Foi uma bonita coincidência. Poucos dias depois da cientista política Débora Prado me mandar um email me convidando pra participar do Chutando a Escada (saiu no final de fevereiro, aqui!), várias pessoas me enviaram um link para uma thread que Débora fez no Twitter sobre a baixa participação feminina na política.
(Coincidência maior do que essa, só ontem, quando um potinho de curry abriu em cima da comida que eu estava preparando pra semana, e quando eu fui ver no Twitter, o que tinha nos Trending Topics? Curry! Pensei: deve haver uma câmera escondida aqui em casa, só pode. Mas logo me avisaram que os TT eram referentes a um jogador de basquete).
O que a Débora escreveu no Twitter foi tão memorável (ela havia participado recentemente de um podcast da NBW sobre o tema) que eu decidi fazer uma compilação dos tuítes e ir atrás das referências. Só depois vi que ela já tinha feito isso na sua página no FB. Publico aqui o que ela escreveu tão bem.
E lembrem-se: neste ano eleitoral de 2018, vamos votar em mulheres!
Como sabem, participei do Podcast NBW (Nós Brigamos no War) do Ulisses Neto e André Pontes. Falamos sobre o papel da mulher na política, com foco no Brasil e Inglaterra. Surgiram alguns questionamentos importantes, alguns no grupo do próprio podcast, outras no twitter do Chutando a Escada. Muitos não merecem resposta, mas um deles achei que merecia. O rapaz afirma existir uma diferença nas livres escolhas individuais entre homens e mulheres e esse, e não o machismo, seria o fator mais importante para a baixa participação de mulheres na política.
Gráficos do site Politize-se |
Compartilho com vocês, então, algumas notas sobre isso. No caso brasileiro, acredito ser obrigatório levar em consideração alguns dados antes de considerarmos o contexto no qual o debate sobre a desigualdade de gênero na política está inserido. Segundo dados compilados pela Inter-Parliamentary Union no Brasil, pouco mais de 10% dos deputados federais são mulheres. A lei 9.504 de 1997, que foi reformulada em 2009, busca enfrentar parte desse problema e estabelece uma cota de pelo menos 30% de vagas reservadas para as mulheres.
Apesar disto, nas ultimas eleições municipais em 2016, as mulheres conquistaram menos de 15% das vagas: isso significa que para cada 7 vereadores temos 1 vereadora.
Quais são as causas deste processo? Para refletirmos sobre isto é preciso se questionar antes de mais nada se as mulheres competem nas mesmas condições que os homens. A resposta é um sonoro NÃO.
Clique para ampliar |
Por exemplo, a lei destina apenas 5% dos recursos para as candidatas. As mulheres não têm acesso ao dinheiro dos partidos e, como óbvia consequência disso, elas não conseguem acessar o mesmo numero de eleitores. O único partido que oferece uma distribuição mais igualitária aqui no Brasil é o Partido Rede.
Superada a questão financeira, que certamente coloca em xeque o entendimento de que x eleitorx fez a sua escolha livremente e sem "interferências", temos o problema das fraudes eleitorais que têm sido investigadas pelo TSE: mulheres são inscritas apenas para cumprir a lei.
São, portanto, laranjas. Não há candidatura na verdade e muito menos a possibilidade delas serem eleitas ocorre na realidade.
Agora, a questão mais estrutural. Historicamente, socialmente e culturalmente a mulher está destinada ao espaço privado, não o público. A política é vista como um ambiente masculino e não seria um lugar para mulheres.
Não sou eu quem faz esta afirmação. Diversas pesquisas tratam desta problemática. Sobre este entendimento de que o preconceito tem pouca influencia na questão de gênero, uma pesquisa realizada por Cecilia Hyunjung Mo e publicada no Status on Women in Politics conclui que eleitores podem simultaneamente ter opiniões explicitamente igualitárias e, ao mesmo tempo, abrigar uma tendência implícita contra as mulheres.
De acordo com pesquisa realizada pela autora, “voters who expressed a preference for male leadership did not support fictitious female candidates — even when the female was more qualified than the male candidate” (eleitores que manifestaram preferência por liderança masculina não apoiaram candidatas mulheres fictícias -- mesmo quando a mulher era mais qualificada que o candidato homem).
O preconceito aparece de forma velada, mas tem impactos na escolha de candidatos. Levantamento recente realizado pelo Pew Research Center (2014) apresenta também esta contradição para o caso dos Estados Unidos. A pesquisa concluiu que apesar de 74% dos homens e 76% das mulheres terem afirmado que homens e mulheres podem ser, igualmente, bons líderes políticos:
1) mais da metade das mulheres (47%) afirmaram que “a major reason there are not more women in top political offices is that female candidates are held to higher standards that men” (um motivo principal para explicar por que não há mais mulheres no topo da política é que candidatas mulheres são julgadas com critérios mais exigentes que homens);
2) 73% das mulheres entrevistadas afirmaram que é mais fácil para um homen ser eleito a um alto cargo político comparado a uma mulher;
3) 41% das mulheres afirmaram que “a major reason for the lack of women in top political offices is that many Americans aren’t ready to elect a woman to a higher office” (um motivo principal para a falta de mulheres no topo da política é que muitos americanos não estão prontos para eleger uma mulher para um cargo mais alto) e
4) "33% of women, compared with 21% of men, said that females getting less support from party leaders is a major reason" (33% das mulheres, comparadas a 21% dos homens, disseram que as mulheres receberem menos apoio de líderes dos partidos é um motivo principal).
A definição de papéis específicos para a atuação das mulheres na política tem um efeito importante quando analisamos o desempenho de candidatas que almejam cargos mais altos em diferentes níveis de governo. O lugar destinado às mulheres está bastante relacionado com os estereótipos de gênero que reforçam um perfil específico. Por serem vistas como mais compassivas, gentis e passivas cabe às mulheres lidar com temas relacionados a questões sociais e educacionais, sendo descartada sua liderança em temas de política externa e segurança, por exemplo.
Cartilha para maior participação das mulheres na politica |
Existem outros dados e pesquisas que caminham nesta direção. Infelizmente não é uma realidade brasileira. É global. Ocorre nos Estados Unidos, na Europa, nos países "desenvolvidos". A OCDE tem um levantamento sobre este tema também. Existem sim diferenças em termos partidários, mas não podemos ignorar que a mulher entra em desvantagem em uma disputa na política pelo simples fato de ser do sexo feminino.
O nome disto é patriarcado e uma das variáveis é o machismo. A consequência para este sistema é a exclusão das mulheres dos espaços de poder, dos espaços de decisão, e de outro lado, a objetificação da mulher, a inferiorização que abre caminho para as violências sofridas diariamente em nosso país, os abusos, o assédio, o estupro, os espancamentos e o medo de sair pela rua tranquilamente pelo simples fato de ser mulher.
Talvez seja necessário politizar as mulheres, ora! A julgar pelos temas que eu vejo nos blogs feministas, isso não vai ocorrer. Já disse isso outras vezes aqui e muitas aqui me atacam. Não estou indo contra, quando digo que deva haver uma estratégia melhor definida. Vocês devem, primeiro, conquistar as esferas mais altas do poder, para, assim, promover as mudanças que tanto se discutem nos espaços feministas. O que adianta, apontar diferenças em razão de gênero, se não tem representantes no legislativo para alterar este estado de coisas? E vocês são a maior parte do eleitorado!
ResponderExcluirLola por que você não se candidata?
ResponderExcluirMuita gente me pergunta isso, Claire. Mas eu não tenho nenhuma aptidão pra isso. Não tenho vontade, não tenho grande conhecimento de leis, não sou boa oradora. Não quero nem ser chefe do meu departamento (sou vice, mas não é porque quero, é porque tds temos que colaborar). Mas gostaria muito que jovens de movimentos estudantis, de movimentos feministas, negros, LGBT, optassem por seguir a vida política. Tem muita gente boa por aí. Muita gente me pergunta isso, Claire. Mas eu não tenho nenhuma aptidão pra isso. Não tenho vontade, não tenho grande conhecimento de leis, não sou boa oradora. Não quero nem ser chefe do meu departamento (sou vice, mas não é porque quero, é porque tds temos que colaborar). E não sou filiada a nenhum partido. Gostaria muito que jovens de movimentos estudantis, de movimentos feministas, negros, LGBT, optassem por seguir a vida política. Tem muita gente boa por aí.
ResponderExcluirJá chegou a intimação, Dolores?
ResponderExcluirLembre-se de uma coisa. Acusar os outros sem provas de configura crime de calúnia.
Vou xerocar aquele inquérito da PF que você me acusa e enfiar mais ações de dano moral contra você. Com a última ação extinta vou entrar no juizado normal pedindo 100 mil reais.
Você pode até ganhar na primeira instância se pegar um juiz sjw, porco. Mas lembre-se de uma coisa.
Eu não tenho renda propriamente dita. Resumindo, eu não pago custas. E mesmo se o juiz me obrigar a pagar ele não tem com o que executar porque eu não tenho bens no meu nome.
Quando pegar a mão na minha OAB eu vou usar ela exclusivamente para foder a sua vida, vou advogar gratuitamente para todos os seus desafetos.
Vou pessoalmente falar com o procurador do mpf sob esta promocao pessoal que você faz.
O caso do idalber Avelar já vai ser suficiente para te foder.
Ah gente, vou publicar o comentário do mascutroll pra vcs verem o nível de delírio do líder da quadrilha mascu. Praticamente todo dia ele manda mensagens. Agora ele está furioso porque foi chamado pra depor na Polícia Federal. Eu já estou perdendo a esperança que ele volte a ser preso, mas vou comemorar MUITO se isso acontecer. Eu e toda a internet. São milhares as vítimas desse covarde inútil.
ResponderExcluirPor que tem poucas mulheres, existem várias razões, mas uma é prática, os partidos tem donos, além de nacionais, tem seus sub-chefes locais, existe uma pequena renovação, das oligarquias partidárias, isso deve aumentar agora ao fundo eleitoral, afinal já tínhamos o partidário.
ResponderExcluirUma parte dessas mulheres políticas, ascendem por laços familiares, são esposas quando enrolados com a justiça ou filhas quando começam a passar o bastão, infelizmente o quadro é de petrificação.
Pode ser Janaína Pascoal ou Raquel Sheherazade?
ResponderExcluirOu essas não servem?
Qual você acha que é a resposta, querida? De mim essas mulheres bregas e sem graça não ganham um voto. Mas a Luciana Genro, por exemplo, serve. Apóia lá as duas rainhas da breguice e vê se elas não vão apoiar empresários e medidas que vão foder a vida da mulher pobre. Afinal, são ricas, né. Fodasse as mulheres pobres.
ExcluirEu vou votar em pelo menos uma mulher - Érika Kokay, para deputada federal. E gostaria que ela fosse candidata a governadora, mas ela não quer.
ResponderExcluirMas não é por que ela é mulher, é por que ela é uma excelente deputada. Não votaria em imbecis rematadas, como Janaína Paschoal ou Rachel Scheherazade. De que adianta votar em mulheres que se elegem para sacanear as outras mulheres, como a Geovânia de Sá ou a Cristiane Brasil? Ou a Yeda Crusius? Gente que quer reduzir nossos direitos para aumentar os lucros de quem já lucra demais? Ou oportunistas da turma do toma lá dá cá, como a Tia Eron?
"Muita gente me pergunta isso, Claire. Mas eu não tenho nenhuma aptidão pra isso. Não tenho vontade, não tenho grande conhecimento de leis, não sou boa oradora. Não quero nem ser chefe do meu departamento (sou vice, mas não é porque quero, é porque tds temos que colaborar). E não sou filiada a nenhum partido. Gostaria muito que jovens de movimentos estudantis, de movimentos feministas, negros, LGBT, optassem por seguir a vida política. Tem muita gente boa por aí"
ResponderExcluirEssa é exatamente a situação das mulheres que não entram na política. Não quero me meter nisso mas gostaria que alguém o fizesse por mim.
Aí você pensa no Tiririca, que sequer sabia escrever.
"Quando pegar a mão na minha OAB"
ResponderExcluirUm psicotécnico para ingressar na Ordem cairia bem.
Ou uma certidão negativa de antecedentes criminais. 😉
ExcluirEssa certidão a OAB já exige. Pelo menos eu precisei apresentar para requerer a minha, há uns 6 anos.
Excluir