A PSS me enviou este corajoso relato. Embora tenha feito terapia, ela não sabe lidar com a dor até hoje. É uma sobrevivente. Alerta de gatilho.
É uma questão de coragem falar sobre tudo que já vivi. Apesar das lágrimas, que ora tento conter, vai aqui o meu relato.
Ainda bebê, eu me lembro do berço. Eu, em pé, olhando minha mãe de sangue, sentada sobre seu amante em movimentos de “vai e vem”, naquela época desconhecidos por mim.
Recordo-me de um outro dia, no qual ela foi até o trabalho dele comigo e, em seus abraços, recebi seus afagos. Até, aí tudo bem. A polêmica começa quando minha memória desaparece.
Tudo se transforma em recortes dolorosos. As lágrimas não cessam. Achei que quanto mais o tempo passasse, mais eu saberia engolir a tristeza que tudo isso me causa.
Não sou melhor nem pior que qualquer outra pessoa. Apenas tenho essa caminhada. Sinceramente, não acredito em Deus, e essa é a minha primeira razão por ser tão descrente. Eu era um bebê, um anjo de “Deus”. Como ela pode fazer isso comigo? Essa pergunta nunca será respondida.
Após esse eventos, muitas coisas aconteceram. Decidi escrever para você e tentarei pontuá-las em ordem cronológica.
Minha mãe me incentivou ao ato sexual com minhas irmãs. Somos cinco no total. Muitas coisas se apagaram e eu prefiro não lembrá-las. Por aqui você saberá apenas o que restou na minha memória. Uma irmã violentada, eu agredida fisicamente e o sexo vulgar em todos esses anos.
A mãe que se deliciava e não fazia a menor questão de esconder de nós, todas meninas entre 6 e 12 anos, suas palavras e movimentos pornográficos. Cada dia com um macho diferente.
Recordo-me do dia em que apanhei tanto do “marido” de minha mãe de sangue, que os vizinhos e vizinhas vieram ao meu socorro. Eu, sentada embaixo da mangueira, sangrando em todo o rosto, pelo soco que ele havia me dado, por defender minha irmã mais velha.
Naquele dia ele a violentou. Isso dói tanto, que mesmo descrito em letras garrafais, jamais descreveriam a minha e a dor dela. Um bruto, grosso, violento “dono” de uma mulher, a qual tomou-lhe suas três filhas menores. A vizinhança não deixou que ele se aproximasse de mim e me levou para sua casa. Dona Lourdes. Uma vovó querida.
Temos feridas distantes, nunca cicatrizadas.
Segui meu caminho, me afastei, vivo num outro mundo.
Tenho uma família maravilhosa que me adotou há cerca de 36 anos. Nela minhas filhas são netas, sobrinhas, primas e têm tudo de bom que uma família pode dar com seus defeitos “normais”.
Entre essa fase inicial e a atual, tenho outras histórias que não me sinto preparada para contar hoje. Tenho certeza que você me entende.
São de outros abusos infantis: estupro, assédio e violência de todo tipo.
Essa era uma promessa minha para 2022: ter força e admitir o quanto toda essa dor me fez mal.
Do início até aqui eu chorei horrores, pois é como se a morte, que te leva aos poucos, ou como a vida, que te faz respirar.
Escolhi a vida. Sou arrimo de família, eduquei duas lindas meninas e não permiti que nenhum homem tocasse nelas como fui tocada.
Nós mulheres precisamos ser donas dos nossos destinos. Não podemos deixar que os homens escolham por nós e nos machuquem com feridas que jamais se cicatrizarão.
PSS, como ter palavras pra expressar o horror, o nojo e a admiração? Você é uma pessoa incrível, pois sei que eu não conseguiria me levantar depois de sofrer tudo isso. Você não é apenas forte, é a própria força encarnada. Meus sentimentos e votos de que você possa viver sua vida da melhor maneira possível e seja o mais feliz que puder. Obrigada por dividir sua história.
ResponderExcluirAí está porquê na minha opinião reproduzir-se não pode ser um direito inato, mas sim algo a ser conquistado. Psicotécnico, exame de antecedente criminal, de personalidade, verificação do histórico da internet, uma devassa completa na vida e na cabeça do indivíduo que queira procriar deveria ser obrigatório antes que a figura se reproduzisse. Porque olha aí no que dá deixar psicopatas depravados procriarem livremente: estupradores produzindo suas próprias vítimas e saindo absolutamente impunes, porque "direito" de pai e mãe sobre a criança é soberano, né? Em assunto de família não se mete, né? Mãe/pai sempre sabe o que é melhor pra criança, né? Mãe/pai tem direito de criar como quiser, né?
PSS, eu sinto muito, do fundo do meu coração, por tudo o que você foi submetida. Por favor, sinta as energias positivas que mando pra você. Você é uma sobrevivente e eu te desejo sinceramente uma vida plena, positividade, cura, noites de sono sem pesadelos e felicidade.
ResponderExcluirA titia já disse, mas vou reforçar: Sabe quando eu falo de parentagem responsável? Deveria ser estupidamente óbvio e claro como 1+1=2: pessoas deveria refletir minimamente antes de colocar alguém no mundo. Falar do assunto é no entanto impossível sem gritos de "genocida" ou gente rosnando versos bíblicos. No meio de tanto barulho, choro e ranger de dentes qualquer palavra de sensatez ou tentativa de uma conversa minimamente civilizada ou mesmo uma REAL solução para o problema se perde.
Iria resolver 100% do problema? Não, não enquanto existir humanos no mundo, mas é possível diminuir muito a quantidade e a gravidade de casos de abuso.
F*da -se patriarcado.
ResponderExcluirPISS, que relato chocante. Sinto muito pelo que você passou, de verdade.
Apesar do tempo não ter curado todas as feridas, eu te desejo muita cura no seu caminho.
Quanto essa mulher que se diz "mãe" -provavelmente uma mulher narcisista - e esse homem escroto, imundo que ousou colocar as mãos em uma menor e violentar a outra, desejo firmemente que as leis do Karma universais façam o seu trabalho, já que parece que justiça pra esse caso na lei dos homens é quase impossível.
Desejo tudo de bom a você e sua família.