A S. me perguntou em agosto:
Em primeiro lugar, gostaria de elogiar o seu blog, os temas abordados, escritos de forma clara e lúcida, certamente abrem os olhos de muita gente, bem como acho lindas as respostas que você dá a leitorxs que te procuram fragilizadxs e enfrentando seus infernos pessoais. Não concordo com todos os seus pensamentos, até porque o blog abre debates amplos e é impossível que se concorde em tudo, mas sempre gosto da forma como você expõe as suas ideias.
Elogios feitos, vamos à minha “dúvida cruel”... que na verdade é uma tentativa de entender melhor esta questão, que pelo que vi alguns chamam de slut shaming [em tradução direta, "culpar a vadia"].
Desde que leio seu blog, vejo que você luta para que as mulheres tenham o direito à liberdade sexual, a não serem rotuladas por suas preferências, nem pela quantidade de parceiros com quem se relacionam, ou pelas suas roupas e a forma que se portam.
Minha dúvida é se, na realidade, não estejamos ultrapassando um pouco os limites da liberdade sexual e rumando para uma espécie de hedonismo, em que só o que importa é o prazer sexual, desconsiderando-se a forma como ele é obtido.
Pois bem, eu, obviamente, considero-me feminista, detesto a objetificação das mulheres (especialmente pela mídia), luto para que possamos andar nas ruas sem sermos molestadas ou ter medo de violência, e creio que, como a maioria das mulheres, já passei por alguma situação de abuso sexual.
Embora eu tenha sido um “patinho feio” na infância, hoje estou razoavelmente dentro do padrão de beleza, e desde muito jovem sempre fui interessada pela leitura e tirei boas notas, e nunca tive interesse em trabalhar com meu corpo. Não sei se por esse motivo, eu não consigo entender por que algumas mulheres dão tanto valor à exibição de seus “atributos físicos”, com roupas cada vez mais curtas, justas e decotadas, que ao menos pra mim, ultrapassam os limites do bom senso.
Sim, eu defendo que isso não é um convite ao estupro, nem que necessariamente significa que a mulher seja vadia ou prostituta, mas não consigo entender essa obsessão de algumas mulheres pelos seus corpos, como se fosse tudo que elas têm a oferecer. Eu sinto sim vergonha alheia ao abrir um site como o Ego e ver o esforço nítido das personalidades da mídia em aparecer, sempre pagando calcinha ou peitinho e armando algum tipo de barraco com alguém. E, ao mesmo tempo, ao ver que as minhas blogueiras feministas conseguem defendê-las, eu sinto vergonha de me dizer feminista sem ter esta mesma compaixão...
Há cinco anos sou casada com um homem que é inteligente, gentil, feminista e, ainda por cima, bonito. Por mais que eu seja uma pessoa zen, paciente e segura, fica difícil não me incomodar com o assédio de algumas mulheres, já que muitas vezes é feito de forma descarada. Claro que isso não atinge o meu relacionamento, mas eu não consigo deixar de me perguntar: por quê? Por que algumas mulheres se comportam de forma abusiva, invasiva, com o único intuito de provocar e humilhar outras mulheres? Lola, eu sei que a resposta está no patriarcado, mas eu me sinto um pouco boba ao tentar defender certos direitos de pessoas que não respeitam direitos alheios.
Acredito que se as pessoas querem ser respeitadas, elas também devem aprender a respeitar. Não adianta uma mulher que assedia um homem acompanhado, constrangendo tanto a ele quanto à sua companheira, exigir que respeitem suas liberdades, se ela mesma não respeita as liberdades alheias. Reclamar que os homens falam grosserias, e ser também grosseira. Temos que lembrar que a “nossa liberdade termina onde começa a do outro”.
Enfim, não sei se você conseguiu entender o que eu quero com todo esse texto (acho que nem eu, rs), mas gostaria muito de saber seu ponto de vista.
Minha resposta:
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