quarta-feira, 27 de novembro de 2002

CRÍTICA: ATRÁS DAS LINHAS INIMIGAS / Fora de linha

Fui prestigiar “Atrás das Linhas Inimigas”, com Owen Wilson e Gene Hackman. Owen quem? Eu sei, eu sei, tive a mesma reação ao ver o nome do sujeito no cartaz, em letras gigantes. Nunca ouvi falar no carinha. Mas já o vi. Descobri que ele esteve em “Armaggedon”, “Ananconda” e “Zoolander”. Tudo filme importante. E ele era só coadjuvante nessas produções que mudaram a história do cinema. Estava na hora de virar protagonista de alguma coisa. E aí apareceu sua chance em “Atrás”.

Só tem um probleminha: o rapaz faz o eterno rosto de um surfista ao ser perguntado a fórmula da água. Ele franze a testa, fecha os olhinhos, e soa quase tão sério quanto o Luiz Fernando Guimarães. Ele deve ser ótimo em comédias, mas em filmes de ação, bom, vou ser gentil e dizer apenas que ele deixa a desejar. Não que “Bem Atrás” seja veículo pra promover qualquer ator. Na realidade, me senti enganada. Fui pensando que o filme seria sobre a guerra na Bósnia. Há pouquíssimas películas sobre esta que foi uma das disputas mais sangrentas do século passado. Mas não vou falar da guerra. Por que deveria, se o filme mal a menciona? Poderia se passar na China. Qualquer lugar é propício pros americanos mostrarem seu valor e afirmarem sua superioridade em cima de outros povos, principalmente depois do dia 11 de setembro.

Pausa pra contar a tramóia. Um aviador naval e seu fiel co-piloto são enviados numa missão de rotina pra fotografar um local na Iugoslávia, que deveria estar em trégua. O avião capta algo proibido e é abatido. O co-piloto é morto, mas o Owen, bendito seja, foge e passa o resto do filme correndo e escapando por um triz de atiradores de elite e exércitos inteiros. Enquanto isso, na base naval, o comandante Gene Hackman articula o resgate de “seu garoto”, como ele diz dezenas de vezes. Acho que você consegue adivinhar o final, né? Música em dolby stereo, efeitos pirotécnicos e muitas lágrimas. Não vi a bandeira americana. Vai ver que ela anda em falta, após virar best-seller.

A moral de “Bem, Bem Atrás” é que ninguém vence os EUA, e que o treinamento a que os marines são submetidos vale a pena, já que os torna durões. Ó, pra ilustrar – imagina que em “Nascido para Matar” o gorducho, depois de toda sua humilhação, não enlouquece, nem mata seu instrutor, nem se suicida em seguida. Não. Ele sofre o diabo mas vai pra guerra. Lá, destaca-se, mata um monte de malditos vietcongs, e agradece ao seu comandante por tê-lo transformado num homem com h maiúsculo. Não seria propaganda militarista da pior qualidade? Mas perdão, perdão. É heresia usar Kubrick pra falar de “Linhas Inimigas”.

O filme mostra que, mais estúpido que a guerra, só produções imbecis sobre guerra. Porém, serei sincera e confessarei que “Linhas Tortas” tem seus momentos. Um deles é quando o avião é perseguido por dois mísseis. Muito bem feito. As cenas com minas terrestres também são de arrepiar. E só. Talvez, se o fim não fosse tão escancaradamente patriótico, se ele não tivesse me levado a pensar que o Rambo não foi o único bonzão, eu estaria escrevendo uma crítica mais positiva. Mas o final é medonho. Surge até uma legenda louvando o personagem do Gene por manter o “respeito dos homens e mulheres sob seu comando”. Mulheres?! Que mulheres? Não tem rabo de saia neste filme, não. Ou devo haver piscado quando ela apareceu.

Outros mistérios permanecem. Por exemplo, o que o Gene tá fazendo aqui? Ele já não fez papéis parecidíssimos em “De Volta para o Inferno” e “Bat 21”? Vai ver ele precisa de dinheiro, tadinho. A gente podia fazer uma vaquinha. Será que todo filme de guerra a partir de agora vai copiar “Os Três Reis” (que é duca, por sinal)? Pô, filme definitivo sobre aviação foi “Ases Indomáveis”. Era uma droga, por isso definitivo. E agora, prepare-se para a grande revelação. Não convém dizer quem é o diretor de “Fora de Linha”, já que ele é mais desconhecido que o Owen. Mas sabe qual o ponto alto do currículo dele? A direção de um comercial de videogame! Juro! Isso já diz tudo.

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