Hoje é Dia Nacional da Visibilidade Lésbica. Deixo aqui este belo texto de Simone Gomez, que ela publicou ontem no Medium. Simone mora no Rio, pesquisa sobre diversidade de gênero e educação, é professora, feminista e sapatão, e "toma mais café do que deveria".
Demorei muito pra escrever esse texto — e quando eu digo muito, é muito mesmo, uns cinco anos refletindo sobre os mais de dez vividos nas sombras. E é por isso que eu digo que hoje, no dia da visibilidade lésbica, esse texto não é para você sapatão.
Recentemente encontrei na internet um Tumblr recheado de ilustrações e quadrinhos maravilhosos, daqueles repleto de representatividade e verdade que te faz sorrir até a orelha. É o “Na ponta da Língua”, por Beliza Buzollo. Nele achei um quadrinho que — carinhosamente — apelidei de “O Armário” que foi um grande soco no estômago.
Um soco daqueles que dói mais que se é capaz de explicar, vira ao avesso e faz você olhar pra trás tentando entender de onde veio a porrada.
E por que tudo isso? Porque todas essas frases que podem ser lidas no quadrinho já foram ouvidas por mim e por todas as lésbicas que (re)existem por aí, inclusive, e talvez principalmente, por aquelas que ainda não tiveram coragem de se assumir por serem bombardeadas todos os dias por frases e pensamentos como esses.
Por isso, sapatão, esse texto não é pra você. Nós nos entendemos e reconhecemos nas lutas cotidianas, nas invisibilizações, nas agressões e também nas conquistas e reconhecimentos. Pra você, todo meu afeto. E força.
Esse texto é para você Família. Para você “amigo”. Para você super conservador. Para você ser humano sem luz que acredita ser seu direito julgar e oprimir o outro e confunde isso com liberdade de expressão.
Para vocês pode ser “só um elogio”, “mais um comentário” ou “o preconceito está na nossa cabeça”, mas a verdade é que a cada frase dessas que nós lésbicas escutamos, um passo para trás é dado. E um passo para trás nessa jornada de autoconhecimento e, principalmente, aceitação é um puta retrocesso.
Costumo dizer que sair do armário, para mim, é um ato político. É fazer da nossa existência, resistência. E como disse Aline Miranda: “ser mulher e amar outra mulher é revolucionário”.
No entanto, é sempre bom lembrar que sair do armário é um processo difícil pra caramba. É anunciar aos quatro ventos quem se é. Ser de verdade quem se é. É dar a cara a tapa todos os dias. E isso, na sociedade machista e misógena que a gente vive, é bem assustador.
Assusta lidar com a heteronormatividade compulsória, ou seja, com os papéis sociais, comportamentos e padrões estéticos atribuídos como normais ou aceitáveis para cada gênero e categorizando todos os espectros do desejo, afeto e gênero como desviantes. E isso sendo bem simplista na definição.
É assustador encarar todos os olhares tortos. E não se enganem, eles são muitos e por todos os lados, seja daqueles que nunca te viram na vida ou daquela pessoa que tá todo fim de semana na sua casa.
Assusta ter que aumentar o repertório de respostas quando o repertório de conversas se reduz, no início, ao quanto isso está sendo estranho/ difícil/ insira qualquer outro sentimento aqui para aqueles que estão à sua volta. E incomoda porque, mais um vez, nosso protagonismo é retirado, somos silenciadas em nossa própria vivência.
Assusta tanta coisa e mais ainda perceber que todas essas micro-violências cotidianas, às vezes nem tão micro assim, são naturalizadas e, na maioria das vezes, nem são vistas como violências. O que nos torna invisíveis.
Por tudo isso e muito mais, você que conhece uma lésbica não a silencie. Não tome seu lugar de fala. Lembre-se que esse momento é importante, escute-a.
Não seja a pessoa que pergunta “cadê os namoradinhos?” na festa de família.
Não use frases como “tenho muitos amigos gays, mas…” para disfarçar seu preconceito.
Não pense e muito menos verbalize que somos lésbicas “porque ninguém comeu direito” ou “é falta de pica”, nossa existência e desejo é complexa demais para ser reduzida em torno de um pênis — inclusive se quisermos um podemos comprar de varias formas, tamanhos, cores e alguns até brilham no escuro.
Não diga “você pode ser o que quiser mas tem que aceitar as consequências”, isso soa quase como uma ameaça e é extremamente negativo, ninguém pensa que a consequência é liberdade.
Não falem “você vai matar seu pai” (pois é, ouvi isso!) porque a não ser que a sapatão esteja armada e com intenção de matar, isso não vai acontecer.
Não a façam acreditar que “é a decepção da família”, nem em um momento de impulso, fazer alguém acreditar nisso é cruel.
E não tratem como fase, não é. É uma fase de uma vida inteira, então não minimizem tudo que passamos para estarmos ai dividindo esse momento com você.
Eu podia passar os dias listando coisas que vocês não devem fazer para não contribuir com as violências diárias que sofremos mas vou me limitar a dizer somente:
Não sejam as pessoas que nos aprisionam nos armários.
Parece que a vida das pessoas homossexuais é bem mais difícil que a nossa.
ResponderExcluirJá ouvi de algumas que, se pudessem escolher, preferiam ter nascido hétero.
Uma coisa que eu queria entender: se a menina é lésbica pq ela busca alguém que se parece com um homem, ou seja, a maioria gosta de homem e reprimi seus desejos para "lacrar" com os amigos e "causar" na internet, é claro que lésbicas existem, elas gostam de mulher, não essas que querem seguir modinha.
ResponderExcluirTosco.
ExcluirVocê não tem que entender nada.
Apenas aceitar e respeitar.
E não bostejar o que pensa,o texto trata exatamente sobre isso.
É fácil de entender e não há modinha alguma: não há regras de como uma lésbica deve se vestir ou parecer, para ser mulher. A aparência nunca terá o poder de definir quem é mulher ou não. Nem eu. Nem você. Menos regras, mais amor, mais visibilidade lésbica.
ExcluirCéus. Prêmio Jamanta de Tosquice Comentária.
ExcluirAdorei o texto desse post. Acho que muito, se não tudo o que foi exposto, também pode ser aplicado à realidade de outras orientações sexuais (gays, bissexuais e assexuais, por ex.). Pois tod@s costumamos ter situações assim na nossa vida... (ainda).
ResponderExcluirAnon das 13:45, tenho a impressão de que vc está confundindo várias coisas aí, amigo... e quanto a lésbicas que procuram mulheres com traços masculinos, é isso mesmo, é simples, nem todas as pessoas tem os mesmos gostos e padrões quanto à atração sexual e afetiva. Assim como há inúmeras lésbicas de aparência tipicamente muito feminina, há as mais masculinas também, e são só formas diferentes de se compreender e de viver, cada um com sua realidade.
Quanto à sua menção de que existe lésbica modinha, acho que é interessante esclarecer... eu particularmente não acredito que pessoas sejam volúveis em suas sexualidades por causa de “modinhas”. Aliás, me é bem confuso usar esse termo em relação à sexualidade. É um termo que muito mais atrapalha que ajuda a entender alguma coisa. Entendo que possa estar se referindo, por ex., a meninas que experimentam ficar com outras meninas porque vêem colegas fazendo isso ou têem uma amiga lésbica ou bissexual. Mas eu entendo da seguinte forma: o que alguns ainda entendem por “modinha” pode simplesmente ser o ato de uma pessoa se permitir explorar sua própria sexualidade ao perceber que pode fazer isso.
Ninguém fica mudando a condição/orientação sexual por modinha não.
Blog tá um fracasso ninguém mais comenta.
ResponderExcluirNão adianta Lola, comentário moderados deixam o blog chato de seguir. Melhor apagar as trollagens a posteriori
Não adianta,as pessoas respondem aos trolls.
ExcluirNada como a modinha de ser hostilizada, ameaçada, menosprezada e trancada no armário. Realmente, uma curtida no facebook tá valendo muito, né não anon das 13:45? E qual é o problema das mulheres que não gostam de performar padrões típicos de feminilidade, precisam da sua autorização para existir? Ah vá...
ResponderExcluirLindo texto, lindo e claro recado para todo mundo refletir um pouquinho e parar de empurrar as pessoas pra dentro do armário.
ResponderExcluirviva todas as mulheres que amam mulheres!
A nova moda agora e "hur dur nois e sapabonde fodona e rouba as muiê hetero duzomi hur durr"
ResponderExcluirAh sim, as mulheres q usam roupas de homem, cabelo de homem, tem jeito de homem mas juram q n querem ser um homem.
ResponderExcluirE as mulheres q dizem amar outras mulheres ficam com as q parecem homem...
Nem vou comentar, não tem jeito de debater aqui com a Lola excluindo os comentários mesmo
ResponderExcluirImbecil das 19:18 - roupa não define gênero, sexo ou sexualidade. Roupa e aparência refletem os gostos pessoais de quem as usa, que, no máximo são moldados pelo contexto social no qual essa pessoa vive. Nada disso importa para alguém ser respeitado. Ou agora tá liberado chamar homem de traste, embuste, bando de fútil que segue moda sem se questionar se realmente gosta do que usa, só por que a maioria usa short e tem cabelo curto? Só uso essas expressões para machistas toscos, mais ou menos como aqueles que comentam como você.
ResponderExcluirA aparência das mulheres lésbicas não é da sua conta, bem como a sexualidade e a identidade de gênero delas.
Eu nunca vou entender tanta insegurança a respeito da própria sexualidade pra ficar 24 horas por dia fissurado e fiscalizando a sexualidade dos outros. Sério. Bando de reprimido rancoroso cheio de recalque contra as pessoas que não se limitam pelo mimimi alheio.
ResponderExcluir19:02 moda é ficar "hur hur não gostar de homem é fase, hurdur vocês não podem existir porque não querem pinto, hurhurr vocês que não querem nada com pinto merecem morrer, hurdur eu não admito que mulheres não gostem de pinto tanto quanto eu gosto de pinto então morram, suas sapatas lésbicas feias, gordas, machonas e caras de mamão".
19:18 eu sei que vai ser meio chocante pra você, mas... mulheres não fazem tudo por causa de homem. De verdade, cara. Juro. Uma mulher que usa cabelo curto o faz não porque quer parecer homem, mas porque não gosta de ter cabelo comprido/não quer perder tempo cuidando e penteando/acha cabelo curto bonito. Uma mulher que usa camisa masculina o faz porque acha bonito/confortável. Idem pra sapatos, calças, e todas essas coisas consideradas "de homem". Nós não vivemos pra vocês, coleguinha. Mulheres usam e fazem as coisas porque elas gostam/querem assim, não porque queremos impressionar/chamar atenção/parecer/ser homem. Vocês simplesmente não são tão importantes assim.
E olha o quanto o egocentrismo desses homens é patético: mesmo que a mulher seja lésbica, ela tem que centrar sua vida ao redor do que eles pensam/querem. Se elas não querem impressionar/chamar atenção/despertar tesão nos homens, então elas tem que querer ser eles ou parecer com eles. Os machinhos rancorosos que querem que tudo orbite ao redor do pau deles (desde já deixo claro que não, não orbita) não suportam a ideia de que uma única mulher não esteja pensando neles quando faz as cosias. E eles acham que é isso que nós queremos ser? Que é isso que as lésbicas querem ser?