GUEST POST: VOCÊ NOS INSPIRA

Em tempos de ameaças e ataques na internet, receber um email desses é duchas corona um banho de alegria num mundo de água quente:

"Bom dia, Lola

Fazendo uma análise de meus quase 40 anos de vida, percebo que eu já nasci feminista. Sem dúvida, porém, seu blog vem dando muita consistência ao meu feminismo.

Minha filha de 15 anos se juntou com algumas colegas e ela vinham insistindo com a escola para que realizassem uma sessão de palestras sobre o feminismo. Hoje finalmente elas conseguiram e um delicioso grupo formado por 4 moças e um rapaz apresentará hoje, no Colégio Sion do Rio de Janeiro, um circuito de 5 palestras sobre o feminismo, destinada a todos os alunos do ensino médio e ao 9º ano do Ensino Fundamental.

Estou orgulhosa porque minha filha faz parte desse grupo, cabendo a ela falar sobre 'A Origem Histórica do Machismo na Sociedade'.

Copio abaixo o discurso que ela elaborou, usando seu blog como suporte.

Beijos e obrigada, você nos inspira!

Bianca"

E eis o texto de Maria Heloisa, 15 anos, filha da Bianca:

Ninguém nasce mulher, torna-se mulher. Simone de Beauvoir deu um nó na cabeça de muita gente no ENEM deste ano. Escolhi começar explicando de forma bem sucinta essa frase e acabei por achar uma boa explanação na internet. Isso porque entendo que ela é relevante para o tema. A frase diz respeito ao papel social de cada indivíduo construído historicamente dentro de cada sociedade.

A despeito dos movimentos sociais que vemos fervilhar, a sociedade ocidental capitalista ainda é fortemente marcada por uma cultura machista, intimamente ligada à influência e aos ideais judaico-cristãos, que associam a mulher ao pecado e a corrupção do homem. Afinal, Eva surgiu da costela de Adão, é a metáfora do homem dando origem à mulher. É o homem como o principal e a mulher como acessório, com sua existência subordinada ao principal.

"O homem não deve cobrir a cabeça, visto que ele é a imagem e a glória de deus, mas a mulher é a glória do homem; além disso o homem não foi criado por causa  da mulher, mas a mulher por causa do homem". Coríntios, 14:34-35

A relação homem-mulher está historicamente marcada por ideias que tomam a mulher por inferior, menos importante e que deve se submeter à vontade do homem. A mulher é sempre retratada como mãe e cuidadora do lar. Os comerciais propõem a manutenção deste modelo

O masculino é o padrão a ser seguido, renegando a mulher o mais insignificante dos papéis. Para Beauvoir, tudo seria condenado ou absolvido a partir de um ponto de vista masculino.

Feministas de hoje não escapam do machismo tão profundamente entranhado na nossa sociedade. A misoginia é cultivada dentro de nós desde o nascimento.

É fácil perceber pela simples análise de filmes da Disney que crescemos acompanhando, por exemplo, como Branca de Neve, Cinderela e Bela adormecida, todas retratando uma mocinha submissa, uma vilã mulher competindo com a mocinha e um homem bonito e rico como salvador. A Pequena Sereia muda drasticamente sua aparência para conquistar um homem, mesmo que isso lhe custe algo muito caro, para conquistar o mesmo príncipe padrão Disney e com a mesma vilã invejosa.

Quebrar esses paradigmas é um processo diário e doloroso, que requer atenção e vontade. Repetir estereótipos como "prefiro meninos", "meninas não são confiáveis", "fulana é gorda ou feia", é jogar o jogo imposto pela sociedade patriarcal que nos coloca umas contra as outras, nos enfraquecendo. É machista.

Digo às meninas que não se identificam com a luta: vocês não são obrigadas a serem feministas, mas têm a obrigação moral de não atrapalhar a luta, pois foi ela que lhes garantiu o direito de escolher seu namorado, andar desacompanhada na rua, ir à praia de biquíni e até as calças que vestem.