terça-feira, 27 de novembro de 2001

CRÍTICA: RICOS, BONITOS E INFIÉIS / Faz-me rir, ha ha ha

Dizem as más línguas que Hollywood está em choque, desnorteada após os ataques terroristas. Já cancelou o início de várias produções com aquelas explosões de praxe. Não sabe o que o público irá querer ver depois de checar que a vida real é bem mais catastrófica do que a ficção. Há gente que aposte que o espectador (americano, lógico, que é quem importa) vai optar pelo escapismo, pelas comédias leves e românticas. Eu nunca tinha me tocado que aquelas violentas e ufanistas fantasias não eram escapismo puro, mas... E então, será que o terror trouxe ao menos um saldo positivo, que é o de reformular o cinemão americano? Será que devemos prender nossa respiração, temerosos do que acontecerá com as carreiras do Schwarzza e do Stalla?

A julgar pelos filminhos lançados após os atentados, não há o que temer. Por enquanto, nada mudou. Hollywood já estava paralisada desde o ano passado, preocupada com uma greve que não houve. A falta de criatividade já assola a meca da sétima arte há o quê, duas décadas? E as comédias românticas já existiam e eram bobinhas antes da terça-feira negra. Como, aliás, pode-se constatar pela exibição de “Ricos, Bonitos e Infiéis”, ou algum título do gênero, daqueles que nada têm a ver com o original (algo como “Town & Country”, ou “Cidade e Campo”). Permita-me acrescentar à lista dos adjetivos da versão Herbert Richters um “Desinteressantes”, que define melhor os personagens desta baboseira meia-boca.

Logo no começo, por ironia do destino, é possível ver as reluzentes torres do World Trade Center. É que o filme se passa em Nova York. Outra ironia? Tem um árabe como personagem secundário. Neste caso, excepcionalmente, como se trata de uma comédia, o árabe não é terrorista. Tampouco fala inglês. Há um latino também. É Hollywood dando emprego às minorias.

“Desinteressantes” traz o Warren Beatty, o maior Don Juan da história do celulóide, ao menos até adotar a monogamia com a Anette Bening, como marido da Diane Keaton. Eles são um casal de arquitetos ricos na meia-idade. Não sei se “meia-idade” é a designação correta pro Warren, que já se encontra quase na terceira idade. Mas ele ainda parece fogoso. Deve estar, pois todas as mulheres do filme querem levá-lo pra cama. Ele desanda a ter casos extra-conjugais, sua esposa descobre, ele se envolve com a melhor amiga dela, esses lugares comuns já vistos n vezes antes. Não tem a menor graça. Curioso é que americano condena o hábito muçulmano de ter várias mulheres. Em Hollywood pode, desde que o homem, arrependido, volte à cônjuge original no fim para celebrar a união eterna.

Pra não ser totalmente injusta com o filme, vou revelar que havia um carinha se matando de rir na sala. Era um só, mas fazia barulho por vários. Por exemplo, o Warren acertava uma bolinha de golfe em um gordo? O carinha gargalhava. O Warren e a Diane travavam um diálogo absolutamente previsível? Lá tava o carinha se esbaldando. O Warren se escondia no parapeito da janela? Mais risos do carinha. Mesmo assim, até ele esgotou seu bom humor lá pelo final, com o arrastamento do longa. Espectador fiel, este artigo é em sua homenagem. Viva você, que compreende e apóia o establishment hollywoodiano – se eles fazem piadas, a gente tem que rir. É por isso que chamam esses filmes de comédia, right?

Um comentário:

  1. Eu prefiro sempre evitar esse tipo de coisa: "terça-feira negra", obviamente porque foi horrível. Acho racista.

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