terça-feira, 7 de dezembro de 2010

ISSO TUDO QUE VOCÊS VEEM É MENTIRA

Este é praticamente um monólogo da Rosie O'Donnell usado no filme Brincando de Seduzir (Beautiful Girls, 1996). Não me lembro de ter visto o filme, mas o monólogo (dito para Matt Dillon e Timothy Hutton) ficou famoso. Embora eu não concorde com tudo, acho bem provocativo e interessante. E adoro a atitude dela, sua segurança em falar com várias pessoas ao mesmo tempo. Você pode ver o vídeo de menos de 3 minutos e acompanhar aqui. A tradução capenga é minha, então desculpem qualquer coisa.

- Vocês dois são loucos. Querem saber qual é o seu problema? MTV, Playboy, e Madison Avenue [espaço de NY onde as agências de propaganda se concentram]. Sim, deixe-me explicar algo pra vocês, ok? Garotas com peitos grandes têm bunda grande. Garotas com peitos pequenos têm bunda pequena. É assim que é. Deus não brinca por aí, ele é um cara justo, ele deu às gordinhas peitos grandes e lindos. E às magras, peitos minúsculos. Não é a minha regra. Se vocês não gostam, liguem pra ele. Oi Mitch. Obrigada. Olhem só o que temos aqui, rapazes. Olhem isso. O favorito de vocês. Você gosta disso?
- Eu aceitaria isso.
- É, é legal, né? Bom, isso não existe, ok? Olhe o cabelo. O cabelo é longo, cai em cascata, é como um rio. Bom, é uma droga de aplique, ok? E os seios? Por favor! Eu poderia pendurar o meu casaco neles! Seios foram feitos para serem sugados por bebês. Sim, eles são puramente funcionais. Esses são o Vale do Silicone. E olhem só, o meu favorito: o púbis depilado. Pêlo púbico é tão indisciplinado e tal. Muito significativo. Isso é ridículo, isso é falso, isso é mentira. Implantes, colágeno, plástico, dentes corrigidos, a gordura lipoaspirada, o cabelo estendido, o nariz consertado, a vagina depilada — essas não são mulheres de verdade. Elas são bizarrices de beleza. E fazem com que todas nós mulheres reais com nossas rugas, nossos peitos murchos, oi Bob, e nossa celulite, nos sentirmos inadequadas. Bom, eu não caio nessa, ok? Mas vocês, seus otários, se vocês acham que existe alguma chance de vocês ficarem com uma dessas mulheres, vocês não dão a nós mulheres reais qualquer coisa parecida com um compromisso. É patético. Não sei o que vocês acham que vão fazer. Vocês vão acabar com 80 anos, babando em alguma casa de repouso, e aí vocês vão decidir que é hora de arrumar a vida, casar, ter filhos? O quê, vocês vão encontrar uma líder de torcida? Pode cobrar, Mitch.
- Acho que você está simplificando demais.
- Ah dane-se. Olhe pro Paul. Com as modelos dele na parede, sua cadela chamada Elle McPherson. Ele está louco. Está obcecado. Vocês todos estão obcecados. Se vocês tivessem um grama de auto-estima, de amor próprio, de auto-confiança, vocês iriam notar que, por mais clichê que seja, a beleza é só superficial. E querem saber? Se vocês conseguissem uma dessas moças, garanto que vocês se cansariam dela.
- É, acho que eu me cansaria dela depois de vinte ou trinta anos...
- Cresça. Obrigada Mitch. Diga oi pra Gertrude.
- O quê?
- Não importa quão perfeito o mamilo, quão suave a coxa, se não houver alguma outra coisa acontecendo no relacionamento, além da parte física, vai se desgastar, ok? E vocês, como um gênero, têm que se mancar. Senão, o futuro da humanidade corre perigo.
- O que foi isso?
[Rosie falando com o carro: “Eu tenho que esperar por você? Você pode desacelerar!”]
- Não sei, mas tem uma bunda ótima.
- E belos seios. Vamos lá.

13 comentários:

  1. A questão cultural da beleza que hoje está imposta é tão forte que fica praticamente impossível convencer os/as cidadãos e cidadãs de sua superficialidade. Somos ensinados desde muito cedo pelo que e por quem sentir tesão, o que é belo e o que não é, que, de fato, acabamos nos atraindo e dando valor a essa beleza culturalmente imposta. Como se fosse algo natural, instintivo. Como se nossa parte animal, literalmente, sentisse o desejo naturalmente pelo que nos atraimos.

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  2. Para mim a melhor parte:

    "Não importa quão perfeito o mamilo, quão suave a coxa, se não houver alguma outra coisa acontecendo no relacionamento, além da parte física, vai se desgastar, ok? E vocês, como um gênero, têm que se mancar. Senão, o futuro da humanidade corre perigo."

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  3. Há uma eterna 'pitimba' entre antropólogos e biólogos: o que nos faz sentir desejo.
    E o que há de mais concreto é: o ser humano atrai-se sim pela proporcionalidade, porém as medidas dessa proporcionalidade são culturalmente definidas.

    Mas aí é que entra o machismo (pra mim), porque além da proporcionalidade (que também buscamos nos rostos e corpos masculinos) a mulher precisa parecer o mais frágil possível.

    Li há algum tempo uma entrevista com um bem-sucedido biólogo e ele explicava que a maior parte das características físicas mais apreciadas nas mulheres (principalmente no mundo artístico) são características que as aproximam do visual de mulheres frágeis: magreza, cabelos loiros (lembra cabelos infantis), rostos angelicais, comportamento delicado, etc...

    É duro que em pleno século XXI a mídia ocidental ainda use desses valores (literalmente) pré-históricos de beleza!!

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  4. É verdade que nós observamos as mulheres e apreciamos seus atributos físicos, mas a maioria de nós tem padrões bem mais abrangentes que aqueles adotados pela mídia. Muitas das mulheres que são taxadas de "gostosas" e que chamam a atenção de todos os homens por onde passam nunca seriam aceitas numa agência de modelos ou na televisão.

    A maioria das piadinhas que vi por aí sobre a Geyse Arruda são exatamente focadas naquilo em que ela difere dos padrões da mídia: chamam ela de gorda, de feia e dizem que ela descolore os pêlos em vez de se depilar. Mesmo assim não faltam homens que achem ela gostosa e atraente...

    É verdade que as mulheres reais não são exatamente aquilo que a mídia mostra, mas será que os homens reais são esses aí que não conseguem prestar atenção numa conversa e que babam irracionalmente por qualquer mulher com peitões? Ou será que isso também é um estereótipo, uma generalização das características de uma minoria exageradas para todos?

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  5. puxa, koppe, é exatamente disso q estamos falando qd dizemos q os homens tb sofrem com o machismo. O cara é direcionado a se interessar por um certo tipo de mulher e se ele ñ segue esse padrão, vai ser ridicularizado ou vai se sentir inferior. a desgraça da opressão é q ela afeta inclusive os opressores...

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  6. Estou me sentindo injustiçada por Deus! Ele me fez ter peitos grandes e bunda pequeno-média. Esse diálogo obviamente me exclui do mundo feminino! rs

    Brincadeiras à parte, adorei. Tb acho que os homens estão sendo iludidos e ficando obsecados com coisas que foram inventadas. É só pegar uma Playboy de 20 anos atrás: as mulheres têm pelos, celulite, peitos pequenos, cabelos rebeldes. Hoje todas são bonecas de plástico photoshopadas! É difícil pedir que eles não tentem usar aquilo como modelo de beleza.

    Isso, é claro, repercute diretamente a nós, mulheres, mas o engraçado é que o mundo inteiro está ficando assim, não? Maravilhas da tecnologia! Vc ouve algum "top 10" de músicas pop e vê que lá não tem uma música cantada por uma voz de verdade ou tocada por instrumentos de verdade. E não tem ninguém de verdade dançando no clip.

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  7. haha Laetitia, também me senti injustiçada, pois tenho bunda grande e peito pequeno =D

    E agora, sério mesmo, nós somos muito manipulados e nem percebemos. Ou melhor, muitas vezes é preciso algo que mude totalmente a nossa percepção da realidade para que uma 'sacudida' aconteça. No meu caso, foi mudar de país.

    O exemplo mais clássico que tenho para dar, a meu respeito, é o da depilação. Aqui as indianas depilam o braço todo, as pernas e o rosto todo. Eu nunca tive esse costume. Depilo as pernas sim, mas o braço? Sempre descolori. E fui muito zoada por isso. Houve uma peer pressure lá no escritório e eu acabei depilando o braço todo. Mas não gostei e acabei voltando ao velho e bom descolorante. Porque, pra mim, já que tudo é padrão, não há muita graça em simplesmente se substituir um padrão por outro.

    Daí que eu só fui achar um salão que faz depilação íntima depois de dois anos morando aqui. Isso pq o salão é de uma tailandesa. Simplesmente não achava, e passei dois anos fazendo na gilete, pq de tanto depilar no Brasil, eu criei agonia de ficar com as partes peludas.Achar o tal salão da tailandesa foi terapêutico pra mim, rsrsrs. Daí que as minhas amiguinhas indianas me acham estranha, por me negar a depilar o rosto e os braços, e ter forças pra aguentar uma depilação lá nas partes, haha.

    E daí que hoje eu sei que muito do que eu considerava como uma preferência minha, não é nada além de um molde. A questão de depilar a virilha é algo que, hoje em dia, eu posso falar que prefiro. Porque eu me sinto melhor quando me livro dos pêlos, mesmo meu marido não preferindo a dita-cuja 'lisinha'. Mesmo eu sabendo que nunca usarei biquíni por aqui.

    Por outro lado, eu ainda sou refém de uma série de outros moldes que não, não me deixam feliz. Mas ao pensar na pressão social, eu simplesmente cedo. E o exemplo mais clássico disso são minhas olheiras. Tenho olheiras medonhas, ao ponto das pessoas, num primeiro contato, me perguntarem se eu estou cansada. Eu ODEIO ouvir tal pergunta. Daí que estou sempre com um corretivo na bolsa. Não uso maquiagem pesada, mas cara lavada? Jamais. Porque, mesmo com o corretivo, as pessoas me perguntam se estou doente, cansada, se dormi direito. E eu me sinto constrangida, mesmo admitindo que isso é fraqueza minha. Tenho certeza que se alguma cirurgia que acabe de vez com as olheiras existisse, eu faria sem hesitar. Já procurei dermatologistas e ouvi que, pelo meu tom de pele, as opções não são lá muito animadoras. Mas se saísse um tratamento realmente eficaz, eu faria. E engrossaria o caldo das pessoas que manipulam a própria imagem para se sentirem melhor.

    Por fim, eu sinto que os brasileiros são especialmente cruéis no quesito aparência. Já ouvi muitas piadas e comentários maldosos de caras a respeito de mulheres que não fazem a tal da virilha cavada. Já ouvi brasileiros aqui na Índia dizendo que jamais ficariam com as indianas, porque já ouviram que elas não se depilam. É tenso, viu. Acho que todos os brasileiros deveriam assistir e refletir a respeito desse vídeo.

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  8. Se olharmos as pessoas pelo seu exterior estaremos sempre limitados, impossibilitados de conhecer alguem realmente. O que realmente importa está distante dos olhos.

    http://penseforrestpense.blogspot.com

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  9. Mudando de assunto, gostaria de sugerir um post sobre as acusações de violência sexual feitas ao Julian Assange do WikiLeaks.

    Seria interessante uma abordagem feminista sobre as acusaações e as respectivas desqulificações, inclusive das autoras.

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  10. Bruno, eu não sou a Lola (snif!), mas escrevi sobre isto em blog: http://paisagemestripada.blogspot.com/2010/12/assange-e-acusacao-de-crime-sexual.html

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  11. rsrs... Adorei! Mas até que no Brasil não é nada falso isso de bunda ou quadril grande e seios pequenos.
    Aliás, até uns quinze anos o bonito no Brasil eram mulheres de seios pequenos, de uma década e meia pra cá é que mudou um tanto esse padrão.
    Quem tem peito grande como eu sabe como foi. Até no meio da década de 90 era defeito, me mandavam operar até pelo SUS, agora é qualidade, quando falo que quero operar falam que sou maluca.
    E tem gente que ainda não acredita em construção cultural ou influência de culturas no padrão de beleza. Sei... e a parte superior do meu corpo também... rsrs

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  12. Vocês chegaram a ver uma espécie de campanha que a Revista MTV fazia anos atrás, chamada "0% Silicone"? É interessante, bem na época em que silicone tinha virado moda e a maioria das pseudofamosas estava colocando, fazendo com que o sonho de milhares de gurias fosse exatamente colocar essas coisas, eles colocavam fotos e depoimentos de mulheres satisfeitas com seus seios pequenos ou médios.

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  13. Flovi: junta nós duas que fica tudo certo então, de acordo com o diálogo do filme. rs

    Tô chocada com essa necessidade de depilação do braço por parte das indianas... ai, não comenta com ninguém no Brasil, pelamor, pq vai que a moda pega!

    Eu odeio depilação. Quem dera ter coragem na cara pra sair por aí do jeito que eu sou de verdade... ah, sonho meu! Passei uma vez na vida pela sessão de tortura no salão, quase morri, xinguei meio mundo e decidi não voltar nunca mais. Daí raspo a perna com gilete, o que é horrível pq a minha pele de "alemoa" é fina que só, e fica todinha irritada. Ou seja... se eu tivesse coragem, parava com isso mesmo.

    Com o namorado, adotei a fórmula que funciona: reclamou? então depila vc tb. como ele não faz isso, então é obrigado a parar de reclamar. rs

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