Autismo não tem cura, mas pessoas inescrupulosas vêm vendendo o MMS (uma solução mineral "milagrosa" que nada mais é que uma substância química equivalente à água sanitária) para mães e pais de crianças autistas.
A guerreira Andréa Werner |
A jornalista, escritora e ativista Andréa Werner, mãe de um menino com autismo, é uma heroína (veja seu ótimo vídeo sobre MMS). Ela foi atrás de quem está vendendo este veneno. Sem medo, ela apareceu numa matéria do Fantástico no final de maio contando sua investigação. Este é um texto que ela escreveu especialmente aqui para o blog. Como é longo, vou dividi-lo em duas partes. A outra está aqui.
Leia, divulgue, comente! As pessoas precisam saber mais sobre este golpe. A campanha se chama #foramms
"Os perigos do pensamento mágico. Que se somam aos sempre presentes perigos do machismo, que exigem que toda mãe seja uma santa e opere milagres -- e, se necessário, que não se furte a ser uma mártir" (Ana Nunes Nogueira, em seu livro Cartas de Beirute).
Ter um filho com algum tipo de deficiência muda completamente o rumo da vida de qualquer mãe. E falo de vida em seu sentido mais amplo: social, emocional, laboral.
No lado emocional, o sentimento de perda do filho idealizado se alia ao da incapacidade de lidar com a criança real.
No lado social, há a sensação de perda de lugar em um grupo hegemônico: o das mãe de crianças típicas. A partir de agora, tudo será mais difícil. O simples ato de matricular a criança em uma escola pode ser tornar uma briga hercúlea. É, de certa forma, uma perda de privilégios.
Não só homens costumam abandonar crianças com doenças graves, mas costumam abandonar também as parceiras quando elas adoecem |
E, olhando pela perspectiva laboral, muitas abrem mão de suas carreiras para poder acompanhar o filho mais de perto e levá-lo às terapias. A maioria, no entanto, não pode se dar a esse "luxo", principalmente em um cenário em que o abandono paterno é epidêmico. Uma pesquisa do Instituto Baresi, de 2012, mostrou que 78% das mulheres são abandonadas pelos maridos após o nascimento de uma criança com uma doença rara grave. Essas mulheres se tornam, ao mesmo tempo, as únicas cuidadoras e mantenedoras da criança, já que os pais, muitas vezes, só pagam a pensão sob judicialização. E há as que suportam relacionamentos claramente abusivos porque sabem que o filho demanda cuidados extras, e não querem correr o risco de passar pela novela do ex-marido que não paga pensão.
Mas eu gostaria agora de voltar, especificamente, ao fator emocional. Não dá pra falar de autismo sem falar de culpa materna.
O autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento de origem majoritariamente genética que atinge cerca de 1 em cada 59 crianças nos Estados Unidos, segundo a estimativa mais recente do CDC (Centro de Controle de Doenças). É extremamente comum, principalmente se comparado com a Síndrome de Down, por exemplo, cuja incidência é de 1 em 700. E a história do autismo está intimamente ligada à saga da culpabilização materna.
É claro que há autistas desde a época das cavernas, mas essa condição só foi descrita no século XX, quando foi considerada como “retardo mental” ou “psicose infantil”. Em 1943, o psiquiatra Leo Kanner surgiu com uma hipótese que chamamos até hoje de "teoria da mãe geladeira". Ele sugeriu que as crianças apresentavam tendência ao isolamento e comportamentos repetitivos por "falta de calor materno". A "brilhante conclusão" foi tirada ao observar a dificuldade que as mães de crianças autistas tinham de brincar com elas. O que era consequência virou causa.
O avanço da neurociência veio derrubar o mito: existem, atualmente, mais de 800 genes identificados que estão ligados ao autismo. Então a culpabilização materna parou, certo? Errado. Ela continua firme e forte, mas com uma roupagem diferente. Ou várias. E os "vendedores de milagres" sabem exatamente como explorá-la.
MMS e autismo
O ex-cientologista americano Jim Humble afirma ter descoberto um composto que cura virtualmente toda doença existente, seja ela proveniente de bactérias, vírus, ou o que quer que seja.
Esse composto foi chamado por ele de MMS -- Mineral Miracle Solution (Solução Mineral Milagrosa). Ele diz, em vídeos, que descobriu o MMS ao "curar" seus amigos que contraíram malária na Amazônia. Ele também declara que "tratou com sucesso" mais de 700 casos de HIV. E, por fim, ele afirma ser um Deus que veio da galáxia de Andrômeda e criou seu próprio culto: a Gênesis II, igreja da saúde e da cura, onde o MMS é um sacramento.
MMS nada mais é do que dióxido de cloro, um alvejante potente usado na indústria de papel para descolorir polpa de madeira. Também é usado no tratamento da água, mas em proporções realmente mínimas por sua força e toxicidade. Ele é obtido através da mistura de uma solução de 28% de clorito de sódio com uma de 4% de ácido clorídrico. Há "protocolos" diferentes com o MMS para tratar cada tipo de doença, mas normalmente a orientação é dilui-lo e ir tomando aos poucos de hora em hora.
A popularização do MMS como "cura do autismo" veio através da também americana Kerri Rivera, corretora de imóveis e homeopata, que escreveu o livro Curando os sintomas conhecidos como autismo, onde ela detalha todo um protocolo que inclui dietas restritas, desintoxicação e desparasitação feita por "enemas". Kerri orienta os pais a inserirem o dióxido de cloro diluído pelo reto das crianças. O resultado é que as crianças expelem muito muco e pedaços do revestimento intestinal, o que ela descreve como "vermes que causam os sintomas de autismo".
Ela saiu dos Estados Unidos após sofrer diversos processos, já morou no México e, atualmente, está na Alemanha. Mas ainda comanda grupos de pais onde cobra por orientação sobre como usar o MMS e vende produtos de sua lojinha virtual relacionados ao protocolo. Apesar disso tudo, ela deixa claro em seu site que não se responsabiliza por absolutamente nada que venha a acontecer com a criança.
Outro charlatão que se aproveitou da onda foi o alemão Andreas Kalcker. Apesar de se intitular "doutor", Kalcker apenas tem um curso de "filosofia da medicina alternativa". Ele também defende protocolos de uso do MMS que incluem enemas e é defensor da ideia -- já totalmente desacreditada pela ciência -- de que vacinas causam autismo.
Aqui a continuação deste texto de Andréa Werner. Ela explica como mães de autistas são alvos fáceis de golpistas.
Triste.
ResponderExcluirO autismo tem se tornado cada vez mais comum. Antes, era um proporção de 1 a cada 1000 crianças, hoje temos essa estatística do texto.
Bom, sigam um perfil no instagram chamado "saude honesta". Eles desmitificam várias charlatanices do mundo da saúde, inclusive já falaram sobre o autismo e MMS, e o quão absurdo e cruel isso é com as familias de crianças autistas.
Alícia
Na verdade o que mudou foi o diagnóstico de autismo. Diversas pessoas que antes eram não diagnosticadas como autistas agora o são.
ExcluirLola, vc já ouviu falar de Placebo? MMS é isso. Mas placebos funcionam, sim, por incrível que pareça!
ResponderExcluirPessoa, primeiramente, placebo não vai funcionar nesse caso, pois o autista não acredita que isso seja um tratamento. Quem acredita é a coitada da mãe.
ExcluirAlém disso, MMS não é placebo, é uma substância nociva. Placebo seria um remédio sem efeito positivo ou negativo, como água benta (desde que devidamente potável).
Esse tratamento deve ser tão efetivo quanto sangria para tratar peste...
ResponderExcluirSangria tem embasamento, Tem teoria , comprovação e inclusive eficácia em alguns casos q e indicado.
ExcluirMas o mms não se enquadra e nem se compara
Eu não sei como reagir a isso, mas acho que todas as minhas reações seriam violentas. Iriam de martear a cabeça dos idiotas que acreditam nisso e ficam torturando os filhos até os miolos deles saírem pelas orelhas, a enfiar uma estaca de ferro quente no cu do puto sifilítico que inventou essa merda de MMS, até arrastar a cara da desgraçada que continua com a charlatanice no asfalto e depois tacar fogo.
ResponderExcluirÉ por isso que não me importa quantas pedras me joguem, reproduzir-se NÃO PODE ser um direito. Querem direito de reproduzir pra fazer essas atrocidades com os filhos? A natureza estava certa, reproduzir não é direito, é conquista pra quem tem competência para fazê-lo do princípio ao fim. Não tem capacidade nem vontade de cuidar de filho especial, NÃO TENHA, CARALHO!
Alícia, a população mundial aumentou a níveis nunca vistos antes. Com o aumento de nascimentos, aumentam também os números de portadores de necessidades especiais ou anomalias genéticas. Além disso, mulheres portadoras de autismo leve no geral conseguem se comportar e se comunicar de maneira que a condição delas passa despercebida, e só quando aperfeiçoaram os métodos de diagnóstico foi possível descobrir essas portadoras.
Ah, mundo de merda cheio de gente escrota e burra.
Só ignorantes acreditam em homeopatas.
ResponderExcluirGente estúpida e inútil sempre se reproduz mais que a média.
ResponderExcluir"Alícia, a população mundial aumentou a níveis nunca vistos antes. Com o aumento de nascimentos, aumentam também os números de portadores de necessidades especiais ou anomalias genéticas."
ResponderExcluirIsso é irrelevante se estamos falando de porcentagens, que parecia ser o caso do post da Alícia. Se uma doença afeta, digamos, X% da população, isso não muda se a população for de cem ou de um bilhão. Não é o caso do autismo, que parece afetar uma porcentagem cada vez maior da população.
Concordo com o seu segundo argumento (sobre os métodos de diagnóstico serem aperfeiçoados). Mas às vezes me pergunto se muitos casos de autismo leve devem realmente ser caracterizados como doença mental ao invés de simples excentricidades pessoais.
No blog da Andréa, o ótimo www.lagartavirapupa.com.br, fala sobre autismo leve (o texto é "autismo leve não é tão leve assim). Há também os depoimentos, que você pode procurar na internet, do Nicolas Brito, Amanda Paschoal, e outros considerados "autistas leves". Sugiro a leitura. Você vai entender um pouco sobre autismo leve e perceber as tristes consequências da falta de diagnóstico e tratamento.
Excluir21:32 você pode estar certo. Faz um tempinho virou moda os pais arranjarem diagnóstico falso de TDA pra poderem dar ritalina pros filhos e não terem tanto trabalho com a criança. Não é de hoje que pessoas que não se encaixam nos padrões de conduta aceitos pela sociedade são tratadas como doentes mentais, medicadas sem necessidade ou, em tempos mais antigos, trancadas em manicômios.
ResponderExcluirVocê não deve ter filho né?! Não sabe o quanto é difícil pra uma família rexeber o diagnóstico de necessidade especial do um filho, seja ele qual for, não sabe o quanto é difícil ver um filho que não consegue estudar, conviver e ter que administrar medicação controlada sem saber como a criança se sente e sem saber quais od possíveis danos de uma medicação e ter que administrar mesmo assim para que seu filho possa ter o mínimo de qualidade de vida? E com que capacidade você fala sobre profissionais darem diagnóstico falso para pais de crianças não terem trabalho, você devia se envergonhar de fazer um julgamento tão maldoso como esse e ainda ter a coragem de postar! Pais de crianças com necessidades especiais não precisam do seu julgento, fazem o que podem para ver seus filhos melhorarem, e se charlatões se aproveitam disso não é culpa desses pais não, a culpa é da falta de apoio, da falta de infraestrutura para essas crianças, falta de uma educação inclusiva que realmente funcione, falta de empatia, falta de amor de gente como você que não faz nada para ajudar, alenas julga do seu pedestal como se conhecesse a realidade das pessoas! Reveja seus princípios, pois o que você falou é de uma crueldade extrema com quem já tem problemas demaise culpas demais para se preocupar!
Excluir14:31 pelo seu chilique, ou você pensou em medicar os filhos sem necessidade nenhuma, ou já fez isso ou é um desses médicos que deu o diagnóstico falso. Porque eu falei bem claro: pais que INVENTAM diagnóstico de TDA pra dar ritalina pro filho por preguiça de cuidar. Não falei de quem tem TDA DE VERDADE e que precisa DE VERDADE do remédio. Agora, se a carapuça serviu porque você fez isso, parabéns, você é um ser humano de merda e um completo fracasso como mãe.
ResponderExcluirE se você é o médico, parabéns por assumir que além de um ser humano de merda, você também é a porra de um criminoso capaz de prejudicar uma criança por dinheiro, e que ainda tem a cara de pau de vir aqui pagar de profissional ilibado e ético. Médico brasileiro 90% é a escória, e você só confirma a minha opinião.
http://blog.centrodestudos.com.br/governo-quer-protocolo-para-conter-uso-de-ritalina-por-criancas/
"Dados da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) apontam crescimento de 21,5% na venda do metilfenidato em quatro anos –de 2,2 milhões de caixas em 2010 para 2,6 milhões em 2013 (último dado disponível). O ministério cita ainda as estimativas “bastante discordantes” sobre a ocorrência de TDAH (Transtorno de Deficit de Atenção e Hiperatividade) em crianças e adolescentes – de 0,9% a 26,8%.(...)
“Parece evidente que tem muitas crianças no Brasil utilizando de maneira desnecessária o medicamento”, afirma o coordenador de saúde da criança no ministério, Paulo Bonilha. “São múltiplas as variáveis que influenciam no processo de aprendizagem e concentração. Olhar como se isso fosse sempre uma doença da criança é reducionista.” '