Duda Salabert (PDT), vereadora mais bem votada da história de Belo Horizonte, foi demitida da escola particular Bernoulli, onde lecionava havia treze anos. A escola alegou que, com o cargo de vereadora, ela não conseguiria se dedicar às aulas.
Duda, uma mulher trans que tive o prazer de conhecer em 2019 durante um Congresso da UNE (ela é uma doçura, muito gentil, e estava feliz da vida por ser mãe), não acredita que a demissão foi por ser trans. Afinal, ela fez a transição há quatro anos, quando já estava na escola. Para Duda, o fator determinante foi ela ter recebido ameaças terroristas de que seria alvejada no colégio, o que gerou medo nos pais dos alunos.
Se for isso, é absurdo. É punir a vítima. Imagina se um trote com ameaças é suficiente para afetar a carreira de uma professora! O reitor da UFC recebeu ameaça por email no final de 2016 (com cópia pra mim) jurando que, se eu não fosse despedida, haveria um massacre na universidade. Essa ameaça foi repetidas outras vezes, e o reitor denunciou a ameaça à PF, que abriu um inquérito que levou um dos líderes mascus à prisão.
Reproduzo o post que Duda postou em seu Instagram:
Fui demitida da escola em que trabalhava. Em 21 anos como professora, foi a 1a vez que fui demitida. Queria e quero continuar dando aula. Sou Professora e dar aula sempre foi uma paixão. A política sempre ocupou meu tempo, mas nunca faltei a uma aula por causa da política e nunca dei uma aula sem me entregar ao máximo. Posso ESTAR na política institucional, mas SOU professora. Dar aula é e sempre será minha prioridade, independente do cargo político em que eu possa estar.
Comecei a dar aula no 1° período da faculdade. Lembro-me que tinha o sonho de dar aula em um grande pré-vestibular. Tanto o é que no 2° período, em uma entrevista de emprego, a psicóloga me perguntou: qual seria meu maior sonho. Eu, na época, 20 anos atrás, respondi: "dar aula em uma sala lotada de um pré-vestibular e ter minha foto em um outdoor". Sonho ridículo esse que eu tinha né?! Ridículo e alienado rsrs. Era um sonho no estilo de Macabéa, da Hora da estrela, de Clarice Lispector. Demoraram anos para eu perceber que não deveria existir vestibular e nem pré-vestibulares e que foto no outdoor era uma grande bobeira...
Não sei se voltarei a dar aula em escolas privadas novamente, pois há um grande preconceito estigmatizante que impedirá minha contratação pelo fato de eu ser trans. Para quem não sabe, minha transição de gênero tem apenas 4 anos. Antes da pandemia, pais reclamavam da minha presença na escola. Mas eles não assistiam minha aula, não me viam... Isso tornava o cenário menos pesado. Com a pandemia, minha imagem começou a frequentar as casas dessas famílias -- fato que causa desconforto em mentes preconceituosas. Para piorar, teve a ameaça de morte que sofri, na qual dizia que me matariam dentro da escola. Lembremos que esse e-mail ameaçador foi também encaminhado pra direção da escola. Ali eu já sabia que seria demitida.
Estou pensando em montar um novo cursinho popular após a vacinação. Se as escolas não me aceitarão no futuro, faço eu minha escola popular, tal qual fiz quando montei a @ongtransvest. Para além dessa questão, se algum dono de escola ou de pré-vestibular ler essa postagem e quiser me contratar, tenho todas manhãs livres para dar aula.
Que pena que você teve que passar por isso. Espero que consiga ser recontratada por uma boa escola. Mas acho que seria lindo mesmo esse seu projeto de abrir um pré-vestibular popular. Principalmente se você se voltasse principalmente pro público LGBT.
ResponderExcluirBoa sorte!
Lamentavel! As vezes bate uma total falta de esperanca de que algum dia o Brasil saia desse mar de lama...
ResponderExcluirA prioridade absoluta da iniciativa privada é o lucro, então, não é surpresa nenhuma que a escola tenha preferido punir a vítima a denunciar os criminosos. Dinheiro antes de tudo, incluindo vida e dignidade humanas. Força para a Duda e que nenhum desses canalhas egoístas e cheios de problemas psicológicos e sexuais possa impedi-la de fazer o que ama.
ResponderExcluirDenise, o Brasil não vai sair da lama a menos que troque de povo, a mesquinhez, o sadismo e a corrupção estão na psiquê e talvez no DNA do brasileiro. Às vezes faço uma piada de que só quando todos os brasileiros forem castrados e só os indígenas tiverem permissão pra se reproduzir e passar adiante seus valores e cultura esse país mudaria, mas cada vez mais tenho medo de que essa piada se prove verdadeira...