terça-feira, 1 de janeiro de 2008

CRÍTICA: DIÁRIO DE UMA BABÁ / Diário desonesto pra quem precisa de babá

“Diário de uma Babá” finalmente chega ao Brasil, e é até incrível que tenha chegado, depois da estréia pífia que teve nos EUA. Li que foram menos de 8 milhões de dólares. Esse valor não deve cobrir o cachê da Scarlett Johansson. Aproveitando pra falar mal dela: o que os marmanjos vêem nessa moça que atua quase sempre com a boca aberta? Os dentes? Pra mim, ela só provou ser boa atriz em “Ponto Final”. Tá, ela não tava mal em “Encontros e Desencontros” (eu que não gostei do filme), nem em “Moça com o Brinco de Pérola” (eu é que tava mais concentrada no Colin Firth), nem n’ “A IIha” (em que sua cara de sonsa caía bem num personagem sem a menor idéia do que acontecia a sua volta). No ótimo “O Grande Truque”, qualquer rostinho bonito podia fazer o seu papel. Bom, como ela só tem 22 anos, ainda tem décadas pra provar seu talento como melhor atriz de sua geração. Se bem que... ela tem concorrente nessa categoria? Tá competindo com quem, a Paris Hilton?

Ok, ok, sei que tô sendo injusta. Mas este “Diário de uma Boba” certamente não vai acrescentar nada ao seu currículo (além do fato, triste, que a Scarlett ainda não consegue ser sozinha um chamariz de bilheteria). Eu li o livro uns dois anos atrás, e ele tampouco era memorável. Mas fez grande sucesso em Nova York ao xingar os milionários. É a história de uma (metida à) antropóloga recém-formada que tenta sua sorte como babá de um menininho rico e mimado. A gente até tem vontade de chutar o garoto, mas acaba ficando é com ódio mortal da mãe, que não faz nada o dia todo, e ainda assim não dirige nem um “oi” pro filho. Não dá pra generalizar e achar que todo ricaço é desse jeito, mas vi algo parecido ano passado, numa pousada de luxo em SP. Toda criancinha tinha babá. Os pais dormiam num quarto, os filhos em outro, óbvio, com a babá, e no café da manhã pais, filhos e babás se esbarravam no restaurante, um sorria educadamente pro outro, e suponho que não se viam mais até a manhã seguinte. Não parecia ser o relacionamento mais amoroso do mundo. Se bem que é possível desvendar o dia-a-dia de pais e filhos de classe alta lendo qualquer livro do Bret Easton Ellis. “Psicopata Americano” traz muito mais insight sobre esse tema que “Diário”.

Em “Nanny Diaries”, o bestseller, a babá é tolinha, mas pelo menos sua narração em primeira pessoa é irônica o suficiente pra que a gente a perdoe. No filme também tem narração em off. O problema é que a personagem em carne e osso predomina, e a gente não consegue acreditar nem por um minuto que existe alguma vida inteligente naquele corpo. Ou seja, a personagem e a narradora não se encontram. E muito em breve a gente começa a querer chutar não apenas o menininho e sua mãe (feita pela Laura Linney, num papel não tão diferente da mulher do Jim Carrey em “Truman Show”) – a gente se desesespera pra chutar a babá sonsa também, pra ver se o cérebro dela pega no tranco.

Existem outros personagens, como o bonitão rico (Chris Evans, o Tocha Humana de “Quarteto Fantástico”) que logicamente vai namorar nossa heroína – porque quem aguenta ver uma babá cuidando de um guri mimado por mais de dez minutos? –, a melhor amiga da mocinha (dizem que interpretada por uma cantora chamada Alicia Keys), e a mãe da babá, essa sim uma mãe dedicada, lutadora e carinhosa, só por ser de classe média baixa. De que adianta ser tão maravilhosa se a filha vai mentir descarademente pra ela? No entanto, nenhum personagem é tão vil e ordinário como o pai do menino. Nem um ótimo ator como o Paul Giamatti (“Sideways”, “O Ilusionista”) pode salvar um milionário antipático que despreza o filho, trai a mulher, e tenta apalpar a babá. Se “Diário” fosse uma aventura de ação, esse cara morreria no fim da forma mais cruel possível.

Mas quer saber por que “Diário de uma Baba” se torna mais detestável ainda? Não é nem tanto a desonestidade de nunca contarem pra gente qual é o salário incrível que a babá recebe pra aturar tantos maus tratos. É o final feliz indicando que os ricos podem, sim, ir pro céu. Ah, vai! Uma trama inteira contando os podres dos grãfinos pra no finzinho redimi-los? Isso é desonesto!


P.S.: Tem o lado social também. Dá pra escrever um tratado sobre o que leva as patroas a tratarem tão mal suas empregadas. É o medo de repartir sua morada com uma outra mulher? Bizarro...

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