Pedi pro meu querido Vinícius Simões (que escreve num site sobre cinema, o Cinematologia) traduzir este ótimo texto de Caitlin Johnstone sobre o tenebroso resultado das eleições no Reino Unido semana passada. A última vez que o Partido Trabalhista se saiu tão mal foi em 1935, pra vocês terem uma ideia.
Essas eleições mais uma vez provam que a direita descobriu uma fórmula para espalhar fake news e terror e convencer boa parte da população a votar no ódio. É perigoso. Aconteceu nos EUA em 2016, aconteceu com o Brexit, aconteceu aqui no Brasil ano passado e tem grandes chances de voltar a acontecer nas eleições municipais. Até porque nada é feito. Eleições são fraudadas e tudo bem, o TSE não liga.
Este texto ajuda traz uma perspectiva interessante sobre um bocado de coisas. Leiam, por favor!
Senhoras e senhores, tenho em minhas mãos uma prova incontestável de que uma grave fraude eleitoral ocorreu no Reino Unido nesta quinta (11/12).
Antes que todos vocês fiquem animados, não, não foram os russos. Não foram os chineses, os iranianos, o Comando Cobra ou a Legião do Mal. Não vou receber nenhum holerite à la Rachel Maddow por revelar isso a vocês, nem atrairei milhões de espectadores crédulos esperando com a respiração suspensa por uma revelação bombástica de uma conspiração internacional que invalidará os resultados de uma eleição.
Dificilmente alguém se importará porque essa interferência eleitoral aconteceu a céu aberto, e foi perfeitamente legal. E ninguém sofrerá consequência alguma por isso.
Ninguém sofrerá consequência alguma por interferir na eleição do Reino Unido porque os que realizaram a interferência eram extremamente poderosos, e é a eles que o sistema foi construído para servir.
Enquanto escrevo este texto, os resultados das urnas britânicas indicam uma vitória esmagadora dos Conservadores. Vários outros fatores levaram a esse resultado, incluindo principalmente um ambivalente Partido Trabalhista indeciso em uma irreconciliável divisão a respeito do Brexit, mas também é inegável que a eleição foi afetada por uma campanha de difamação política que foi inteiramente sem precedentes, em escala e em mordacidade, na história da democracia ocidental. Essa campanha de difamação foi conduzida por veículos de mídia controlados por bilionários, junto com agências militares e de inteligência, assim como mídias estatais como a BBC.
O líder trabalhista Jeremy Corbyn tem sido descrito como o político mais difamado da história, e essa é uma descrição justa. Recentemente o jornalista Matt Kennard compilou uma documentação com dezenas de incidentes em que ex e atuais porta-vozes e oficiais militares colaboraram com instituições midiáticas plutocráticas para retratar Corbyn como uma ameaça à segurança nacional. Nomes que advogam pela transparência jornalística, como Media Lens e Jonathan Cook, têm trabalhado há anos para compilar evidências das tentativas da mídia de massa para apresentar Corbyn como tudo, de simpatizante do terrorismo a comunista, a agente russo, a apoiador do IRA, a antissemita enrustido.
Outro dia mesmo, o Grayzone documentou como um dos cabeças da narrativa do establishment, Ben Nimmo, foi recrutado para unilateralmente atingir Corbyn com uma teoria da conspiração livre de fatos e no estilo Russiagate na reta final da eleição, uma psyop [termo militar que se refere a um tipo de operação que visa alterar as percepções e influenciar psicologicamente o inimigo] que circulou acriticamente tanto por veículos de direita, como o The Telegraph quanto por veículos supostamente “de esquerda”, como o The Guardian.
A defesa de Corbyn pela maioria em vez dos poucos da plutocracia o tornou alvo dos veículos de mídia bilionários, sua visão dos palestinos enquanto seres humanos o tornou alvo do lobby imperialista de Israel, como exposto no documentário da Al Jazeera The Lobby. Para uma montanha de links refutando o falacioso antissemitismo difamatório dirigido a Corbyn, um opositor de longa data do antissemitismo, confira a enxurrada de respostas a essa questão que eu publiquei no Twitter outro dia.
Essa interferência continuou até a véspera da eleição, com a editora política da BBC Laura Kuenssberg violando flagrantemente regras eleitorais ao noticiar que votos postais antecipados haviam sido ilegalmente levantados e os resultados “pareciam muito desagradáveis para o Partido Trabalhista”.
A campanha de difamação sem precedentes históricos que foi direcionada a Corbyn pela direita, pela extrema direita e pelo seu próprio partido teve efeito. É claro que teve. Se você disser isso nas redes sociais hoje você receberá toneladas de comentários dizendo que você está errado, dizendo que cada voto contra os trabalhistas foi exclusivamente devido ao povo britânico não querendo viver em uma distopia marxista, dizendo que foi exclusivamente por conta do Brexit, completamente negando qualquer possibilidade que anos de controle de uma narrativa desonesta da mídia de massa que esmagou a consciência britânica dia após dia até a eleição não teve absolutamente impacto algum em seus resultados.
Certo. Claro, pessoal. Campanhas persistentes para deliberadamente manipular a cabeça das pessoas usando mídia de massa não têm efeito nenhum nas decisões delas. Acho que é por isso que toda aquela coisa de “publicidade” nunca gerou dinheiro algum.
Não estou afirmando que os bilhões de dólares gastos em reportagens gratuitas de mídia de massa dedicadas a difamar Jeremy Corbyn e o Partido Trabalhista tiveram um efeito maior na eleição que o Brexit ou outros tropeços estratégicos do partido. Estou apenas dizendo que definitivamente teve um efeito muito maior que os poucos milhares de dólares que os russos gastaram em memes nas redes sociais nos EUA, algo pelo qual a classe média/ política americana vem fazendo escândalo nos últimos três anos. Negar que uma campanha midiática difamatória do tamanho e âmbito da dirigida a Corbyn foi efetiva é o mesmo que negar que a propaganda, uma indústria de um trilhão de dólares, é efetiva.
O que significa que plutocratas e agências governamentais indiscutivelmente interferiram na eleição britânica, numa extensão exponencialmente maior que qualquer coisa que os russos supostamente fizeram. No entanto, de acordo com a lei britânica isso foi perfeitamente legal, e de acordo com a sociedade britânica foi perfeitamente aceitável. É perfeitamente legal e aceitável poderosos indivíduos terem vastamente mais influência em uma eleição supostamente democrática do que qualquer um dos indivíduos comuns votando nela.
Uma sociedade livre e saudável não funcionaria desse jeito. Uma sociedade livre e democrática veria todas as formas de manipulação como um tabu e inaceitável. Uma sociedade livre e saudável não permitiria que a vontade de membros de uma pequena classe de elite pesaria mais que a vontade de qualquer outra pessoa. Uma sociedade livre e saudável daria a todos a mesma voz à mesa, e cuidaria das preocupações de todos. Certamente não toleraria que poucos indivíduos que já possuem demais abusassem de seu poder e riqueza para obter ainda mais.
Ate quando vao continuar mandando no nosso voto?
ResponderExcluirExcelente artigo e excelente traducao!
Lola... como diria Lunga de Bacurau "...a gente tá sendo atacado..." literalmente em escala macro...
ResponderExcluir"Comando Cobra" engraçado ele ter citado isso e não ter entendido, vou explicar o CC é uma unidade paramilitar, existem vários tipos mas só vou usar duas como exemplo.
ResponderExcluirUnidades Ghost: essas são extremamente desconhecidas pelo povo e pelas mídias, elas atuam da forma mais discreta possível, são considerados traidores das suas nações e terroristas, agem por debaixo do pano de forma muito sútil, tipo a borboleta que bate suas asas em um lado do mundo e causa um furacão destruidor em outro lugar.
Unidades Terroristas Abertas: essas são especialistas em ataque de falsa bandeira, financial grupos terroristas reais e muitas vezes lutam dentro de suas fileiras sem que o grupo terrorista saiba disso, seu principal objetivo é fazer que o exército de seus países fiquem nos países que o grupo terrorista está atuando, e não é para realmente combater o terrorismo mas sim influenciar o governo local e mundial.
Comando Cobra: se existisse seria uma mistura de todas as unidades paramilitares existentes, principalmente aquelas que influência a mídia de forma mais direta.
Agora que dei essa pequena explicação vou realmente chegar ao ponto chave, nessa última década vi muita coisa bizarra dentro da política mundial, ao ponto que chega a parecer que governos rivais tinham se juntado para se ajudarem mutualmente, exemplo: político X faz merda, mídia mundial inteira se foca nisso e vira as costas para as atrocidades do outro político.
Outro ponto interessante é a censura ao "ódio" nas redes sociais que estão sendo implantadas atualmente, ao mesmo tempo que a mídia jornalística é cada vez mais controlada por certos grupos influentes, sem falar da falta liberdade da sociedade e o seu novo grilhão o "gatilho", ao ponto que simples fotos de familia ou sorrisos podem ser censurados por causar "gatilhos" em poucas pessoas, e atualmente bater palmas também causa gatilho ao ponto que algumas faculdades inglesas proibiram as palmas. E onde eu quero chegar com isso, todo esse mimimi que vem crescendo cada vez mais como se um certo "CC" realmente existisse e influências se essa minoria contra uma maioria que não aguenta mais essa censura absurda, e votam contra os políticos que apóiam esses grupos minoritários.
O povo britânico já confirmou várias vezes que quer sair da UE, mas parece areia movediça, quanto mais se mexe mais afunda... Uma prova de que coisa boa não é.
ResponderExcluir"O povo britânico já confirmou várias vezes que quer sair da UE, mas parece areia movediça, quanto mais se mexe mais afunda"
ResponderExcluirÉ que o povo britânico quer a saída da UE, mas sem sofrer as consequências óbvias dessa saída.