Publico hoje o protesto (e também pedido de socorro) de um professor de uma escola particular de Florianópolis que, apesar de fazer parte do grupo de risco, está tendo que voltar às aulas presenciais. Ele prefere manter o anonimato porque teme represálias.
Sou professor da rede privada de ensino em diversas instituições de ensino da região de Florianópolis (SC). Em meio ao polêmico retorno das aulas presenciais no modelo que está sendo chamado de “híbrido” (aulas com alunos presentes em sala e com estudantes de forma remota), encontrei-me diante de uma situação constrangedora, e descobri que não sou o único. Minha experiência tem sido relatada por diversos colegas que, assim como eu, são parte dos grupos considerados de risco para a Covid-19: entre eles, obesos, hipertensos, diabéticos e cardiopatas.
Nesse retorno forçado das atividades escolares presenciais, em nosso Estado, determinado pela Justiça, apostou-se no “bom senso” dos gestores escolares. Só que, enquanto os professores dos grupos de risco pertencentes à rede pública de ensino permanecerão obrigatoriamente em trabalho remoto – garantindo o isolamento social que salva vidas –, a mesma medida não é aplicada aos professores e professoras da rede privada que fazem parte dos grupos mais suscetíveis a ter complicações se contraírem a doença. Pior, as instituições criam situações diversas para o retorno ao presencial. Todas elas, terríveis.
Algumas unidades de ensino, que deveriam zelar pelo seu corpo de funcionários e respeitar as condições impostas por um mundo ainda em pandemia de coronavírus, simplesmente ignoram e sequer permitem opção aos professores. Várias estão fazendo formações dos professores de forma presencial, reunindo grande número de educadores em uma atividade que poderia ser feita tranquilamente de maneira remota. Outras instituições têm adotado uma postura, que pode até parecer humanizada em um primeiro momento, dando aos profissionais uma suposta “autonomia” em escolher pelo retorno ou não ao presencial.
Entretanto, neste caso, fica evidente que uma decisão por se manter de forma remota nos coloca sob o julgamento dos empregadores, pais e responsáveis, estudantes e até de colegas de profissão. Isso significa, inclusive, temer pela segurança dos nossos empregos, já que passamos a sofrer a pressão de uma demissão a qualquer momento, para sermos substituídos por profissionais que não sejam do grupo de risco ou por aqueles que acabam se submetendo ao alto potencial de contágio que representa circular por diversas instituições diferentes (eu já cheguei a lecionar em quatro escolas em um mesmo dia).
Não podemos esquecer existem estudantes que questionam, ou estão em famílias em posição negacionista sobre a realidade e a gravidade da Covid e, portanto, não adotam nem os cuidados mínimos. Ao questionar aos educadores se “sentem-se confortáveis em voltar para a sala de aula”, os gestores nos deixam em uma posição vexatória, em que somos obrigados a escolher entre nosso emprego e nossa vida, sob o risco de sermos chamados de “vagabundos”, caso façamos a opção pela vida.
Acredito que, para um tratamento igualitário a toda a categoria, o mesmo tratamento dispensado aos professores da rede pública em Santa Catarina deveria ser usado para garantir a segurança dos colegas que atuam na rede privada. Não deve caber à escola nem ao profissional, e sim ao Estado, a decisão de proteger integralmente os profissionais dos grupos de risco. Infelizmente, a impressão é que estamos carentes de autoridades do Poder Executivo, Legislativo ou Judiciário em favor dos trabalhadores em educação. Além disso, não houve até o momento uma mobilização do nosso sindicato em nossa defesa (o sindicato tentou impedir integralmente o retorno dos profissionais do grupo de risco às salas de aula, sem sucesso).
Temos conhecimento que há, em alguns casos, pressão dos pais para que seus filhos retornem à sala de aula. As propagandas feitas pelas unidades foram por aulas presenciais em 2021, e agora todos arcamos com as consequências dessa decisão mais mercadológica do que pedagógica. Lógico que os professores – penso que, em sua maioria – desejam voltar a ter contato mais próximo com colegas e alunos.
Lecionar de forma remota exige muito mais demandas do que as atividades presenciais. Porém, prefiro não correr o risco. Temo pela minha vida, sim. O Estado deveria agir e não permitir expor os professores do grupo de risco na rede privada a ficarem preocupados, dia após noite, com algo que poderia ser evitado. Não é justo nos submeter a uma “escolha” onde sempre sairemos prejudicados.
minha esposa é professora na rede privada aqui de Natal/RN. essa pressão pela volta do ensino presencial é real. tanto pelos pais negacionistas e pela empresa.
ResponderExcluirdiminuíram o quadro de professores e os que ficaram estão trabalhando dobrado em outras funções. profissionais da manutenção do colégio estão indo pra sala de aula lecionar como professores.
as salas são pequenas, sem ventilação e estão super lotando as turmas. não há preocupação pela segurança dos alunos e nem dos funcionários. minha esposa foi remanejada das aulas integrais do 4° ano para o 5° ano a tarde. na parte da manhã ela ficou com as aulas de Geografia do 6°, 7°, 8° e 9°. a turma do 5° ano já tem mais de 30 alunos. vão dividir a turma em duas salas diferentes e a orientação de ensino foi a seguinte: quando estiver numa sala fale mais alto para que a turma da outra sala ouça. total desrespeito com os profissionais e com os alunos. desumano. o capital acima das vidas.
A pressão vai existir em todas as esferas. Os sindicatos e entidades devem pressionar por uma greve pela vida à nível nacional. Funcionários e profissionais de educação precisam urgentemente de organização e mobilização pela vacina e protocolo de segurança.
ResponderExcluirPra uma porca imunda que fica coçando o cu arrombado o dia todo, por ser funça, é fácil ficar falando merda.
ResponderExcluir"O estado deve agir"... Sim, principalmente te mandando para cadeia, seu resto de aborto!
MORRA, PRAGA!
Eu fico horrorizada com as notícias do Brasil. Claro que não podia ser diferente com um genocida como presidente, mas fala muito sobre o Brasil ser um país que reabre academias, bares e tudo o mais, menos as escolas. Eu entendo a preocupação dos professores (e acho muito válidas), e também vejo o desespero dos pais em ver seus filhos tanto tempo longe da escola. É toda uma geração de crianças que vai sofrer um impacto psíquico de longo prazo profundo. No fim, a culpa é obviamente do poder público, que parece ser inexistente. Uma tristeza...
ResponderExcluirNossa, um absurdo mesmo esse connstrangimento que profissionais do grupo de risco estão passando. Concordo totalmente que quem é do grupo de risco deveria ser "proibido" de voltar, mesmo se quisesse. Até porque essa seria uma medida visando o bem coletivo, e não só daquele profissional, uma vez que, caso contaminado, a chance dessa pessoa precisar de um leito em hospital é muito maior... com o sistema já sobrecarregado, evitar mais internações deveria ser uma medida não facultativa.
ResponderExcluirAgora indo um pouco além do que foi abordado no texto, é falando de maneira ampla: eu sou a favor da reabertura das escolas, sem obrigatoriedade de presença dos alunos, em 2021. Não sou negacionista: entendo toda a gravidade da situação que estamos vivendo. Mas também, como mãe que passou 2020 quase todo pressa em um apartamento sozinha com um bebê e fazendo homeoffice, entendo a urgência da reabertura.
ResponderExcluirExiste risco para as crianças, familiares e educadores? Sim, existe.
O risco de crianças desenvolverem sintomas graves e/ou transmitirem a doença pra familiares ou trabalhadores da escola é baixo, mas existe. Existe ainda o risco, maior, que os trabalhadores da escola se contaminem em outros lugares e transmitam uns para os outros. Existe, assim como para todos os demais trabalhadores de outros setores.
Em um mundo utópico, o ideal seria mantermos escolas fechadas? Certamente. Seria ótimo se houvesse meios de garantir que cada criança se mantivesse em segurança dentro de suas casas. Mas não vivemos nesse mundo ideal.
2020 deixou muito claro que a importância da escola vai além da questão da educação formal das crianças. Escola é o lugar onde muita criança faz a melhor refeição do dia. Escola é o lugar onde as famílias podem deixar seus filhos em segurança pra irem trabalhar. Escola não presta um serviço somente para as crianças, mas também para seus cuidadores. Escola é a única rede de apoio para muitas famílias. E está mais do que claro que é um serviço essencial, além de ser um DIREITO da criança e de suas famílias.
E como serviço essencial, não pode continuar interrompido.
Entendo o medo que os educadores e demais trabalhadores da escola têm com a reabertura. Mas assim como eles, tantos outros trabalhadores de serviços essenciais que não pararam em nenhum momento da pandemia, justamente porque a sociedade não pode sobreviver sem seus serviços, também sentem medo. Mas tiveram que continuar.
Nas famílias mais privilegiadas em que existe a opção de homeoffice (felizmente é o meu caso), crianças e mães, principalmente, estão ficando mentalmente doentes. Em famílias menos privilegiadas, crianças estão ficando sozinhas em casa durante o dia, enquanto os cuidadores trabalham, correndo risco de sofrerem acidentes domésticos. Isso sem contar aquelas que estão em situação ainda mais grave, passando fome, sofrendo violência e abusos diversos.
A discussão não é sobre perder o ano escolar, porque escola não se resume a isso. A discussão é sobre a saúde mental e física da criança e da família como um todo. Escola é um direito das famílias, e assim como os demais serviços essenciais (transporte, policiamento, saúde, etc), não pode parar.