Laís Lacerda, estudante de medicina e "aficionada por Dilma", me enviou esse belo texto que ela escreveu.
Eu tinha 14 anos quando Dilma tomou posse. Foi um daqueles dias que a gente lembra onde estava. Foi em casa, de pijama, durante as férias escolares da oitava série, com minha mãe ao lado que eu aprendi que a palavra "presidente" poderia ser flexionada. Lembro de assistir à posse com o fascínio de quem se dá por conta pela primeira vez do (não tão) óbvio: uma mulher poderia ocupar o cargo mais alto da nação. E quanto mais eu descobria sobre a vida daquela mulher, mais certa eu estava de que havia algum tipo de justiça nesse mundo, cósmica ou constitucional. Havia esperança na luta.
Foi nesse país que me tornei mulher. No país que proporcionou à minha mãe o ingresso na tão almejada, e outrora tão distante, Universidade Federal, no país que havia saído do ranking da fome em pouco mais de uma década, no país que vencera o autoritarismo e vinte anos depois exportava tecnologia social aos quatro cantos do mundo e que agora elegia uma ex-militante como representante maior.
A imagem de Dilma passando às tropas em revista tendo sofrido as sevícias da ditadura será sempre pra mim um dos momentos mais emblemáticos da História.
A imagem de Dilma passando às tropas em revista tendo sofrido as sevícias da ditadura será sempre pra mim um dos momentos mais emblemáticos da História.
A coragem da jovem Dilma, enquanto os militares que a interrogam cobrem o rosto |
Tudo que eu conquistei depois teve um pouco daquele primeiro de janeiro.
O registro de uma cerimônia de 2012 por Wilton de Sousa Jr, da Agência Estado, ganhou vários prêmios |
Foi como futura profissional de um meio historicamente dominado por homens que eu vi a saudação a um torturador estuprador ser vociferada no congresso sob aplausos da vasta maioria dos deputados e da nação. Foi como mulher que eu vi a apologia à violência sexual escancarada nos carros e na cara do brasileiro, em uma demonstração pública de misoginia jamais vista neste país.
Hoje vejo um país dividido pelo ódio e pelo rancor, onde o cerco às Instituições se fecha, um país que condena sem provas, que cassa sem crime, em que vemos o crescente número de mulheres assassinadas, que volta ao mapa da miséria, que condena seu povo a trabalhar até morrer e que nega sua História. Um país continental com um governo branco, reacionário e… masculino. É nesse país que piso para iniciar a vida adulta. É nesse país em que mais uma vez organizo em luta os sentimentos despertados em mim por essa conjuntura inóspita. Digo sem medo e com a força das que vieram antes de mim que em tempos de luta a esperança é feminista.
Estranhamente, de todos os discursos de Dilma, o que mais gosto é o do impeachment, quando, vestida de vermelho, ela saúda -- calma e altiva como chegou -- todas as brasileiras que virão depois dela nesse "caminho de mão única que abrimos em direção à igualdade de gênero e que nada poderá nos fazer recuar".
Não sei, Presidenta, aonde essa semente plantada lá em 2011 pretende me levar, mas por aqui seguimos cansadas e sem os sonhos mornos da infância, mas lutando com a justa indignação daquelas que ainda acreditam na democracia.
Não sei, Presidenta, aonde essa semente plantada lá em 2011 pretende me levar, mas por aqui seguimos cansadas e sem os sonhos mornos da infância, mas lutando com a justa indignação daquelas que ainda acreditam na democracia.
"Basta uma crise política, econômica e religiosa para que os direitos das mulheres sejam questionados." (Simone de Beauvoir)
Bravo, garota. Minha semente foi plantada em 1973 quando pela primeira vez assisti a uma peça de Teatro, era o Grupo Teatro popular União e Olho Vivo, nunca tinha nem ouvido falar de Teatro, e aquilo me fascinou e resolvi em meio a apresentação que era aquilo que eu queria fazer da vida. A apresentação terminou e fiquei acompanhando os artistas carregarem a kombi com os artefatos de cena. Então de uns carros desceram uma dezena de homens armados e prenderam o elenco. No outro dia conversando com um tio meu comentei o acontecido ele me perguntou: sobre o que era a peça? Sobre a eleição de um Rei Momo, respondi. Meu tio explicou então que uma peça daquelas seria reprimida mais cedo ou mais tarde, descobri naquele dia que vivíamos numa ditadura. dois anos depois estreei meu primeiro espetáculo profissional. Aquele dia definiu minha profissão e minha cor política. Que sua semente floresça, e sua árvore jamais se curve diante das tempestades. Um Beijo no seu coração.
ResponderExcluirEu apoio o presidente Bolsonaro mas respeito o texto da autora.
ResponderExcluirDevemos sempre permitir todas as vertentes, mesmo sem concordar com elas.
Queria te dizer tantas coisas,mas uma coisa só, nem Bolsonaro, como homem abjeto que é chegará a uma unha cortada e jogada no lixo de Dilma Rousseff é como mulher, e jamais chegará perto de uma página na história como ela chegará , como uma presidenta digna honrada, inteligente. Dilma Rousseff é e sempre será uma grande mulher,mas Bolsonaro, nem mesmo um homem vulgar,pq até mesmo dentro da vulgaridade existe algo positivo, chegará para a história como um genocida, adorador de torturadores.
ExcluirLindo ler isto neste momento! Como esta mulher é injustiçada, mas com o decorrer da história será reconhecida como grandes outras! Muito orgulho de ter votado nela sempre que possível!
ResponderExcluirDilma incomodou essa corja justamente por ser mulher e ser mais do que eles em tudo: mais inteligente, mais corajosa, mais capaz, mais honesta. Do mesmo jeito que Lula incomodu a corja por ser melhor do que eles em tudo (inclusive em governar um país) mesmo sendo um """""mero""""" pau-de-arara. Foi justamente quando disse "chega" pros parasitas do rentismo que ela sofreu o golpe, e agora a classe média que se achava corte e todos os medíocres que se achavam floquinhos de neve especiais vão sofrer as cosnequências do próprio recalque.
ResponderExcluir15:56 fascismo, nazismo e qualquer ideologia de ódio não devem NUNCA ser toleradas, respeitadas e muito menos apoiadas. Fscista bom é fascista morto.
15:56:
ResponderExcluir"Em 11 dias, Bolsonaro defendeu o nepotismo; disse que a fome no Brasil era uma "grande mentira"; atacou o Nordeste; difamou a jornalista Miriam Leitão; afirmou que dados de satélite mentem sobre o aumento no desmatamento da Amazônia; defendeu censura à Agência Nacional de Cinema; atacou a repórter Talita Fernandes que questionou o porquê dele ter levado parentes ao casamento do filho em um helicóptero da FAB; ameaçou prisão ao jornalista Glenn Greenwald e agrediu seu companheiro e filhos; menosprezou o respeito ao meio ambiente, dizendo que apenas veganos se importam com isso; e brincou com a dor alheia ao dizer que poderia contar ao presidente da OAB o paradeiro de seu pai, Fernando Santa Cruz, preso e torturado pela ditadura e desaparecido desde 1970" (Via blogdosakamoto).
Reveja quem e o que vc apoia. Urgentemente.
Pq as mulheres de esquerda não se reunem em torno de Dilma? Ela é uma pessoa séria, um bom nome, pq não?
ResponderExcluirTexto lindo e coerente! Vai firme menina, a luta de quem acredita na verdade e na justiça não deve acabar nunca!
ResponderExcluirMelhor ela que fala algumas frases difíceis de entender do que um boçal na presidência.
ResponderExcluirInnspirador para a geração atual e futura. Que outros jovens possam ter pessoas que os direcionem e oportunizem conhecer a história da luta feminina, o porque dessa esperança FEMINISTA ser motivo de esperança atualmente, frente ao cenário de outrora e que atualmente vigora em nosso país. Deus a abençoe e que essa força se estenda em sua vida em prol dos seus direitos e daqueles que você consegue é certamente conseguirá alcançar com sua vida e ações.
ResponderExcluirI think this is one of the most significant information for me. And i’m glad reading your article. Thank for sharing.
ResponderExcluirBa Na Hills Tour from Da Nang