domingo, 26 de dezembro de 1999

CLÁSSICOS: APOCALYPSE NOW / Vinte anos depois do Apocalypse

O melhor dos inumeráveis filmes sobre a Guerra do Vietnã já nasceu como obra-prima do cinema

Quando Apocalypse Now foi finalmente apresentado ao mundo, depois de quatro anos intermináveis de filmagens, a comoção não poderia ter sido maior. Este filme de duas décadas atrás foi imediatamente saudado como obra-prima, ainda que imperfeita, posto que ocupa até hoje. Com justiça, é considerado um dos melhores trabalhos sobre a Guerra do Vietnã, se não o melhor. Em geral, quando se fala desta guerra horrorosa, a primeira e única até agora perdida pelos americanos, mencionam Apocalypse, O Franco-Atirador e Platoon. Vai saber porque omitem Nascido para Matar, de Kubrick...

Foi por uma série de acasos que Apocalypse veio a se tornar o que é. Para início de conversa, quem havia sido escalado para dirigi-lo era ninguém menos que George Lucas, que abandonou o projeto para primeiro se dedicar a Loucuras de Verão e, depois, a Guerra nas Estrelas. O roteiro original, escrito em 1969, quando a intervenção dos EUA não era ainda vista como desastrosa, descrevia soldadinhos a la John Wayne, e levava a assinatura de John Milius, direitista de carteirinha. Se quiser ter uma noção do fascismo de Milius, basta assistir a Amanhecer Violento, sobre adolescentes mascadores de chiclete que defendem sua cidade de uma invasão comunista. Pode-se imaginar que Apocalypse teria sido um tanto diferente com Lucas e Milius.

No fundo, sem Francis Coppola, o filme nunca teria sido realizado. Só que Coppola alternava crises de depressão e megalomania e estava a um passo da loucura. É impossível falar de Apocalypse sem abrir um parênteses para o ego de Coppola na época. Em 1975, quando assumiu as rédeas do filme, Coppola era tido como um deus, e não para menos. Acabava de ver duas de suas obras (O Poderoso Chefão II e A Conversação) nomeadas ao Oscar de melhor filme no mesmo ano - fato único na história do prêmio -, e nadava em dinheiro. Ou seja, estava no céu. Por isso que a queda foi tão brusca.

Coppola teve enormes dificuldades para escalar seu ator principal. Robert Redford, Jack Nicholson, Gene Hackman, Al Pacino, Steve McQueen - todos foram sondados e recusaram, já que não queriam passar seis meses na selva. Finalmente, contratou Harvey Keitel, e o despediu logo depois, por razões mal explicadas. Chamou então Martin Sheen para o papel de sua carreira. Sheen se empenhou tanto que, no meio das filmagens, teve um ataque cardíaco. Quase morreu aos 37 anos, o que significaria o caixão também para Apocalypse.

Ah, a história! Um capitão americano no Vietnã é enviado, numa missão secreta, até o Camboja, para liquidar um oficial (de seu próprio exército) que havia enlouquecido e inaugurado uma seita. No caminho, ele presencia uma série de atrocidades.

A cena mais famosa é a que mostra Robert Duvall, no comando de uma tropa de helicópteros que bombardeia uma escola vietnamita, incentivando seus homens a aproveitarem as ondas e surfarem ao som da "Cavalgada das Valquírias", de Richard Wagner. A verdade é que Duvall rouba o filme como o demente que diz "adoro o cheiro de napalm pela manhã", e que nem sequer pisca durante o fogo cruzado. Sua imagem virou a marca registrada de Apocalypse.

O filme foi rodado nas Filipinas, entre tufões que derrubavam cenários e rebeliões armadas, além de muitas drogas. O documentário da esposa de Coppola, Hearts of Darkness - O Apocalipse de um Cineasta, também disponível em vídeo, expõe claramente como os atores e a equipe viviam dopados.

O final de Apocalypse traz Marlon Brando, e é a parte imperfeita deste clássico, por ser confusa e pretensiosa demais. Brando não criou nenhum problema, apesar da obesidade e de não ter lido o livro de Joseph Conrad, Coração das Trevas, no qual o filme é inspirado.

Apocalypse, orçado em US$ 12 milhões, terminou gastando uns 40 mi. Muito desse dinheiro era de Coppola, que ganhou de brinde um colapso nervoso. Se valeu a pena? Digamos apenas que foi a última obra-prima de Coppola - e uma das últimas do cinema.

2 comentários:

  1. Pode ser um clássico, mas eu não gostei.Tenho uma certa antipatia pela família Sheen(logo, Platoon idem.).Também porque a parte do sacrifício do boi é totalmente desnecessária. A única hora em que o filme empolga um pouco é durante a subida do rio, e dura pouco.

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  2. Los últimos minutos de esta película son de lo más existencialista, moralmente aterrador, formalmente al límite que un espectador puede encontrar en toda la historia del cine norteamericano. Willard, ahora cautivo de Kurtz, es el testigo privilegiado (y nosotros con él, pues siempre el punto de vista es el suyo) de un dantesco episodio del que va a ser el protagonista, muy a su pesar. Pero primero seguimos al Fotógrafo de Prensa, Dennis Hopper, que camina por un sendero por el que se cruza con soldados/guerreros de Kurtz, muchos de los cuales cargan con cadáveres mutilados, probable resultado de alguna escaramuza. Uno de los prisioneros enjaulados es Willard, a quien el fotógrafo lleva un poco de agua, y le pregunta: ¿cómo es que un buen hombre como usted quiere matar a un genio?
    Realmente el personaje de Hopper es esencial para hacer que el relato se precipite hacia su final con naturalidad. Es un personaje-bisagra, que le da pistas a Willard (a nosotros). Y las frases que pronuncia, aún bañadas de LSD y enfebrecidas, son certeras a poco que uno se fije: “ese hombre tiene la mente lúcida pero el alma loca”. > veterinario online veterinario online doctor online abogado especialista online abogado online abogado online abogado mexico online abogado España online Lo que está haciendo es anticipar su papel a Willard, anunciarle que le pasa el testigo y que va a ser él el único que quede con vida y que pueda contar la verdad. De modo que el fotógrafo es una especia de Coppola colocado y lisérgico, que dirige a su personaje a donde quiere. Este alter-ego susurra a Willard, le guía, como un director de cine.

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