NADA MAIS TRADICIONAL NA TRADICIONAL FAMÍLIA BRASILEIRA QUE TRAIÇÃO E VINGANÇA

Em dia sem CPI da Covid e sem novas denúncias de corrupção do governo (claro que o dia é uma criança), nada como uma fofoca edificante, daquelas bem saborosas. Foi o que publicou a Veja hoje. E o mais bacana é que todos os personagens desta novela são terrivelmente evangélicos, os arautos da moral e dos bons costumes, os cidadãos de bem do Antigo Testamento. Não preciso nem dizer que são todos bolsonaristas também. 

A essa altura quase todo mundo sabe quem é Oswaldo Eustáquio, o autointitulado "maior jornalista investigativo do Br" e "jornalista de alta performance" (segundo ele, que não precisa pedir dinheiro pra viajar). Eustáquio é um blogueiro bolsonarista super honesto que vive de escrever matérias encomendadas para atacar desafetos do governo. Entre seus feitos está inventar que a mãe de Glenn Greenwald fingia ter câncer (ela morreu pouco depois, de câncer), que Guilherme Boulos possuía empresas fantasmas, que Felipe Neto fazia apologia à pedofilia etc etc etc (muitos etc mesmo). Já foi processado várias vezes e sempre perde, mas não tem problema, porque quem encomenda suas matérias caluniadoras também deve se encarregar de pagar as indenizações.

Eustáquio e sua esposa Sandra Terena, que sempre que pode posa com cocar indígena, já foram amigos do peito da sinistra Damares Alves. Tanto que Sandra foi nomeada para um cargo importante no Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Ganhava R$ 17 mil mensais. Porém, assim que Eustáquio entrou na mira do ministro do STF Alexandre de Moraes por promover atos antidemocráticos que exigiam o fechamento do Congresso e do STF e a "intervenção" militar, Damares tentou se afastar. Exonerou Sandra. Acabou o amor. 

Na realidade, todos esses organizadores dos atos antidemocráticos sentem-se traídos e abandonados não apenas por Damares, mas principalmente por Bolsonaro, que finge que não é com ele e que não teve nada a ver com o financiamento desses grupos. Mas eles não podem brigar com ele porque disputam o mesmo público. Quem fala mal do mito é tachado de traidor e passa a ser alvo do Gabinete do Ódio (Joice, Alexandre Frota, Bebianno, Luciano Bivar, e mais recentemente Luis Miranda que o digam). E obviamente essa gente não é acolhida pela esquerda. Ficam à deriva, jogados à propria sorte. Por isso, muitos preferem engolir a mágoa contra o chefe e limitam-se a distribuir patadas entre os subalternos.

Minha fofoca preferida (e que é real) nessa briga entre Eustáquio e Damares (torço pela briga!) é que foi a ministra que denunciou o blogueiro a Alexandre de Moraes. Em dezembro, quando Eustáquio estava cumprindo prisão domiciliar de tornozeleira após sair do Estado sem autorização judicial, ele tentou desesperadamente marcar uma reunião com Damares. 

Ela se recusou (ou, na sua versão oficial, disse que falaria com ele via videoconferência), e ele se dirigiu ao Ministério de qualquer jeito. Um assessor da ministra ligou pro STF avisando que Eustáquio estava violando a prisão domiciliar. Dois dias depois, ele foi preso. Na cadeia, subiu no vaso sanitário e caiu (versão da polícia), ou foi torturado pela polícia (versão dele e da esposa). Fraturou a coluna. Isso está sendo investigado. 

Mas só recapitulando: Damares entregou Eustáquio, seu ex-grande amigo, ao STF! Bolso, queira morrer amigo de Damares!

Eustáquio decidiu se vingar com carga total. Enviou uma carta a trinta pessoas, entre elas vários pastores, contando alguns podres. Um muito interessante é que em dezembro de 2018 Damares encomendou uma "reportagem negativa" (nisso Eustáquio entrega que é pura verdade que recebe para escrever matérias difamando os outros) sobre Marco Feliciano, também cotado para liderar o Ministério de Direitos Humanos. 

O blogueiro publicou um texto sobre supostos casos de amantes e filhos fora do casamento, e Damares ganhou a pasta. E a gente pensando que ela havia dado uma rasteira apenas no Magno Malta!

O trecho mais explosivo da carta, no entanto, não é esse nem de longe. É que Damares, a grande defensora da família tradicional brasileira, é uma destruidora de lares. Segundo Eustáquio, ela foi amante do ex-assessor parlamentar da bancada evangélica e atual pastor Humberto Lúcio Lima, um homem casado, durante sete anos.

A filha de Lima, uma jovem de 20 anos que tinha cargo no Ministério de Damares (pra quê servem secretarias e ministérios além de serem cabide de emprego pra bolsonaristas? É por isso que eles querem acabar com os concursos públicos), contou a um advogado católico pró-vida, Paulo Fernando Melo, que também ocupava um cargo no Ministério (toda essa festa é paga com o nosso dinheiro), que ela estava muito triste pelo adultério do pai, e que o caso dele com Damares estaria destruindo a família. Melo tentou falar com a ministra para "remediar a situação", mas ela o demitiu. Demitiu também a filha de Lima. (Melo confirma que teve a conversa com Damares, mas que saiu do Ministério para ser advogado eleitoral do PTB). 

Verdade ou fake news -- especialidade de Eustáquio e de todos os bolsonaristas --, Damares já está sendo fritada no mundo evangélico. No início de junho, um pastor youtuber leu numa live com 200 mil visualizações a carta do jornalista bolsonarista. O título? "A imoralidade sexual da liderança evangélica brasileira". Silas Malafaia disse que, se isso fosse verdade, seria motivo de demissão de Damares. 

A ministra ainda não quis falar sobre o assunto, mas já comentou a amigos que de fato namorou Lima, mas só até o final de 2014. Ela sentiu-se traída por não saber que ele era casado. Ainda assim, mantiveram um bom relacionamento mesmo depois do final conturbado, tanto que ela empregou a filha do ex até pouco tempo.

Eustáquio, agora inimigo declarado de Damares, e que teve sua liberdade decretada ontem pelo STF, já começou a ser alvo da fábrica de fake news bolsonarista. Há um dossiê apócrifo que o mostra com uma camiseta de Che Guevara e diz que Sandra Terena o traiu. Ele tem certeza de que isso é coisa de Damares, até pouco cotada para ser vice de Bolso em 2022.

A importância disso tudo diante do desastre que vive o Brasil e da iminente queda de Bolso? Nenhuma, claro. Mas a gente adora quando eles brigam, porque sempre sai muita, muita lama. E é intrigante para desmascarar a hipocrisia dessa gente que sempre se intromete na vida dos outros.

A próxima a atacar Damares será Sara Winter, outra que se sente traída e abandonada pela ministra. Vão vendo. 

E pra gargalhar com os memes que estão fazendo...