sexta-feira, 29 de novembro de 2019

TER OU NÃO TER UM KINDLE, EIS A QUESTÃO

Gente boa, neste vídeo que fiz hoje eu falo um pouco sobre se vale a pena ter Kindle, das minhas experiências com o produto, e se talvez vocês devessem aproveitar o Black Friday para comprar um 
Eu com meu Kindle. A capinha linda
foi minha aluna Lorena que fez e me deu
(os preços que vi rapidamente: o Novo Kindle, com iluminação embutida, custa R$ 270; o Paperwhite, que tem o dobro da memória e é à prova d'água, custa R$ 400). 
Não sei por que o vídeo saiu mais escuro que o anterior, por que o som tá ruim, e por que não consigo nem linkar pro começo do vídeo! Quero dizer, tá feio o negócio, mas não abandonem o canal, por favor.

quarta-feira, 27 de novembro de 2019

DÓLAR A CINCO REAIS É BOM, DIZ MINISTRO QUE VÊ CHILE COMO MODELO

Ontem o dólar bateu um novo recorde histórico aqui no Brasil, mas não tem problema!
Os dias em que a alta do dólar era motivo pra pedir impeachment da presidenta acabaram! Agora há vantagens e desvantagens, segundo Bolso, em o dólar estar nas alturas. Antes só havia desvantagens, lembram?
Paulo Guedes, o ministro mais poderoso e, por isso, perigoso deste desgoverno, já anunciou que o dólar pode chegar a 5 reais, e que isso é ma-ra-vi-lho-so pro país! 
Previsão de março deste ano
É aquele negócio, né? Se o PT quebrou o Brasil, como toda a direita alega, como que ele deixou 380 bilhões de dólares em reservas internacionais? Dinheiro que Guedes quer torrar?
Imagina quanta grana o sinistro deve estar ganhando como sinistro da Economia. Ele pode comprar dólar a um preço, dar uma declaração noutra hora, e lucrar os tubos. Ontem em Washington ele disse que, se houvesse manifestações, poderia haver restrições. "Não se assustem então se alguém pedir o AI-5". Isso causou a alta de ontem. 
Bolsonaro está apavorado que o Brasil repita os protestos do Chile, e por isso quer usar o projeto de lei que institui o excludente de ilicitude em operações para Garantia da Lei e da Ordem (GLO). Em outras palavras, o exército e a polícia seriam postos na rua para matar mesmo, sem que fossem punidos depois. 
Pelo jeito, não é apenas o modelo econômico que Guedes quer copiar do Chile. É também o modelo de repressão que assombrou o Chile durante tantos anos da ditadura sangrenta de Pinochet (que obviamente é idolatrado por Bolso). Guedes sabe bem que o modelo neoliberal imposto pelos Chicago Boys só podia ter sido implantado numa ditadura. Um país democrático costuma recusar modelos que beneficiam os ricos e só trazem desgraças para o povo (esta matéria de antes das eleições sobre Guedes mostra quem ele é). 
Por isso que a arte (acima) que o lindo Cris Vector divulgou ontem é tão oportuna, juntando o terrorismo econômico de Guedes ao terrorismo de Estado de Pinochet (e Piñera, e Bolso). Só pra lembrar que o Cris, além de ter feito a bela arte pro meu canal no YouTube, tem uma exposição permanente no espaço da Mídia Ninja

terça-feira, 26 de novembro de 2019

TEXTO MACHISTA QUE DEVERIA ENVERGONHAR A ESQUERDA

Hoje não tem post aqui no blog (sem tempo, irmã/o!), mas tem um vídeo no meu canal Fala Lola Fala que eu fiz sobre um texto machista chamado “Mulheres que envergonham as mulheres”, assinado por um editor especial da Carta Capital, Nirlando Beirão. 
Não encontrei o link pro texto. Talvez ele só tenha sido publicado na versão impressa da revista, na semana passada. Mas deixo aqui alguns prints pra quem quiser ler. A propósito, a revista, que é de esquerda, ainda não se desculpou pelo texto misógino. 
Por favor, façam tudo que tem que fazer com um canal no YouTube: divulguem, inscrevam-se, deem like, comentem. Só assim eu me motivo pra gravar mais vídeos. Obrigada!

segunda-feira, 25 de novembro de 2019

ATOR FAZ DISCURSO INCRÍVEL PEDINDO REGULAMENTAÇÃO DAS CORPORAÇÕES DA INTERNET

O ator e diretor Sacha Baron Cohen, mais conhecido como Borat, fez um discurso brilhante sobre as corporações da internet (Facebook, Twitter, YouTube, Instagram, Google etc) na ADL (Liga Anti-Difamação"), em Nova York.
É o que eu vivo dizendo: é preciso responsabilizar as empresas pelo discurso de ódio e fake news que elas divulgam em suas plataformas. Elas não vão se regulamentar sozinhas.
Cohen começa dizendo que muitas das piadas que faz nos seus filmes são vistas como propulsoras de estereótipos, mas que, desde criança, sempre se interessou em desconstruir preconceitos. Ele acha que seu humor, apesar de "juvenil", faz isso. 
Acontece que, hoje, as teorias da conspiração (antes renegadas a nichos), viraram mainstream (a antropóloga Adriana Dias, que estuda nazismo no Brasil há 18 anos, tem um exemplo formidável: o termo "racismo reverso", hoje parte do senso comum, foi uma invenção de um membro da Ku Klux Klan em 1974. É isso que essa gente faz: tenta tornar suas ideias absurdas aceitáveis). 
Além de citar Voltaire ("Aqueles que podem fazer você acreditar em absurdos podem fazer você cometer atrocidades"), Cohen explica que, quando ele interpretou Ali G. perguntando a um astronauta como era andar na superfície do Sol, a piada funcionava porque a maior parte do público sabia que isso não é possível. Porém, hoje, com terraplanistas e um monte de gente que crê que nunca pousamos na Lua, muitas pessoas não entenderão o chiste.
Dá pra ver o discurso inteiro, de quase 25 minutos, aqui (em inglês e sem legendas). Vale muito a pena! Aqui, os cinco minutos finais, com a tradução do GatoVirado.
Propaganda nazista 1930s
Se o Facebook tivesse existido nos anos 1930s, ele teria permitido que Hitler postasse anúncios de 30 segundos sobre a solução para o "problema judeu". Então aqui vai uma boa prática: Facebook, comece a checar os fatos (a veracidade) dos anúncios políticos antes de divulgá-los.
Hoje, ao redor do mundo, demagogos apelam para nossos piores instintos. Teorias da conspiração já refutadas estão viralizando. Crimes de ódio estão surgindo, assim como ataques assassinos à minorias étnicas e religiosas.
Todo esse ódio e violência estão sendo facilitados por várias companhias de internet que formam a maior máquina de propaganda na história. Eu acredito que é hora para um repensar fundamental das redes sociais e como elas espalham o ódio, conspirações, e mentiras.
Mês passado, entretanto, Mark Zuckerberg, do Facebook, fez um grande discurso que, não surpreendentemente, foi contra novas leis e regulamentações em companhias como as dele. Bem, alguns desses argumentos são simplesmente, perdoem meu francês, uma merda. Vamos ver quais são.
Primeiro, Zuckerberg tentou retratar todo esse problema como "escolhas acerca da liberdade de expressão". Isso é ridículo. Não se trata de limitar a liberdade de expressão de ninguém. Se trata de dar às pessoas, incluindo algumas das mais repreensíveis no mundo, a maior plataforma da história para alcançar um terço do planeta. Liberdade de expressão não é liberdade de alcance. Infelizmente, sempre haverá racistas, misóginos, antissemitas, e abusadores de crianças. Mas eu acredito que podemos concordar que não deveríamos estar dando a fanáticos e pedófilos uma plataforma gratuita para amplificar suas visões e mirar suas vítimas.
Segundo, Mark Zuckerberg afirmou que impor novos limites sobre o que é postado em redes sociais seria "impedir a liberdade de expressão". Isso não faz nenhum sentido. Nós não estamos pedindo que essas empresas determinem os limites da liberdade de expressão na sociedade. Nós apenas queremos que elas sejam responsáveis em suas plataformas.
Terceiro, Mark Zuckerberg pareceu igualar regulações em empresas como a dele com ações das "mais repressivas sociedades". Incrível. Isso de uma das seis pessoas que decidem quais informações grande parte do mundo vê.
Aqui vai uma ideia. Ao invés de deixar os "Seis do Silício" decidir o destino do mundo, deixe nossos representantes eleitos, votados pelo povo, de toda democracia no mundo, ter pelo menos algum parecer.
Quarto, Zuckerberg fala em dar as boas vindas à diversidade de ideias, e ano passado ele nos deu um exemplo. Ele disse que achou postagens negando o Holocausto "profundamente ofensivas", mas não achou que o Facebook deveria tirá-las do ar "porque eu penso que há coisas que pessoas diferentes entendem errado". Citando Edward R. Murrow, "não se pode aceitar que há, em toda história, dois lados iguais e lógicos para um argumento".
Nós temos, infelizmente, milhões de evidências do Holocausto. Isso é um fato histórico, e negá-lo não é apenas uma opinião aleatória. Aqueles que negam o Holocausto têm o objetivo de encorajar outro.
Quinto, quando falou sobre a dificuldade de remover conteúdo, Zuckerberg perguntou, "qual limite devemos estabelecer?" Sim, estabelecer limites pode ser difícil. Mas isso é o que realmente ele está dizendo: "remover mais das mentiras e conspirações é simplesmente muito caro".
A verdade é: essas empresas não irão mudar fundamentalmente porque todo o seu modelo de negócio depende da geração de mais engajamento, e nada gera mais engajamento do que mentiras, medo, e ultraje.
Finalmente, Zuckerberg disse que companhias de redes sociais deveriam "viver de acordo com suas responsabilidades", mas ele é totalmente omisso sobre o que deveria acontecer quando elas não fazem isso.
Até agora, está bem claro que não pode se esperar elas se autorregularem. Assim como na Revolução Industrial, é hora de regulamentação e legislação para frear a ganância desses barões ladrões da alta tecnologia.
Em seu discurso, Zuckerberg disse que um dos seus principais objetivos é "estabelecer a maior definição de liberdade de expressão possível". 
Parece bom. Mas nossas liberdades não são apenas um fim em si mesmas. Elas também são um meio de outro fim. Como vocês dizem nos EUA, o direito à vida, à liberdade, e à busca da felicidade. 
Mas hoje esses direitos estão ameaçados pelo ódio, por conspirações e por mentiras. O objetivo mais importante da sociedade deveria ser certificar-se de que pessoas não sejam alvo, não sejam assediadas ou assassinadas por serem quem são, por virem de onde vêm, por amarem quem amam, ou por orarem como oram. 
Se fizermos este nosso objetivo, se priorizarmos a verdade em vez das mentiras, a tolerância em vez do preconceito, a empatia em vez da indiferença, e especialistas em vez de ignorantes, talvez possamos parar a maior máquina de propaganda na história, possamos salvar a democracia, possamos ter lugar para liberdade de discurso e liberdade de expressão, e mais importante, minhas piadas ainda farão sentido. Muito obrigado.

domingo, 24 de novembro de 2019

URUGUAI: EM DIREÇÃO A LUGAR NENHUM

Hoje é um dia emocionante pra América Latina: 
Patricia ontem em Montevidéu
o segundo turno das eleições presidenciais! A esquerda está no poder há 15 anos e vem fazendo um excelente trabalho, mas a direita é favorita.
A jornalista e tradutora Patrícia García mora no Uruguai e conta tudo pra gente (aqui o que ela escreveu após o primeiro turno). Leia para entender o que está em jogo.

Existe uma brincadeira agridoce na nossa região que diz que se você não viveu um golpe na América Latina, você está experienciando errado nosso cantinho no mundo. A “piada” é uma lembrança constante de como os ventos do norte movem nossos moinhos e insuflam nosso povo contra si mesmo. Neste nosso rincón abandonado à própria sorte, lutamos para sair de ditaduras, criamos grupos de resistência e conquistamos, com muito suor, nosso estado democrático de direito. 
Nossa democracia latina, nova, frágil, tantas vezes abusada ao longo de décadas, encontrou na voz do povo e no levante da esquerda um escudo protetor contra os desmandos nortistas e contra a disputa mundial pelos nossos recursos naturais. Ao longo das duas primeiras décadas deste século, a América Latina se viu florescer em aspectos diversos. De repente, não éramos mais “terceiro mundo” mas sim países conscientes de sua soberania e que, outrora relegados a quintal estrangeiro, descobriram seu papel protagonista em um jogo internacional fluído e mutante. 
Claro que um estado forte dificulta muito a influência e a exploração estrangeiras. Como consequência de tal força, somos vítimas de pequenas e grandes sabotagens que exemplificam as aplicações do modus operandi de desestabilização regional que alguns países têm adotado ao longo das décadas visando o controle de uma zona. Quem se lembra das aulas de História está familiarizado com o famoso Plano Condor, executado com a ajuda de latinos que em seus momentos de mais baixo caráter venderam seu próprio país em troca de um agrado pessoal vindos dos nortistas. 
Se em outros momentos veríamos essas traições como contos longínquos em páginas de materiais didáticos enquanto esperávamos o recreio, às portas da segunda década do milênio observamos a mesma história tecendo-se a nossa frente e se repetindo como farsa. Em uma escala de matizes golpistas, que vão de Añez e Guaidó, governantes autoproclamados, a Temer, e sua presidência advinda de um golpe aliado ao judiciário, os métodos de dominação e traição tem se diversificado e refinado, porém não perderam sua essência.
E é exatamente essa essência, a da desestabilização, que acompanhamos hoje mais forte do que nunca na América Latina. Além dos golpes já mencionados e das rebeliões em Chile, Bolívia e Colômbia, que por si só já seriam preocupantes, vemos a onda do discurso do medo se espalhar como pólvora, através de canais midiáticos e digitais que ganham cada vez mais espaço na política. 
Como já havia mencionado anteriormente, a tal “Reforma do medo” foi o grande foco das discussões no primeiro turno. Passado o plebiscito e a primeira roda de votação, enfim teríamos a oportunidade de discutir propostas e os modelos de país que nos eram oferecidos. No entanto, em uma jogada estratégica, os partidos de espectros direitistas uniram-se contra a coligação do Frente Amplio, visando arrastar o máximo de votantes para o caminho à direita. 
A “coalizão”, como preferem chamá-la, é uma quimera desesperada de partidos e propostas muito distintas, mesmo dentro das próprias ideologias partidárias. Nacional e Colorado, historicamente rivais, uniram-se para este segundo turno ao redor da figura do candidato nacionalista Lacalle Pou, embora o apoio a ele não seja unanimidade dentro do PC. No entanto, o neoliberal que nunca trabalhou na vida e o Chicago boy derrotado, Ernesto Talvi, eram apenas duas faces da mesma moeda que poderiam se atrair a qualquer momento. 
O que realmente chamou a atenção não foi o “abraço” entre rivais, mas uma outra aproximação a um novato que, em seu primeiro pleito, conseguiu arrastar 11% dos eleitores consigo. Além de conseguir seus votos utilizando um discurso de ódio e divisão, com ameaças e agressividade, Manini Ríos e seu partido (Cabildo Abierto, autodenominado ultradireitista) também conquistaram três vagas no senado. Poderia ser algo um pouco exótico, militares senadores em um país tão progressista, mas o que salta aos olhos é que dois deles são torturadores anistiados. No dia seguinte ao primeiro turno, numa nota de rodapé, o protofascismo platense mostrava sua primeira vítima: um preso da ditadura que, ao saber que seu torturador agora era seu senador, se matou em sua casa.
Se o fato passou em branco para uma grande parte das pessoas, o espaço tomado por Manini dentro da coalizão tornou-se perturbador até mesmo para os participantes. Ciente da união e fidelidade de seus eleitores e aproveitando-se de um programa de governo fraco e desorganizado como um quebra-cabeça sem sentido, Manini exigiu de Lacalle Pou uma participação mais ativa dentro do governo. 
Em busca da vitória, Lacalle aproximou-se mais de Manini que de Talvi, dando-lhe o espaço necessário para influenciar promessas e decisões dentro do programa de governo. Lacalle, talvez por emular seu colega militar ou por ser orientado assim, passou também a tomar posturas mais agressivas e abusar de fake news em uma avalanche que impede o cidadão comum de fazer uma verificação em tempo suficiente antes que a mensagem se espalhe. 
No único debate deste segundo turno, o candidato da direita dedicou-se apenas a repetir informações falsas e a cobrar os erros da Frente Ampla ao longo de seus 15 anos de governo. Nas duas horas e meia, pouco se falou de propostas e o foco foi um jogo constrangedor de ataques e defesas, que pouco satisfez o uruguaio indeciso. Além disso, soterrado por uma avalanche de propaganda política maquiada de notícias, o povo consciente e crítico que em outras eleições não aceitaria discursos vazios de seu candidato, agora aceitava apenas os gritos de mudanças, sem nem saber para onde iriam. Creio que isso lhes parece familiar.
Entre fake news, declarações polêmicas, distribuição de folhas de votação falsas e tsunamis de desinformação, a campanha, que já se apresentava atípica, viveu alguns momentos preocupantes: o ataque a um dos comitês da Frente Ampla, onde todo o material de campanha e as folhas de votação foram destruídas, e o comunicado de Manini Ríos aos participantes do Círculo Militar, em que ele ameaça claramente os companheiros militares para que votem a Lacalle. 
Se estes atos em outros momentos gerariam posicionamentos acalorados e repúdio, o silêncio da coalizão sobre o que aconteceu fala mais do que qualquer comunicado. É um aval, uma cumplicidade. É um candidato dizendo ao país que está tudo bem usar de intimidação para se atingir o que se quer, afinal, “os fins justificam os meios” e é preciso “mudar”. No entanto, como vimos no Brasil, nesta onda coordenada de ataques à democracia latina, o ódio, a divisão e as “mudanças” atraem o povo, que está tão anestesiado por tudo aquilo que querem fazê-lo acreditar que, talvez por cansaço, se veja simplesmente absorvendo esse discurso. 
Seja qual for o resultado do segundo turno deste domingo, uma coisa é certa: todos nós perdemos algo com este pleito. Manini, ao contrário do que muitos possam acreditar, não é a causa. Ele é um vetor. Estamos, pela primeira vez desde aquele fatídico junho de 1973, nos vendo diante de dois modelos de país que oferecem direções diametralmente opostas.  
Um dia chave para defender a
democracia no Uruguai e nas Américas
Há alguma coisa acontecendo, algo se movimentando. Um caminhar gélido e rastejante que prenuncia o último grito desesperado da ultradireita e do conservadorismo em se manterem como ideologias dominantes. O fascismo está inegavelmente sendo alimentado em nosso continente. E esse monstro não vai parar enquanto não tentar devorar a todos nós. 

quinta-feira, 21 de novembro de 2019

SEM MAIS POR HOJE

Não, vou tentar gravar um vídeo, que faz tempo que não gravo. E tenho um livro pra escrever!
Mas deixo como peça irrefutável de humor o tuíte da jornalista Rita Lisauskas, que juntou uma das inúmeras declarações homofóbicas de Bolso (esta dada para uma entrevista na Playboy de 2011) com a foto do dia -- o campeão de ginástica olímpica Diego Hypólito, que é gay, posou com seu Jair e Micheque (e também com Moro). Diego disse que sabia que seria execrado pelo encontro e emendou que não é de esquerda nem de direita, é de Deus. No que a Carol perguntou:

quarta-feira, 20 de novembro de 2019

QUANDO A SÍNDROME DO IMPOSTOR TEM GÊNERO E COR

Hoje é Dia da Consciência Negra, uma data fundamental para ser lembrada neste país racista. Infelizmente, para os racistas este é o dia de espalhar memes do Morgan Freeman dizendo que não se deve comemorar um dia específico para a história negra.
Vermes racistas concorrendo pelo
troféu de maior racista
Vemos que o Brasil está cada vez mais racista (um presidente abertamente racista foi eleito) quando, na véspera do Dia da Consciência Negra, dois deputados fascistas do mesmo partido do miliciano competem para ver quem é mais racista. Como racismo é crime, e como esses crimes foram cometidos na Câmara dos Deputados, diante das câmeras, vamos ver o que é feito a respeito. 
Mas vamos falar de coisas boas, dar atenção a quem merece.
Publico aqui um lindo texto de Henrique Marques Samyn, professor da UERJ, coordenador do projeto de extensão LetrasPretas, voltado ao estudo e divulgação da produção literária, cultural e intelectual de autoria negra e feminina, desenvolvido com estudantes negras da UERJ. Ano passado este conceituado professor negro (é bom frisar, porque quantos professores negros você já teve?) publicou uma antologia de textos dos Panteras Negras, e tem dado palestras sobre o assunto por todo o Brasil.

“Achei que não fosse dar conta”, ela me disse, a fim de justificar sua desistência. Ela não foi a primeira a me dizer isso. No ano passado, diante do mesmo desafio -– o concurso para a pós-graduação -–, uma outra aluna me disse a mesma coisa; e eu já ouvira isso de uma terceira aluna, no ano anterior, que também me comunicava a descrença em sua capacidade de enfrentar o processo seletivo e, posteriormente, o curso de pós-graduação. 
Ouvi variações dessa fala em inúmeras outras circunstâncias. “Eu não vou conseguir”; “Eu não sei fazer isso bem”; “É difícil demais para mim”. Todas as pessoas que me diziam essas palavras compartilhavam algumas coisas. Primeiro: todas eram mulheres negras. Segundo: todas eram alunas da Uerj, universidade na qual leciono, que eu conhecia razoavelmente bem -– ao menos, o suficiente para saber o quanto eram inteligentes e competentes. 
A Síndrome do Impostor atinge mais
as mulheres, e as negras mais que as
brancas
Assim como essas alunas tinham a certeza de que não seriam bem-sucedidas diante dos diversos obstáculos com os quais se deparavam -– concursos, processos seletivos, falas em público, participações em eventos -–, eu estava certo de que elas tinham a capacidade necessária para dar conta do que lhes fosse exigido. Isso, evidentemente, não era uma garantia de sucesso: sabemos que, quando a raça entra em questão, adversidades surgem de todos os lugares possíveis. É um fato que, na sociedade racista brasileira, pessoas negras nunca são avaliadas pelos mesmos critérios que as pessoas não-negras; e é um fato que essas mulheres sabiam o quanto isso pesaria na análise de seu desempenho. Contudo, neste texto, quero me concentrar em algo anterior a isso: na antecipação do fracasso, naquilo que fez com que essas mulheres desistissem antes mesmo de tentar.
O que impedia essas mulheres negras de avaliar objetivamente seus talentos e suas competências? O que fazia com que subestimassem a si mesmas, considerando-se inferiores e despreparadas? Não é difícil encontrar a raiz desse problema na intersecção entre racismo e sexismo: no fato de que mulheres negras são sistematicamente invisibilizadas, menosprezadas e inferiorizadas nos meios acadêmicos.
Obviamente, tudo isso é o resultado de um longo processo, que começa muito antes da academia -– quando meninas e adolescentes negras têm sua autoestima prejudicada de inúmeras formas, tanto no que tange à aparência quanto no que diz respeito à inteligência. Por força do machismo, quando nossa sociedade elogia qualquer menina ou adolescente, apela recorrentemente a adjetivos associados à beleza; por força do racismo, meninas e adolescentes negras não são “elogiadas” dessa forma -– ou aprendem a reagir com desconfiança a esses adjetivos. 
E o que acontece quando essa adolescente se torna uma mulher -– mais especificamente, uma estudante universitária? Ainda que ela disponha de modelos de intelectuais negras, que hoje em dia têm alcançado algum reconhecimento (embora ainda estejamos muito longe do ideal), quão próximos esses modelos estão de suas experiências concretas? Em que medida Angela Davis, Sueli Carneiro e Chimamanda Ngozi Adichie, para citar intelectuais negras vivas e conhecidas, não são vistas pelas próprias estudantes negras como figuras distantes e inacessíveis?
Tudo isso piora quando consideramos que, nas universidades, pouco (se algum) espaço é conferido ao estudo acerca dessas intelectuais negras. Eu, professor de Literatura em uma universidade pública, sei de vários casos em que uma autora como Conceição Evaristo foi menosprezada por professoras (brancas) em plena sala de aula. Se mesmo uma escritora internacionalmente renomada e premiada tem questionado o valor de sua produção literária, como uma “mera” estudante negra pode esperar algum reconhecimento?
Felizmente, aquelas estudantes negras que me disseram as frases com as quais iniciei este texto não desistiram de seus projetos acadêmicos; elas os postergaram, mas encontraram o apoio necessário para persistir na construção de suas carreiras -– mesmo que não tenham deixado de se sentirem “impostoras”, numa sociedade que ainda encara como demasiadamente afrontosa a ideia de que mulheres negras possam ser intelectuais. 
É preciso, no entanto, pensar em quantas outras não ficaram pelo caminho; e reconhecer que, no ambiente universitário, o racismo e o sexismo permanecem fortes o suficiente para destruir talentos e arruinar carreiras promissoras.