domingo, 13 de outubro de 2013

GUEST POST: UM AGRADECIMENTO PROFUNDAMENTE SINCERO

Eu dando um abraço apertado numa leitora. Sintam-se abraçadxs

Da Amanda:

Você deve receber dezenas desses e-mails por dia, e até me sinto meio culpada de fazer você ler mais um. Mas depois de ler tantos posts no seu blog, depois de visitar tantos links que estavam nele, depois que ele mudou tanto minha vida, achei que, no mínimo, te devia um "obrigada". Eu tenho meus próprios textos e discursos, e com certeza ia querer saber se eles mudassem tanto a vida de alguém. Isso me motivou a te escrever.
Encontrei o feminismo como movimento recentemente. Não precisa voltar muito na minha vida pra ver resquícios machistas, e ainda devem haver muitos. Mesmo tendo passado boa parte dela remando contra a sociedade, faz alguns poucos meses que olhei para mim e me enojei com muito do que vi. Eu vi que slut shaming era parte do meu cotidiano, por exemplo. Inclusive slut shaming contra eu mesma. Vi que a sociedade controlava boa parte da minha opinião sobre mim.
Quando notei isso, quando vi o quanto eu não me aceitava e o quanto não aceitava os outros, tive uma crise terrível da depressão que me incomoda desde a adolescência. Talvez a pior crise que eu tive até hoje. Eu sempre tive essa consciência de que as normas da sociedade estão, no geral, contra você, e que isso precisa ser combatido.
Desde o começo da adolescência sou ateia e antiteísta. Mas sempre fugi de debate religioso, e nunca falei isso abertamente, por medo do preconceito que isso acarreta no Brasil. Sempre tive nojo de bullying e racismo. Tenho lembranças de, ainda pequena, gritar na rua de casa pra que as outras crianças parassem de chamar um coleguinha nosso de "gordo". Lembro de ter falado que ele tinha nome, e que era pra ser usado. Mas devo ter perdido essa coragem em algum ponto da minha vida.
Hoje em dia, eu vejo esse tipo de coisa calada. Sou bissexual, mas não consigo pensar em alguém que saiba disso além do meu marido e minha irmã, e as poucas garotas semi-desconhecidas com quem eu nunca cogitei assumir nada sério, talvez porque não quisesse, talvez porque tivesse medo do que iam pensar de mim. Se iam me falar que era uma fase, ou que eu estava fazendo isso pra chamar atenção de homens, já que eu gosto deles também. 
Estou em um relacionamento livre, mas escondo meus ficantes a todo custo. Não do meu marido, ele conhece todas as histórias, todas as pessoas. Mas do resto do mundo. Por medo do que vão pensar de mim, com medo que o meu marido tenha que ouvir que ele não está "sendo homem o suficiente" e que "merece alguém que o respeite mais", que a minha mãe tenha que ouvir que a filha dela "é uma vagabunda". 
Sempre fui defensora assídua dos direitos dos animais e de lutas ambientais. Mas tenho vergonha de compartilhar petições e falar sobre isso com os amigos, pra não ser tachada de "ecochata". E a lista continua e continua.
Perceber que eu estava deixando que isso tudo governasse minha vida e regulasse quem eu era matou toda minha vontade de lutar, com requintes de crueldade. Passei meses me autoflagelando, física e psicologicamente por isso. Me senti hipócrita, não sabia mais quem eu era.

Foram nesses meses difíceis que trombei com a blogosfera feminista, clicando num compartilhamento de um post que uma amiga fez no Facebook. A partir daí, encontrei um tumblr e outro, um blog aqui e outro ali e, eventualmente, o Escreva Lola Escreva. Lia muitos dos seus textos por dia, e sempre voltava no dia seguinte para ver se tinha algo novo na página inicial.
Passei a corrigir pensamentos negativos sobre outras pessoas. Depois, passei a corrigir pensamentos negativos sobre ativismo, no geral. Depois, finalmente, passei a corrigir pensamentos negativos sobre mim. Sempre tinha um outro "texto da Lola" que eu não tinha lido, algum que falava que mais um dos meus problemas não era invisível. Mais um deles era algo real, que acontece com muita gente. Todas as coisas terríveis que falavam pra mim, eu descobri que falavam pra todo mundo. Que eram tão clichês que existem cartelinhas de bingo por aí com as frases. Que não eram verdades absolutas. Que eu não estava sozinha.
Estou ainda em processo de recuperação, de auto-aceitação. Isso me lembra muito do começo do meu ateísmo, quando eu morria de medo de estar errada e ir direto pro inferno por isso. É bem parecido, acho, mas pretendo tomar as rédeas do meu corpo e das minhas escolhas e das minhas ideias, assim como eu um dia tomei as rédeas da minha falta de crença.
Ainda penso, às vezes, que estou de "frescura". Que tem gente lidando com coisa pior, e que isso torna minhas inseguranças desimportantes. Ainda tenho problemas com o meu corpo (mesmo ele sendo bem próximo do padrão de beleza vigente). Ainda tenho medo de bater no peito e falar: antiteísta, não-monogâmica, bissexual, ambientalista e feminista sim, e quem tiver problemas com isso, que vá roer uma cenoura. Mas eu estou no caminho. Sinto que a mudança começou, e sei que o seu blog teve um papel grande nisso.
Portanto, novamente, obrigada. Desculpe pelo texto grande e pelos desabafos que entraram no caminho do agradecimento, mas saiba que é um agradecimento profundamente sincero.

Minha resposta: Eu que te agradeço pelas palavras, Amanda! Sempre fico muito feliz ao ouvir que meu bloguinho teve alguma influência positiva na vida de alguém.
Bom, aproveitando o embalo, fica aqui o pedido pra você, pão-durx miserável como eu, desembolsar R$ 30 e comprar o meu livrinho. Agora tenho uns quarenta exemplares. No final de novembro, vou aproveitar que o maridão passará por SP e pedir pra que ele traga os últimos cem exemplares. E aí acaba mesmo! A editora mencionou fazer uma terceira tiragem, mas prefiro lançar um novo livro, este sobre aceitação do corpo. Se tudo der certo, no ano que vem. Se alguma editora quiser conversar, estou aqui pra isso (e pra fazer mais 150 coisas que não estou dando conta de fazer). 
Um aviso às pessoas queridas de João Pessoa: semana que vem estarei aí! Participarei do Seminário Contextualizando o Direito: Mundo do Trabalho, Formação Profissional e Direitos Humanos, na UFPB. Minha mesa será Direito do Trabalho, Gênero e Feminismo, e falarei dos direitos trabalhistas das empregadas domésticas, sob a ótica feminista. Minha palestra será sexta, dia 18, às 9 h. Venha! Mas tem que se inscrever já.
E claro que vou esticar a viagem e tirar umas merecidas micro-férias no meio do semestre. Quer dizer, vou continuar atualizando o blog, preciso preparar aulas, e estou com três artigos hiper atrasados pra entregar. Talvez a Kah tenha razão: preciso rever meu conceito de férias. Mas Juh (este ser emburrado ao lado), Fumaça, Fofoca (gatas da Kah), Lila (cachorra de rua recém-adotada pela Kah -- estou morrendo de saudades de brincar com cachorro!), Areia Vermelha, me aguardem!

13 comentários:

  1. Lola, vc viu isso http://www.araraquara.com/noticias/policia/NOT,0,0,889750,Coordenador+de+escola+particular+e+preso+por+exploracao+sexual.aspx

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  2. Oi Lola, eu comprei seu livro, já fiz a transferência, o email que usei é mariabelini@hotmail.com, até agora não recebi resposta apesar de ter comprado no dia 8/10,por favor dê uma olhada.

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  3. Oi, Mari. Respondi, ok? Vou mandar seu livro na terça (amanhã é feriado).


    Anon, vi e tuitei.

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  4. Lola, você é fantástica! Não comprei seu livro porque não sou tão cinéfilo assim (e também tenho um escorpião no bolso). Mas esse que você pretende escrever sobre aceitação do corpo, já me reserve um exemplar, por favor. E uma sugestão/pergunta de um fã: vc seria muito modesta para lançar uma autobiografia? Obrigadão por escrever e inspirar nosso pensamento crítico. Beijão.

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  5. Ha ha ha, fã é fogo! Obrigada pelo carinho, anônimo, mas eu não sou famosa nem minha vida é interessante -- acho que são dois requisitos pra se escrever uma autobiografia, não?
    Quer dizer, eu gosto muito da minha vida e queria viver mais uns 900 anos igual a como estou hoje (bom, trabalhando menos, talvez), mas, ela é super monótona. É o tipo de vida que só interessa a quem a vive, sabe? Mas agradeço a lembrança!

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  6. Sou feminista e to achando ridícula essa reportagem do fantástico sobre o vídeo da mulher espancando o homem. PQP, pq tinha entrevistado rindo? Se fosse um homem espancando uma mulher ia tá todo mundo indignado, já prevejo um monte de mascus pipocando no seu blog citando essa reportagem. Então só pra deixar claro que feministas NÃO SÃO a favor de mulheres espancando seus companheiros por causa de ciúmes, porque feminismo NAO É o contrário de machismo.

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  7. não vi a reportagem, mas se há risada, é machismo, não feminismo. é o machismo que ridiculariza homens agredidos por suas parceiras. galera machista sabe disso, mas não admitirá jamais.

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  8. eu vi a reportagem e como muitas mulheres ele apanhou pq quis.

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  9. Lola, tenho interesse em comprar seu livro, muito. Mas eu não compro mais livros de papel. Você tem intensão de publicar em versão digital? Sempre compro e-books para Kindle pela Amazon. Gostaria muito de poder comprar o seu. Gosto muito dos seus textos. Continue escrevendo Lola!! Beijos,

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  10. Machista ri de mulher agredindo homem porque acha absurdo, a lógica machista é mulher apanhar. Logo, o que é visto como absurdo provoca o riso.

    Achar graça de homem apanhando de mulher é machismo puro e simples.

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  11. O abraço caloroso da primeira foto é meu! Foi no ano passado, no lançamento do "livrinho" da Livraria da Vila, em SP. Lolitcha, hoje estou lecionando sociologia para o Ensino Médio e claro que seus textos são presença obrigatória nas minhas aulas. Impressionante como os alunos compreendem bem as mensagens e despertam para uma reflexão crítica sobre várias questões. Obrigada por existir! Abraços e mais abraços! Daniela Rodrigues - Embu das Artes, SP.

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  12. Lola, o ser da reportagem que te mandei foi solto
    http://g1.globo.com/sp/sao-carlos-regiao/noticia/2013/10/educador-de-araraquara-sp-e-solto-e-diz-que-aluno-de-15-anos-o-provocou.html

    estou em choque!

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  13. Essa historia de agradar homem,sempre agradar homem,podando a mulher de sua humanidade a tranformand um ser sem desejo sem nada,a deixando um ser estupravel atraves de frases nojentas feito essa.

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