PRA QUEM NÃO ACEITA UM CASAL APAIXONADO

Reveillon aqui em casa, anteontem

Segundo dia do ano e tenho um montão de coisas pra fazer, até porque as aulas recomeçam na segunda!

55chan comemorando o "false flag"

E já estou meio cansada porque, nos últimos dias, os misóginos lançaram uma campanha de "feminismo animal" (falando bobagens como "só castrem os animais machos") pra difamar feminismo, uma página no FB pregando a legalização do estupro (que já foi retirada do ar), e outra (mais uma do Marcelo) com os ódios de sempre contra as mulheres (guia de estupro etc). Não será um 2016 muito bacana se todo santo dia tivermos que gastar tempo e energia denunciando sites de ódio. 

Mas este post não será sobre nada disso (e é um post bem chinfrim, mas é o melhor que posso fazer por hoje, porque preciso entregar um artigo). É que tem um mascutroll que passou o ano de 2015 inteiro com uma teoria mirabolante que mulher feia gosta de homem bonito ou sei lá o quê (e que ninguém, nem mesmo os mascus, levam a sério). 

Eu deleto os comentários insanos dele e ele diz que vai se vingar acabando com a autoestima de uma ou mais vizinhas dele. Eu só consigo imaginar... As vizinhas nem sabem que ele existe ou o acham um psicopata mala, e ele acha que elas estão a fim dele. Quer dizer, isso se as vizinhas existirem. 

Daí, pra "provar" sua teoria, o mascu se revolta porque, segundo ele, meu marido Silvio (que ele não conhece) não deveria estar casado comigo (que ele também não conhece). Enfim, é tanta loucura e babaquice que nem dá pra começar a responder. 

O que me surpreende é como mascu mede os outros pela sua régua. Pra eles, mulher é tudo interesseira ("utilitarista", como preferem dizer); logo, só se aproxima de algum homem por dinheiro. Se mascus acham uma mulher feia, então a mulher tem que ser feia pra todo o mundo (e, acreditem, já vi bandos de mascus dizendo em fórum como a Angelina Jolie é horrenda). E, se uma mulher é feia, morrerá sozinha ou na companhia de gatos (que é tipo um milhão de vezes melhor que a companhia de um mascu).

É interessante porque eles não têm como explicar o meu relacionamento com o Silvinho -- um lindo relacionamento que já dura 25 anos e meio -- sem chamar o Silvio de derrotado. Ou dizer que ELE é interesseiro, que eu o sustento, sei lá o quê.

Antes do reveillon, apareceram alguns comentaristas anônimxs pra me defender, ou para defender o Silvio, mas cometeram uns errinhos: primeiro, xadrez não é um hobby pro Silvio. É a sua profissão. Ele vive disso desde os 13 anos de idade. É muito difícil viver só jogando xadrez no Brasil (e em outros lugares também), então ele também dá aulas de xadrez. É um excelente professor, um dos melhores do Brasil. 

Sei lá, o conceito de "fracasso" dos mascus é meio estranho: Silvio é um ótimo professor, um ótimo jogador, vive do que ama fazer, que é jogar e lecionar xadrez. E, de lambuja, ainda conheceu a mulher de sua vida (euzinha!) jogando xadrez.

Outra coisa: Silvinho ganha menos que eu AGORA, ou melhor, desde que eu passei a ser professora universitária, que foi em 2010. Até lá, durante todos os nossos anos juntos, eu e ele sempre ganhamos bem parecido. Um ano ele ganhava mais, outro eu ganhava mais, mas era sempre uma diferença pequena. Se colocar na ponta do lápis o salário de um e de outro durante nossos primeiros 20 anos juntos, dá o mesmo. 

Mas é óbvio ululante que professor universitário ganha mais que outros professores, e não existe mestrado ou doutorado em xadrez. Por isso eu ganho mais hoje, e vou ganhar mais até o fim da vida, inclusive na nossa aposentadoria. O que não é problema algum pra gente. Pelo contrário, gente que se ama fica feliz quando a outra pessoa ganha bem. E uma esposa ganhar mais que o marido não deveria ser pra ninguém: quando vão tirar essa ideia absurda da cabeça de que o homem precisa ser o provedor, o "chefe da família"? Na nossa situação igualitária, não existe chefe.

Dinheiro nunca foi um problema pro Silvinho ou pra mim, porque pensamos igual. Somos pão duros, quer dizer, economicamente responsáveis. Gastamos pouco, não temos sonhos de consumo, temos tudo que queremos. Nunca brigamos por dinheiro. Sei que dinheiro é uma das principais fontes de briga dos casais. E é uma maravilha não temos este problema.

Parece que poucas coisas doem mais pra mascus do que ver uma feminista (que pra eles só pode ser lésbica), ainda mais uma gorda (que pra eles deveria morrer sozinha), num relacionamento feliz e duradouro com um homem tão incrível como o Silvio (e por isso a vontade dos mascus de destruírem o maridão).

Acabei de ler um livro agora, As Vantagens de Ser Invisível (The Perks of Being a Wallflower). Meus aluninhos me convenceram a ler o romance epistolar, até me emprestaram o livro, então não pude recusar. Gostei, muito fofinho, cheio de observações que fazem pensar (e que o filme, que vi depois, não capta, se bem que adorei esta cena). 

Antes da metade do livro, o narrador diz algo que concordo muito: quando a gente está feliz e vê um casal apaixonado, a gente fica feliz por eles. Quando a gente está mal e vê um casal apaixonado, a gente fica triste, sente inveja, sente raiva deles.

Eu fico muito feliz ao ver um casal apaixonado. E por "casal" eu obviamente quero dizer qualquer par, inclusive de pessoas do mesmo sexo. Só quem está de mal com a vida pra ficar com raiva de gente expressando amor e carinho.

Silvinho e eu somos um casal apaixonado, do tipo que anda de mãos dadas e se beija em público, diz "eu te amo". É muito bom se apaixonar. Pena que alguns estejam tão consumidos pelo ódio que não se permitem sequer tentar.