Ano passado publiquei um guest post do Coletivo Feminista Pagu Baixada Santista sobre o tema, e agora publico este do Coletivo Tarifa Zero.
Quando se propõe tarifa zero, pensa-se a partir de uma perspectiva de direito à cidade. Enquanto sujeitos que a reconstroem cotidianamente, devemos ter pleno acesso a ela, a seus locais de cultura, lazer, estudos. Até para nos organizarmos politicamente necessitamos deste acesso.
Por conta da mercantilização do transporte público, este direito à cidade só é dado plenamente a quem possui transporte próprio (ainda que estes tenham que enfrentar longos engarrafamentos e trânsito lento, resultado direto do foco de investimento do poder público no transporte individual, ao invés do transporte público). Usuárixs do transporte público, que são sobretudo da classe trabalhadora, têm acesso restrito à cidade, principalmente pelo deslocar-se estar atrelado ao ter ou não dinheiro.
Por conta da mercantilização do transporte público, este direito à cidade só é dado plenamente a quem possui transporte próprio (ainda que estes tenham que enfrentar longos engarrafamentos e trânsito lento, resultado direto do foco de investimento do poder público no transporte individual, ao invés do transporte público). Usuárixs do transporte público, que são sobretudo da classe trabalhadora, têm acesso restrito à cidade, principalmente pelo deslocar-se estar atrelado ao ter ou não dinheiro.
A catraca é um impedimento ao direito à cidade, uma vez que ela seleciona quem pode ou não pode locomover-se. A catraca, portanto, é um símbolo que representa tudo aquilo que impede nosso acesso: a tarifa, a superlotação, os atrasos dos ônibus, as más condições, enfim, tudo que se relaciona com a lógica mercantil do transporte público.
Embora todos os usuárixs sofrem com a péssima qualidade, com a tarifa e outras catracas que limitam nosso direito à cidade, a vivência, demandas e prioridades possuem particularidades, pois não falamos de indivíduos abstratos e sim de indivíduos que pertencem a uma classe, gênero, cor, entre outras questões. De forma que às vezes os mesmos problemas são enfrentados de formas diferentes, tendo consequências distintas.
Analisando a questão do transporte a partir do recorte de gênero, têm-se uma realidade histórica em que o direito à cidade é negado às mulheres. Seu papel é reduzido ao âmbito privado, ao lar, enquanto o âmbito público, é encarado como lugar legítimo dos homens. Mesmo com os avanços resultantes de muita luta, principalmente do movimento feminista, esta questão ainda não se alterou de forma significativa, pois até hoje entende-se que há locais e horários em que as mulheres não devem circular, sendo que, caso aconteça algo, como um estupro, coloca-se a responsabilidade na mulher. Logo:
“Se aventurar na rua, sob o ponto de vista feminino é desobedecer a avisos, se arriscar a enfrentar situações para as quais foram diversas vezes alertadas, lidar com ameaças, com o medo (mais uma vez o medo). (…) Entre essas consequências e regras de se andar em territórios alheios, que variam em intensidade e formas, uma das mais comumente enfrentada são as 'cantadas', que compõem o que chamo aqui de assédio de rua. Este tipo de assédio é peça chave na constante lembrança do não pertencimento feminino à rua de forma que, nos espaços públicos, elas são, ao mesmo tempo, invisibilizadas enquanto sujeito e hipervisibilizadas enquanto objeto".
Esta objetificação se dá por meio do entendimento que o corpo da mulher quando presente em um espaço público, também se torna público. É dado o direito, principalmente aos homens, de observá-lo, de apalpá-lo e em casos mais extremos, de se apropriar dele, como é o caso do estupro. Isso é tão naturalizado, que recorrentemente, responsabiliza-se a mulher por tais casos, fala-se de suas vestimentas, do horário em que estava na rua, de provocação por parte dela e até admite-se que ela gostou do abuso. Essa situação cria uma atmosfera de medo e insegurança, levando a própria mulher a limitar sua mobilidade pela cidade, principalmente à noite.
Assim, quando se tem uma frota muito baixa em horários noturnos, pontos distantes uns dos outros, pontos em locais mal iluminados, questões que, além de causar incômodo, cansaço, medo de assalto, para a mulher causam, principalmente, medo de ter seu corpo violado. Mesmo que nada aconteça, os minutos de caminhada, as horas de espera, constituem-se em momentos de angústia, o que se agrava quando os ônibus não circulam de madrugada, como é o caso em Goiânia, em que os ônibus param à meia noite, exceto o eixo, que passa em certas regiões, de uma em uma hora. E se a usuária perder o último ônibus para ir para casa? Só de pensar nessa possibilidade já se cria uma situação de pânico. Tais situações de intensa angústia causam desestímulo, por vezes fazendo com que a mulher deixe de sair de casa por conta do medo.
A superlotação, que é uma realidade em todas as cidades, cria uma situação extremamente desconfortante, por conta do calor, do mau-cheiro, da falta de mobilidade, do aperto, e ainda cria um agravante para a mulher: o abuso. Infelizmente, são comuns os relatos de homens que se aproveitam desta lastimável situação para se esfregarem nas mulheres, para encoxá-las e mesmo para apalpar seus corpos.
Esta situação é tão banalizada e naturalizada, que um famoso quadro humorístico da televisão reproduz estas situações, afirmando que as mulheres deveriam apreciar tais violências. Mas se a superlotação é um problema, o transporte vazio não é menos intimidador, pois dá maior liberdade de exposição ao agressor. São frequentes os relatos de homens se masturbando ou sentando próximos às mulheres para tocá-las. A situação chegou a tal ponto, que os próprios agressores abrem páginas para compartilhar suas agressões dentro do transporte público.
Outro entrave nessa intensa luta pelo direito à cidade é a tarifa. A tarifa é um problema para todxs, pois é o símbolo máximo da mercantilização do transporte, em prol dos lucros milionários das empresas, em que os usuárixs não possuem nenhuma forma de controle do transporte público. O ter ou não dinheiro torna-se imperativo para poder locomover-se. Se este é um problema para todxs, para as mulheres a questão se torna ainda mais problemática, pois, devido à desigualdade de gênero, pelo simples fato de ser mulher, ganha-se um salário menor, nas mesmas condições de trabalho.
As mulheres recebem apenas 73,7%. do salário do homem, sendo que 33% delas recebem até um salário mínimo, com média mensal de R$ 1.238, enquanto a média do salário dos homens é de R$ 1.698. 9% das mulheres são empregadas sem remuneração, somente com benefícios, enquanto 4,9% dos homens trabalham em tais condições. O dinheiro gasto com a tarifa leva embora uma fatia mais significativa do salário da mulher, impedindo ou ao menos restringindo sua mobilidade, ou seja, seu direito à cidade.
Além do salário menor, os afazeres domésticos também são delegados à mulher: quase 90% das mulheres que trabalham fora também cuidam da casa, contra 46% dos homens na mesma situação, sendo que enquanto eles gastam em média 9,2 horas por semana, elas comprometem 20,9 horas semanais, isto é, a carga horária feminina de afazeres domésticos equivale a ter um segundo emprego de meio período sem receber nada.
Tal realidade cria uma situação de desgaste e cansaço mais intenso para a mulher. Desta forma as situações já deploráveis do transporte, como o longo tempo de espera, a competição para conseguir entrar nos ônibus, o tempo perdido nas rotas deliberadamente longas para possibilitar a superlotação, são sentidas por boa parte das mulheres como ainda mais desgastantes, pois boa parte do seu dia é gasto com trabalho, fora e dentro de casa.
O ter filhx(s) contribui para a utilização maior do transporte público, pois é necessário ir aos locais junto a eles, ônus que recai sobre a mulher. Quando os filhos ficam doentes são as mães que cuidam, em 90% dos casos, em oposição a 15% dos pais; 89% delas levam os filhos ao médico ou dentista em contraposição a 22% dos pais; 78% delas vão a reuniões na escola, em oposição a 21% dos pais.
Sendo assim, o transporte público se torna um fardo ainda maior para a mulher, que não somente tem que lidar com esta situação sozinha, como também tem de acompanhar os filhos. Se pensarmos em uma mãe solteira, que tem que bancar tais deslocamentos, seu e do(s) filho(s), a situação se torna mais preocupante ainda, pois como exposto, a situação econômica da mulher é mais precária.
Os problemas agravados pelo fato de ser mulher no transporte -– e fora dele -– são muitos, e são de ordem econômica, sexual, de trabalho. Abordamos aqui a questão da mulher, de forma geral, mas também caberia a questão dos negros, das pessoas trans, dos deficientes, dos idosos, das pessoas com problemas mentais, e tantas outras vítimas da mercantilização do transporte público. Esperamos que este texto contribua para o debate sobre a relação da mulher e do transporte público.
A luta pelo transporte é também a luta por melhores condições para a mulher, assim como a luta da mulher é também a luta por outra lógica de transporte público. Somente caminhando juntxs, entendendo a totalidade que enfrentamos enquanto usuárixs do transporte, mas sem negar as particularidades deste enfrentamento, é que avançaremos efetivamente na luta não só por um modelo de transporte diferente, mas também por outro projeto de sociedade.
Pelo fim da catraca do machismo!
Pelo direito à cidade a todas e todos!
Beleza, mas já avisaram para os cobradores de ônibus que eles vão ficar desempregados?
ResponderExcluirSim, porque se o passe e livre para que cobrador? somente na grande SP são quase 30 mil.
Este e o socialismo, distribuindo misérias por igual há quase 200 anos.
Não seria melhor lutarmos por menos impostos na folha de pagamento dos funcionários, e nos combustíveis, e que esse valor fosse repassado ao passageiro, com preço de passagem mais acessível?!
Ate porque passe livre só beneficiaria mesmo aqueles que dormem ate meio dia, e passam a tarde fumando maconha, quem trabalha de verdade tem a maior parte da passagem custeada pelas empresas.
Vai ser lindo, o dia inteiro os ônibus cheios de noia e vagabundo para baixo e para cima, sem contar que vamos rodar em ônibus de 45/50 anos como em Cuba.
Se duvidam, e acreditam na 'boa gestão do estado" para isto, basta olhar a saúde, segurança, escolas publicas etc..
Quanto a tarados incomodando dentro de ônibus e metrô, que seja cobrado o uso de câmeras de segurança, e que eles sejam flagrados e presos, e não assinem um termo e vão para casa como é hoje.
parem de enxugar gelo
E assim que os socialistas cooptam os encostados para as eleições, oferecendo transporte de graça, gás de graça, luz de graça, tudo de graça.
ResponderExcluirE principalmente mulher, mulher adora coisa de graça, desde que um burro de carga chamado homem, trabalhe feito um camelo, e mais da metade dos seus ganhos, sejam taxados pelo governo, dai fica mole manter um mundo feminista do almoço gratis.
São como as moradores de comunidades aqui no Rio, não sei quanto a São Paulo....
Mas aqui no Rio os moradores de favelas tem uma maldade absurda. ...Eles odeiam qualquer coisa que seja oriunda do mundo normal. ...
Eles não querem pagar contas de luz....de água.....Eles não querem a Polícia....Eles não querem que o carteiro vá entregar as cartas nas residências (os carteiros entregam tudo na associação de moradores)...Eles aceitam com alegria um caminhão de carga roubada que entra na favela. ....ainda mais de for de cerveja que eh destruída de graça aos moradores....Assim como os caminhões de gás e lacticínios que são também distribuídos na comunidade.....
E os moradores querem o fim disso NÃO. ....Eles se importam de o motorista do caminhão morreu no ato do roubo? NÃO. ...
E todos adora e fazem de graça e juntamente com uma molecada que adora vagabundos um algazarra danada quando um traficante ídolo da favela eh morto pela PM. E o problema eh que a imprensa apóia essas ações e o governador fraco e medroso se resume a fazer um discurso condenando logo de cara os PMs e ainda recebe os familiares no Palácio Guanabara.....pra pedir DESCULPAS!!!!!! Você já viu algum família de policial morto lá no palácio Guanabara recebendo as mesmas honrarias??..
Não sei do que vocês reclamam tanto
ResponderExcluirSegundo uma fransfeminista disse no face, mulher cis só corre risco de violência de noite
Enquanto trans sofrem o tempo todo
Logo, basta nos trancarmos de noite em casa e dominarmos a rua de dia
São sérios esses comentários? Pq euri.
ResponderExcluirEu estava calculando e gasto cerca de 20 horas por semana com serviço doméstico. Eu poderia estar trabalhando essas 20 horas e ganhando mais dinheiro...se fosse homem. Meu pai não faz NADA, NADA! Minha mãe passa mais tempo do que eu nesses serviços, se ganhasse pra isso estaria rica.
ResponderExcluirPessoas retardadas de extrema direita que só se preocupam com o bem estar da família tradicional e o capitalismo vão se ferrar e caiam fora daqui!
ResponderExcluirCara.vcs devem pensar em estupro 24 horas por dia!
ResponderExcluirPq eu ando de onibus,ja voltei de madrugada do trabalho e n sinto angústia nenhuma.
Tb acho que o transporte deveria ser de graça,cobram uma fortuna para um serviço de merda.
E os homens acham que são os fodões que trabalham muito... Chegam em casa e ficam com cu pro alto fazendo nada,enquanto a mulher tem que dar conta da casa sozinha. E já vi babaca q ainda reclama que a mulher n tem tempo pra ele,se deixasse de ser inútil e fizesse sua parte,sobraria tempo.
Fato. Eu já deixei de pegar matérias noturnas, algumas delas terminam perto das 22h. Se já é ruim para pegar ônibus de dia, o que dirá de noite.
ResponderExcluirLola, queria muito um post seu sobre a Marcha da família...
ResponderExcluir'E principalmente mulher, mulher adora coisa de graça, desde que um burro de carga chamado homem, trabalhe feito um camelo, e mais da metade dos seus ganhos, sejam taxados pelo governo, dai fica mole manter um mundo feminista do almoço gratis.'
ResponderExcluirSei. E homem não? Minha nossa, você é muito burro! O ser humano gosta de coisas de graça! Pelo seu comentário, já vi que é um machista de merda. Então lá vai: Reclama, reclama mas defende com unhas e garras que mulher tem que ficar em casa. Além disso, a maioria dos homens NÃO cuidam dos filhos e nem da casa, são uns inúteis que só sabem ficar de bunda pro alto enquanto a mulher trabalha na casa E muitas vezes, fora também!
Antes que venham pedradas, sim, eu sei, tem muito homem que ajuda com tudo isso, mas infelizmente, poucos.
"Cara.vcs devem pensar em estupro 24 horas por dia!
ResponderExcluirPq eu ando de onibus,ja voltei de madrugada do trabalho e n sinto angústia nenhuma."
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Beleza, campeã (se é que você não é um fake mascu). Se nunca aconteceu com você então não existe. Parabéns pela incrível e Genial contribuição. O nível dos comentários tá triste...
Sim Luana. Quem já foi estuprada pensa sim em estupro 24 horas por dia. Vc é uma sortuda. Quando um cara senta do meu lado em um banco de praça, de ônibus ou lanchonete eu levanto e saio de perto. Pq ele pode até ser honesto. Mas eu não sei neh? Estupradores não vem com etiqueta.
ResponderExcluirEu moro em uma cidade pequena no interior de Santa Catarina, e penso que tenho muita sorte. Eu nunca fui encoxada em transporte público, e nem ouvi que alguém passou por isso. Não que isso não exista aqui, mas é bem menos frequente que em uma cidade grande. Como a cidade tem menos de 70 mil habitantes temos menos problemas sociais.
ResponderExcluirMas estupros, violência doméstica, pedreiros com "elogios" idiotas, isso só muda de endereço.
É fácil falar que estamos exagerando quando a pessoa nunca passou por isso. Como eu disse antes, onde eu moro isso não é frequente, mas eu entendo que não é pq comigo não acontece que isso não exista.
ResponderExcluirDepois que roubaram meu celular na frente da faculdade eu acho que qualquer sujeito meio mal encarado vai me roubar. Na semana em que aconteceu eu fiquei quase paranoica com isso. Demoraram meses para eu voltar ao normal. Eu ficava maluca quando a minha irmã ficava mexendo no celular no meio da rua, achava que iriam roubar ela tbm.E ela dizia que eu estava exagerando.
Só quem já passou ou viu esses abusos no ônibus realmente entende. Eu quem teve a sorte de não passar por isso ( sorte mesmo, esses caras podem estar em qualquer lugar e ninguém está salva deles), por favor entenda que existem muitas vidas além da sua.
"pedreiros com elogios idiotas"
ResponderExcluirEu nunca ouvi ninguém criticar o engenheiro BMW com elogios idiotas.
Porquê?
césar seu comentário é que foi genial,eu disse que n ando aterrorizada na rua e dai sabe lá como,vc conclui que eu penso que estupros n existem,genial mesmo...
ResponderExcluirsem falar do argumento batido pra quem pensa diferente "mimimi é mascu"
ravenclaw
eu não fui estuprada mas já fui assaltada,o que nem deve chegar perto do terror de um estupro mas o que eu quis dizer,é que eu não posso sair na rua todo dia achando que vão me assaltar de novo,me estuprar,me sequestrar...
desse jeito n tem como n ficar aterrorizada,prefiro pensar sempre o melhor,senão ,eu nem conseguiria por a cara na rua.
e eu já percebi que muitas mulheres aqui,até as que n sofreram nada, parece que só pensam nisso,realmente saem na rua angustiadas,isso n é vida.
"Eu nunca ouvi ninguém criticar o engenheiro BMW com elogios idiotas.
ResponderExcluirPorquê?"
Eu mando tomar no cu da mesma forma. Estupidez se responde com estupidez, não discrimino ninguém.
Agora, isso tá me cheirando é a recalque de mascu que não pega nem resfriado e vem com essa de "mimimi mulheres são todas interesseiras, só pq não tenho carro (ou não tenho um bom carro) não pego nenhuma" ou "mimimi, mulher gosta é de dinheiro" ou pior: "mimimi, tudo bem ser abusada quando o cara é rico, né?"
Você provavelmente não pega ninguém porque é um tremendo babaca como demonstrou no seu comentário. Não respeita mulheres, não respeita ninguém.
Vá se ferrar.
Thalita.
Luana,
ResponderExcluirAcho (pois não te conheço) que falta sensibilidade e empatia a você. Pelo o que escreveu, mereceu todos os comentários que foram a você direcionados.
Pense mais antes de abrir a boca ou usar o teclado.
Thalita.
Pense o que quiser talita
ResponderExcluirluana
Luana (último comentário, juro):
ResponderExcluirAcho que quem precisa pensar mais é você. Continue com a sua boa sorte.
Thalita.
Por que meu comentário sobre a não-gratuidade do transporte deixou de ser aprovado?
ResponderExcluirAhh gente,não sei, sobre essa questão do estupro, etc, eu gosto daquela famosa frase da Sojourner Truth: "Se as mulheres querem mais direitos, pq elas não os tomam ao invés de falar sobre eles?" pode soar anti social mas será que o mundo que a gnte vive já não é anti social ? rs..
ResponderExcluirHá muitos temas colocados no post, e apesar de concordar com a essência do discurso feminista nele contido, não concordo com a ideia de passe livre, tampouco vejo como isso possa ter relação nem mesmo indireta com o processo de emancipação feminina.
ResponderExcluirAntes de mais nada, não sou um liberal, defendo o Estado de Bem Estar Social, gosto bastante do Bolsa Família, além apoiar ações afirmativas, e é justamente por esse viés que me parecem tão incoerentes tanto o passe livre quando a carteira de estudante.
1. Por que a carteira de estudante deveria ser extinta?
Porque beneficia quem não precisa. Estudei em uma faculdade pública em que 90% dos estudantes não-cotistas tinham plenas condições de pagar seus 100,00 a 150,00 de passagens por mês sem que isso pesasse minimamente na renda da família. Já pra quem ganha salário mínimo, 150,00 a menos representa menos comida na mesa. Verba pública possui um limite, não faz sentido beneficiar pessoas que não precisam, enquanto ainda há escassez de recursos para aqueles que precisam (ou má aplicação, como nesse caso).
O ideal seria que as carteiras de estudante (tanto para passagens como para eventos culturais e futebol) fossem válidas apenas para estudantes de baixa renda, ou mesmo para toda a família de baixa renda (atrelada ao cadastro único). Teríamos mais uma forma simples e efetiva de distribuir renda e diminuir desigualdades.
2. Porque o passe livre é uma péssima ideia?
O primeiro aspecto negativo é novamente o benefício para quem não precisa. Esse ponto novamente é essencial pois mantém desigualdades, por elevar os ganhos não apenas de quem está em baixo, e porque redireciona o escasso dinheiro público direcionado à distribuição de renda.
E não adianta argumentarem que classe média não pega ônibus. Há os universitários de classe alta, que em sua maioria pegam ônibus até saírem da universidade, e muitas vezes começam a utilizar já durante o colégio. E há de se dizer também que quem realmente não pega ônibus são as classes A e B, pois aqueles que ganham entre de 2.000,00 e 3.000,00 por mês, por exemplo, não são A/B, mas pegam ônibus. A questão é que esse grupo tem condições de pagar pela passagem, coisa que quem ganha até 2 salários mínimos não tem. E assim como quem ganha 2.500,00 não deve receber bolsa família, o foco da passagem e shows baratos deveria ser para quem está em uma realidade ainda mais desigual.
O segundo aspecto é mais pratico mesmo. Passe livre geraria uma caos nas cidades grandes:
-uso excessivo de ônibus em trajetos muito pequenos, gerando gastos desnecessários e sedentarismo;
-inchaço dos centros das cidades;
-morte dos comércios de bairro;
-superlotação de linhas em determinados bairros para serviços que poderiam ser atendidos no bairro de origem;
entre outros.
Vários desses problemas já são percebidos e debatidos pelos que acompanham as discussões acerca de planejamento urbano, justamente pelo uso excessivo do carro na atualidade.
Sou totalmente a favor de faixas exclusivas para ônibus, aliás mesmo os lugares que as adotam no Brasil o fazem forma tímida, reservando a minoria das faixas, quando o ideal seria que ao menos a metade de TODAS as avenidas de grandes cidades fossem de faixas exclusivas. Além é claro de metrô, ideal para grandes distâncias, pois não enfrenta semáforos e permite maiores velocidades.
Quanto às restrições de deslocamento que atingem a população de baixa renda, mais uma vez, há soluções que nem cometem o erro de de beneficiar quem não precisa, nem tampouco fomentam o fluxo desordenada no uso das cidades. Por exemplo, pessoas inscritas no cadastro único, poderiam ter direito a 20 passagens por mês, gratuitamente, fora as aproximadamente 50 que já tiver direito devido ao trabalho, e caso não possua vínculo empregatício, receberia algo em torno de 80 passagens por mês. Valores que permitem que a pessoa tenha livre acesso à cidade, mas que faça uso consciente do recurso público.
Estudante paga meia porque é meia pessoa?
ResponderExcluirÉ porque não tem dinheiro? Então pobre devia pagar meia também. O critério sempre deveria ser sócio-econômico. O que não falta é filhinho de papai usando o meio ingresso para shows super culturais como do Metallica, por exemplo.
Sou contra o passe livre, exceto em situações especialíssimas e sempre atentando ao critério sócio-econômico. Mas com limites, senão vagabundo se encosta mesmo e não vai pra frente.
Fora que não existe nada realmente grátis, alguém sempre vai pagar.
Luana, como eu fqlei vc é Puta sortuda. Pq (já que vc falou de) tb fui assalatada e pow, hoje em dia nunquinha que saio com meu esmartefone na mão. Do mesmíssimo jeito que não saio de shortinho. Eu adoraria ser desencanada como vc e pensar: ah já aconteceu. Não vai acontecer de novo. Só que: fui abusada aos nove, aos onze, aos dezoito e aos vinte e três. Fui abusada no ônibus não uma, mas várias vezes. Então a possibilidade - porra, a PROBABILIDADE! - de acontecer de novo é infinito mil vezes infinito. E não só comigo. Mas contigo. Com a tua mãe. Com a tua irmã. E tua filha.
ResponderExcluirtexto excelente, não sei pq tão poucos comentários. o transporte público na minha cidade, Campinas, no interior de SP, é absurdamente ruim e caro (chegou a R$ 3,30 antes dos protestos de junho). a máfia por aqui é tão antiga e conhecida que é apontada como a principal causa do assassinato do prefeito da cidade em 2000, o Toninho (morte até hoje não resolvida pela justiça)... os bairros são distantes, a quantidade de linhas só é abundante no centro, os atrasos são absurdos e a imensa maioria das linhas deixa de funcionar depois da meia noite. isso tudo numa cidade de 1 milhão de habitantes, que nos dias úteis deve receber muito mais gente, que vem da zona metropolitana pra trabalhar. nos fins de semana é praticamente impossível circular.
ResponderExcluirsou aluna da Unicamp, que fica num distrito fora de Campinas, e dependo de ônibus pra fazer quase tudo na minha vida, já que trabalho, estudo, participo de reuniões e mesmo passo minhas horas de lazer na região da universidade. no entanto, esta região é altamente elitizada (comporta alguns dos bairros mais nobres da cidade) e, seguindo a lógica individualista do capital, é também muito mal servida de linhas de ônibus. é de se notar que a maioria dos que circulam em coletivo pelo distrito são estudantes jovens (grande parte dos mais velhos logo dá um jeito de ter carro, ou mora perto da universidade) e... empregadas domésticas. desde meu primeiro ano na Unicamp, divido o espaço do ônibus com essas trabalhadoras e sempre pensei nelas. além de sofrerem tudo que nós, estudantes de classe média que usam ônibus, sofremos, elas muitas vezes precisam desembolsar dinheiro pra custear o próprio transporte; acordam de madrugada (e ficam esperando na rua escura) pra ir de suas moradias distantes até o local de trabalho, também muito distante do centro; voltam exaustas e muitas vezes ainda tem que trabalhar em casa.
e é horrível pensar no que essas trabalhadoras sofreram e sofrem num distrito que tem índices de estupro mais elevados que a média da cidade e que são duplamente invibilizadas: como mulheres que são, e como pobres que são, pq muitas vezes as lutas dos estudantes não as atingem...
Porque beneficia quem não precisa. Estudei em uma faculdade pública em que 90% dos estudantes não-cotistas tinham plenas condições de pagar seus 100,00 a 150,00 de passagens por mês sem que isso pesasse minimamente na renda da família. Já pra quem ganha salário mínimo, 150,00 a menos representa menos comida na mesa. Verba pública possui um limite, não faz sentido beneficiar pessoas que não precisam, enquanto ainda há escassez de recursos para aqueles que precisam (ou má aplicação, como nesse caso).
ResponderExcluirExatamente o caso da universidade particular que estudo (e pago com sacrifício, não sou filhinha de papai e sou a primeira pessoa da minha família a fazer um curso universitário). Concordo que o critério deveria ser sócio-econômico sempre. Mesmo entre cotistas essas disparidades podem existir.
Os recursos, de modo geral, são muito abundantes sim. Mas a má distribuição torna o sistema todo ineficiente.
Por essa razão que também me oponho ao passe livre geral e irrestrito.
Sobre a carteira de estudante em si, também é uma palhaçada o que fazem. Deveria haver uma seleção de quais eventos poderiam ser beneficiados com a medida e sempre dentro de uma cota, por exemplo, 25% dos ingressos, um por CPF e nada além disso. Todos se beneficiariam com ingressos mais acessíveis, não só estudantes. Muita gente de baixa renda também tem direito a ver um show, pegar um cinema e é privado disso por valores abusivos que as empresas determinam para compensar justamente a tal meia-entrada indiscriminada.
Li
Não basta ter tarifa gratuita para as mulheres que utilizam transporte público se não houver respeito dos homens e como se não bastasse eles estão postando os abusos contra as mulheres na pagina que eles criaram na internet, para as safadezas cometidas dentro dos transportes públicos, o que as mulheres estão precisando é de uma nova gestão que faça diferença no transporte público.
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