A gente sabe que o Brasil está passando por uma onda conservadora de assustar, mas sou tão otimista que digo isso, "está passando". Porque vai passar. Mas não vai passar sozinha.
Precisamos continuar nos mobilizando, tomando as ruas, mostrando que somos mais fortes que os reaças. E que temos todo o direito de protestar. Sem que padres chamem a polícia para dizer que uma praça é deles, sem que a polícia venha com cassetetes e gás lacrimogêneo pra "dispersar a multidão". Quem chama manifestante de baderneiro e vagabundo é reaça.
Vamos protestar contra o Estatuto do Nascituro. Vamos protestar contra aumento da passagem de ônibus. Vamos protestar contra a violência, e contra a violência policial. As Marchas das Vadias seguem firme em várias cidades. Se a onda conservadora está forte, o protesto contra o retrocesso também está.
Este é o relato lindo da Mariana Lopes, mestre em História pela UFG e militante feminista, sobre a Marcha das Vadias de Goiânia (todas as fotos abaixo são da Marcha de 2013; clique nelas para ampliá-las).
Este é o relato lindo da Mariana Lopes, mestre em História pela UFG e militante feminista, sobre a Marcha das Vadias de Goiânia (todas as fotos abaixo são da Marcha de 2013; clique nelas para ampliá-las).
Ano passado te mandei um e-mail falando sobre a Marcha das Vadias de Goiânia-GO, você me pediu um guest post, mas, na correria, acabei não fazendo. Mas esse ano vai! E vai em dobro. Se me permite, à medida em que for contando da Marcha desse ano, falo um pouco da do ano passado também, pode ser?
Bom, mas se quisermos historicizar mesmo a Marcha no estado, temos que voltar a 2011, quando foram feitas não só uma, mas duas Marchas das Vadias! Das duas, participei de apenas uma, que foi durante o FICA (Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental) na Cidade de Goiás, feita de forma completamente espontânea e concatenada com outras manifestações que ocorriam por lá ao mesmo tempo, como o protesto contra a construção de Belo Monte.
Pouco tempo depois, durante a realização do Encontro da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) na UFG (Universidade Federal de Goiás) um grupo organizou uma outra Marcha, desta vez na capital, Goiânia. Não contou com muita gente e foi dentro do campus da universidade, mas deu pra dar uma movimentada.
Lembrando que eu estou escrevendo a minha perspectiva pessoal sobre a Marcha, então, vou contar como tudo começou para mim no ano de 2012. No dia 26 de maio, data unificada da maioria das marchas no Brasil inteiro ano passado, fui a um show e algumas meninas que eu não conhecia falaram pro meu namorado que queriam conversar comigo sobre a Marcha. Achei estranho, mas fui lá. O papo começou mais ou menos assim: “Fiquei sabendo que você é feminista. A gente também é. O que você acha de organizar uma Marcha das Vadias em Goiânia?”, assim, na lata.
Achei isso tão legal e o papo rolou de uma forma tão boa desde o princípio, que eu juro que poucas vezes na vida havia sentido que uma conversa poderia ser tão intensa. Mais tarde descobri que essa é, na verdade, uma característica do feminismo. Fui percebendo que quando estamos juntas, além de nos sentirmos mais fortes e capazes de enfrentar todo o machismo que nos assola diariamente, isso gera um carinho e solidariedade ou algo maior que só pode ser expressado pela maravilhosa palavra sororidade, que quer dizer tudo isso que sentimos, inclusive, quando lemos seu blog e os guest posts que sempre nos fazem pensar “nossa, eu também já senti/vivi isso”.
Voltando à Marcha (digressões não são exclusividade sua, viu, Lola?), no dia seguinte, um domingo, conversei com outras feministas que conhecia da época de graduação, algumas que já militavam há anos no Colcha de Retalhos (um movimento LGBT de Goiânia maravilhoso que você tem que conhecer), e em outras entidades ou grupos.
Rapidamente, decidimos criar um grupo de discussão no facebook, porque a conversa entre dez pessoas no chat já estava ficando bagunçada demais. Para nossa surpresa, um grupo criado em uma rede social com o nome de Coletivo Feminista de Goiânia num domingo à noite já tinha mais de duzentas pessoas (que entraram voluntariamente) na segunda-feira de manhã! Bom, aí nesse grupo teve de tudo, mascu querendo nos ensinar a ser feminista, propaganda partidária, gente nos xingando, gente falando que não tínhamos o que fazer, homem querendo tomar a direção em um movimento de mulheres, e tudo aquilo que vocês sabem muito bem que rola.
Marcamos nossa primeira reunião de organização da Marcha em um parque da cidade. Foram umas 30 pessoas, definimos comissões, campanha, etc. Teve gente falando que era a primeira vez que tinha feminismo em Goiânia, desconhecendo a luta de mais de 30 anos do Transas do Corpo, por exemplo.
Ao todo, no ano passado, foram só três reuniões gerais pra Marcha. Os mascus ficaram tão horrorizadas com a gente e fizeram tanto alarde que nos ajudaram a divulgá-la melhor.
Nesse processo todo da Marcha de 2012, queria muito falar o quanto foi especial para mim conhecer mais de perto a militância feminista e, sobretudo, a cumplicidade encontrada no grupo que formamos das meninas que se encontraram no show que relatei. O batizamos de Starfish.
Para além da Marcha, além de termos feito a campanha das colagens, depois ainda fizemos alguns zines, atuamos bastante na dita cena punk de Goiânia e, sobretudo, tivemos experiências de cumplicidade e amizade realmente tocantes. Até um protótipo de banda feminista surgiu. Hoje em dia, das 8 integrantes do Starfish, 4 estão fora, uma, inclusive, fora do país, mas aquelas experiências de feminismo/militância/amizade guardarei para sempre.
Resumindo: a Marcha das Vadias de Goiânia de 2012 aconteceu no dia 07 de julho, foi um sucesso, percorremos o centro da cidade inteira num sábado na hora do almoço com o comércio todo aberto e todo mundo parando para nos ver, alguns assustados, outros parabenizando. A grande mídia burguesa noticiou que tivemos apenas 300 pessoas, quando, na verdade, foram 450. Pouco? Para uma cidade de pouco mais de 1 milhão de habitantes com resquícios conservadores e ruralistas, eu acho que não.
A deste ano fez o mesmo percurso do ano passado e começamos a organizá-la com quase dois meses de antecedência. No dia 17 de abril fizemos nossa primeira reunião e definimos os princípios da Marcha (os mesmos do ano passado e espero que sejam os mesmos para sempre), que são: suprapartidarismo, autonomia e microfone aberto e no chão. Isso quer dizer que a Marcha das Vadias de Goiânia não é organizada por nenhum partido político ou entidade específica.
Todos que quiserem compor, ajudar, estão convidados, mas não fazemos palanque para ninguém. A autonomia quer dizer mais ou menos isso, mas também quer dizer que temos autonomia, inclusive financeira, pois é comum vermos em diversos movimentos sociais que podem até se dizer autônomos, mas recebem um certo patrocínio para uma coisa ou outra de partidos, sindicatos etc. Nós não.
Tudo o que usamos na primeira e na segunda marcha (carro de som, panfletos, campanha e cartazes) foi pago com dinheiro de 'vaquinha' de quem estava na Marcha, de quem constrói na rua, de quem constrói todo dia, e não de quem patrocina pra ter seu nome estampado ou seus líderes em cima de um carro de som. Isso se tornou cláusula pétrea para nós. Não abrimos mão de nossa autonomia, rechaçamos qualquer tentativa de aparelhamento no movimento e, nesse sentido, o microfone aberto (para quem quiser falar o que quiser) e no chão (só quem vai em cima é fotografx ou outro para fazer uma foto bem massa) corrobora com esses princípios.
Ao meu ver, ao definirmos esses princípios, só ganhamos no movimento, pois quem quer se aproximar por causa da Marcha mas nunca militou na vida, não concorda com partidos ou não faça parte de alguma entidade, não se sente acanhada de fazê-lo. Os partidos, sabendo disso, comparecem, mas ficam mais na deles, fazem falas como qualquer pessoa, sem fazer palanque. Teve até deputada federal e ex-candidata à governadora marchando conosco de igual pra igual.
E as entidades colaboram das mais variadas formas, e essa foi a parte mais bonita da Marcha desse ano. Pode-se dizer que a organização da Marcha desse ano foi mais difusa e, por isso mesmo, muito mais plural. Tivemos poucas reuniões gerais, mas os grupos fizeram muito, cada um em seu local de atuação. Foi lindo ver a Coletiva (sim, no feminino, subvertendo a normatividade) sendo fundada e se articulando; o Colcha voltando á ativa e participando;
o Fórum Goiano de Mulheres mobilizando companheiras de associações de bairro e outras organizações que ano passado não havíamos conseguido alcançar; as oficinas de integração que reuniram as mais variadas pessoas; as meninas do recém criado Coletivo Feminista Geni da Cidade de Goiás vindo pra cá e anunciando que farão outra lá durante o FICA de novo; as meninas de Morrinhos (outra cidade no interior do estado) e de tantas outras cidades organizando oficinas lá e pegando caronas pra virem pra cá, professoras que conversaram sobre a Marcha com seus alunxs e escreveram artigos em jornais;
o pessoal do movimento contra o aumento da passagem daqui que foi pra denunciar o abuso que duas meninas sofreram de policiais em uma manifestação há algumas semanas e também para falar que o lucro exorbitante das empresas de transporte que lotam os ônibus todos os dias favorece para que aconteçam mais casos de abusos dentro dos ônibus diariamente; homens feministas que também foram; crianças, que sempre gostam tanto das Marchas, dizendo que a mãe é uma vadia linda...
Enfim, foi realmente linda! Tenho certeza que todxs que saíram de lá, saíram com uma sensação de que o feminismo em Goiás tá crescendo (e tá mesmo), que é possível fazer, que a luta continua e que temos muitos parceiros.
Noticiaram novamente números falaciosos. Disseram que tinha apenas 200 pessoas, quando, na verdade, foi maior do que a do ano passado!
Se conseguimos pagar o carro de som? Ah, sim, conseguimos, e ainda sobrou para pagar alguns panfletos que imprimimos na gráfica. O DIY (do it yourself ou faça você mesmo) é possível, um outro mundo é possível, sem machismo, sem violência e com liberdade!
Fico feliz de ler essas palavras de nossas mulheres goianas. Sou goiana que mora em MG agora, mas com muito amor pelo meu estado (apesar de ser uma terra com muito desrespeito e desigualdade). Nunca imaginei que veria uma Marcha das Vadias em Goiás, é uma vitória. Espero que minha mãe e as mulheres da minha família um dia possam enxergar a vida com os olhos do feminismo.
ResponderExcluirPS: enfim, qual foi o número de participantes desse ano?
Lindo depoimento de Mariana! Fico orgulhosa de viver em Goiânia e saber que tem pessoas lindamente vadias que são capazes de mobilizar tanta gente de forma simples... De forma lilás, de forma solidária e mobilizadora! Muitos e muitos beijos a Mariana e a todas as meninas que fizeram oficinas e prepararam essa marcha formidável! Agora não tem mais volta... As vadias tomaram conta da cidade mais agropecuária do Brasil... Dá lhe!!!
ResponderExcluirPara diminuir a passagem e preciso diminuir impostos e combater a inflação, diminuir impostos, que são 40% do PIb, e q são para manter a vadiagem do setor publico, inchado e cheio de parasitas come e dorme, que batem o ponto e não trabalham,diinuir a gastança ( o levantamento do industria turistica aponta que a copa das confederações vai movimentar 270 milhões pelo pais, somente o estadio de Brasilia custou um bilhão e duzentos milhões)existem economistas serios que afirmam que o pais vai quebrar depois de 2014, se não houver uma politica de austeridade fiscal.
ResponderExcluirEstas manifestações são massa de manobra do partidão, semana que vem será votada no congresso a PEC(proposta de emenda a constituição) que impede que o ministerio publico, investigue politicos, eles estão criando esta baderna com seus idiotas uteis do PSTU ( punks, anarquistas, comunistas) para desviar o foco da questão, o movimento passe livre, e financiado pelo governo federal, recebe verbas através da lei Rouanet, e tudo jogo de fumaça, trabalhador não tem empo de fazer baderna no centro 4 horas da tarde, somente os vagabundos anarquistas que vivem de bolsa do governo tem esta mamata.
Rodolfo Rodrigues.
Lola, dá uma forcinha pra nós?
ResponderExcluirhttps://www.facebook.com/Ativismodesofa/posts/540172659373845
Que bom q tem mulher corajosa como vc Mariana ai em Goiânia, e bom seria que houvessem muitas iguais a vc em cada cidade desse Brasil.
ResponderExcluirEspero q mesmo com os retrocessos que temos visto, não cedamos ao desânimo.
Acabo de voltar da marcha contra o absurdo estatuto do nascituro aqui em São Paulo, tinha muita gente, mas eu creio q talvez fosse até mais pessoas se não tivesse acontecido poucos dias antes a repressão horrenda q aconteceu, com diversas pessoas muito feridas.
Mesmo assim muita gente compareceu, se posicionando contra essa barbaridade que estão querendo impor as mulheres.
Apareceram alguns católicos com uma faixa na porta da Catedral da Sé, mas ficaram bem quietinhos diante da massa de gente q veio protestar.
Lola, dá uma olhada nisso. Até onde vai o machismo:
ResponderExcluirWomen looking to get their freak back may soon be able to pop a new breed of lust drug: Lybrido.
But scientists developing the desire pill sometimes called “female Viagra” confided in one writer an unusual worry. They fear the libido-booster may work too well.
(And the problem with that is …?)
Journalist Daniel Bergner, whose story on the still-being-developed wonder drug was published last week in the New York Times Magazine, says researchers worry about creating an orgasm-hungry nympho. Yeah, the author expressed surprise at that, too.
Artigo completo: http://blog.seattlepi.com/hottopics/2013/05/29/scientists-fear-female-libido-booster-too-effective/
Meu pai pensa que é feminista.
ResponderExcluirDaí ele, com toda seu supremo conhecimento sobre a causa dos outros e sua enorme benevolencia, faz o favor de querer me ensinar como lutar a minha luta.
....enfim....
Hoje ele ficou chateadinho pq eu nao estava do lado dele xingando as vadias e baderneiras que ousam controlar seus proprios corpos.
Ele ficou chateadinho pq uma das baderneiras sou eu.
E sem entender o por quê da minha indignação contra o estatuto do nascituro ele me vem com essa:
"Mas pra não viver mais sob o medo de um estupro, uma gravidez, uma falta de atendimento médico, BASTA VOCE LIGAR AS TROMPAS, ué"
Rs, ainda bem que ele é feminista! Imagina se não fosse. ..e pra não ser estuprada, costure sua vagina. Estilo aquele ritual em algumas tribos africanas.
ExcluirMarcha incrível aqui em POA. Linda. Estou muito feliz de ter feito parte dela.
ResponderExcluirPili, não sabia que ligar as trompas evita estupro! Agradeça a seu pai por mim essa pérola de sabedoria...
ResponderExcluirE é tão simples fazer ligadura de trompas! Eu mesmo vou fazer uma no shopping, entre as compras do mês e a próxima sessão do cinema. o.O
Hoje fui pela primeira vez em uma manifestação feminista. Em BH a justiça proibiu manifestações por causa da Copa das Confederações e hoje 8 mil pessoas responderam indo ás ruas.
ResponderExcluirProtestar contra o contra o Estatuto do Nascituro era questão de honra.
Ai, me sinto menos só aqui no seu blog, Lola
ResponderExcluirObrigada por entender, Elaine,
To muito feliz
:)
mas eu garanto, papai é legal. E contribui muito para um mundo melhor. Muiito!! Amo muito meu pai.
...ele só acha que mulher é um espírito menos autonomo, com menos responsabilidade.
Risos.
Sabe, "só" isso.
auhauhauhauhauahuahuahuahuahah.
Foi em Goiania em meados dos anos 80 - sorry but not, jovencitas - quando participava dum grupo teatral, estavamos divulgando a peça num bar e um nescio, troglodita, psicopata simplesmente apagou seu cigarro na bunda de uma das atrizes. Esse fato criminoso só fez reforçar em mim o nojo desse lado fortemente conservador e reacionário e machista do povinho desta cidade. odeio rodeio.
ResponderExcluirManifestante estuprada por policiais na marcha contra o aumento da tarifa:
ResponderExcluirO relato pode ser lido aqui e está em negrito.
http://feridosnoprotestosp.tumblr.com/post/52979047001/atencao-relato-de-violencia-policial-cometida
Como mando uma mensagem direta para vc ? Eu fazendo uma pergunta para vc me responder ?
ResponderExcluirObrigada
Muito bom mesmo essa Marcha das Vadias em Goiânia. Quem já viveu em Goiás sabe o quanto as pessoas são conservadoras, de um jeito que até assusta. Fico realmente feliz por saber que as mudanças estão acontecendo.
ResponderExcluirSou goiana, moro em Cuiabá e fui na marcha daqui e reparei que o centro oeste eh umas das regiões que mais sofre com o machismo. Durantes a manifestação ouvi coisas horrendas de pessoas q assistiam, comentarios machistas que na maioria das vezes vinham de mulheres!! Não devemos parar de lutar por igualdade, não só nos dias de manifestação mas todos os dias
ResponderExcluirAté onde vai o machismo parte 2
ResponderExcluirhttp://g1.globo.com/mundo/noticia/2013/06/menino-de-11-anos-engravida-mulher-de-36-na-nova-zelandia-diz-jornal.html
Na matéria diz que na Nova Zelândia mulheres não podem ser acusadas de estupro (!!!) E claro que nos comentários há um monte de homens dizendo como o garoto é sortudo...
"mas eu garanto, papai é legal. E contribui muito para um mundo melhor. Muiito!! Amo muito meu pai.
ResponderExcluir...ele só acha que mulher é um espírito menos autonomo, com menos responsabilidade"
Querida, ele está certissimo. A mulher casa pra obedecer marido!!
"A mulher casa pra obedecer marido!!"
ResponderExcluirTá escrito na bíblia, mas ninguém obedece, né? Vão todos pro inferno.
Tá, tchau anônimo.
ResponderExcluirTem vários protestos importantes acontecendo, significa muito trabalho na sua trollagem diária, viu.
agora sim teremos uma boa representação!
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