terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

TUDO QUE VOCÊ NÃO QUERIA SABER SOBRE ONDE OS FRACOS NÃO TÊM VEZ - PARTE III

Quem avisa amiga é: o texto abaixo só tem spoilers. Se você já viu o filme e leu o livro, bem-vindo(a). Se não, fuja. Tem duas partes sobre o filme e livro mais pra trás (aqui, aqui e a crônica aqui). E falta uma.

- No livro, Moss (personagem do Josh Brolin no filme) tem 36 anos, Chigurh (personagem do Javier Bardem) mais ou menos isso, e a mulher do Moss é hiper novinha – só tem 19 aninhos. Casou-se aos 16. Coisas do Sul dos EUA.

- O livro se perde legal. Olha só: depois de Moss recuperar a maleta na fronteira do México, ele compra uma pick-up e dá carona pra uma menina de 15 anos. Seguem-se looongas (e inúteis) conversas entre os dois. Ela está indo pra Califórnia. Ele lhe dá mil dólares. Param num hotel barato na beira da estrada. Corta pro xerife (personagem do Tommy Lee Jones) chegando à cena do crime. A polícia já está lá e lhe diz o que houve: um mexicano atirou na menina e no Moss, mas Moss ainda teve tempo de atirar de volta e matá-lo. Eles já estão no necrotério. O xerife vai até lá e reconhece o corpo de Moss.

- No filme tentaram agilizar um pouco mais o negócio. Primeiro que a carona não entra, o que é uma boa escolha. Moss rapidamente flerta com uma mulher na piscina do hotel. O xerife chega a tempo de ver uma caminhonete com os traficantes mexicanos deixando o local em alta velocidade. A mulher da piscina está morta. Idem pro Moss, estirado na porta do quarto. Os Coen passam essa imagem do Moss morto bem rapidamente, o que deixa muitos espectadores confusos. Só que há um outro problema: pelo que eu entendi, o Moss chega ao hotel e flerta com a moça na piscina no caminho do quarto. Dá tempo pra ele esconder a maleta?

- No livro fica claro: Chigurh observa tudo de longe. De madrugada vai até o hotel onde houve as mortes, entra no quarto, e rapidamente pega a maleta. O xerife tem uma intuição e vai até o hotel. Chigurh espera no carro, com a pistola no colo, pronto pra matar o xerife, se ele chegar perto. O xerife sente que Chigurh está por lá, mas prefere entrar no seu carro e se afastar do hotel e chamar a polícia, evitando o confronto.

- No filme essa é a sequência mais confusa e polêmica, e a culpa é da edição (ou seja, dos Coen). O que eu acho que acontece é: o xerife chega no hotel de madrugada, e Chigurh está no quarto. Ele, Chigurh, esconde-se atrás da porta. O xerife entra no quarto, vai até o banheiro revistar, volta, senta-se na cama, pensativo. Não dá pra saber ao certo se Chigurh pegou a maleta, mesmo que haja a pista dos parafusos no chão. Os mexicanos podem ter fugido com o dinheiro. Mas tudo isso tá mal-feito. Primeiro, por que uma máquina mortífera como o Chigurh se esconderia de um xerife velhinho? Segundo, ô lugarzinho pra se esconder! Atrás de uma porta?! O Javier Bardem é grandão. Ficaria bastante visível atrás da porta. Terceiro, quando que ele sai? Só pode ser enquanto o xerife vai ao banheiro. De todo jeito é esquisito. O que ocorre no livro (Chigurh esperando no carro) é mais viável.

- Na manhã seguinte, no livro, Chigurh vai até um escritório devolver a maleta com o dinheiro! Ele explica que, dos 2.4 milhões originais, está faltando 100 mil dólares – parte disso foi roubada, a outra parte é pra cobrir despesas do Chigurh. O homem do escri escuta perplexo e desconfiado. Chigurh explica que deseja mostrar ser totalmente honesto e confiável, perfeito para ser contratado em situações de conflito. Nada disso está no filme. A gente só pode adivinhar quem fica com a grana.

- No livro, Carla Jean, mulher do Moss, volta do enterro de sua mãe (na realidade, sua avó), e encontra Chigurh em sua casa, esperando por ela. Como no filme, ela diz que não tem o dinheiro, e Chigurh explica que Moss teve a oportunidade de salvá-la e não quis, e que ele, Chigurh, é um homem de princípios, e por isso precisa matá-la. A conversa entre eles é muito mais longa no livro. Nos dois casos, Chigurh dá a Carla a chance de apostar sua vida na base do cara ou coroa. Se tiver sorte, ela se salva. No filme ela se recusa, e o que vemos é Chigurh saindo da casa e limpando os sapatos. É altamente provável que ele a tenha matado. No livro, Carla acaba apostando, escolhe o lado errado da moeda, se desespera, chora, pede para ser poupada – e Chigurh atira nela.

- A cena que vem imediatamente a seguir no livro é o acidente de carro em que Chigurh se fere. (Depois descobrimos que três garotos mexicanos num carro estavam fumando maconha e não respeitaram a placa de “Pare”. Dois deles morrem no ato). Nessa parte o filme é idêntico ao livro. Chigurh sai do carro, com um osso exposto no braço; compra a camiseta de um dos dois adolescentes na calçada, pede pra que eles não o descrevam a ninguém, e vai embora. É a última vez que vemos Chigurh. A diferença é que no livro os meninos vêem uma arma do Chigurh dentro do carro e a pegam.

- Após essa cena, no filme, vem o final que deixa tanta gente revoltada: o xerife narrando o sonho que teve a sua esposa. No sonho ele vê seu pai e insinua, mais uma vez, que este não é um país para velhos. The end.

The end” só pro filme. O livro e minha análise continuam.

12 comentários:

  1. Opa Lolinha, li o primeiro achei tão legal a analise, que deu até vontade de ler o livro hahaha, parei no primeiro enquanto eu nao decidir se vou ler ou nao o livro...

    Facilitando a
    parte 1 - http://escrevalolaescreva.blogspot.com/2008/02/tudo-que-voc-no-queria-saber-sobre-onde.html
    parte 2 - http://escrevalolaescreva.blogspot.com/2008/02/tudo-que-voc-no-queria-saber-sobre-onde_18.html

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  2. Obrigada, Pedro! É bom facilitar mesmo! Eu devia colocar os links pras duas outras partes, mas ainda nao descobri como fazer isso sem colocar o endereço inteiro, que fica tao feinho... Leia o livro sim!

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  3. De fato você deveria colocar um link para os comentários antigos. Fiquei pensando: onde estão a parte I e II?? Será que não existem???
    Seja como for, eu assisti o filme hoje (e disse isso em outro post seu). Gostei muitíssimo e embora não tenha lido o livro, concordo que tenha sido melhor cortarem a carona do fulano do Méximo e também concordo que seria melhor se o Chigurh (ou sei lá como se fala) tivesse esperado no carro.
    Quanto a morte da esposa do Llewelyn (sempre achei esse nome estranho e nunca sei pronunciar direito..e nem onde vão os y, e ou i, sei lá), eu gostei como foi feita no filme. Porque, confesso, eu fiquei na dúvida se ele matou ou não. Quase achei que ele não tivesse matado. Mas ela mostrou uma personalidade forte que pelo visto ela não tem no livro.

    Já o final e o sonho...como eu disse no outro comentário, fiquei com cara de pastel O.O. Estava ele querendo dizer que tudo ia continuar do jeito que estava?
    Btw, quem havia contratado o Chigurh?
    E os fulanos que mataram o Llewelyn eram os fulanos que tinham ajudado a mãe da esposa dele lá no aeroporto?

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  4. O final do filme, na verdade, pouco importa. Também já li diversas interpretações diferentes sobre a questão com o Xerife. Para mim, em primeiro lugar, a historia trata do comportamento humano - é um velho oeste com roupagem moderna . O nome inglês deveria ter sido mantido, porque a idéia é a de que vivemos e vivereremos regidos ainda sob a batuta de uma lei: a lei de darwin. Eu fico pasmo com as pessoas achando que o Moss n morre, ou se questionando sobre o que rola com o Chigurh. Devemos fazer uma parábola , um é a Zebra, o outro é o Crocodilo . Cedo ou tarde, nas travessias do Nilo a Zebra acabará sendo pega , é o que acontece no filme. E quanto ao Chigurh, devemos pensar nele como um leão que, ferido, encontra pequenas hienas. Ele precisa dar um pedaço da sua caça para que elas o deixem sair . Mas pelo menos pra mim fica claro que do jeito que ele está , numa selva dessa, n vai durar muito tempo.

    Abraços !

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  5. Continuo com a minha impressão. Chigurh não mata a esposa. Ele diz que "faria o que a moeda faria". Numa cena anterior, ele havia deixado de matar um homem por conta da escolha acertada que esse homem tinha feito.

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    1. Ele olha o sapato quando sai da casa dela. Não sacou não ?

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  6. Realmente, a cena do Chigurh escondido no quarto do hotel enqto o xerife entra, deixa a desejar no sentido em que não se pode concluir se Chigurh pegou ou não a maleta. Se no livro ele devolve o dinheiro é uma parte importante para ficar assim sem ser apresentada no filme. Para mim, concluí que a história é sobre um psicopata (Chigurh) e não sobre o dinheiro. E acho a cena dos dois meninos que socorrem Chigurh mto reveladora pq eles discutem sobre quem é o dono da nota recebida, ou seja, é o ser humano brigando por dinheiro. Isso mostra a redundância do tema dinheiro e justifica as ações de um psicopata como Chigurh.

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  7. A cena de Carla nos diz que algumas pessoas não tem sorte, por mais boas que sejam. A vida é injusta. A cena do xerife reforça isso, subentendendo-se que é inutil esperar por justiça e, que se ela existir, está em outra vida.

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  8. O filme é bom! Gostei mesmo, porém, assim como muitos aqui nos comentários, não deixei de notar essas cenas estranhas. Logo no início do filme quando o sub-tenente prende Chigurh e fica ao telefone de costas. Tem outras cenas estranhas também como a da água. Por que eu voltaria para um lugar onde ocorreu um massacre para dar de beber a alguém que já morto?
    São furos de roteiros que atrapalham um pouco. Entretanto, o filme de uma forma geral é bom de se assistir. Os atores nota 10. Os cenários incríveis em relação ambiente que estava sendo filmado. É isso.

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  9. Já tinha começado a assistir esse filme duas vezes antes - nunca nem vi o livro, rs - e me arrependi amargamente. O filme é muito foda e o final é completamente decepcionante. O que não me deixa entristecido de não ter lido o livro. Desnecessária demais a trajetória do Moss pra não ter nem a cena de morte dele, o que, por ele realmente ter morrido, também torna esse mistério desnecessário. Um dos melhores filmes que eu já vi, te prende mesmo na frente da tela, com um dos piores finais também... Mas o filme é tão bom que ainda vale a pena essa decepção...

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  10. Achei um filme muito bom pelo motivo de que não idealiza para confortar telespectadores. É realista, mostrando uma ficção que pode muito bem ser uma realidade: na vida real, as coisas são assim mesmo. Pessoas por quem torcemos morrem; pessoas por quem não oremos sobrevivem, e pessoas boas enfraquecem em suas batalhas pelo bem. Gostei bastante.

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  11. Essa morte do Moss foi ridícula

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