito mais as mulheres do que os homens. E ai de quem disser: “Ah, mas calvície é genética, não dá pra fazer nada”. E a minha gordura é o quê?
Mas cabelo, cabelo. Então. O post indicou um outro texto, e agora o assunto vai mudar pra racismo. É de uma moça negra que conta como é crescer negra, com “cabelo ruim” (também existe o termo nos EUA – se você não acredita que existe uma dominação branca e patriarcal, pense em quem estabelece o padrão de beleza pra chamar o cabelo de toda uma raça de ruim), vendo poucas atrizes negras na TV na época (a TV americana quarenta anos atrás devia ser como a TV brasileira é hoje: negras, só como empregadas), e, em compensação, sabendo que em todos os programas havia loiras penteando suas vastas madeixas. Que droga deve ser crescer se odiando. Infelizmente, hoje em dia, quase todas as meninas crescem se achando feias e anormais, ou sob a terrível ameaça de ficarem feias e anormais.
Ainda não acabei de ler o texto. Parei pra escrever isso. Só espero que ela não acabe fazendo propaganda de produtos pra alisar cabelo, porque se ela fizer isso eu surto. O que me chama a atenção, aqui nos EUA, fora a segregação racial, é como quase todos os negros teimam em ser parecidos (bom, brancas também. É todo mundo loira hoje). Todas as negras têm cabelo liso. Não vejo penteado afro, cabelo encaracolado, nada. Só liso. A maioria dos homens negros tem a cabeça raspada. E, pra piorar, usa bigodinho. O padrão Eddie Murphy/Jamie Foxx tá em todo canto. E não é bonito.
Meu cabelo é rebelde, crespo. E agora que faz oito meses que não o corto eu tô mais cabeluda que menina japonesa em filme de terror. E certamente estou com um penteado menos comportado que o de todas as negras que vejo. Ahn, eu gosto do meu cabelo. Só tentei alisá-lo em algumas poucas ocasiões, na adolescência. Só o tinjo pra não ficar com a cabeleira totalmente branca, mas nunca tentei mudar a cor. Pra falar a verdade, nunca pensei muito no meu cabelo. Ele existe, eu o trato bem e gosto dele, que é exatamente a mesma atitude que eu deveria adotar em relação ao resto do meu corpo. Como não tenho orgulho em ser gorda, sinto-me uma hipócrita pensando que, se eu fosse negra, teria penteado afro e sentiria o maior orgulho disso.
Acabei de ler o texto e não, a autora não faz apologia dos produtos pra alisar cabelo. Pelo contrário, fala pras negras que alisam o cabelo refletirem, ao invés de considerarem “natural” o padrão imposto. Eu gostava do slogan dos anos 70, black is beautiful. Porque é mesmo. E me impressiona como a discriminação tem os mesmos contornos, tanto faz ser mulher, negro, gay ou simplesmente gorda e careca. Trata-se de uma discriminação muito eficiente, que faz com que a gente se sinta péssima por ser como é. Quem está se saindo melhor dessa sinuca de bico, se eu posso opinar, devem ser os homossexuais. Eles estão se aceitando mais. E esse é o primeiro passo pra uma revolução: gostar de quem sou na minha própria pele. Se eu não me aceito, é mais difícil querer que os outros me aceitem.

34 comentários:

Vitor Ferreira disse...

Imagine ser negro, gordo, gay, careca e o pouco cabelo que tiver, seja "ruim". Parece ser muito azar, mas é o que mais existe! E essas pessoas devem se sentir péssimas... Realmente padrão de beleza existe pra contemplar uma minoria e fazer o restante da humanidade se desprezar.

Nita disse...

Essa história do estereótipo de pessoa bonita é realmente um sério problema. Quantas vezes você viu alguém e pensou: nossa, que pessoa bonita, e foi descobrir que ela se odiava por não usar manequim 34 e ser loira com os cabelos tão lisos quanto os das orientais?
E isso se acentua bastante nas escolas particulares daqui do Brasil.
Eu pelo menos, estudei desde o infantil até a oitava série na mesma escola e confesso que me sentia inferior aquelas meninas que seguiam o estereótipo "malhação" e pior, o quanto era considerada pior, por ser muito magra...
Vou fazer o que? Colocar silicone e sair por aí exibindo um corpo que não é meu? (nada contra quem faz isso, se você se sente bem, ótimo) mas não é do meu feitio.
Me perdi no raciocínio, mas enfim... resumindo, concordo que é um absurdo o estereótipo: "loira, magra, peituda, cabelo liso e esvoaçante".
E apesar de ser clichê, concordo que cada um é bonito do seu próprio jeito.

Unknown disse...

Eu, que sempre fui "native (south)american",com costeletas , tive uma revolta ao sete anos quando percebi que nenhuma das minhas heroínas princesas era morena.
a Branca de Neve tinha cabelos da cor do ébano mas era só pra ressaltar a brancura da sua pele.
e eu, que era amarelo-ocre, fazia o que???resolvi ser bruxa malvada...
aos dez consegui uma Barbie "negra", que se tornou minha boneca favorita.
até hoje me identifico mais com o tipo "bruxa" do que com o tipo "princesa".......
e, sim, eu tenho uma amiga careca, e gosto muito dela!!!

Juliana disse...

Eu já tive vários estresses com o meu cabelo, mas depois que eu aprendi a aceitar que meu cabelo era assim (leia-se, quando parei de cortar curto e quere que ficasse lindo), entendi a minha natureza e passei a gostar muito mais do meu cabelo e de mim. Ainda faço uma chapinha de vez em quando, pra mudar, mas não tenho mais a menor vontade (que já tive) de ter cabelo escorrido.

lola aronovich disse...

Gente, antes de mais nada, o link pro primeiro post tava errado, mas agora corrigi.
Vitor, com os homens um padrao de beleza nao funciona direito. Mude a "humanidade" da sua colocacao pra "mulherada" e estamos conversados. Eh pra isso mesmo que existe um padrao de beleza pras mulheres: pra fins de opressao.
Nita, hoje em dia nao existe muita mulher que se acha bonita. Mesmo que ela esteja dentro do padrao, sempre havera alguma coisa pra ela se sentir mal. E coisas pra consumir pra que ela se sinta menos mal. Eu tava vendo que hoje nao tem mais shampoo pra cabelo "normal". Tem pra cabelo seco, oleoso, quebradico, fraco, sem brilho... Porque mulher nao pode achar que seu cabelo eh normal! E a mesma coisa pra pele. A mesma coisa com o tipo de corpo. Cria-se um padrao inatingivel. Nao basta ser magra, tem que ter peito. Filmes e revistas retocam a Cameron Diaz, a Keira Knightley, praticamente todas as estrelas. E mesmo quem eh magerrima como elas vai se sentir feia...

elenmateus disse...

sobre cabelos, tenho um post (vá lá, sobre os shampoos):

http://notleast.blogspot.com/2008/02/lavamos-la-cabeza-pero-ensuciamos-la.html

meus cabelos são crespos e curtinhos e me sinto bem com eles assim. É curioso, toda vez que vou ao cabeleireiro pra cortar o cabelo, todas as funcionárias do salão de beleza não se conformam, "mas vc vai apernas cortar? ô, não corta não, faz o seguinte: uma escova light nesse comprimento fica lindo!"

ai meus sais! uma vez tive que dizer singelamente, para me deixarem em paz: "seguinte: é cortar o cabelo aonde peço e eu fico feliz! quanto aos cachos, quero continuar sendo a exceção aqui nesse salão".

detalhe: no salão que frequento, perto de minha casa,todas as funcionarias, inclusive a dona, são negras. do cabelo alisado e vermelho, loiro queimado etc e tal.

lola aronovich disse...

Pois eh, Mari, boneca pra meninas eh mais uma aula de inadequacao. Imagino que toda menina passe pela fase em que pensa: Hmm... Eu nao tenho nada a ver com a minha Barbie (impossivel ter, so se fosse uma marciana, porque eh tudo desproporcional). E pra meninas indias, negras, asiaticas, deve ser muito pior. Mas vc eh da epoca da Barbie? Eu so tive Suzies! E tive apenas uma Suzy negra, logo a que eu achava a mais bonita. Infelizmente, eu cortava o cabelo de todas elas... Demorou ate eu perceber que ele nao crescia de volta.
Ju, eu tenho frizzy hair. Eh assim que chamam? No momento estou me sentindo puro Rei Leao, sabe? Isso de cabelo com nenhum fiozinho fora do lugar nao eh real. So no photoshop. Cabelo se mexe. Agora, o seu cabelo... Nem me lembro como eh, sorry. Sempre o achei normal, bonito. Talvez eu nao repare mesmo em cabelo. Ou talvez a encanacao esteja com a gente.

Unknown disse...

Lola, já pesei 48kg pra meu 1,63m e me achava gorda (mas tinha malditos 15 anos),agora passei dos 70kg e não quero nem saber,mas estounos 50 anos,né?
existe um problema ainda maior, a mulher depois dos 40 se aceita muito melhor do que na juventude, mas aí pssou da idade e só vai fazer papel de megera no cinema!!!
é só o que sobra pra mulher de 50, papel de megera, sogra de piada, estorvo, trambolho. passou da fase de reprodução, virou descartável, não existe respeito, admiração , carinho, é impressionante!!!
como eu sou bem casada, bem mãezada e bem sucedida, ligo o foda-se, mas e a pobre coitada que acabou de criar os filhoe e tem que se virar?

Unknown disse...

Sim, Lola,sou do tempo em que o máximo era ter uma Barbie!
mesmo porque no Brasil não tinha nem em loja de contrabandista,era só pra quem tinha pai que viajava.
eu tinha um padrinho em NY e meu pai foi pra copa do mundo na Inglaterra em 66, e foi o que me salvou, mas era quase um desejo impossível...
minha Francie "negra" de 1967 hoje deve valer mais de mil US$, mas eu doei a um amigo transformista que coleciona,e estou, só de vingança,comprandoBarbies "vintage" pela internet, só pra me sentir poderosa...
e veja, a Suzi era sempre empregada da Barbie!

elenmateus disse...

o endereço do post que recomendei ficou todo doido no comentário anterior ó. então:

http://notleast.blogspot.com/

2008_02_01_archive.html

é só colar tudo unidinho no navegador, pq aqui não cabe.

Unknown disse...

ah!
e comprar underwear no Brasil?
parece que aqui todo mundo tem cor de prótese!
só existe calcinha branca,preta e cor de prótese, aquele rosa-salmão nada natural que nunca é da cor da pele de ninguém.
não existe underwear marrom, ocre...

Renata disse...

Bom... eu sempre fui magra demais... mas por milagre nunca liguei pra isso, já me considerava diferente dos outros, e portanto não me importava o fato de não encaixar em nenhum modelo de beleza [eu também estudei em escola particular a vida toda e todas faziam questão de seguir os tais modelos]. Mas eu sempre tento olhar pro que eu gosto em mim mesma, acho que vivemos numa cultura que faz com que prestemos atenção só que nos desagrada em relação ao nosso corpo e personalidade. Tipo, eu não tenho peito... mas minha barriga é super lindinha. E acho engraçado como as pessoas se chocam quando digo que me acho bonita, como se fosse algo sem precedentes, inimaginável!
Mas achei interessante seu comentário sobre gays... [não sei se se aplica a todos porque tem um monte de gente que se assume mas é sugado pra superficialidade que pode ser a vida gls] eu por exemplo conheço várias meninas que raspam o cabelo, há anos. Não sei o que isso prova, mas talvez seja parte de um desprendimento em relação à esse padrão de beleza que é hétero e voltado para apreciação masculina.
Bom... já me alonguei demais...
um beijão

www.oraculodelesbos.blogspot.com

lola aronovich disse...

Elen, vc eh de Sao Luis! Que maravilha. Sobre shampoo, nem sei o que dizer... Fui la no seu blog e deixei um comentariozinho. Agora, eh duro quando um padrao de beleza eh tao adotado por uma minoria que os proprios membros dessa minoria se tornam os maiores caes de guarda do padrao de beleza. Sei la, acho que se a pessoa eh negra e quer alisar e pintar o cabelo, bom, o cabelo eh dela e ela pode fazer o que quiser, mas devia pelo menos refletir que esta tentando se "embranquecer". Uma coisa interessante eh que, por mais que a gente desesperadamente corra atras do padrao de beleza inatingivel, a gente ainda se sente culpada e futil por isso, porque no fundo SABE que esta sendo condicionada. Por exemplo, muitas mulheres fazem cirurgia pra reduzir peito, mas nao assumem que o motivo eh puramente estetico. Nao, eh porque doi a coluna ter peito grande... E se a gente diz "Dane-se" pro padrao tambem se sente culpada, por nao estar tentando o suficiente pra ser linda e jovem - enfim, mulher.

lola aronovich disse...

Eh, Mari, tem quem diga que essa "liberacao" feminina chega ate antes da menopausa, aos 40. A gente se torna a mulher invisivel, ne? Como mulher so presta pra ser bonita, e so mulher jovem pode ser bonita, passando de uma certa idade a gente ja nao tem mais utilidade publica, entao tudo bem. Sei que estou me aceitando mais fisicamente por estar ficando velha. Eh como se uma certa responsabilidade fosse tirada de mim, e isso da um alivio grande. Claro que os metodos de dominacao seguem firmes no caso de quem eh gorda, porque a maior parte das pessoas eh educada. Poucos chegam e dizem: "Argh! Vc precisa perder peso imediatamente porque vc eh medonha". Dizem: "Argh! Vc precisa perder peso imediatamente porque senao vai ficar doente e morrer". Sabe, porque pessoas magras nunca morrem.
Bom, como vc falou sobre a representacao das mulheres com mais de 50 anos no cinema, o problema eh que a gente nao fica tao invisivel, ne? Fica so indesejavel! Mas ainda merece ser alvo de todos os odios por ter virado essa contradicao em termos, uma mulher velha.

lola aronovich disse...

Suas Suzis eram empregadas das Barbies, Mari? Que heresia!
Re, eh isso ai. A gente devia se concentrar no que acha bonito na gente, ao inves de ficar procurando defeito. Meu comentario sobre gays/lesbicas estarem mais avancados em materia de auto-aceitacao eh porque eu penso no que eram os movimentos feministas e pro-negros nos anos 70. Havia realmente um grande orgulho em ser mulher, em ser negro. Ai veio o retrocesso dos anos 80 e mandou parar. E de algumas formas esses movimentos ainda nao se levantaram. Mas ai a gente ve os gays. Eh inegavel o avanco nao apenas em auto-aceitacao, como em aceitacao pelos outros tb (nao estou falando dos homofobicos, que sempre existiram e continuam firmes, mas nao sao mais a maioria). Vcs comecaram um movimento no final dos anos 60 e nem com um retrocesso terrivel, em forma de AIDs (o que seria capaz de matar qualquer movimento), se renderam. Vcs tiveram muitos avancos dos anos 90 pra ca. Nao vejo isso acontecendo com mulheres e negros. E acho que uma das chaves foi a auto-aceitacao. Montes de homossexuais se assumiram, sairam do armario, fizeram pride parades. Talvez mulheres e negros ainda estejam no armario...

Anônimo disse...

Lola to no teu blog, nao me sinto mto brm aqui. Vou continuar falando contigo por e- mail.
abraço Cesar

Renata disse...

As pessoas são bem mais educadas com os gordos.... coisa que nem passa pela cabeça deles ao falar comigo por exemplo... eu sempre escuto pérolas do tipo: "Nooooossa Renata, como você emagreceu!! Você está bem?" e até já ouvi uma "Poxa Renata, você é bem magra né? Mas não é anoréxica, é?" e de um professor ainda por cima...
Super chato.... mas eu aprendi a lidar com essa incapacidade das pessoas de serem sensíveis a minha magreza.... e sim, sou saudável, é genético mesmo.
Um abraço,
Renata

Anônimo disse...

Lola, como é dolorosa essa massificação da estética branca/ ocidental... Mesmo refletir para resistir exige um esforço de descentralização desse imaginário liso-loiro-magro. Meu cabelo é meu calcanhar de Aquiles, não tem jeito. Tenho-os encaracolados. São bonitinhos, mas exigem um monte de cuidados para ficarem no lugar. Já alisei sim, não faço mais isso (ou quase: ainda aliso a franja, quando vou sair ou fazer uma entrevista de emprego). Comprar roupas é um pesadelo. Uma vez perguntei para uma das vendedoras se lá não tinha roupa para mulher normal. Ela me olhou como se eu fosse uma alienígena, porque contratam justamente as menores meninas do mercado para que caibam nas roupinhas da moda. Não entendo a lógica mercadológica de se oprimir tanto. Ou entendo: deixe as mulheres bem deprimidas e depois as façam acreditar que "Sex and the City" é o grande lance. Tá triste? Vá consumir! Agora, quando se trata de racismo, deve ser ainda muito mais triste. Crescer sendo uma mulher negra deve ser ume exercício complicadíssimo. As brancas nunca saberão como é ser uma mulher negra. E isso é muito ruim.

Liris Tribuzzi disse...

Já penei pacas pra tentar me 'enquadrar'. Fui gordinha (pra ser gentil) até os 14 anos. Não era muito vaidosa nessa idade. Resolvi fazer uma dieta, na verdade minha casa toda resolveu. e os 76 kg - manequim 46 - (1,64 e ossos largos) se transformaram em 48 kg - manequim 36 - em um ano e meio.
Resultado: cabelo (agora escovados) caindo aos montes, unhas terríveis, pele ressecada até o talo, sempre arrepiada de frio (podia estar uns 27°), mal-humor dos infernos, tonturas, sem menstruação por quase um ano (até que eu gostei disso). Precisei ser arrastada pra psicóloga, psquiatra, nutricionista, cardiologista e tudo quanto era médico. Só eu me achava gorda e que naõ estava doente.
Mas agora tô feliz com meus 60kg - manequim 42.

lola aronovich disse...

Rê, sorry, mas vc devia ser gorda pra ver como as pessoas são "mais educadas com os gordos". Não é uma competição. Só que as pessoas em geral não são educadas com ninguém fora do padrão. Não sei se as crianças apontam pra gente muito magra nos supermercados. Mas será que as mães dessas crianças dizem, apontando: "Se você não comer, vai ficar assim"? Porque fazem isso com os gordos, trocando as palavras. (comigo não fazem porque eu não sou tão gorda. Mas é muito comum!). Tem gente que não pode ver um "diferente" sem vir correndo dar um conselho, só querendo ajudar... Pessoalzinho prestativo, este...

lola aronovich disse...

Yallah, é, a opressão é claramente pra vender produtos, mas é também pra manter as mulheres no seu devido lugar. Uma coisa que a Naomi Wolf diz é: já pensou se a gente usasse toda essa energia gasta à toa com dietas, com ódio ao próprio corpo, com maquiagem, com cirurgias plásticas, com comprar tudo que vê pela frente, pra, sei lá, mudar o mundo? A gente deixa de discutir coisas mais importantes se passa a vida toda falando de shampoo e esmalte de unha, né? Se as nossas "role models" pra vida são top models, fica difícil.
Quanto às mulheres negras, não há dúvida. Elas são discriminadas duas vezes.

lola aronovich disse...

Puxa, Liris, então vc foi anoréxica? Essas características todas que vc descreve são típicas da anorexia. Que bom que vc conseguiu superar!
Mas é isso, quem é gorda ou gordinha ou muito magra tá sempre sendo avaliada. Vem até estranho achar que a gente tá doente. Com os homens as pessoas não têm essa liberdade toda. Mas é que homens não são avaliados unicamente pela aparência...

Renata disse...

Putz, lembrei de vc hoje qd fui imprimir um arquivo e o tempo todo o cara tava de costas pra mim, quando ele se virou e me viu tinha q ver o grito dele... "Caraaaaaalho! Como vc é magrinha!!!!"
pra vc ver como isso eh corriqueiro pra mim...
abraços,

lola aronovich disse...

É, Rê, as pessoas não têm noção de como é chato ficar avaliando a aparência das outras o tempo todo. Tenho certeza que pros homens não acontece tanto! Pra mim o que mais falam não é sobre o meu peso. É sobre as minhas olheiras. Eu até posso entender uma criancinha perguntar: "Por que vc tem isso embaixo dos olhos?", mas um monte de gente falando, quase que semanalmente, "Puxa, como suas olheiras estão fortes hoje", ou "Isso é maquiagem ou é olheira de verdade?!", ou "Mas você tem olheiras, né?"... cansa. E olheira é genético, não tem muito que fazer. Sem falar que quando eu me vejo no espelho eu nem noto. E todo mundo acha os pandas lindos, mas a Lolinha com olheira é um monstro!

Lolla disse...

well, meu cabelo é ondulado, mas daquele tipo "misto". a raiz é mais rebelde que as pontas. então sim, eu faço escova semanalmente, o que me toma menos de 30 minutos e me garante sete dias de um cabelo que vai ficar assentado no lugar e não vai dar trabalho. e, nas raras vezes em que me estresso com ele, gostaria de raspar tudinho e comprar vááárias perucas diferentes e estrear um picumã diferente todo dia.

quando não estou na pilha de escova, ligo o dane-se e saio por aí de cabelinho em pé. não é o meu cabelo que me define, mas por uma questão de praticidade e conforto, eu o "modifico". também rola a questão estética. eu confesso que o que me desagrada em cabelos étnicos não é a aparência, e sim a textura. se eu tivesse cabelo assim, somente por isso eu alisaria. acho normal preferir cabelo liso a crespo, da mesma forma que se prefere sorvete de baunilha e não de morango. o que fEde é usar isso para discriminar e oprimir; já para preferência pessoal não existe remédio.

de resto, não vejo nada de errado em querer mudar, melhorar, desde que seja para agradar a si próprio (sendo ou não influenciado pela mídia... que influencia tanta coisa que nem dá pra colocar o dedo num lugar imune). a única coisa que me irrita é photoshop em excesso, porque aí é melhoramento fútil e artificial.

ser feliz deriva de uma série de fatores, e se ter um cabelo mais macio ou dez quilos a menos ajuda na tarefa, sempre é válido tentar (e um dia eu perco esses dez quilos but, for the time being, I'm fine, thanks... passa essa batatinha frita pra cá).

lola aronovich disse...

Lolla, quando a "preferência pessoal" é a mesma pra imensa maioria das mulheres, quando essa "pref. pessoal" vai contra o tipo físico dessas mulheres e é baseada em esteótipos racistas pra ditá-la - é aí que temos um problema. Fazer com que praticamente todas as mulheres de cabelos crespos detestem seu cabelo e sintam que precisam alisá-lo é um problema, assim como é um problema fazer que mulheres, que tem mais gordura e curvas que homens, passem fome pra adotar um visual mais andrógino, baseado no ódio contra as mulheres. Isso é feito pra oprimir as muheres e pra fazê-las consumir. E é um sistema opressor tão bem-feito que a maior parte das mulheres não se dá conta. Dizem não ser feministas, insistem que essas imposições patriarcais são preferências naturais... Sorry, Lolla, discordo de ti. E quanto a passar a vida toda tentando emagrecer, bom, a vida vai passando enquanto vamos tentando, né? Quantas mulheres vc conhece que dizem "Só vou fazer isso quando emagrecer"? E aí não emagrecem nunca, e vão adiando pra sempre seus planos. Cria muita instatisfação. Eu tô tentando me livrar disso.

Anônimo disse...

Eu tb estou tentando me livrar disso.Tentando me aceitar, e já tem um tempo. Mas não é fácil, nem um pouco. Adorei o post e os comentários tb. Abraços.

lola aronovich disse...

Ótimo vc ter gostado, Nalu, porque falar muito mais nisso. Chega de tirania.

Lolla disse...

Concordo que exista sim uma certa tirania da mídia, mas a gente também não pode responsabilizar terceiros (o sistema, o governo, papai do céu, etc) por tudo. É verdade que existe uma pressão enorme para fazer parte de um determinado padrão físico e evidentemente isso tem influência sutil nas nossas preferências. Mas me pergunto, vale a pena alguém que se sente insatisfeita com o seu "cabelo duro" passar a vida self conscious só pra marcar uma posição? Se, de repente, cabelos étnicos virassem cool, eu iria continuar fazendo escova no meu, por inúmeras razões diversas de "o que vão pensar de mim". Mas isso você só iria entender de verdade se entrasse no meu cérebro, igual ao John Cusack em Being John Malkovich, haha. :)

Eu sempre disse que depilação era um absurdo. Que os homens podiam ter cabelos onde quisessem, enquanto nós, as escravas da beleza, tínhamos que chorar de dor cheias de fitas de cera coladas pelo corpo. Cheguei a me meter numa discussão virtual feia porque um bando de meninas insistiam que depilavam TODO o órgão sexual por "questão de higiene" (ok, então os homens vivem sujos? E, se vivem, ninguém se importa?).

Ok, marquei minha posição feminista e engajada na luta pela liberdade das meninas manterem seus pêlos. Aí, um dia qualquer, experimentei depilar (e olha que nem foi tudo, haha). E então... ACHEI UMA DELÍCIA ter a pele lisinha! E venho depilando desde então. A "preferência pessoal" venceu a minha ideologia. Viu, isso acontece.

Mas continuo marcando firme minha posição contra sapatos de salto alto! :)

lola aronovich disse...

É, o negócio de responsabilidade é complicado. Não estou resposabilizando terceiros. A mídia é também composta de mulheres, e o público que compra revistas femininas é mulher. Acho que talvez nós sejamos as maiores culpadas. Geralmente não são os pais, mas as mães, que nos ensinam a contar calorias e avisam que, se a gente engordar, ninguém vai gostar da gente. E vemos o comportamento neurótico que nossas mães também têm com o próprio corpo e imitamos.
Acho que existe, sim, uma certa "conspiração" contra mulheres. Mas não sei quem a começou. Só sei que caímos direitinho, e perpetuamos um sistema que é muito ruim pra gente.
Sim, acho que se alguém se sente melhor com cabelo liso ou sendo esquelética, deve tentar ir atrás. Mas sabendo que o que está fazendo não tem nada de natural (natural passar fome tendo comida?! Em qual reino animal?), segue imposições, e que, provavelmente, nunca estará satisfeita. Porque o sistema é de uma insatisfação eterna pras mulheres. Pra gente não poder deixar de consumir ou pensar nisso, o tempo todo, todos os dias. Nessas horas eu queria muito ser homem.
Sobre depilação, bom, eu raspo as axilas e a parte de baixo das pernas com axilas. Durante um tempo fiz com cera quente, mas doía um monte, e sempre me fazia pensar em métodos de tortura. Até que cheguei em casa depois de uma sessão e consultei o maridão: "Ó, amor, acho que não vou mais me depilar com cera quente". E ele: "Pô, claro! Não precisa!". Não acredito que CONSULTEI o maridão. Mas é que a culpa por estar abandonando mais um ritual feminino era grande.
É mais fácil pra mim "abandonar" rituais que nunca comecei: fazer unhas, usar jóias, salto alto... Sabe, é como drogas. Pra que experimentar? Tô fora!

Ale Picoli disse...

Cheguei aqui por recomendação da Cynthia e estou amando. Você vai achar agora vários comentários meu em tudo quanto é post antigo!

Eu acho incrível que as pessoas não percebam a diferença da cobrança de homens e mulheres. Simplesmente isso, NÃO PERCEBEM.

Meu cabelo é daqueles que as mulheres invejam, liso, fino e loiro. Pinto de vermelho com henna na tentativa de chegar mais perto da imagem que eu mesma faço de mim, mentalmente. Loira eu fico muito comum! Mas então, pra mim, meu cabelo que é ruim. Ele quebra por qualquer coisa, é arrepiado e não pára com fivela ou elástico por muito tempo. Me recuso a considerar um cabelo ondulado, firme, forte, cheiroso e jeitoso como ruim. Me recuso MESMO.

Anônimo disse...

Lembro quando eu tinha 8 anos e olhava prxs negrxs e pensava que queria ser daquele jeito, acho lindo a pele e o cabelo das negras. Aí eu cresci, qdo adolescente meu cabelo enrolou e então as pessoas perguntava pq meu cabelo tava "daquele jeito", "ruim". E comecei a alisar, fazer escova, pq eu queria me encaixar e ser "aceita", detonei meu cabelo, e eu sou bem preocupada com ele. Apenas com 20 anos eu consegui aceitar meu cabelo ondulado. Cuido dele, passo creme, enrolo, e engraçado... Agora as pessoas sempre falam como meu cabelo é lindo, volumoso. Claro, já cheguei a ouvir de um professor após uma apresentação de trabalho que eu deveria ter prendido meu cabelo pq ficaria melhor (WHAT??????) ... sinto pena dos cabelos alisados pois eu vejo um potencial enorme nessas madeixas, vejo um cabelo que poderia ser lindo enroladão... em vez disso, fica sem brilho e chapado!!! E agora eu tento deixar ele cada dia mais enroladinho... precisamos nos aceitar e ver a beleza no que é diferente...

Leio Lola Leio disse...

é muito complicado eu me aceitar com sou. Não tenho anormalidade alguma, passo despercebida pela aparência e como ainda tenho 27 anos, poucas pessoas me acham feia. Mas, tenho um nó na minha cabeça, porque fui criada com mais contato com a família da minha mãe e a maioria das pessoas (inclusive minha mãe), são negras, corpulentas e eu sou branca, magra, cabelos ondulados. Minha mãe sempre exaltou a cor dela, embora não admita que seja negra, ela exalta sua morenice e a da família e cresci ouvindo tantas coisas, que por um tempo acreditei que eu, por ser branca, tinha a saúde mais frágil, além de outras desvantagens em relação às negras.
Mas, sinto que sofri menos preconceito na vida por ser branca, em comparação à minha mãe e irmão. Bizarro, uma ambiguidade bastante desconfortável: em casa me sentia um tanto ET e na sociedade eu passava despercebida, enquanto minha família era chamada de "preta", "cabeça chata", "gorda", "suja", "fedorenta"... Acho que a aversão da minha mãe por gente branca pode ser relacionada à muitos momentos de hostilidade que ela passou. Uma vez ela me contou que estava gostando de um cara branco do olho azul, ela era bem nova e minha vó disse que ele não iria querer minha mãe porque ela era preta e pobre... Enfim digo essas coisas tão fora de contexto mais para divagar a respeito do que pra comunicar qualquer coisa. rs

Leio Lola Leio disse...

Ah, outra coisa: sempre tive o cabelo bastante rebelde, solto e as pessoas até deixaram de criticar, depois de um tempo passaram a admirar. Daí cansei do meu cabelo e comecei a alisar, mas a coisa é cara demais, é um gasto totalmente desnecessário, daí eu fico pensando na situação de muitas mulheres que moram com os pais ou algum outro parente, não se emancipam e gastam a maior parte do salário em cuidados com a própria aparência, seja para conquistar um parceiro de alto poder aquisitivo, seja para se manter no emprego em que ganha mal, seja por qualquer outra coisa. Uma bobagem! Hoje sou funcionária pública e admito que abuso da vantagem de não sofrer aquela cobrança pela aparência que já sofri quando trabalhava em empresa privada. Tem gente que tenta impor essa ditadura, mas fica bem deslocado o discurso, pelo menos eu não compartilho dele. Penso que para trabalhar é bom para si e para os outros que se esteja asseada e vestida de um jeito que se sinta bem e só.