O aguardado filme Coringa estreou ontem no Brasil, e eu planejo vê-lo semana que vem (agora estou viajando) e escrever sobre ele.
Ainda que eu esteja cansada de filmes de super-heróis, o trailer pareceu excelente (assim como o da sua ex, Arlequina, maravilhosamente interpretada por Margot Robbie em Aves de Rapina).
Vi este este interessante artigo de Courtney Thompson para a Whimn e pedi pro querido Vinícius Simões traduzi-lo.
O Coringa foi interpretado várias vezes em mais de cinquenta anos. Primeiro com a caracterização brincalhona de Cesar Romero no primeiro Batman e Robin, depois o toque mais encantadoramente espirituoso de Jack Nicholson no filme de Tim Burton de 1989 e, é claro, a representação infame e maníaca, cortesia do falecido Heath Ledger em O Cavaleiro das Trevas.
Todd Phillips é o primeiro diretor a pegar o personagem e dedicar um filme inteiro à sua história de origem em Coringa e, se acreditarmos nas primeiras críticas, os filmes de quadrinhos “nunca mais serão os mesmos”.
O filme, que estreou no Festival Internacional de Cinema de Veneza, já inspirou milhões (provavelmente bilhões) de palavras a serem escritas sobre ele. Estrelado por Joaquin Phoenix no papel principal, o longa conta a história de Arthur Fleck, um palhaço em busca de trabalho e aspirante a comediante de stand-up que ainda mora com sua mãe doente e se ressente do fato de que o mundo não lhe dá tanta atenção quanto ele acredita que merece. Soa familiar?
Os críticos estão divididos em relação à performance de Phoenix, com alguns elogiando-o como o 'melhor da carreira' e outros alegando que na verdade ele atua demais para poder levar o filme tão a sério quanto ele quer ser levado.
Mas enquanto eles discordam sobre a qualidade de sua performance, são quase unânimes em afirmar que o filme não se define se é uma sátira ou propaganda de homens brancos que, sentindo-se rejeitados pelo mundo, se voltam à violência e ao ódio como resposta para esses problemas. De acordo com as primeiras críticas, o filme segue uma linha tênue que poderia ser potencialmente perigosa se recebida do modo errado. Parece que não lida com certos temas com a cautela necessária para evitar glorificar incels (celibatários involuntários, os chamados "virjões") e seu comportamento às vezes violento.
David Ehrlich, do IndieWire, chamou o filme de “um grito de guerra tóxico para os incels que sentem pena de si mesmo” e acredita que “não tem disciplina nem nuances para lidar com material tão perigoso” em um mundo de trolls do Reddit e fãs maníacos da Marvel.
Igualmente, Jessica Kiang, da Playlist, escreveu que é “um filme tão perturbador que parece quase perigoso: independentemente de quão restritiva seja a classificação indicativa, talvez eles devam pensar em verificações de antecedentes e em um período de espera obrigatório de três dias nos cinemas”.
Continuando, ela escreve: “Coringa, baseado em um IP reconhecível, e agora com o selo da aprovação crítica e também com possíveis indicações a prêmios, é tão esteticamente impressionante, eficaz e persuasivo de sua própria realidade, que você claramente vê como pode facilmente ser (mal) interpretado e cooptado pelos mesmos elementos do tipo ‘perturbado mental e solitário’/ 4Chan/ Incel que ele pretende sinistramente satirizar”.
Richard Lawson, da Vanity Fair, inciou sua crítica observando a atual obsessão da sociedade em dissecar e encontrar uma causa para as motivações de “homens brancos insatisfeitos que se tornam violentos”.
“Se essa violência nasce de doenças mentais, isolamento, raiva culminada da identidade masculina ou tudo isso junto em um nó hediondo, parecemos certos de que há alguma causa possível de ser salva”, escreve, explicando que ele mesmo não conseguia parar de pensar nessa obsessão enquanto assistia Coringa, por conta dos paralelos entre aqueles “homens brancos insatisfeitos” e Arthur.
Da mesma forma, em uma crítica negativa para a Time, Stephanie Zacharek escreve que o filme é um “exemplo primordial” do “vazio da nossa cultura”. “Nos Estados Unidos, há um tiroteio em massa ou tentativa de ato de violência por um cara como Arthur praticamente semana sim, semana não. E, no entanto, devemos sentir algum tipo de simpatia por Arthur, o cordeiro perturbado; ele apenas não teve amor suficiente”, diz. “Ele poderia facilmente ser adotado como o santo padroeiro dos incels”.
Não vi o filme, então não sei exatamente o quão pró ou contra ele é em relação aos incels.
ResponderExcluir>... o filme não se define se é uma sátira ou propaganda de homens brancos...
Isso é realmente necessário?
Qualquer posição que fosse tomada simplesmente alienaria o outro lado, e impossibilitaria qualquer tentativa de conscientizar os incels.
Os discursos de que o filme não deveria ter sido feito por não ser possível lidar com o tema de maneira satisfatória me parece um tiro no pé, só um lado vai parar pra pensar e o outro vai continuar com o mesmo discurso e com mais ferramentas pra propagar suas mensagens.
A ideia de restringir o filme me parece extremamente míope, ignorando que questões como raça e gênero seriam as mais afetadas por essas restrições.
Vi e achei um filmão, mas, de fato, pode ser mais uma faísca nos tempos malucos que vivemos.
ResponderExcluirÉ um excelente filme.
ResponderExcluirFeminismo e lutar por direitos q por anos foram negados. Estudar, ler, escrever, votar, trabalhar fora de casa, viajar, nao ter filhos, se separar... ir e vir, participar da vida politica, economica. Nao e sobre "qual tipo de homem". Tem muitas mulhereres felizes casadas, solteiras, com filhoes e sem filhos. A vida nao e sobre homens mas em poder ser livre para escolher.
ResponderExcluirAchei o filme muito bom, se for procurar coisas como essa não vai poder assistir quase nada, tem quem diga que Game of Thrones é racista, que Big Bang Theory é machista, etc.
ResponderExcluirNão gosto da ideia de que a arte tenha que se submeter à vontade de alguns, mesmo que bem intencionados. É perigoso dizer que um filme não deveria ter sido feito por tocar em temas delicados.
ResponderExcluirParece que os únicos que têm o "direito" de se revoltar contra a sociedade, apelando para a violência é aquele pessoal que enfia uma arma na sua cara para roubar o celular, alegando "falta de oportunidade na vida"...A esses, toda nossa compreensão e carinho...Que se sintam abraçados!
ResponderExcluirVocê também tem esse direito e o exerce bastante. Quase todo post da Lola você aparece nos comentários chorando. E taí mais um que não foge à regra.
ExcluirDepois as minorias é que são "mimizentas"...
Não é excessivamente freudiano atribuir à frustração sexual a culpa por tudo?
ResponderExcluirNão vi o filme ainda, mas o Coringa dos quadrinhos, ao menos em algumas versões, se revolta por conta do desemprego e por não poder sustentar a família, além da frustração profissional e vocacional como humorista.
O que o incel teria a ver com isso? O Coringa do Phoenix é retratado como incel? O filme é sobre sexo?
Eu assisti o filme, é sobre luta de classes e inclusive as primeiras mortes do Coringa é pra matar escrotos que assediam uma mulher no metrô na frente dele, e o espacam porque ele fica nervoso e começa rir e ela aproveita pra fugir dos assediadores.
ExcluirPô, não precisava dar spoiler...🙁
ExcluirNão vi essa divisão sobre a atuação de Phoenix. Todas críticas são loas à atuação dele, se algum crítico disse que não é boa é uma voz discordante.
ResponderExcluirAcho essa visão uma visão pobre sobre o filme, embora seja branco Arthur Fleck está longe de ser privilegiado porque ele é un doente mental, que precisa de remédios que a prefeitura se recusa a continuar pagando, é um trabalhador maltratado pela sociedade e explorado pelo patrão que quer cobrar até pelo cartaz que foi roubado.
ResponderExcluirUma análise mais lúcida, publicado em um blogue prosseguista sobre ele.
http://www.socialistamorena.com.br/marx-vai-ao-cinema-coringa-e-a-luta-de-classes/
A esquerda tem mais é que fazer propaganda pra esse filme, olha quem não gostou:
ResponderExcluirhttps://observatoriodocinema.bol.uol.com.br/filmes/2019/10/assessor-de-bolsonaro-ataca-coringa-esquerdista-e-sem-deus?
Assisti o filme no fim de semana. Achei sensacional em todos os aspectos (roteiro, interpretação, direção fotografia etc).
ResponderExcluirQuanto à polêmica envolvendo o filme, existe muito exagero. Não enxerguei um paralelo entre o protagonista e o comportamento incel. O personagem não demonstra mágoa ou ressentimento com o mundo e as mulheres por não ter uma vida sexual satisfatória ou por não possuir as características, que na mente dos incels, tornariam um homem bem sucedido com o sexo oposto. Também não percebi apologia ou justificativa para pessoas que cometem atos violentos por se sentirem injustiçados pelo mundo.
Talvez o problema esteja em humanizar um vilão de história em quadrinhos. O personagem sem dúvida é histriônico e cheio de maneirismos. Mas isso se explica por ter uma doença mental grave num meio desfavorável. Mas não é uma caricatura gratuita ou maniqueísta como normalmente os vilões são retratados.
O filme é perturbador. Mas o cinema, como expressão artística, precisa nos tirar da zona de conforto. E nisso, o filme é um sucesso. Pode influenciar mentes frágeis e com tendências patológicas? Sim. Mas nesse caso, não dá para culpar o filme. Para esse tipo de pessoa, qualquer coisa, inclusive desenho da Disney, poderia ser interpretado como influência negativa.
Vi gente falando sobre a relação do filme e os incels, e até entendi esse possível relação. Mas assisti, e me pareceu que não há nada que se remeta aos celibatários involuntários. Acho que é o retrato de um sujeito de estrutura psicótica e como o capitalismo colabora para o sofrimento de todos. Além disso, não acho q o filme tenta justificar a "loucura" do coringa por causa dos abusos sociais q este sofreu, mas sim mostra como isso colaborou para o agravo de sua psicose.
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