Eu me interesso muito pelo tema de finanças pessoais e creio que educação financeira deve ser uma matéria em algum momento da vida escolar. Afinal, lidamos com dinheiro todos os dias. E quem se descontrola, gasta demais, acumula dívidas, tem sua vida muito prejudicada.
Cada vez mais o tema é importante para as mulheres. Afinal, mulheres não apenas ganham menos na média, como geralmente são responsáveis pelo trabalho não remunerado de cuidar dos filhos e da casa. Como uma dona de casa que não trabalha fora e não tem renda própria pode ter algum tipo de independência financeira?
Publico hoje com muita honra o guest de post de Cássia D'Aquino, especialista em Educação Financeira.
A relação dos humanos com o dinheiro não é complicada de hoje. Assim que surgiu o dinheiro surgiu também a necessidade de se pensar sobre ele. Não por acaso, há quase 3 mil anos, Aristóteles, em um texto endereçado a seu filho (“Ética a Nicômaco”), recomendava prudência nos gastos, incentivava a formação de poupança e abominava a sovinice e ostentação.
Se dinheiro é um assunto complexo para todo mundo – Freud dizia que era um tabu ainda mais velado que sexo – para as mulheres esse tema é especialmente sensível. Milênios de história não variaram a tônica usual: o homem manipula o dinheiro "sério" e dinâmico; enquanto a mulher se mantém distante do cerne da questão, falsamente desapegada – circunscrita à gerência do dinheiro do domus -- ou, no oposto, infantilizada no usufruto do dinheiro masculino.
No correr dos séculos, a conquista feminina do dinheiro passou por altos e baixos, em um movimento pendular que ora permitia passos em direção à autonomia, ora cerceava sem dó nem piedade. Assim, para citar um exemplo, no Egito de 2.400 aC, os maridos deviam obediência às mulheres e, em casa, eram considerados inquilinos. E muito embora as mulheres possuíssem a terra apenas em usufruto -- já que o solo pertencia à realeza e aos sacerdotes --, era a elas que cabia o poder econômico. Assim foi ate que, no século III, Ptolomeu Filopátor decretasse que para alienar seus bens a mulher deveria obter a autorização do marido. Acabou-se o que nos era doce.
Cigarras e formigas, simultaneamente menininhas avoadas, gastadoras, repreendidas pelo marido/pai e administradoras exemplares do orçamento doméstico, a ideia que foi sendo construída é a de que mulheres são “naturalmente” irresponsáveis, atrapalhadas, incapazes de lidar com o dinheiro.
Ainda hoje, avançados no século XXI, é comum que o dinheiro que trabalha – o dinheiro que faz dinheiro -- seja percebido como viril. No imaginário, à mulher ainda cabe ao dinheiro que transita: o dinheiro que some.
A falta de equidade salarial, uma das reinvindicações feministas mais insistentes, está aí como o sol: desde sempre. Três mil anos atrás, conta a Bíblia, quando se estabelecia o valor do trabalho de um ser humano em preço, o dos homens valia 50 siclos de prata; o das mulheres, 30. Em 1959, a proporção era virtualmente a mesma. Em 1987, a revista Money fez uma pesquisa e detectou que as mulheres recebiam, para cada dólar auferido pelos homens, 64 centavos, o equivalente a 32 siclos. De lá para cá não melhoramos muito.
Daí a importância das mulheres terem a chance de aprender a lidar com dinheiro. Recebendo menores proventos é fundamental que sejamos criteriosas no uso e aplicação das finanças. Afinal, a gente sabe o quanto nos custa competir no mercado de trabalho.
Muito embora seja verdade que nas últimas décadas o incipiente interesse masculino pelos assuntos da casa colabore para que possamos nos ocupar de decisões financeiras para além do lar, como a compra de seguros e escolha de investimentos, a participação feminina no mundo do dinheiro "sério" ainda é muito reduzida.
As consequências do desconhecimento dos assuntos financeiros fragilizam a posição da mulher no mundo. Inibem a tomada de decisões, acobertam violências, prolongam relações que há muito deixaram de ser afetivas.
Nada é mais libertador que ser dona do próprio dinheiro. Assim como não há nada mais sexy que uma mulher que ama ou desama conforme lhe dita o coração, livre das amarras da ignorância sobre o dinheiro. Precisamos romper mais essa barreira!
Acho que educação financeira só faz sentido a partir de um certo nível de renda. Segundo o DIEESE, pra ser cumprida a Constituição e o salário-mínimo satisfazer ao chamado mínimo existencial, o valor dele deveria ser quase 05 vezes maior ao que é hoje. Esse comparativo demonstra que o trabalho no Brasil não vale nada. Todo mundo que trabalha deveria ganhar o suficiente pra sobreviver com decência. Pagar moradia, alimentação, transporte, lazer e outros direitos básicos sem grande sacrifício. Mas a gente sabe que não é assim. Fica difícil justificar a importância da educação financeira com renda média tão baixa como é no Brasil. Parece história da carochinha. É mandar muita gente passar fome e morar debaixo de uma ponte pra poupar.
ResponderExcluirTutorial
ResponderExcluirhttps://m.facebook.com/dollynhoreacaa/photos/a.844612065574219/3116079341760802/?type=3&source=54
Aqui dois ótimos canais financeiros.
ResponderExcluirNath Finanças
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Financeiro
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Iara de Dupont já ensinava que devemos nos focar mais no dinheiro e menos no romance. Pra mulheres mais do que qualquer um, aprender a lidar bem com o dineiro deve ser prioridade total, pois muitas vezes a vida delas literalmente depende disso.
ResponderExcluirBravo!!
ExcluirExatamente. Principalmente: menos romance. Romance, com poucas exceções bem sucedidas, são um atraso na vida de uma mulher. Um gasto de tempo e energia para nada.
ExcluirALELUIA!!! Finalmente alguém entendeu a importância da educação financeira - principalmente para as mulheres!!! Pensei que não aconteceria nesse século.
ResponderExcluirQuanto mais pessoas produzindo, mais recursos são gerados, melhor é a distribuição de renda e menor a pobreza, melhores são as chances de se ter uma aposentaria digna no fim da vida.
Assim que as crianças aprendem a fazer contas, já deveriam começar a aprender a lidar com dinheiro.
E discordo - quanto menos você ganha, mais importante é saber administrar o pouco que se tem e planejar os gastos.
E quando se é mulher no mundo dos homens - ter sua independência financeira é muitas vezes ter o poder de virar as costas e sair de uma situação de abuso/violência. Planejar não só as finanças mas todos os aspectos da vida pode tornar as coisas não só mais fáceis de lidar como pode literalmente salvar vidas!!!
É isso aí 😏
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