Fiquem com o ótimo texto de Patrícia Garcia, jornalista brasileira que vive em Montevidéu. Eu não sabia do caso da socialite responsável por espalhar a pandemia no Uruguai!
Nos últimos meses, o mundo tem adotado uma palavrinha que nos era muito distante e pouco familiar: pandemia. E, a não ser que você seja o Átila Iamarino (beijos, muso) ou algum outro especialista em infectologia, posso afirmar que você foi pego de surpresa por essa nova inclusão em seu vocabulário. O que talvez não seja surpreendente é que, como em qualquer outro momento de instabilidade, cada país desenvolva ou aplique seus próprios mecanismos para conter os danos causados por uma crise sanitária de proporções globais (salvo o Brasil, mas isso, como sabem, é outro tópico).
Obviamente, a aplicação de tais medidas, sejam elas governamentais ou de iniciativa social, está também diretamente associada à consciência de cada povo com relação a seu exclusivo papel no mundo e a construção de sua sociedade. Como pudemos observar vastamente desde o início dessa crise, países mais populosos pareceram levar mais tempo para tomar medidas de contenção. Talvez, a noção de que “há muitos de nós” leve ao descaso e ao egoísmo, a exemplo dos EUA e do Brasil que está, com toda razão, sendo crucificado aqui fora.
Uma das coisas que sempre ressaltei em meus textos, artigos e “fios” sobre o Uruguai é justamente essa construção social e solidária tão distinta, tão única e talhada através de muita luta, sofrimento e coragem. Uma sociedade que teve que amadurecer à força, que carrega em si uma certa melancolia de saber que o mundo não é um parque de diversões e que fez da resistência um modelo de vida, naturalmente, teria uma atitude diferenciada diante de uma crise. Especialmente se tratando de uma situação de caráter sanitário, em um país onde somos 3,5 milhões de habitantes, número praticamente imutável há mais de 30 anos.
Ressalto tudo isso de antemão pois é necessário este contexto para entender o que está sendo feito aqui com relação ao COVID-19. Com apenas 13 dias de posse, o novo governo, de espectro direitista formado por uma coalizão com distintas intensidades de conservadorismo, recebeu a notificação do primeiro caso do novo coronavirus em território uruguaio. Diferente da maioria dos governos de direita mundo afora, imediatamente o presidente Luis Lacalle Pou veio a público informar as medidas que seriam tomadas para a contenção da propagação do vírus.
Em momento algum tivemos qualquer pessoa do governo duvidando da seriedade da situação ou tentando amenizar a pandemia. Na realidade, já estávamos em Plano de Contingência desde o final de fevereiro, quando um barco chinês atracou no Porto de Montevidéu com um de seus tripulantes apresentando sintomas de contágio. Também, como alguns de vocês devem lembrar, recebemos em nossos celulares alguns exemplares do Plano de Contingência, na ocasião, para ficarmos informados sobre os cuidados que deveríamos ter e entendermos o que era o tal vírus.
O que ninguém contava antes do anúncio presidencial de 13 de março era com o “fator Carmela”. Caso não saibam, aqui não temos o famoso Paciente Zero. Temos sim a socialite Carmela Hontou, responsável por trazer o vírus para o Uruguai e contaminar, em um dia só, cerca de 80 pessoas. Em um exemplo baixíssimo de falta de consciência, esta senhora se viu obrigada a encerrar sua viagem a Milão porque a cidade, bem, entrou em lockdown. Tendo voltado um pouco mais cedo de seu “pulinho a Europa”, dona Carmela viu pessoas desmaiarem na rua, mas achou que seria uma excelente ideia descer no aeroporto de Montevidéu, pegar um micro-ônibus com amigos para ir a Salto e voltar dois dias depois para um casamento de 500 pessoas.
Desnecessário dizer que os dois focos iniciais de contágio aqui foram Salto e Montevidéu, e que todos haviam tido contato com a madame Hontou. Em uma cadência curiosa de eventos, uma boa parte dos moradores de Carrasco, bairro mais rico do país, se viu contagiada pelo vírus, inspirando a criação da expressão “pandemia de los chetos” (“pandemia dos riquinhos”, em tradução livre) e a áudios revoltadíssimos de todos os frequentadores do Country Club montevideano, pedindo a cabeça da outrora amiga da high society charrúa.
Diante desse cenário pouco usual, onde os dedos podem ser corretamente apontados em uma direção específica, muita gente se apressou a dizer que a rapidez do governo poderia ser devido ao fato de que o vírus se apresentou inicialmente na camada mais rica da sociedade. No entanto, tal afirmação seria injusta, pois a postura do governo não é, nem de longe, reflexo de seu direcionamento político, mas sim de uma sociedade que, antes de tudo, busca a todo custo preservar os poucos milhões de cidadãos que existem por aqui.
Seguir o planejamento de contenção elaborado e aplicado pela oposição, com base em estudos e projeções, não é um sinal de “fraqueza”, como povos menos maduros poderiam achar, mas apenas uma atitude de bom senso. Divergências de espectros políticos, sociais e econômicos sempre irão existir, mas o Uruguai continua dando exemplos surpreendentes de união social no momento em que isso faz uma grande diferença.
Apesar de erros e acertos, estamos conseguindo conter a pandemia com bastante esforço. Não sem mantermos o olho aberto para as atitudes da coalizão no meio disso. Com isolamento social (que aqui virou “quarentena voluntária”) ou não, a cobrança em cima dos governantes e a exigência da manutenção democrática do Estado de Direito continuam sendo pautas diárias. O uruguaio sabe que bom senso é diferente de “santidade imaculada”. Tanto é que, no primeiro mês de governo, já tivemos um panelaço contra a tal “quimera governista”.
Quanto a Carmela, ela foi encaminhada a fazer a quarentena em sua casa quando saiu do hospital, mas começou a receber visitas de amigos e fazer festas. Foi devidamente denunciada pelos vizinhos. Agora, a senhora socialite será processada pelo Estado e indiciada por colocar a vida de outras pessoas em risco. Por não respeitar as duas semanas confinada, possivelmente passará um ano em prisão regular ou domiciliar. Muito diferente do que acontece com um certo governante latino.
Bateu inveja, né Brasil?
Sim, Lola, bateu inveja!
ResponderExcluirOs EUA, Inglaterra, União Europeia, Japão e ... já disseram : Vou retirar minhas empresas da China.
ResponderExcluirA China por sua vez esta chamando esse movimento de "Efeito Rebote" do comunavirus.
A China depois de proibir dois jogos no país, censurou os jogos online, agora chineses só poderão jogar com chineses e ao que parece não é só para censurar os manifestantes pró democracia, mas também evitar que informações "técnicas" vazem.
ResponderExcluirMeu pai ouviu no rádio que querem fazer o auxílio emergencial ir até o final do ano. É verdade? Por que a esquerda não pára de só reagir ao Bolsonaro e passa a agir em favor dessa proposta? Chega de só reagir.
ResponderExcluir