Quem achava que o Senado era um pouco menos pior que a Câmara, por causa da atuação de alguns senadores na CPI da Covid, caiu do cavalo. Esta semana os excelentíssimos já aprovaram a regulamentação do orçamento secreto e a nomeação do terrivelmente evangélico André Mendonça para ministro do STF.
Ou seja: mesmo que por um milagre o cúmplice do genocídio Arthur Lira tocasse um dos 141 pedidos de impeachment contra o genocida e ele fosse aprovado na Câmara, não passaria no Senado.
Ainda assim, não deixo de me impressionar que todas as provas reunidas na CPI da Covid provavelmente não darão em nada. É revoltante. Reproduzo o artigo do jornalista e escritor Juan Arias, do El País.
Se depois da CPI Bolsonaro ficar impune, será um escárnio nacional
Os brasileiros estão acostumados com que as Comissões Parlamentares de Inquérito (CPI) acabem sempre em nada, ou em “em pizza”, como se costuma dizer. Contudo, esperava-se que a CPI da Pandemia fosse uma exceção. Não se tem memória, por certo, de outra CPI que tenha sido tão seguida pela opinião pública com o fervor e paixão de um campeonato de futebol. O Senado ficou paralisado durante seis meses. Fez estremecer o país depois de ter descoberto as feridas abertas de um escândalo de corrupção, de negligência e de negacionismo por parte do presidente Jair Bolsonaro e deu seu Governo, que por um momento se viram encurralados.
Foram seis meses de trabalho de uma CPI que, no final, produziu um documento acusatório de mais de 1.000 páginas. Entre os acusados, estão o presidente e outras 79 pessoas, entre elas ministros, ex-ministros, políticos e empresários. Bolsonaro foi acusado de cometer crimes comuns, crimes de responsabilidade e crimes contra a humanidade.
O documento indicou quantas vidas poderiam ter sido salvas sem os crimes políticos cometidos, abrindo a possibilidade de que o presidente poderia acabar retirado de seu cargo. Ressoou no Senado o grito de “genocida” contra ele. Foi um momento de esperança da sociedade de vingar a morte de seus entes e deixar o pesadelo de um Governo desprestigiado mundialmente.
O documento acusatório foi apresentado pela CPI ao procurador-geral Augusto Aras há um mês. E apenas agora, depois de ter sido chamado por senadores para prestar esclarecimentos, ele afirmou que irá se pronunciar sobre as providências que pretende tomar no dia 27/11, sábado. É verdade que Aras é conhecido como amigo pessoal presidente, a quem tenta sempre proteger, mas desta vez trata-se de algo grave demais, que diz respeito a toda sociedade. Estão em jogo as esperanças de se fazer justiça às vítimas da pandemia.
Se todos os esforços da CPI do Senado que foram elogiados pela opinião pública e vistos como uma reparação pelos excessos cometidos acabarem em fumaça, seria uma grande frustração nacional e até internacional, já que a investigação também foi seguida no exterior com interesse e preocupação. Que a CPI possa não dar em nada se intui pela desenvoltura com a qual Bolsonaro, denunciado inclusive aos tribunais internacionais, está zombado das acusações que recaem sobre ele, assim como pelo silêncio do Congresso Nacional, que poderia ter aberto um processo de impeachment contra o presidente.
O Brasil foi gravemente ferido pela pandemia em grande parte devido à negligência de seus governantes, e isso é duplamente grave porque pode aumentar, se possível, a desconfiança da sociedade em seus políticos e juízes que acabam se protegendo sem nunca serem processados.
Essa foi a única vez que a opinião pública, dada a comoção que o documento final do Senado produziu com suas graves acusações contra Bolsonaro e seu Governo, passou a esperar que servisse para tirar do poder aquele que é considerado o pior presidente da democracia. Democracia que ele tentou minar por todos os meios, ameaçando várias vezes com um golpe.
A gravidade de uma possível frustração dos resultados da CPI da Pandemia poderia ter graves repercussões nas próximas eleições presidenciais, nas quais se esperava poder libertar o país de um dos maiores pesadelos autoritários de sua história, com graves consequências na economia e na convivência do país devido à semeadura do ódio por parte de um presidente.
A responsabilidade pelo fracasso do trabalho da CPI da Pandemia significaria a sobrevivência política de Bolsonaro. O novo triunfo da extrema direita golpista seria um desastre para uma economia já gravemente fragilizada e deixaria no poder as forças reacionárias que fizeram deste país, que já foi a sexta potência econômica mundial e uma democracia consolidada aprovada por 70% da população, uma imitação das chamadas repúblicas das bananas.
A responsabilidade do Senado, caso se resigne em que a CPI que criou tantas esperanças acabe em nada e faça ressurgir o genocida Bolsonaro com ainda mais força, acabará não só manchando a memória dos mortos da pandemia mas também zombando da dor das famílias que perderam seus entes queridos.
Os mais interessados em garantir que o trabalho da CPI não acabe frustrado e sem consequências condenatórias concretas, sem esperar anos, devem ser os vários candidatos a disputar as próximas eleições presidenciais. Se é difícil para um presidente não ganhar a reeleição, já que tem toda a máquina do Estado à sua disposição, neste caso uma vitória de Bolsonaro incólume das graves acusações da CPI da Pandemia significaria uma triste derrota para a democracia.
Não tenho esperança alguma de que aconteça alguma coisa com Bolseboso por causa da CPI. No fundo no fundo, a gente já sabe: nada vai acontecer com ele, pra quem, até agora, tudo está indo muito bem. O PDT de Ciro Gomes deu os votos decisivos na Câmara pra a aprovação da PEC dos Precatórios. No Senado, quem deu os votos decisivos pra a aprovação foi o PT. Que também ajudou na aprovação do orçamento secreto. Segundo alguns analistas políticos, esses movimentos demonstram que até a oposição (esquerda), por calculismo político e interesse numa sobrevida do governo do Bolseboso, o está ajudando a seguir em frente, por achar mais fácil derrotá-lo do que ao Moro no 2o turno ano que vem. Os próximos meses vão ser decisivos pra se saber se a esquerda e Bolseboso vão colher os frutos do seus respectivos calculismos. Bozo vai distribuir vale-gás, incluiu várias famílias na tarifa social da energia elétrica, vai incluir várias outras no Auxílio Brasil, turbinado pela PEC dos Precatórios, tudo com o intuito de comprar os votos das pessoas mais pobres. Se a popularidade dele começar a subir, ele vai sair candidato à reeleição. Se subir demais, a ponto de ele ter chances de ser reeleito, a oposição (Ciro Gomes inclusive, já que o PDT ajudou na aprovação da PEC dos Precatórios na Câmara), vai ter dado um tiro no próprio pé. Se a popularidade dele não começar a subir significativamente, contrariando as projeções de Bozo&Cia, há a outra possibilidade de tiro no pé da oposição, que é aquela de que eu já falei, que seria Bolseboso desistir de concorrer à reeleição, pra disputar uma vaga no senado. Entre concorrer à reeleição com grande chance de derrota, e concorrer ao senado com grande chance de vitória, o reptiliano vai preferir a 2a opção, pra garantir um mamandato (mistura de mamata com mandato) por 08 anos, mais a imunidade parlamentar, e ainda sacanaer Lula e o PT, porque Bozo também sabe que as "forças ocultas" vão fazer o diabo pra Moro vencer no 2o turno, caso ele desista de concorrer à reeleição. Enfim, além de a CPI da Covid não dar em nada pro Bozo, da forma como as coisas estão se arranjando, as ajudas que PDT e PT deram ao governo, podem, nos próximos meses, se revelar um tiro nos próprios pés, a depender do que venham a mostrar as pesquisas já sob o efeito do pacote de bondades que o governo Bolseboso está aprovando pros mais pobres. A conferir as emoções dos próximos meses.
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