Evelin Fomin é ativista feminista paulistana e segue com a campanha permanente #SomosTodosFeministas, um blog e pequeno coletivo "que nasceu da vontade de expressar os muitos feminismos no Brasil e que se mantém pela crença de que todos deveríamos ser feministas (we should all be feminists, da Chimamanda!). Evelin me escreveu sobre um projeto importante:
Ela era a única mulher braço-direito do diretor. Era uma executiva, uma gestora, uma criadora. Uma faz-tudo, afinal. Mas por ter começado com um contrato de sub-gerente, não podia receber o aumento -- nem a mudança do nome de sua função na carteira de trabalho. “Pelo regulamento da empresa, a gente não pode fazer esse salto oficialmente”, explicava, constrangida, a gerente de RH.
Tudo começou quando o superior imediato mudou de emprego e, depois de procurar outros candidatos para a substituição, o diretor a chamou e disse à queima-roupa: “Eu vou te dar uma chance pra essa vaga. Mas vou ser sincero com você. Ele ganhava oito mil, mas como você ainda não tem experiência, você vai ganhar seis mil. Vou usar os outros dois mil para outros projetos.” O que era para ser uma promoção celebrada, se tornou uma gana de querer -- e precisar -- se provar muito muito boa. Até chegar a um cargo executivo que nunca pode assumir oficialmente. A empresa era uma gigante da comunicação.
Em um centro cultural não muito longe dali, uma outra gerente já havia comido muita grama para estar naquele cargo, com muitos sapos engolidos e um largo sorriso no rosto. Ela via, ano após ano, suas colegas em ordem cronológica de promoção serem preteridas por rapazes apenas porque a chefe, também do sexo feminino, repetia incessantemente que tais mulheres eram marias-moles. “Eu não quero mulherada chorona na gestão. Vocês já menstruam todas juntas, não dá”, falava ela, voz engrossada, sensibilidade (e inteligência) já há muito desaparecida.
E a diretora-sócia de uma start-up de internet, que em uma reunião na presença de nove homens, prestes a assinar um contrato de venda de ações, teve de ouvir de um deles, um banqueiro, que ela “chamasse a mulherada para animar a festa”? A risada foi geral, mas o constrangimento somente dela.
As histórias não caberiam neste post. São muitas. E só começamos a falar de cargos de gerência para cima. O que dizer de encarregadas, assistentes, auxiliares que mal conseguem terminar seus supletivos, pagar suas faculdades, dar conta de buscar os filhos na vizinha, na creche, e batalhar muito para um ~futuro melhor~ nas empresas para as quais trabalham?
A missão é dada como quase impossível pelo próprio relatório do Fórum Econômico Mundial 2015, prevendo somente para o ano de 2095 a igualdade de gênero no mercado de trabalho em todo o mundo. Vamos lembrar dos tristes números?
60% = desigualdade de gênero em relação à participação econômica e oportunidades para mulheres
73,7% = quanto ganha uma mulher, em média, do salário pago aos homens
21 = posição do Brasil, dentre 22 países da América Latina, à frente apenas do Chile
Os problemas e obstáculos são muitos e diversos para cada perfil de mulher profissional. E é de forma construtiva que queremos transformar esse cenário criando o SomosMuchas, um site para avaliar anonimamente as empresas e melhorar o ambiente de trabalho para as mulheres. O projeto está no site de crowdfunding Benfeitoria, que funciona como uma vaquinha de investimento coletivo de projetos. E vamos conseguir transformar o sonho em realidade com você.
Ao criar uma plataforma para que as mulheres avaliem seus empregadores anonimamente, mostramos com transparência quais os critérios de avaliação para que as empresas possam melhorar para atender nossas necessidades e objetivos profissionais. É como já faz a consultoria Melhores Empresas Para Trabalhar, só que, aqui, as consultoras seremos nós, as mulheres trabalhadoras. Como uma espécie de TripAdvisor do ambiente de trabalho, vamos criar um ranking e mapear as políticas de desenvolvimento profissional das mulheres. Não é exatamente um Reclame Aqui: o exemplo é válido em um primeiro momento, mas o projeto é baseado em métricas de avaliação de gestão a partir de muita pesquisa de campo do que as profissionais mulheres sentem que as impedem de avançar em suas carreiras.
Todos os profissionais têm críticas construtivas para fazer em seus espaços de trabalho, mas nem todos os espaços de trabalho estão abertos a críticas. E isso sempre foi um grande obstáculo para o crescimento de todos -- empresas e empregados. É por isso que queremos muito melhorar o ambiente de trabalho. Mas queremos fazer isso para as mulheres. Por quê? Porque somos maioria na população brasileira e não somos maioria nos espaços de maior valor nas corporações. Somos poucas gerentes, poucas gestoras, poucas diretoras e quase nada diretoras e presidentes de empresas.
Há muitos estudos que mostram como as companhias se beneficiariam com mais mulheres em postos de liderança. E que quanto mais diversos forem esses espaços, melhor para todo mundo. Mas para que isso aconteça, precisamos superar o abismo que há entre a pesquisa e a realidade.
O projeto tem o compromisso de ser coletivo do começo ao fim. E para sair do papel, só com o seu investimento. Temos pouco tempo para arrecadação e o sistema é “tudo ou nada”, se não conseguirmos atingir a meta, todo o dinheiro será estornado para cada doador. Faltam ainda 90% para bater a meta total. Vamos juntas? É só entrar na página e fazer sua doação, leva menos de 5 minutinhos.
Dinheiro, dinheiro, dinheiro!!! A causa precisa!
ResponderExcluir1) fui até o site com a intenção de ajudar com uma modesta quantia, mas verifiquei que preciso fazer um cadastro completo (com nome, cpf, endereço e telefone). Por quê?
ResponderExcluirQuero faze a minha contribuição mas não quero expor meus dados pessoais, ainda que eles fiquem protegidos sob sigilo.
2) No que exatamente esses mais de R$ 18 mil reais serão utilizados? Li o texto mas não compreendi muito bem.
Alicia
Olá, pessoal. Evelin Fomin aqui. Vou responder às perguntas e aos comentários:
ResponderExcluir0) Anônimo: Sobre "a causa precisa de dinheiro". Precisa. Infelizmente. Pq pra nos dedicarmos à construção desse projeto, precisamos fazer uma troca: deixar de trabalhar em projetos do nosso ganha-pão e nos dedicar a este. E sem dinheiro não temos como pagar nossas contas. Nos cálculos, não há lucro! Apenas pagamento de sustento mesmo.
1) Alicia: O site do Benfeitoria é quem administra tudo. Ao colocar os seus dados lá, eles garantem a devolução (estorno) do dinheiro no caso de não atingirmos a meta, porque o sistema é do tipo tudo ou nada. Eu já fiz muitas doações para outros projetos e meus dados foram resguardados, me senti segura. Alicia, obrigada por pensar em contribuir!
2) Alicia: Os R$ 18 mil foram calculados na ponta do lápis para os seguintes pagamentos: 70% à programação e detalhes como SSL, hospedagem e domínio, 10% à gestão do projeto e conteúdo, 15% às recompensas (brindes) e 5% ao site do crowdfunding (Benfeitoria). Vamos prestar contas a todos de cada centavo gasto. Não há nenhum lucro envolvido.
Eu conheço uma ótima empresa.se chama LAR.
ResponderExcluirObrigada mas trabalhe nele vc
ExcluirOla Evelin, contribuição feita, sucesso na empreitada!!!
ResponderExcluirEntão, 15:51. Você cuida dessa empresa? Você se esforça para que essa empresa prospere, mantendo-a sempre operacional e realizando todos os serviços necessários para a sua manutenção? Ou você acha que te impede é ter um pênis no meio das pernas?
ResponderExcluirNão se esqueça que em seu lar, quem tem a OBRIGAÇÃO de trabalhar é você. E se você não quer, ao menos PAGUE DECENTEMENTE PELO SERVIÇO e firme o contrato conforme diz a CLT com quem quer que vá limpar a freada em sua cueca. Não se esqueça que a sua mãe não é a sua escrava.
Eu tenho vergonha de viver em um país que não respeita e desqualifica o grupo que mais possui qualificação profissional, as mulheres. Mas não podemos desistir.
ResponderExcluir"Eu conheço uma ótima empresa.se chama LAR."
ResponderExcluirNão, você não conhece. Pelo jeito, não conhece qualquer empresa e tampouco um lar, já que o lar não é em nada comparável a uma empresa, nem mesmo como metáfora. Mas, né, é homem e um dos muitos incapazes de formarem um lar e também incapazes de abrir e manter uma empresa. De homem incompetente o mundo tá cheio até a tampa.
21:37, mas a dilma abriu uma empresa de 1,99 e conseguiu leva-la a falencia.
ResponderExcluirSou capitão do exército.
ResponderExcluirNão posso reclamar de salário, promoções, oportunidades de cursos, etc... É tudo muito bem amarrado, e realmente no ponto que estou, não existe diferença pelo fato de eu ser mulher (acredito que quando eu chegar perto de uma possível promoção a general, vá sentir isso).
Mas que é um nojo e totalmente desestimulante trabalhar cercada de 95% bolsominions... Tem dias (muitos) que penso seriamente em pedir demissão e procurar outro emprego... (sou engenheira)
Esse texto é um dos que exemplificam que uma mulher chegar a uma posição de poder não implica necessariamente que a empresa ou país que ela dirige se tornará um lugar mais justo em questão de gênero ou raça. Ao contrário do que os homens pensam, nem toda mulher (infelizmente) é feminista ou tem o mínimo de empatia nas causas de gênero.
ResponderExcluirAproveito o gancho para pedir um post, se fosse possível, Lola. Os últimos casos de pais de família desesperados que mataram suas famílias pois não conseguiram manter o padrão de vida.
Os coxas, como sempre com sua visão superficial e conveniente dos fatos, já estão com a velha falácia de que é tudo culpa da Dilma. Mas pessoas com bom senso estão promovendo discussões muito bacanas a respeito do fato.
Primeiro que tem a questão de saúde mental no trabalho. Essa pressão por bater metas, não só na empresa como na vida. O sujeito é bombardeado o tempo inteiro com essa nova geração de gurus empreendedores de auto ajuda, com listinhas do que fazer antes dos 30. Com 30 cê tem que tá formado, pós-graduado, 500 mil no banco, viajado por N países, caso contrário você é um fracassado. Ou então largar tudo e abrir a sua foodtruck, você não é feliz no escritório, seu escravo do capitalismo. Qualquer queda na renda é demais, você é um analista que não pode ser tão dispensável quanto a faxineira. Coisas como essas gerando frustração, inadequação.
Tem um recorte de gênero: já vi homens debatendo suas masculinidades, a necessidade de ter que ser o provedor da casa sob a ameaça de ser fracassado e como essas masculinidades estão sendo tóxicas para eles. A mulher, neste quesito, me parece estar muito mais preparada para as adversidades da família. Aprendemos a nos virar: vende Avon, faz faxina, faz marmita, bolo pra vender, algumas até se prostituem. Nada mais necessário, afinal somos nós que constantemente somos abandonadas pelos homens.
Capitã,
ResponderExcluirNão imagino o que você passa. Mas observo por aí sob muitas formas. Todas passamos por isso. Mas se tem uma coisa que me dá força pra continuar é que recuar e baixar a cabeça nunca resolveu nada. Nós mulheres precisamos conquistar dentro de nós forças para enfrentar adversidades. Conquistar nossa liberdade, ainda que ela não apareça. Lembro de Primo Levi
«...exactamente porque o Lager (campo de concentração) é uma grande máquina de nos reduzir a animais, nós não devemos tornar-nos animais.» Manter o último limite, o espírito livre, é necessário, por você mesma e por todas nós. A cada mulher que vejo resistir eu resisto também. Força pra vc.
Carla
TÁ CHEGANDO A HORA! TÁ CHEGANDO A HORA! UM NOVO BRASIL ESTÁ NASCENDO!
ResponderExcluirEu postei aqui antes umas continhas mostrando que esses 18 mil estão bastante maldistribuídos, pra dizer o mínimo, mas aparentemente não foi possível aprovar o comentário.
ResponderExcluirPodem vomitar a vontade Reaças.
ResponderExcluirPois é, ela saiu? Então vão lá comemorar com Cunha Renan e Sarney.
Vamos resistir e continuar sempre. E apoiando projetos como o da Evelin, por mais que vcs odeiem com perseguições, desqualificações e mentiras, quem apenas quer ser livre e respeitada.
11:34 para quem eu devo reclamar se amanhã o Brasil não virar a próxima Dinamarca?
ResponderExcluir"11:34 para quem eu devo reclamar se amanhã o Brasil não virar a próxima Dinamarca?"
ResponderExcluirReclama pra sua mãe.KKKKKKKKKKKK
Peço um pouco de respeito a essa senhora, que faz parte da vida de todos nós, vcs fazem brincadeiras maldosas. Lembrando que ela é mãe de família tbm. Estamos com vc Fátima Bernardes!!!
ResponderExcluir18:56
ResponderExcluiré o melhor que vc pode fazer? kkkkkkkkkk
Amanheceu e o Brasil não virou a Dinamarca que seus políticos prometeram. Ops! Pelo nível do comentário, você não tem título de eleitor né? é natural mesmo que não saiba o que é democracia.