sexta-feira, 28 de novembro de 2003

CRÍTICA: O JÚRI / Alugam-se juradas gordinhas

Eu tinha lido o best-seller do John Grisham, “O Júri”, uns seis anos antes de ver o filme que estreou agora. O livro falava de um, ahn, júri (sou um gênio!) decidindo um processo contra a indústria tabagista. Como neste meio-tempo já houve inúmeras ações ganhas contra os fabricantes de cigarro, sai a maldição do fumo, entra a das armas de fogo. O filme, dirigido por um zé-ninguém, é legal até a metade, quando fica totalmente previsível, ou talvez eu já conhecia a história. O John Cusack se infiltra num júri para poder manipulá-lo e depois tenta vender a sentença pra quem pagar mais, a acusação ou a defesa. Mas é claro que o liberalismo americano vai falar mais alto. Afinal, dinheiro não é tudo na vida e um indivíduo pode triunfar contra o sistema corrupto. Sei, sei. Lágrimas me vêm aos olhos ao ouvir o povo mais rico e perdulário do planeta dizer isso. Desconfio tanto da sinceridade de mensagens assim que fico na dúvida se “O Júri” não teria uma versão internacional, contra as armas, e uma doméstica, pra ser exibida nos EUA. Certo tá o Chris Rock, que defende que cada bala custe 5 mil dólares. Desse jeito ninguém iria atirar.

A parte mais fascinante da trama tá logo no começo e se refere à formação do júri. O Gene Hackman diz que as gordinhas são ótimas juradas pra votar em favor do status-quo, já que são pão-duras e conservadoras. Perguntei pro maridão: “E se eu tentasse entrar num júri pra manipulá-lo? Gordinha eu já sou”. E ele, pra aumentar minha auto-estima: “Você vota na esquerda. Ninguém ia te querer”. Por falar no Gene, que é sempre um espetáculo, a melhor cena se dá entre ele e o Dustin Hoffman. Eles se encontram – onde mais? – no banheiro, onde todas as revelações de filmes de tribunal acontecem, de “Justiça para Todos” a “Advogado do Diabo”. O problema é que a gente ouve o Gene e se convence que ele é um grande advogado, e ouve o Dustin e pensa: como é que esse cara conseguiu se formar? Nada contra o Dustin, claro, que é um ator ainda mais abrangente que o Gene, mas seu personagem é uma tristeza.

O elenco é tão, mas tão sensacional que a Jennifer Beals (a estrela de “Flashdance”) é a número quinze nos créditos, por aí, e mal tem falas. Coitada, que decadência. Mas, pra quem gosta de filme de tribunal e não é muito exigente, “O Júri” até que vai bem. E me fez sonhar: se eu fosse convocada pra ser jurada, eu me venderia por algumas toneladas de chocolate. E depois processaria a Nestlé por me fazer engordar. Tema mais americano, impossível.

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