sexta-feira, 19 de junho de 2020

"PRECISAMOS APRENDER A VIVER COM O VÍRUS"

 
Ontem fez três meses que eu não ponho o meu pé pra fora da casa. Mas continuo bem apavorada com a pandemia, e não planejo sair tão cedo. E vocês? 
Segundo a OMS, a América Latina ainda nem chegou ao pico da pandemia. E a gente já tá abrindo tudo por aqui. Será um horror. 
Não há qualquer sinal de que o pior já passou no Brasil (estamos falando da pandemia, não do pior governo da história). 
"Não observamos ainda em nenhum Estado uma queda sustentada desses números [de novos casos e mortes por dia]", diz Domingo Alves, professor da Faculdade de Medicina da USP em Ribeirão Preto. "Nessa toada, o pico só deve ocorrer entre o meio e o final de agosto".
Hoje já são 450 mil mortes por covid-19 no mundo. A taxa global de mortalidade dos casos confirmados é de 5,5%.
O Brasil possui 3% da população mundial e concentra 10% das mortes por covid-19. Já passamos dos 48 mil mortos e de mais de um milhão de casos confirmados. E esses números são se fingirmos que a pandemia não está completamente subnotificada. 
Esses dias vi uma entrevista excelente e muito elucidativa com Michael Osterholm, um epidemiologista americano que já foi consultor de governos republicanos e democratas (ou seja, ao contrário do pior presidente da história do Brasil, ele não politiza a doença), e um dos poucos a prever a pandemia. Não vou traduzir tudo, porque a entrevista é longa, só o que pareceu mais relevante pra mim. Mas quem entende inglês pode ler tudo aqui
Alguns dos melhores momentos da entrevista:
Três meses atrás, a covid-19 não estava sequer entre as 75 maiores causas de morte nos EUA. Em maio já era a causa número 1. Desde a gripe de 1918, nenhum vírus tem agido com esse impacto. 
Não há qualquer indicação científica que a covid desaparecerá sozinha. Não há nada na história que sugira que o vírus irá sumir de repente e acabar. 
Pra quem tem menos de 55 anos, obesidade é o fator de risco número 1 (não se sabia disso no início da pandemia).
Uma das melhores coisas que podemos fazer para nossos pais e parentes idosos é levá-los pra passear ao ar livre, mantendo o isolamento físico (Osterholm detesta o termo isolamento social: não devemos nos isolar socialmente, apenas fisicamente). Trancar as pessoas para protegê-las do vírus por 18 meses ou mais é um grande desafio. Minimizar o contato das pessoas mais velhas com grupos grandes certamente ajuda. Sabemos que podemos reduzir a transmissão desta maneira. 
Para pessoas mais velhas, é importante limitar o número de contatos fora de casa. Se elas saírem, devem usar máscara, mas essa é uma medida protetiva limitada. Deve-se evitar aglomerações. Não se pode gastar tempo demais próximo a alguém. Este não é um vírus que magicamente pula entre duas pessoas -- consiste de tempo e dosagem. Você não vai se contaminar se passar por alguém infectado no caminho. 
Por exemplo, se você está num carro com alguém infectado, você pode se contaminar apenas respirando o mesmo ar por 10 minutos. Se você usar uma máscara de pano, esse tempo pode ser prolongado para 20 minutos, mas não elimina a transmissão. (Isso é algo que só tem se falado recentemente: não é só a distância que é importante. O tempo de exposição também é! Este vídeo da BBC Brasil mostra como distância e tempo de exposição são fundamentais para o vírus). 
Podemos esperar que entre 60% a 70% dos americanos sejam contaminados com covid. Isso representa 200 milhões de americanos. Até agora, apenas 5% do mundo está infectado. Nunca tivemos uma pandemia de coronavírus como esta. Pode ter acontecido há alguns séculos, mas não acompanhamos. Teremos este vírus circulando entre a população por meses ou anos se não acharmos uma vacina. 
"Gostaria de lembrar as pessoas que
isso é só o começo"
Se for como a gripe, tivemos umas dez pandemias nos últimos 250 anos. E cada vez o vírus voltava para uma segunda onda. E quando isso acontecia, geralmente 3 a 4 meses depois do fim da fase inicial, voltava muito mais severo.
"O que posso dizer com certeza, o que chamo das leis da física do vírus, é que isso vai continuar se transmitindo até que grande parte da população esteja contaminada. Quando você pensa que só 5% dos EUA foi infectado até agora, e você compreende a dor, o sofrimento, as mortes, a disrupção da economia que aconteceu com só 5%, você pode imaginar como será chegar aos 60 ou 70%", diz Osterholm.
Podemos esperar que entre 800 mil e 1,6 milhão de americanos morram nos próximos 18 meses se não encontrarmos uma vacina que dê certo.
Não há garantia de que haverá uma vacina eficiente. Mesmo que encontremos uma, ela poderá somente nos dar proteção a curto prazo. A ideia de que teremos uma vacina disponível até o final do ano simplesmente não é realista. Mesmo quando tivermos uma vacina, não será de um dia para o outro que poderemos distribui-la. Há 8 bilhões de pessoas no mundo que querem esta vacina agora mesmo. Correr para encontrar uma vacina traz seus próprios riscos. (Aqui um ótimo vídeo de Atila Iamarino sobre as vacinas contra a covid).
Para Osterholm, "o pior cenário possível é que o vírus comece a desaparecer agora. Se acontecer, não será por causa do comportamento  humano. Isso me diria que o vírus está agindo como um vírus da gripe mesmo sendo um coronavírus. Se se parece com um vírus pandêmico da gripe, isso sugeriria que no fim do verão ou início do outono teríamos uma grande onda de atividade que sobrecarregaria a sociedade, tanto o sistema de saúde como todo o resto.
"O melhor cenário é que o vírus continue como está --- está conosco, mas não nos supera. Aprendemos a viver com o vírus, e somos capazes de suprimi-lo sem destruir a sociedade. E conseguimos uma vacina nos próximos 12 meses, e conseguimos que ela chegue até as pessoas e ela é eficiente, pelo menos a curto prazo. Estamos entre esses dois cenários."
Não é possível apenas realizar o lockdown. Se ficarmos em lockdown por 18 meses até termos uma vacina, com ninguém morrendo ou sendo infectado, destruiremos não só a economia, mas a sociedade como a conhecemos. Por outro lado, não podemos esquecer e ver o que acontece. Veremos sistemas de saúde literalmente implodirem. E não só para cuidados com covid-19, mas para ataques cardíacos, derrames, e todo tipo de causas de doenças nas nossas comunidades. Isso não é aceitável. Precisamos não apenas aprender a não morrer do vírus, mas também como viver com o vírus. 
"Os piores dias ainda estão por vir. Vamos precisar de uma liderança moral, uma liderança que não minimiza o que vem por aí mas permite que vejamos que seremos capazes de passar por isso". 

17 comentários:

  1. a) Lola o unico alivio que eu sinto e que eu não elegi este governo incompetente e irresponsável.

    b) Lola vc viu o filme 365 dias? Achei uma relação abusiva escreve um post sobre o assunto

    ResponderExcluir
  2. É terrivelmente apavorante mesmo, ainda mais que os empresários estão muito revoltados e desobedecendo as ordens do governo estadual para fechar o comércio! Aqui no RS o governo estadual decretou bandeira vermelha para a região da Serra e a da Campanha devido ao enorme aumento de casos e ao esgotamento de leitos de UTI nos hospitais, mas os prefeitos e empresários continuam com as lojas abertas e disseram que não irão fechá-las. O DEUS DINHEIRO é poderosíssimo mesmo!!! Ele pode tudo, eu disse TUDOOO!!!!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. O deus dinheiro não e nada perto do demônio fome.

      Excluir
    2. Perfeito, anon das 12:32! Quem fica falando " fica em casa", é pq está com a vida ganha. Quem precisa vender o almoço pra comer a janta, tem que correr atrás, desde cedo, matar 1 Leão por dia. Se ficar em casa, morre de fome junto com a família. É muita hipocrisia desses artistas, cantores e etc. O povão passa fome!

      Excluir
    3. Ora, que seu presidente mito pague o auxílio emergencial aos mais pobres, e que esse dinheiro chegue de fato a quem precisa e não desviado para testas de ferro, robôs e gente remediada que não necessita, só para dizer que não tem mais verba, para forçar o fim da quarentena em momento em que os casos e as mortes aumentam.

      Excluir
  3. Terrível, e o nazipalhaço junto com sua corja de palhacinhos adestrados piorando tudo. A única coisa que podemos fazer é evitar contato o máximo possível e boicotar todos os filhos de azeitona que abrirem e obrigarem os funcionários a se arriscar. O canalha do dono do Madero já está sentindo onde dói pra essa gente... no bolso...

    ResponderExcluir
  4. Lola, vi algumas pessoas falando que chamar Hélio Negão ou o Sérgio Camargo, da fundação Palmares, de capitão do mato é racista. Assim como também vi um cara chamando a Sara Winter de vagabunda e foi tachado de misógino. Misógino por xingar uma mulher machista? Por que xingar mulheres machistas, pretos racistas, gays homofóbicos, nordestinos bolsominions seria preconceito se são eles que validam o discurso preconceituoso?

    ResponderExcluir
  5. É, anon das 18:11, grande parte do movimento negro considera racista chamar negros de capitães do mato. E chamar qualquer mulher de vagabunda, vadia, piranha, galinha, cadela etc etc etc é machista. Quase todos os insultos a mulheres fazem alusão a sua sexualidade ou aparência. Com os homens não é assim. O maior insulto pra um homem é filho da p*ta, e aí a alusão é à mãe dele, não a ele. É possível xingar negros sem ser racista e mulheres sem ser misógino, e gays sem ser homofóbico. Não são apenas negros racistas ou mulheres machistas que validam o discurso preconceituoso. É a sociedade. São séculos de história. Só porque há negros racistas e mulheres machistas não quer dizer que devemos ser racistas ou machistas quando queremos xingá-los.

    ResponderExcluir
  6. Desculpa eu me intrometer nessa "conversa", mas se eu chamo uma Carla Zambelli da vida de puta ou vagabunda eu sou o machista???? Então a piranha descredibiliza toda a luta de mulheres por séculos e eu sou o machista por chamá-la de piranha? Então um negro como o Holiday descredibiliza toda a luta anti racismo e eu seria racista por chamá-lo de capitão do mato, que realmente existiram? Sinceramente, senhora Lola, eu não leio muito seu blog, e ler esse tipo de coisa, me faz considerar seriamente não voltar mais aqui. Com todo o respeito, mas vá a merda!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Aí, anônimo, que gracinha. Vc chignon a Lola, expressou a sua indignação com a opinião dela, e não foi machista, nem racista. O vai a merda é mt bom nesse sentido. Eu sei que nada substitui um bom vá tomar no cu, filho da puta ou puta que pariu no português aqui do Brasil. Mas piranha ou capitão do mato são ruins demais pra valer a pena. Da pra ser mais criativo.

      Em tempo, quando eu era pequena eu achava que o palavrão era pariu, e não puta. Eu não sabia o que nenhuma das duas palavras significavam, mas pariu parecia bem pior...

      Excluir
  7. 15:15 sabe os impostos que a gente paga sempre que compramos um mísero chaveirinho? É pra socorrer o povo em situações como essa pandemia que o dinheiro dos impostos deveriam servir. Não pra pagar auxílio-moradia desnecessário de morador do Vivendas da Barra Pesada, auxílio-paletó nem bordel de luxo com garrafa de cerveja a 30 goldenshowers. Mire seus canhões pro alvo certo, colega. O povão que passa fome tinha que estar em casa sim, sendo suprido pelo governo.

    ResponderExcluir
  8. Com licença, se tiver alguém do movimento negro por aqui, eu queria saber porque é racista chamar um negro racista de capitão-do-mato, já que os capitães-do-mato muitas vezes eram mesmo escravos negros que ajudavam a manter outros negros escravizados. Admito que pra mim faz sentido chamar gente como o Hélio ou o Camargo de capitão-do-mato, mas como eu sou branca, não posso dizer o que é racista ou não. Gostaria que alguém do movimento negro por favor me esclarecesse sobre isso.

    ResponderExcluir
  9. Sou negra, não faço parte de nenhum grupo militante e uso a expressão 'capitão do mato' para alguns negros como esse cara da Fundação Palmares e aquele Holiday, e como foi dito, a maioria que faz parte desses movimentos pode pensar que essa expressão deve ser 'proibida', mas não todos. E tinha capitães do mato que nem eram negros.

    ResponderExcluir
  10. Tem gente que não gosta dessa expressão vai tomar nu cu pq acha que pode ser homofóbica ou fazer alusão a estupros.

    ResponderExcluir
  11. Parece que o Weintraub realmente está nos EUA, e pelo jeito de maneira não muito... Legal.
    Mais um fugitivo do Brasil, já não bastava o Emerson na Espanha.

    ResponderExcluir
  12. Eu penso que devemos ter cuidado com esse tipo de previsão catrastófica. Nossa saúde mental já está completamente abalada, estamos esgotados mentalmente, com variações de humor, crises de pânico, etc. Tenho um vizinho profissional de saúde e tenho percebido várias pessoal batendo na casa dele desesperadas, com medo de ter desenvolvido doenças. Esse vírus é novo e a cada dia estão descobrindo coisas sobre ele, então não consigo entender como esse cidadão prevê o caos se sequer sabemos como será a dinâmica do vírus daqui pra frente, pois os próprios virologistas dizem que a tendência dos vírus é lutarem e diminuírem sua agressividade para continuar se propagando? Já está tenso demais, só o tempo para dizer...

    ResponderExcluir
  13. Tassia Xavier a previsão foi feita por virologistas, por gente que entende do assunto. E a situação no Brasil JÁ É catastrófica porque o povo não respeita a porra da quarentena. Os vírus diminuem a agressividade se isso for mais eficiente para eles, mas pro corona talvez não seja vantagem diminuir a agressividade. O vírus da AIDS está com a gente até hoje, é endêmico igual o corona vai ser, e a agressividade do HIV não mudou em NADA todos esses anos. Os tratamentos é que melhoraram, ou seja, nem todo vírus diminui a agressividade. E o Brasil verá uma catástrofe ainda maior do que já está porque o povo é besta e não respeita o caralho da quarentena, ninguém está sendo catastrófico não colega, é o brasileiro que está cavando a própria cova.

    ResponderExcluir