segunda-feira, 25 de novembro de 2019

ATOR FAZ DISCURSO INCRÍVEL PEDINDO REGULAMENTAÇÃO DAS CORPORAÇÕES DA INTERNET

O ator e diretor Sacha Baron Cohen, mais conhecido como Borat, fez um discurso brilhante sobre as corporações da internet (Facebook, Twitter, YouTube, Instagram, Google etc) na ADL (Liga Anti-Difamação"), em Nova York.
É o que eu vivo dizendo: é preciso responsabilizar as empresas pelo discurso de ódio e fake news que elas divulgam em suas plataformas. Elas não vão se regulamentar sozinhas.
Cohen começa dizendo que muitas das piadas que faz nos seus filmes são vistas como propulsoras de estereótipos, mas que, desde criança, sempre se interessou em desconstruir preconceitos. Ele acha que seu humor, apesar de "juvenil", faz isso. 
Acontece que, hoje, as teorias da conspiração (antes renegadas a nichos), viraram mainstream (a antropóloga Adriana Dias, que estuda nazismo no Brasil há 18 anos, tem um exemplo formidável: o termo "racismo reverso", hoje parte do senso comum, foi uma invenção de um membro da Ku Klux Klan em 1974. É isso que essa gente faz: tenta tornar suas ideias absurdas aceitáveis). 
Além de citar Voltaire ("Aqueles que podem fazer você acreditar em absurdos podem fazer você cometer atrocidades"), Cohen explica que, quando ele interpretou Ali G. perguntando a um astronauta como era andar na superfície do Sol, a piada funcionava porque a maior parte do público sabia que isso não é possível. Porém, hoje, com terraplanistas e um monte de gente que crê que nunca pousamos na Lua, muitas pessoas não entenderão o chiste.
Dá pra ver o discurso inteiro, de quase 25 minutos, aqui (em inglês e sem legendas). Vale muito a pena! Aqui, os cinco minutos finais, com a tradução do GatoVirado.
Propaganda nazista 1930s
Se o Facebook tivesse existido nos anos 1930s, ele teria permitido que Hitler postasse anúncios de 30 segundos sobre a solução para o "problema judeu". Então aqui vai uma boa prática: Facebook, comece a checar os fatos (a veracidade) dos anúncios políticos antes de divulgá-los.
Hoje, ao redor do mundo, demagogos apelam para nossos piores instintos. Teorias da conspiração já refutadas estão viralizando. Crimes de ódio estão surgindo, assim como ataques assassinos à minorias étnicas e religiosas.
Todo esse ódio e violência estão sendo facilitados por várias companhias de internet que formam a maior máquina de propaganda na história. Eu acredito que é hora para um repensar fundamental das redes sociais e como elas espalham o ódio, conspirações, e mentiras.
Mês passado, entretanto, Mark Zuckerberg, do Facebook, fez um grande discurso que, não surpreendentemente, foi contra novas leis e regulamentações em companhias como as dele. Bem, alguns desses argumentos são simplesmente, perdoem meu francês, uma merda. Vamos ver quais são.
Primeiro, Zuckerberg tentou retratar todo esse problema como "escolhas acerca da liberdade de expressão". Isso é ridículo. Não se trata de limitar a liberdade de expressão de ninguém. Se trata de dar às pessoas, incluindo algumas das mais repreensíveis no mundo, a maior plataforma da história para alcançar um terço do planeta. Liberdade de expressão não é liberdade de alcance. Infelizmente, sempre haverá racistas, misóginos, antissemitas, e abusadores de crianças. Mas eu acredito que podemos concordar que não deveríamos estar dando a fanáticos e pedófilos uma plataforma gratuita para amplificar suas visões e mirar suas vítimas.
Segundo, Mark Zuckerberg afirmou que impor novos limites sobre o que é postado em redes sociais seria "impedir a liberdade de expressão". Isso não faz nenhum sentido. Nós não estamos pedindo que essas empresas determinem os limites da liberdade de expressão na sociedade. Nós apenas queremos que elas sejam responsáveis em suas plataformas.
Terceiro, Mark Zuckerberg pareceu igualar regulações em empresas como a dele com ações das "mais repressivas sociedades". Incrível. Isso de uma das seis pessoas que decidem quais informações grande parte do mundo vê.
Aqui vai uma ideia. Ao invés de deixar os "Seis do Silício" decidir o destino do mundo, deixe nossos representantes eleitos, votados pelo povo, de toda democracia no mundo, ter pelo menos algum parecer.
Quarto, Zuckerberg fala em dar as boas vindas à diversidade de ideias, e ano passado ele nos deu um exemplo. Ele disse que achou postagens negando o Holocausto "profundamente ofensivas", mas não achou que o Facebook deveria tirá-las do ar "porque eu penso que há coisas que pessoas diferentes entendem errado". Citando Edward R. Murrow, "não se pode aceitar que há, em toda história, dois lados iguais e lógicos para um argumento".
Nós temos, infelizmente, milhões de evidências do Holocausto. Isso é um fato histórico, e negá-lo não é apenas uma opinião aleatória. Aqueles que negam o Holocausto têm o objetivo de encorajar outro.
Quinto, quando falou sobre a dificuldade de remover conteúdo, Zuckerberg perguntou, "qual limite devemos estabelecer?" Sim, estabelecer limites pode ser difícil. Mas isso é o que realmente ele está dizendo: "remover mais das mentiras e conspirações é simplesmente muito caro".
A verdade é: essas empresas não irão mudar fundamentalmente porque todo o seu modelo de negócio depende da geração de mais engajamento, e nada gera mais engajamento do que mentiras, medo, e ultraje.
Finalmente, Zuckerberg disse que companhias de redes sociais deveriam "viver de acordo com suas responsabilidades", mas ele é totalmente omisso sobre o que deveria acontecer quando elas não fazem isso.
Até agora, está bem claro que não pode se esperar elas se autorregularem. Assim como na Revolução Industrial, é hora de regulamentação e legislação para frear a ganância desses barões ladrões da alta tecnologia.
Em seu discurso, Zuckerberg disse que um dos seus principais objetivos é "estabelecer a maior definição de liberdade de expressão possível". 
Parece bom. Mas nossas liberdades não são apenas um fim em si mesmas. Elas também são um meio de outro fim. Como vocês dizem nos EUA, o direito à vida, à liberdade, e à busca da felicidade. 
Mas hoje esses direitos estão ameaçados pelo ódio, por conspirações e por mentiras. O objetivo mais importante da sociedade deveria ser certificar-se de que pessoas não sejam alvo, não sejam assediadas ou assassinadas por serem quem são, por virem de onde vêm, por amarem quem amam, ou por orarem como oram. 
Se fizermos este nosso objetivo, se priorizarmos a verdade em vez das mentiras, a tolerância em vez do preconceito, a empatia em vez da indiferença, e especialistas em vez de ignorantes, talvez possamos parar a maior máquina de propaganda na história, possamos salvar a democracia, possamos ter lugar para liberdade de discurso e liberdade de expressão, e mais importante, minhas piadas ainda farão sentido. Muito obrigado.

5 comentários:

  1. Sem contar que eles sequer seguem suas próprias regras. No Facebook menores de 13 anos teoricamente não são permitidos que criem contas, mas basta mentir a idade, que qualquer criança consegue fazer sua inscrição na rede, e o fato de as fotos mostrarem que se trata de uma criança não faz que a conta seja bloqueada. A filha de meu primo que tem apenas 7 anos tem a sua conta no Face.

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  2. Um judeu criticando o monopólio da informação...Não deixa de ser irônico...

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  3. Lola, é errado se referenciar a mulher por aspectos sexuais e de seu corpo em tom de deboche pois é machismo, mas fazer piada de pinto pequeno e ejaculação precoce (condição natural e doença, problemas de hormônios) pode?
    https://twitter.com/lelispatricia/status/1185339984443854850

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  4. Será que na esquerda só tem cara pirocudo? Nenhum abaixo da média? Nenhum com disfunção hormonal? Nenhum com ejaculação precoce... Caso tenha (e é certeza que tem), será que estes acham legal e bacana suas condições sendo usadas de forma pejorativa para fazer chacota por parte dessas feministas? Peço que reflita, Lola.

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  5. Anônimo Anônimo disse...
    > Sem contar que eles sequer seguem suas próprias regras. No Facebook menores de 13 anos teoricamente não são permitidos que criem contas, ...

    Se não me engano a regra não é deles, mas do governo americano que impõe que contas de crianças devem seguir regras mais restritas quanto ao tratamento dos dados e envolve multas e outras sanções.
    Como não é uma criança americana acredito que não há problemas legais para o facebook nos EUA, mas também não sei se o ECA não possui algo parecido.

    Há também uma diferença entre a plataforma detectar proativamente uma conta que infringe as regras e como ela lida com uma denúncia, e aposto que se você denunciasse a conta da filha do seu primo era provavelmente seria banida.
    Fazer a detecção automática exige regras claras do tipo de conteúdo que deve ser monitorado, mas essa não é uma tarefa fácil e em vários casos é completamente impossível, e mesmo a verificação humana não faz um bom trabalho por causa do enorme volume de dados e o pouco tempo disponível para tomar uma decisão.
    Ao criar punições mais severas as plataformas vão acabar removendo muito mais conteúdo do que o previsto nas regras para evitar a chance de ter algum problema, afinal o custo de remover algo que é aceitável vai no máximo gerar uma reclamação do usuário mas nenhum custo financeiro direto, e isso pode acabar afetando muito mais as minorias que muitas vezes dependem do anonimato para professar um discurso contrário ao senso comum.

    Acho o discurso do Mark Zuckerberg extremamente tosco, mas a internet como existe hoje, com um acesso muito mais democrático do que as mídias anteriores, só é possível com a regra de não punir as plataformas pelo discurso dos usuários.
    Sem essa regra, a maioria dos sites fecharia ou removeria a opção de as pessoas comentarem, pois não seriam economicamente viável.
    Talvez as grandes plataformas como o facebook e o twitter sejam realmente um erro e deveriam ser fechadas através de regras mais duras, mas isso também iria significar que ficará mais difícil para todos se comunicarem com o outro na internet.

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