domingo, 24 de novembro de 2013

OCUPAÇÃO, BADERNA, SONHO E MUDANÇAS

Crianças lideram marcha contra despejos da ocupação Eliana Silva

Pessoas queridas, meus últimos cem exemplares do livrinho estão chegando! Compre um e dê de presente de natal. 
Ou dê pra você mesmx. Você merece! (ha ha, sou meio cara de pau).
Aproveitando o espaço pros informes, antes de ir pra dois mini guest posts, amanhã às 16:30 vou participar de um hangout com o tema Mulheres -- Mais Direitos. Quer dizer, eu serei apenas uma entre 50 ativistas convidadas para falar online com o governador do RS Tarso Genro. Duvido muito que dê tempo pra todo mundo falar.
 

Amanhã também começa uma série de seminários realizados pelo Coletivo Baderna. É grátis, e você que é de Fortaleza pode se inscrever aqui. Eu estarei no Auditório Luiz Gonzaga do CH3 da UFC (Benfica) pra falar deste tema: "Do acontecimento histórico ao acontecimento linguístico: uma análise da Marcha das Vadias". Será esta quarta, às 18 horas. Apareça lá!
Faz poucos dias me chegou este email do Edu:

"Sou casado há apenas 5 anos, mas já temos dois filhos, e somos uma família feliz. Talvez não da forma como você ache ideal, devido aos seus princípios feministas, mas uma família que funciona muito bem. Minha esposa é uma excelente pessoa, não é o padrão de beleza da mídia (que sinceramente não me agrada, pois sempre fui obcecado por mulheres cheinhas), mas muito sensual, segura, poderosa, linda em todos os sentidos no espelho dos meus olhos.
Antes de conhecê-la, eu era o que você chama de 'troll', mas ela muito delicadamente foi me domando, e hoje sou um homem que muitos zoam de 'domesticado', mas que graças a isso cresci muito profissionalmente, sexualmente, moralmente e sentimentalmente. Já não dependo mais da opinião de outros homens para me sentir 'o cara', não preciso me exibir para ninguém. Me coloco aos pés da minha esposa para ficar em pé diante do mundo, pois deixei de ser escravo das opiniões e das aprovações alheias, que não pagam as minhas contas, não dormem comigo, não cuidam dos meus filhos, não estão ao meu lado nas dificuldades e intempéries da vida, que não batalham comigo para manter a nossa casa e a estrutura da nossa família. Aprendi a ser mais carinhoso, compreensivo, a enxergar corações e não objetos. 
Conheci o seu blog, ironicamente, através de um site machista. Nele você é a diaba em pessoa, e é quase impossível não entrar de curiosidade no seu blog. Entrando, vi que tudo não passava de difamação, calúnia, e quão venenoso era esse que escrevia de você. Adorei o seu blog, e minha esposa também amou. Somos leitores assíduos, e só escrevo para te parabenizar, e para que saiba que com certeza há muitos homens que apreciam você, e que nem todos somos trolls."

Eu sei disso, Edu! Obrigada pelo carinho. E só digo que estou com muita vontade de processar esse indivíduo. Alguma advogadx quer me ajudar nesta empreitada?

Recebi este email da Daniela, estudante de direito da PUC Minas, militante do Movimento de Mulheres Olga Benário.

"Querida Lola, acompanho seu blog há cinco anos. Foi através dele que decidi, definitivamente, declarar guerra ao patriarcado e ser militante ferrenha num movimento de mulheres. Seus posts me ajudaram –- e muito! –- a entrar nessa jornada sem volta que é romper com o próprio machismo. Tenho muito a agradecer... Mas se te escrevo hoje (pela primeira vez!) não é para dizer quão grata eu sou por seu bloguinho existir; te escrevo hoje para pedir ajuda. MUITA AJUDA!  Sei que você me entende. Em maio do ano passado, 300 famílias pobres (compostas majoritariamente por mulheres e crianças) moradoras da ocupação Eliana Silva foram despejadas de forma MUITO violenta de suas casas pela prefeitura de Belo Horizonte. 
Essas pessoas, mesmo tendo perdido tudo e sofrido uma violência física desproporcional por parte da polícia militar de MG (uma das mais violentas e reacionárias do Brasil), se reorganizaram e levantaram uma nova ocupação três meses depois. Eu fui uma das muitas mulheres que esteve presente nessa segunda ocupação enfrentando a repressão do estado que enviou a cavalaria, o caveirão, o canil, o GATE (Grupo de Ações Táticas Especiais), além de policiais mascarados e sem identificação. Todo esse aparato militar para bater no povo pobre e desarmado daquela comunidade. 
Graças à garra desses moradores e à ajuda de inúmeros profissionais dos direitos humanos e militantes da causa do povo, a segunda ocupação urbana Eliana Silva prosperou. A Eliana Silva está cada dia mais linda e mais forte, com cada vez mais construções de alvenaria. Choro só de te escrever essas coisas, Lolinha. Pode parecer bobagem, mas mesmo eu, que não sou moradora da Ocupação, me sinto muito parte dela, e ela parte de mim. 
Apesar de todos os dissabores que a gente leva dessa luta por reforma urbana, não me arrependo nem por um minuto do papel militante que cumpri e me orgulho muito de dizer que eu outras meninas do movimento feminista, junto aos moradores da Eliana, levantamos com nossas próprias mãos a primeira construção de alvenaria do lugar: a Creche Tia Carminha. A creche surgiu, num primeiro momento, como um espaço para acolher as crianças da ocupação Eliana Silva enquanto os pais estavam nas primeiras etapas da luta pela moradia... 
Mas a creche cumpriu um papel muito mais importante do que aquele que visionávamos inicialmente: além de aumentar a renda familiar, já que as mulheres poderiam deixar seus filhos seguros na creche para ir ao trabalho, ela também fez diminuir o machismo e a violência contra a mulher. As mulheres -– agora independentes financeiramente -– dificilmente levam desaforo para casa. 
Hoje, mais do que nunca, tenho certeza que a construção de creches gratuitas é um passo importantíssimo para a libertação feminina. Ainda somos vítimas de uma herança sociocultural que nos impõe o cuidado integral da casa e dos filhos e nos relega da possibilidade de participar de espaços públicos e do mercado de trabalho. Acredito que essa concepção atrasada do que é e do que não é papel de mulher algum dia será superada, mas enquanto a gente não consegue chutar de vez a bunda desse tal de patriarcado, a construção de creches públicas é o que possibilita que as mulheres se libertem da prisão do lar e consigam participar da política, do mercado, dos espaços culturais... 
Infelizmente, a prefeitura de BH não está nem aí para a liberdade das mulheres: as vagas em creches gratuitas oferecidas na região não conseguem absorver nem 20% das nossas crianças. Essas famílias, relativamente numerosas, tem renda total de 0 a 3 salários mínimos e não podem custear uma creche particular (e, ainda que pudessem, as creches particulares no entorno também não oferecem vagas suficiente).  
A creche Tia Carminha está lá para cobrir essa demanda por vagas, mas pela falta de recursos financeiros a estrutura da creche não consegue acolher todas as crianças. O impacto que a independência financeira tem na vida das mulheres e de suas famílias é evidente dentro da ocupação, por isso, a Tia Carminha, além de garantir educação e diversão para crianças, também é uma forma de garantir emancipação. 
A creche ainda é pequena e, para solucionar esse problema, resolvemos criar um projeto para ampliá-la! 
Através de uma página do Catarse (uma plataforma que reúne projetos para financiamento coletivo), nós estamos tentando arrecadar dinheiro para reformar e aumentar a Tia Carminha. Estamos muito perto de alcançar a nossa meta, e todo o dinheiro arrecadado será usado na construção desse espaço tão importante para que a ocupação continue dando certo. 
Eu peço encarecidamente, Lolinha, para que você e suas leitorxs fiéis (sei que a maioria é feminista aguerrida) nos ajudem nesse projeto. Claro que só isso não basta para acabar com o machismo, é uma iniciativa pontual, uma ocupação específica... A atenção de vocês é um passinho pequeno, mas SUPER importante para que as milhares de mulheres e meninas da ocupação se libertem um pouquinho mais do machismo, e assim, pouco a pouco, a gente vai se libertando também."

Todo o apoio ao projeto, Dani! Tenho muito orgulho de vocês! Imagino como deve ser lindo ver um projeto de toda a comunidade mudar a vida de tanta gente. 
E concordo 100% com um dos gritos de guerra do movimento: enquanto morar for um privilégio, ocupar é um direito!

13 comentários:

  1. Lola!
    vc é o máximo, espero q saiba disso!Sempre me ssenti inadequada, esquisita, tentei me encaixar, sem sucesso. Comecei a ter contato com "coisas feministas", graças a minha mãe, q, apesar de nunca ter se declarado feminista, nunca me achou esquisita,rsrs. Aí, pesquisando, cheguei no seu blog. Isso tem uns 3 anos. A paritr de vc, do q vc escreve, me informei mais e mais, e nossa, descobri um monte de coisas maravilhosas a meu respeito. Mas, foda, depois dos trinta. Poderia ter sido antes, né? Mas enfim, só passei pra te dizer q o seu trabalho é incrível, extremamente necessário, não pare nunca, por favor. Ah, vou ser cara de pau tb e vou falar q não comprei seu livro pq estou esperando vc publicar um livro sobre FEMINISMO! Sou meio louca por cinema tb, suas críticas são ótimas, mas né, lola?cadê o seu livrinho feminista maravilhoso pra eu colocar entre "O mito da beleza" e "O segundo sexo" aqui na minha modestíssima estante? A propósito, minha mãe hj em dia se declara feminista, rsrs. Beijão!

    MAGDALENA

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  2. OFF-TOPIC

    Lola, tava passeando pela net e vi isso. Espero que se inspire :)

    http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,apos-ofensa-no-twitter-justica-bane-usuario-,1098522,0.htm

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  3. Lola, estive no evento na UFRJ este ano e pude conhecê-la, mas infelizmente pela minha timidez acabei não falando contigo. Mesmo com toda sua simpatia e abertura. Foi bobeira minha. Estive com meu marido lá, queria muuuito te vê. Foi muito legal. Da próxima vez não perderei a oportunidade de falar com você.
    Você é muito querida, saiba disso. bj grande. Iza

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  4. Eu conheço a periferia e aqui o padrão é bundão, coxão e peitão, não tem essa de magrinha não. Mulher de verdade para o povão é muito diferente do 'padrão da mídia' no qual as feministas são tão obcecadas e sempre arranjam um jeito de colocar no meio de qualquer assunto. Não entendo como as feministas insistem em achar que a maioria dos homens gostam de mulheres de pernas finas, sem bunda e sem peitão.

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    1. Surtou? Nunca vi ninguém aqui exaltando aparências ou valorizando a magra, a peituda ou a gorda. Você sim ta deixando claro do que você e de que exclui mulher magra. Sou magra não preciso me tornar um touro musculoso para ser amada .

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  5. Oi, anon? Feminista que é obcecada? Vc escreveu:

    "Mulher de verdade para o povão é muito diferente do 'padrão da mídia' no qual as feministas são tão obcecadas e sempre arranjam um jeito de colocar no meio de qualquer assunto".

    A gente é que sempre arranja um jeito de colocar o padrão de beleza no meio de qualquer assunto?! Qual parte do post fala disso? Só consigo imaginar uma -- quando o Edu, que não é feminista, diz que gosta da sua mulher, que não é magra. Olha só, eu não falei nisso nesse post. Nenhuma feminista falou nisso nesse post. Só o Edu -- que não é feminista -- falou nisso.
    E, sei lá, obcecado me parece um anônimo que deixa 3 comentários em 3 posts diferentes reclamando da obsessão das feministas em falar de padrão de beleza...

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  6. Obrigada pelo carinho, Magdalena querida! Mas pra lançar um livro mais feminista eu preciso mostrar que eu consigo vender livros, né? Então faz um esforço e compra o meu de crônicas de cinema, vai!


    Pô, Iza, vc deveria ter vindo falar comigo! Espero que ninguém nunca mais fique com vergonha de vir e falar oi, me dar um abraço, me entregar um chocolate, comprar um livro, tirar uma foto... Eu GOSTO de fazer isso. Não é sacrifício nenhum ser paparicada. Vamos ver se de repente eu volto pro Rio ano que vem e vc tem sua segunda chance! (aliás, terceira, porque estive na UFRJ em 2012 também).

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  7. Beatriz, pois é, é bastante inspirador mesmo! Aliás, alguma advogada ou advogado se habilita pra me ajudar a processar o mascu (eu tenho o nome completo dele, lugar onde ele trabalha, não é um anônimo) por calúnia e difamação? Ele já fez mais de 40 posts sobre mim. Fora me chamar de bruxa, burra, mentirosa etc, ele "publicou" o meu salário (ele não sabe ler uma tabela, tadinho; meu salário é metade do que ele publicou) e me acusa de cometer alguns crimes, como o de ser autora do site de ódio pelo qual os mascus sanctos foram condenados a 6,5 anos de prisão.
    E acho que há outras feministas que gostariam muito de processar o sujeito também. Help, leitoras e leitores advogadxs!
    Ele mora no Mato Grosso do Sul. Vale a pena pegar um advogadx de lá, ou é indiferente?

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  8. Oi, Lola! Infelizmente ainda não me formei em direito e não posso te ter como cliente.
    Mas posso ajudar com algumas informações. A ação de indenização por danos morais pode ser proposta tanto na cidade (foro) de seu domicílio quanto no domicílio do réu. Sugiro propor onde vc mora mesmo, pra dificultar a defesa dele e facilitar a sua vida. E ainda que, na hora da execução, os bens dele estejam no Mato Grosso, um bom advogado vai saber contornar isso.
    Já se você quiser também mover uma ação penal contra ele, vai ter que ser no domicílio dele.
    Eu, pessoalmente, sou contra a pena de prisão e ficaria só com o processo cível mesmo. Mas isso fica a seu critério.
    Se mais alguém não acha o encarceramento muito legal posso indicar bibliografia. Enquanto isso podem ir lendo Vigiar e Punir, hehe.

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  9. Oi Lola, esse hangout com o Tarso Genro vai estar disponível online depois (ou durante)? Tu sabe como vai funcionar?

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  10. fiquei super curiosa sobre essa reunião online com o governador tarso genro, lola conta pra nós como foi. moro no rs e acho super importante iniciativas que mostrem que o governo está ao menos ouvindo militantes.

    todo apoio a creche eliane silva. doem! o projeto já alcançou o montante inicial, mas tenho certeza que com uma grana extra eles poderão transformar mais sonhos em realidade.

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  11. Fiquei tão feliz quando entrei na página do Catarse e vi que a meta da reforma da creche tinha sido atendida!!!

    Parabéns pelo projeto, com certeza ele trará muitos sonhos para todos os envolvidos.

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  12. Fiquei orgulhosa que contribui pra esse projeto!

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