Shere Hite morreu na quarta-feira na sua casa em Londres aos 77 anos.
Edição do livro que ainda temos aqui em casa |
Li O Relatório Hite, um bestseller sobre sexualidade feminina (vendeu 48 milhões de cópias em todo o mundo!), na minha adolescência. Foi marcante pra mim, embora eu não me lembre de quase nada agora, quase 40 anos depois.
O obituário sobre Hite publicado no New York Times é ótimo. Eu não sabia praticamente nada sobre sua vida, só sobre sua obra (que você pode encontrar aqui). Coloco aqui, adaptados, alguns dos melhores momentos do texto:
O livro de 1976 mostrava que as mulheres podem ter prazer sexual sozinhas. Hoje, isso é óbvio. Na época, não era.
O livro mais famoso de Hite veio na segunda onda do feminismo e depois da revolução sexual dos anos 1960, que permitiu que mulheres fizessem sexo sem compromisso (como os homens sempre fizeram), mas que não tinha alterado a dinâmica falocêntrica na cama. A quantidade de sexo tinha subido, não a qualidade.
Muitos homens, obviamente, ficaram chocados e bravos com o Relatório Hite. Ela estava dizendo que eles faziam tudo errado! A revista Playboy (pra qual algumas feministas ainda passam pano) fez um trocadilho com o nome da autora e chamou o livro de Relatório Hate (Ódio). A direita cristã também foi outra que detestou o livro -- viu (vê ainda) o incentivo ao prazer sexual feminino como destruidor das famílias.
Em 1981 Hite publicou outro relatório, desta vez focando na sexualidade masculina. Constatou através de 7 mil entrevistas que raiva reprimida e infidelidade eram comuns nos casamentos americanos. Com seu terceiro livro, ela passou a receber ameaças de morte. Mudou-se pra Europa. Renunciou a sua cidadania americana em 1995.
Uma anedota que achei demais:
quando Hite fazia pós-graduação em Columbia -- desistiu do doutorado porque não a deixaram escrever sobre sexualidade feminina --, pagou a faculdade como modelo (ela era linda). Entre seus trabalhos, ela posou pra Olivetti. Quando ela viu o texto do anúncio ("uma máquina de escrever tão inteligente que ela [a modelo] não tem q ser"), juntou-se a um protesto contra a marca.
Foi protestar contra o anúncio em que ela aparecia. Assim nasceu seu feminismo. (Se alguém encontrar esse anúncio, manda pra mim? Procurei mas não achei!)
No Guardian diz que ela era a única pesquisadora de sexo na época que era feminista. E foi vilipendiada, ameaçada de morte e chamada de odiadora de homens (foi casada duas vezes, a primeira com um pianista alemão 19 anos mais novo) simplesmente por constatar que inúmeras mulheres não tinham orgasmo com a penetração.
Pra terminar este post curtinho, uma leitora escreveu: "Muito interessante! Quero ler mais sobre ela. Outro dia estava lendo a respeito de Beate Uhse, dona da primeira sex shop do mundo, que começou a vender produtos para esposas de soldados. Ela era piloto de avião. Só fera!"
12 comentários:
No Brasil se fala muito pouco sobre a importância do trabalho dela pro ativismo feminista no país. Tomara que tenha deixado discípulas a sua altura.
Conhecia o anúncio; entretanto, não conhecia a feminista por trás do anúncio.
Amei!
Não achei da Olivetti, mas há esta propaganda de uma calculadora à prova de "loura burra", não sei quem é a modelo:
https://3.bp.blogspot.com/-0GqghnXi7j4/VkrxVKoDzgI/AAAAAAAAA8g/tim29ERlazY/s1600/Dictaphone%2Badvert.jpg
https://katewritesandreads.blogspot.com/2015/11/four-and-bit-in-october.html
Viva o feminismo. Ele salva vidas!
Saudações a mais uma heroína que se vai. Obrigada, Sheri Hite.
E pra ser odiadora de homem é muito fácil. Basta não venerar os pintos deles. Por isso que eu defendo trocar homem machista por pet e vibrador.
Viva o feminismo. Ele salva vidas! E a qualidade das vidas!
Sempre que eu vejo uma feminista real morrer eu lembro que muitas "feministas" "pagam pau" pra certos machos (e fêmeas) escrotos(as) que se dizem progressistas, como esse que diz essa besteira aqui sobre o direito da mulher ao seu próprio corpo:
" ...discorda de que aborto não seja pecado. “Não existe um dogma específico, mas o aborto se encaixa no mandamento ‘não matarás’, portanto, sempre foi considerado um pecado e condenado na Igreja. O perdão só é concedido se a pessoa, de fato, mostrar claro e profundo arrependimento, dizer que nunca mais o fará e garantir o compromisso de defesa da vida.”
"Direito Canônico da Igreja prevê o pecado do aborto, porque pecado é tudo aquilo que atenta contra a vida. Eu não ofendo a Deus se o xingo, mas ofendo o meu irmão se atento contra a vida."
"Há algum ato ou dano que seja imperdoável?
"No sentido de não sermos capazes de esquecer, atos como o Holocausto, por exemplo. Ou se alguém comete um aborto, pede perdão mas diz que, se engravidar novamente, vai abortar, essa pessoa não pode receber o perdão.""
O progressista que sentencia uma pessoa com base em moral é um escroto. Só quem vive em uma cidade pequena sabe o quanto uma afirmação dessa "pesa" na vida de alguém até ao ser reconhecida por outros e sendo apontada como a mulher que "não presta." Isso pesa até na hora de procurar emprego, ser conhecida como "aquela que abortou, que assassinou uma criança. Poderia ela ser babá do filho de alguém? Trabalhar na mesma casa? Se procura emprego e você pode oferecer, negar o emprego é uma forma de você punir o que a justiça não puniu"
Quando vejo alguém escrever que Cristo era progressista, femininsta, NÃO ERA. Porque a base do cristianismo é que a vida NÃO É sua. Ela é de deus, e você não pode atentar, jamais, contra a vida de alguém ou até mesmo sua. Cristo é pró vida.
E nem comunista Cristo era, ele não saía por aí falando de mais valia. Os progressistas nem conhecem Marx, preferem lamber o cristianismo do que espalhar conceitos que seduziriam o povo mais que religião.
Continuação...
Quando vejo alguém escrever que Cristo era progressista, femininsta, NÃO ERA. Porque a base do cristianismo é que a vida NÃO É sua. Ela é de deus, e você não pode atentar, jamais, contra a vida de alguém ou até mesmo sua. Cristo é pró vida.
E nem comunista Cristo era, ele não saía por aí falando de mais valia. Os progressistas nem conhecem Marx, preferem lamber o cristianismo do que espalhar conceitos que seduziriam o povo mais que religião.
Recentemente houve um texto sobre religiosos progressistas e uma delas eu fui pesquisar e achei um trabalho extenso onde ela fez junto com outros "cristãos progressistas", lá eles chegam ao cúmulo de analisar cartas de mulheres que abortaram. E eles sempre deixam claro que abortar não é errado, mas você voltar a abortar sim. Mas por quê? Porque a vida não é sua, é de deus.
O cúmulo foi quando eles analisam a carta de uma mulher e, IMPORTANTE, chegam a falar que, pelas palavras dela, ela PROVAVELMENTE, é uma burguesa e teria condições de criar a criança. Logo, ela deveria se punida.
Ah, é, esqueci que o tal Padre Julio Lancellotti (que falou as palavras no início) condena suicidas. Só digo isso: um cara que CONDENA alguém que fez um ato de livre arbítrio (porque a vida é de deus, não dele) é um escroto. E a família do suicida ainda sofre com a pecha de ter um suicida na família, como se isso fosse um carma. Ele até fala que um padre se suicidou (o que gera uma pergunta interessante: se um padre se matou, então ele cometeu pecado tbm? É fraco? Atentou contra deus?), mas pra proteger o padre e o separar dos suicidas normais, ele diz que o padre só se matou porque alguém (a ditadura) fez ele se matar, logo, a culpa não é dele, é de outra pessoa. No fundo ele não se matou, foi assassinado. É diferente.
Cristãos não são feministas, pois são pró vida. Você não verá o cristão dizer que o aborto é decisão da mulher, eles querem é descriminalizar, mas não é a mesma coisa que liberar clínica de aborto. Aquela mulher americana que abortou várias vezes (e quantas não?), aqui no Brasil, seria mal vista ao invés de ser tratada apenas como alguém normal.
A esquerda quer vencer eleições? Investe em ecologia, emprego e tecnologia. Isso atrai jovens, e estes atraem pessoas. Religião só afasta jovens.
Fontes:
https://www.uol.com.br/universa/especiais/aborto-x-religiao/#ela-cre-em-deus-e-no-direito-ao-aborto
https://www.brasil247.com/brasil/o-desabafo-do-padre-julio-lancellotti
O problema do "pinto" é que vem acompanhado de um homem kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
Brunno, sejamos práticos, dá pra falar sobre geração de emprego e sustentabilidade nas universidades tranquilamente, mas nas periferias isso não é tão na prolixo; se tem emprego eles agradecem a quem arrumou o emprego, nem querem saber de Economia ou índices sociais, querem ter arroz e feijão na mesa e preços baixos. Tecnologia é coisa de Classe Média, veja como a Pandemia deixou tanta gente sem aulas, nas escolas públicas porque as particulares tinham no aulas online. As igrejas estão saindo de sua zona de conforto e indo fazer assistencialismo, visitas em presídios e hospitais, ajudando quem precisa etc. E é isso que ganha o amor dos pobres, esse é o jogo que a Direita está aprendendo e a esquerda ainda não entendeu.
Se acham que estou falando besteira, vejam a reportagem da BBC Brasil:
https://www.bbc.com/portuguese/brasil-50462031
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