segunda-feira, 26 de setembro de 2022

ONDE BOLSO MAIS DESIDRATOU

Estou confiante na vitória de Lula ainda no primeiro turno no próximo domingo. Pela primeira vez, por exemplo, o agregador do Estadão (que reúne várias pesquisas) registrou Lula com 52% dos votos válidos. Mas é preciso lembrar que em 2006 Lula chegou ao 1o turno com 50% dos votos válidos nas pesquisas. E, mesmo assim, houve segundo turno (e aí Lula ganhou fácil). 

Hoje reproduzo aqui uma matéria publicada ontem no Globo por Marlen Couto e Ana Flávia Pilar. Elas fizeram um levantamento comparando votos para presidente no primeiro turno de 2018 com os índices de votos válidos medidos pelas últimas pesquisas do Ipec.

Quase quatro anos após ser eleito presidente, em meio a uma onda antipolítica, Jair Bolsonaro (PL) tem hoje desempenho nas pesquisas aquém da votação que alcançou no primeiro turno das eleições de 2018 em ao menos 15 estados e no Distrito Federal. É o que revela um levantamento do GLOBO que comparou os votos em Bolsonaro computados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em cada unidade federativa com os índices de votos válidos medidos pelas pesquisas mais recentes do Ipec.

Os números ajudam a mapear onde estão os maiores desafios eleitorais do presidente, que segue entre 16 (Ipec) e 14 (Datafolha) pontos atrás do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na corrida pelo Planalto enquanto busca recuperar o eleitor que já o escolheu no passado. O levantamento mostra que a desidratação de Bolsonaro medida pelos levantamentos é puxada, principalmente, pelos estados do Sudeste, região que concentra os três maiores colégios eleitorais do país e que será o foco das campanhas na reta final. O fenômeno também é observado em locais onde o presidente segue liderando a corrida, como Santa Catarina e Mato Grosso, mas agora conta com uma vantagem menor em relação a Lula.

Para fazer o mapeamento, O GLOBO considerou os votos válidos medidos pelo Ipec e a margem de erro geral das pesquisas, de três pontos para mais ou menos. O índice desconsidera os indecisos e os votos em branco e nulos e é o que mais se aproxima do cálculo feito pelo TSE para determinar o resultado da disputa. Para chegar aos estados em que o presidente perdeu força em algum grau, foram contabilizadas, portanto, apenas as reduções a partir de quatro pontos percentuais.

Um fator a ser considerado, porém, são as abstenções. As pesquisas não captam quantos eleitores não vão comparecer às urnas, índice que afeta diretamente a contagem de votos válidos. Ao fazer as entrevistas, o Ipec busca amenizar esse efeito ao usar um universo de “votantes”, ou seja, um filtro inicial a partir de uma pergunta genérica sobre participação em eleições. Se o entrevistado responder que não votou no último pleito, ele é excluído da amostra.

Votos em casa

O Rio, onde Bolsonaro começou sua carreira política, é o estado em que o presidente perde, no momento, mais adesão, na comparação com 2018. O candidato do PL tem hoje 20 pontos a menos nas pesquisas do que o patamar atingido nas urnas no pleito passado, considerando os votos válidos medidos pelo Ipec. Há quatro anos, o presidente teve 60% dos votos no estado já no primeiro turno. No momento, ele tem 36% das intenções de voto, na pesquisa estimulada, e 40% dos votos válidos.

Em São Paulo, essa diferença é de cerca de 16 pontos. Bolsonaro marcou 53% dos votos válidos no primeiro turno da eleição passada. A última pesquisa Ipec, divulgada no início da semana, mostra que o presidente tem 33% das intenções de voto e 37% dos votos válidos. Em Minas Gerais, onde tradicionalmente os presidentes eleitos também ganham, Bolsonaro atinge 35% dos votos válidos. Há quatro anos, ele contabilizou 48% dos votos dos mineiros.

Professor do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Josué Medeiros vê na desidratação eleitoral do presidente o efeito da avaliação negativa do governo, puxada por pontos como a inflação e a corrosão da renda.

— O governo é mal avaliado e não consegue recompor as intenções de voto. Em 2018, Bolsonaro era uma expectativa, uma promessa. Hoje, é o governo que ele realizou. Outra dimensão é que o antipetismo enfrenta nas urnas Lula, e não Fernando Haddad. Com Lula, vemos o antipetismo voltar a patamares históricos — avalia.

Na comparação com Haddad, candidato do PT em 2018, Lula tem hoje desempenho melhor principalmente nos maiores colégios eleitorais. Se há quatro anos, o ex-prefeito teve apenas 16% dos votos em São Paulo, hoje o Ipec mostra Lula com 48% dos votos válidos. Mudança semelhante é observada no Rio, onde o ex-presidente marca 46% das intenções de voto, ante 15% de Haddad em 2018.

Apoio perdido

Bolsonaro também atinge patamares menores de intenções de voto que o alcançado por ele em 2018 mesmo nas regiões Sul e Centro-Oeste, onde sua campanha costuma ter maior apoio. Em Santa Catarina, por exemplo, o presidente teve 66% dos votos no primeiro turno do pleito passado. Hoje, ele ainda está à frente de Lula no estado, mas com uma vantagem menor do que tinha em relação a Fernando Haddad. Na última pesquisa Ipec, Bolsonaro aparece com 55% dos votos válidos.

— Em 2018, não só em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, havia um sentimento contrário ao petismo generalizado, respaldado na Lava-Jato e em escândalos como o petrolão. A visão desrespeitosa em relação a quem exerce o papel de governante recaiu sobre o PT há quatro anos. E hoje está recaindo sobre Bolsonaro — analisa o cientista político da Fundação Getulio Vargas (FGV) Eduardo Grin.

Em três estados (Amapá, Amazonas e Paraíba), o recuo de Bolsonaro é menor e está mais próximo da margem de erro. Em dez estados, todos do Norte e Nordeste, o atual presidente mantém o desempenho do primeiro turno de 2018. Neste grupo, o estado com maior número de eleitores é a Bahia, onde o presidente tem apenas 20% dos votos válidos, segundo o Ipec, três a menos que o conquistado nas urnas em 2018. Roraima é o único estado em que Bolsonaro tem mais intenções de votos válidos nas pesquisas (67%) que o computado há quatro anos (63%) — a diferença está fora da margem de erro.

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