Gente ótima, na segunda-feira, em pleno feriadão, falei brevemente de "The Story of an Hour" (e de outras coisas, como o fato dos meus queridos alunos cearenses literalmente não saberem o que são as quatro estações). Vi que o belo conto da escritora americana Kate Chopin (1851-1904) tocou fundo em algumas de vocês, e é por isso que eu queria voltar a ele.
Acho fantástico como este conto pode dizer tanto em tão curto espaço. Por coincidência, durante a semana, folheando uma revista de SP, notei que lá está passando uma comédia francesa chamada Enfim Viúva. E o resumo conta que é sobre uma dona de casa, mulher de um médico bem-sucedido, mas infeliz no casamento. Ela fica viúva e precisa disfarçar o sentimento de alívio e felicidade (trailer aqui). Ok, tirando o fato que esse filme é uma comédia, e o conto de Chopin é bem dramático, a liberdade vivenciada pelas duas recém-viúvas é parecida. Não estou dizendo que ficaria feliz se o meu amado maridão morresse. Só que consigo compreender o sentimento de liberdade de não ter mais que cuidar de ninguém, de viver só para si.
Não quero falar muito mais sobre o conto porque gostaria que vocês fizessem isso. A gente já tentou um Clube de Leitura aqui e não deu muito certo. Esta é a segunda tentativa. Vamulá, pessoal, que eu gostaria de organizar outros! O conto de Chopin é ideal porque é curtinho e feminista. O que me impedia é que eu não tinha uma tradução pro português. Mas, felizmente, agora tenho. A tradução abaixo é da Claudia Marcanth B. Silva, e foi enviada por sua prima. Quem preferir se aventurar no inglês pode ler o original aqui. E aí é só falar o que quiser nos comentários. Conto com vocês!
A HISTÓRIA DE UMA HORA
Como a Sra. Mallard sofria do coração, foi com extremo cuidado e delicadeza que lhe disseram que o marido havia morrido.
Josephine, sua irmã, deu-lhe a notícia em sentenças entrecortadas; uma pista aqui, outra acolá, a verdade insinuando-se entre um véu e outro. Richards, um amigo do marido, acompanhava toda a cena de perto, ao lado da viúva. Fora ele quem, trabalhando na redação do jornal, recebera as primeiras informações sobre o acidente ferroviário, juntamente com uma lista de vítimas encabeçada pelo nome Brently Mallard. Não podia perder tempo: após certificar-se da veracidade dos fatos através de um segundo telegrama, ele correra para a casa dos Mallard com o intuito de impedir que algum outro amigo menos carinhoso, ou menos atencioso, se adiantasse na tarefa de transmitir a triste notícia.
Ela não ouviu a história como muitas mulheres já o fizeram: com uma paralisante incapacidade de aceitar o seu significado. Caiu em prantos imediatamente, jogando-se nos braços da irmã em súbito e profundo abandono. Quando o turbilhão de emoções se esgotou, subiu para o seu quarto. Queria ficar sozinha; pediu que ninguém a seguisse.
A poltrona ampla e confortável estava de frente para a janela escancarada. Ela afundou ali, esmagada por uma exaustão física tão intensa que parecia atravessar os limites do corpo e atingir em cheio a sua alma.
Pelo quadrado aberto diante de si, ela podia ver os topos das árvores em alvoroço com a chegada da primavera e da vida nova. Um delicioso aroma de chuva impregnava o ar. Na rua logo abaixo, um mascate anunciava suas mercadorias. Notas de uma música que alguém cantava chegavam, distantes, aos seus ouvidos. Inúmeros pardais gorjeavam nos beirais dos telhados.
Nesgas de céu azul rasgavam as nuvens que haviam se encontrado e se empilhado, uma em cima da outra, a oeste de sua janela.
Sentada, a cabeça esparramada no encosto da poltrona, ela permanecia praticamente imóvel. Apenas os soluços, que de vez em quando subiam pela garganta e faziam-na estremecer como uma criança que chora até dormir e continua soluçando em seus sonhos.
Ela era jovem. As linhas do rosto calmo e agradável denunciavam um quê de repressão e até um certo vigor. Agora, entretanto, os olhos arregalados pareciam embotados. O olhar, capturado por uma daquelas manchas azuis no céu, não mostrava nenhum sinal de raciocínio ponderativo. Pelo contrário, sugeria a suspensão total de pensamento inteligente.
Havia algo vindo ao seu encontro e ela aguardava por isso, amedrontada. O que seria? Não sabia; era algo muito sutil e impalpável para ser nomeado. Mas podia senti-lo, descendo furtivamente do céu, alcançando-a por meio dos sons, dos cheiros e das cores que tingiam o ar.
Agora o seu peito arfava descompassadamente. Estava começando a reconhecer aquela coisa que se aproximava para possuí-la, e lutava para afastá-la de si com a força da sua vontade. Esta, porém, revelava-se tão ou mais fraca do que as suas duas mãos brancas e delgadas.
Quando desistiu de lutar, uma pequenina palavra, um sussurro, escapou pelos seus lábios entreabertos. E ela repetiu, secretamente: “Livre, livre, livre!” O olhar perdido e a expressão de terror fugiram dos seus olhos. Eles ficaram alertas e brilhantes. Sua pulsação aumentou e o sangue passou a circular mais quente, relaxando cada pedacinho do seu corpo.
Não parou para se perguntar se a felicidade que tomava conta do seu ser era monstruosa ou não. Uma percepção clara e exaltada convenceu-a de que aquela era uma questão irrelevante.
Sabia que choraria novamente quando visse as mãos gentis e ternas incorporadas à morte; quando visse o rosto - outrora amoroso - rígido, cinza e morto. Mas podia entrever, por detrás de um breve instante de amargura, uma longa sucessão de anos que seriam todos seus, absolutamente seus. E então, abriu e estendeu os braços, acolhendo calorosamente os anos vindouros.
Durante os próximos anos não teria que dedicar a sua vida a ninguém; viveria para si mesma. Não teria que se curvar diante de um poder maior do que o seu, naquele jogo cego e persistente no qual homens e mulheres acreditam ter o direito de impor suas vontades a uma outra pessoa. Embalada por aquele momento de iluminação, ela podia enxergar, claramente, que as melhores ou as piores intenções não tornavam tal ato mais ou menos criminoso.
Mas ela o amara – algumas vezes. Poucas vezes. Mas que diferença isso fazia agora? O que importava o amor, esse mistério insondável, diante da conquista de tamanha autoconfiança? De repente, entendeu que aquele sentimento inédito era a coisa mais forte, mais importante de sua vida!
- Livre! Corpo e mente livres! – repetia para si mesma.
Josephine estava ajoelhada atrás da porta trancada, os lábios colados no buraco da fechadura, suplicando para ser admitida no quarto.
- Louise, abra a porta! Eu lhe imploro, abra a porta. Você pode passar mal. O que você está fazendo, Louise? Pelo amor de Deus, abra esta porta!
- Vá embora. Eu não estou passando mal!
Não; ela estava bebendo do elixir da vida através da janela aberta.
Sua imaginação galopava enlouquecida diante da perspectiva de todos os dias que ainda teria pela frente. Dias de primavera, dias de verão, dias quaisquer – todinhos seus. Ela murmurou uma rápida oração pedindo que a vida fosse longa. E pensar que ontem mesmo havia percebido, com terror, que a vida poderia ser longa.
Finalmente, ela se levantou e abriu a porta para as importunações da irmã. Havia um triunfo febril em seus olhos. Sem se dar conta, portou-se como se fosse uma deusa da Vitória. Passou o braço em torno da cintura da irmã e, juntas, desceram as escadas. Richards aguardava as duas na base da escadaria.
Um barulho de chave girando na fechadura. Alguém abria a porta da frente. Era Bentley Mallard. Suas roupas estavam ligeiramente empoeiradas por causa da viagem. Carregava com elegância a pasta e o guarda-chuva. Ele passara longe da cena do acidente, e sequer ouvira falar de desastres naquele dia. Ficou perplexo com o grito agudo de Josephine; estranhou os rápidos movimentos de Richards para evitar que sua esposa o enxergasse. Mas Richards não fora rápido o suficiente.
Quando os médicos chegaram, informaram-lhes que ela havia morrido de ataque do coração – de felicidade fulminante.
Não quero falar muito mais sobre o conto porque gostaria que vocês fizessem isso. A gente já tentou um Clube de Leitura aqui e não deu muito certo. Esta é a segunda tentativa. Vamulá, pessoal, que eu gostaria de organizar outros! O conto de Chopin é ideal porque é curtinho e feminista. O que me impedia é que eu não tinha uma tradução pro português. Mas, felizmente, agora tenho. A tradução abaixo é da Claudia Marcanth B. Silva, e foi enviada por sua prima. Quem preferir se aventurar no inglês pode ler o original aqui. E aí é só falar o que quiser nos comentários. Conto com vocês!
A HISTÓRIA DE UMA HORA
Como a Sra. Mallard sofria do coração, foi com extremo cuidado e delicadeza que lhe disseram que o marido havia morrido.
Josephine, sua irmã, deu-lhe a notícia em sentenças entrecortadas; uma pista aqui, outra acolá, a verdade insinuando-se entre um véu e outro. Richards, um amigo do marido, acompanhava toda a cena de perto, ao lado da viúva. Fora ele quem, trabalhando na redação do jornal, recebera as primeiras informações sobre o acidente ferroviário, juntamente com uma lista de vítimas encabeçada pelo nome Brently Mallard. Não podia perder tempo: após certificar-se da veracidade dos fatos através de um segundo telegrama, ele correra para a casa dos Mallard com o intuito de impedir que algum outro amigo menos carinhoso, ou menos atencioso, se adiantasse na tarefa de transmitir a triste notícia.
Ela não ouviu a história como muitas mulheres já o fizeram: com uma paralisante incapacidade de aceitar o seu significado. Caiu em prantos imediatamente, jogando-se nos braços da irmã em súbito e profundo abandono. Quando o turbilhão de emoções se esgotou, subiu para o seu quarto. Queria ficar sozinha; pediu que ninguém a seguisse.
A poltrona ampla e confortável estava de frente para a janela escancarada. Ela afundou ali, esmagada por uma exaustão física tão intensa que parecia atravessar os limites do corpo e atingir em cheio a sua alma.
Pelo quadrado aberto diante de si, ela podia ver os topos das árvores em alvoroço com a chegada da primavera e da vida nova. Um delicioso aroma de chuva impregnava o ar. Na rua logo abaixo, um mascate anunciava suas mercadorias. Notas de uma música que alguém cantava chegavam, distantes, aos seus ouvidos. Inúmeros pardais gorjeavam nos beirais dos telhados.
Nesgas de céu azul rasgavam as nuvens que haviam se encontrado e se empilhado, uma em cima da outra, a oeste de sua janela.
Sentada, a cabeça esparramada no encosto da poltrona, ela permanecia praticamente imóvel. Apenas os soluços, que de vez em quando subiam pela garganta e faziam-na estremecer como uma criança que chora até dormir e continua soluçando em seus sonhos.
Ela era jovem. As linhas do rosto calmo e agradável denunciavam um quê de repressão e até um certo vigor. Agora, entretanto, os olhos arregalados pareciam embotados. O olhar, capturado por uma daquelas manchas azuis no céu, não mostrava nenhum sinal de raciocínio ponderativo. Pelo contrário, sugeria a suspensão total de pensamento inteligente.
Havia algo vindo ao seu encontro e ela aguardava por isso, amedrontada. O que seria? Não sabia; era algo muito sutil e impalpável para ser nomeado. Mas podia senti-lo, descendo furtivamente do céu, alcançando-a por meio dos sons, dos cheiros e das cores que tingiam o ar.
Agora o seu peito arfava descompassadamente. Estava começando a reconhecer aquela coisa que se aproximava para possuí-la, e lutava para afastá-la de si com a força da sua vontade. Esta, porém, revelava-se tão ou mais fraca do que as suas duas mãos brancas e delgadas.
Quando desistiu de lutar, uma pequenina palavra, um sussurro, escapou pelos seus lábios entreabertos. E ela repetiu, secretamente: “Livre, livre, livre!” O olhar perdido e a expressão de terror fugiram dos seus olhos. Eles ficaram alertas e brilhantes. Sua pulsação aumentou e o sangue passou a circular mais quente, relaxando cada pedacinho do seu corpo.
Não parou para se perguntar se a felicidade que tomava conta do seu ser era monstruosa ou não. Uma percepção clara e exaltada convenceu-a de que aquela era uma questão irrelevante.
Sabia que choraria novamente quando visse as mãos gentis e ternas incorporadas à morte; quando visse o rosto - outrora amoroso - rígido, cinza e morto. Mas podia entrever, por detrás de um breve instante de amargura, uma longa sucessão de anos que seriam todos seus, absolutamente seus. E então, abriu e estendeu os braços, acolhendo calorosamente os anos vindouros.
Durante os próximos anos não teria que dedicar a sua vida a ninguém; viveria para si mesma. Não teria que se curvar diante de um poder maior do que o seu, naquele jogo cego e persistente no qual homens e mulheres acreditam ter o direito de impor suas vontades a uma outra pessoa. Embalada por aquele momento de iluminação, ela podia enxergar, claramente, que as melhores ou as piores intenções não tornavam tal ato mais ou menos criminoso.
Mas ela o amara – algumas vezes. Poucas vezes. Mas que diferença isso fazia agora? O que importava o amor, esse mistério insondável, diante da conquista de tamanha autoconfiança? De repente, entendeu que aquele sentimento inédito era a coisa mais forte, mais importante de sua vida!
- Livre! Corpo e mente livres! – repetia para si mesma.
Josephine estava ajoelhada atrás da porta trancada, os lábios colados no buraco da fechadura, suplicando para ser admitida no quarto.
- Louise, abra a porta! Eu lhe imploro, abra a porta. Você pode passar mal. O que você está fazendo, Louise? Pelo amor de Deus, abra esta porta!
- Vá embora. Eu não estou passando mal!
Não; ela estava bebendo do elixir da vida através da janela aberta.
Sua imaginação galopava enlouquecida diante da perspectiva de todos os dias que ainda teria pela frente. Dias de primavera, dias de verão, dias quaisquer – todinhos seus. Ela murmurou uma rápida oração pedindo que a vida fosse longa. E pensar que ontem mesmo havia percebido, com terror, que a vida poderia ser longa.
Finalmente, ela se levantou e abriu a porta para as importunações da irmã. Havia um triunfo febril em seus olhos. Sem se dar conta, portou-se como se fosse uma deusa da Vitória. Passou o braço em torno da cintura da irmã e, juntas, desceram as escadas. Richards aguardava as duas na base da escadaria.
Um barulho de chave girando na fechadura. Alguém abria a porta da frente. Era Bentley Mallard. Suas roupas estavam ligeiramente empoeiradas por causa da viagem. Carregava com elegância a pasta e o guarda-chuva. Ele passara longe da cena do acidente, e sequer ouvira falar de desastres naquele dia. Ficou perplexo com o grito agudo de Josephine; estranhou os rápidos movimentos de Richards para evitar que sua esposa o enxergasse. Mas Richards não fora rápido o suficiente.
Quando os médicos chegaram, informaram-lhes que ela havia morrido de ataque do coração – de felicidade fulminante.
Clube de leitura. Adooooro. Vou ler. Tomara que dê certo.
ResponderExcluirAi, sei não viu. Eu não posso imaginar alguém feliz pela morte do cônjuge num casamento feliz. Sera que é pq eu não vivo para o outro, ou que não faço mais por ele do que ele por mim? Serio, não quero posar de "oh, como ela é feliz e nobre", mas não concordo que todas as mulheres entendem e compartilham esse sentimento de felicidade. Divorcio ta ai, poxa! Hoje em dia so fica casada quem quer.
ResponderExcluirEssa Kate Chopin é muito boa de serviço, conseguiu criar uma obra sensacional com meia dúzia de palavras. Gostei muito!
ResponderExcluirAhhh,Lola! Por que ela teve que morrer? Por que ela não poderia ter "renascido" depois da constatação de que, quem tinha morrido era o seu casamento infeliz? Sei lá...o final poderia ser ela fugindo com uma companhia de teatro que passava pela cidade, como escrevi uma vez num post meu.Coitada! Agora que tinha acordado prá vida...sei não! Esse final foi um boicote...rsrsrs
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirPelo contrário, não acho que tenha sido um boicote. De um jeito ou de outro estava livre.
ResponderExcluirViver para ela seria uma eterna prisão, uma sucessão de dias sem sentindo. Ela seria sempre uma "madame bovary" ou uma Joana (perto do coração selvagem).
Nem sempre a morte significa algo ruim. A morte é um direito, e de vez em quando até a tradução da liberdade. Liberdade de não ter de existir em uma existência que não se morreria por ela, mas que se morreria para não sê-la.
A morte da moça é um grito, um alerta. O que era longo e dolorido tornou-se longo e querido, feliz... mas não se deve esperar que o acaso conserte todos os erros, todos os defeitos. É preciso guiar-se àquilo que se quer, abrir mão, não importando com aqueles que sofrerão, do que nos torna mortos caminhando entre outros mortos, enquanto tudo o que queríamos era ser livre caminhando entre outros poucos livres. Pois uma hora ou outra nos invejamos dos poemas e sua liberdade.
Eu achei engraçado, Tava esperando um outro final.
ResponderExcluirNão sei se gosto tanto assim da forma como a historia é contada pessoalmente prefiro escritores como mirisola, marcelo rubens paiva, j.d. salinger, Wood allen,Nick hornby.
Eu achei simples,
não leria outros contos dessa escritora, não me comoveu tanto assim.
jessika da silva Brito
Eu imaginei que ela fosse morrer...
ResponderExcluirHumor negro, sarcasmo e ironia de qualidade, do destino.
Acho que as pessoas gostam que seus filmes, suas literaturas... tudo tenham fins excelentes, maravilhosos, felizes e surreais.
A tragédia ensina a pensar, sem ter, necessariamente, de vivê-la. A tragédia, toca, emociona, destrói, reconstrói.
No conto, creio que muita gente, como eu, pensou: eu posso morrer sem ter sido livre. E ai estão, com certeza, repensando em suas vidas.
E o cômico? Foi a frase "morreu de felicidade fulminante." E foi o contrário, morreu de um desgosto profundo.
O marido estar vivo foi um choque. O destino usou-a como personagem de uma maldade sem tamanho: deu-lhe o que mais queria e precisava, e quando já não restava infelicidade que fosse, o mesmo acaso tirou-lhe tudo: se não lutou por isso, não tem direito.
É um conto pra pensar. Muito mais para se auto-analisar do que necessariamente ao texto.
Sobre "4 estações" (e não falamos aqui de Vivaldi, ainda que a autora seja Chopin), uma vez eu fui à reunião da diretoria nacional aampliada da CUT, justo no começo da primavera, e um mineiro, colega de quarto perugntou:
ResponderExcluir"Primavera é a melhor estação do ano, não é?"
Respondi: "não sei, na minha terra não tem isso..." :D
Sobre o conto:
Não me parece prudente o olhar etnocêntrico de quem vive no século XXI em relação ao Século XIX
Casamento, no século XIX, ainda que tenhamos muito a avançar nas relações conjugais, era de fato uma prisão, principalmente para as mulheres...
Sempre me diverti com as descrições de cena e personagens nos autores da época, como dizia um amigo meu: "passa 10 páginas para dizer que o cara é corno" :D, não é o caso aqui, mas você se sente quase um ácaro invadindo as rugas da protagonista.
Curto e grosso, como se diz por aqui.
Eu ainda imaginei outra coisa: mulheres, vcs não têm o direito de serem livres.
ResponderExcluirPensando por esse lado, fiquei inquieta... São muitos os textos, livros, músicas que usam do machismo para nos alertar do próprio machismo.
Nem sempre a morte significa algo ruim. A morte é um direito, e de vez em quando até a tradução da liberdade. Liberdade de não ter de existir em uma existência que não se morreria por ela, mas que se morreria para não sê-la.
ResponderExcluirNão sei,"como se fosse a única", no texto esse final "funcionou" bem. Foi como "a cereja do bolo". Mas,para mim,ainda ficaria com a opção da morte simbólica para a Sra Mallard.Como vc disse, não podemos sempre esperar que o acaso conserte tudo.
"Como se fosse a única", eu achei interessantíssimo esse texto justamente por ele reforçar a minha vontade de que ele terminasse diferente.É no mínimo instigante e nada óbvio. Acho que no fundo estamos falando a mesma coisa.
ResponderExcluirEntão, Clara, eu não sei se dá pra gente imaginar uma morte "simbólica", pois no conto é narrado que ela tinha fortes problemas cardíacos e tem o "parecer" dos médicos de que ela morreu e "achismo" dos mesmo de que ela morreu de felicidade.
ResponderExcluirDe qualquer jeito: bela piada de mal gosto. No entanto livre, como ela queria.
Eu fico imaginando: se ela não tivesse morrido ao dar de cara com o marido vivo, será que ela conseguiria viver inda? Assim, será que depois de ter provado do gosto da liberdade e da alegria com a morte do marido, será que ela conseguiria levar a vida adiante. Porque ai, com certeza, ela começaria a questionar-se sobre o fato de ter sentido-se feliz com a morte do cônjuge.
E isso me fez lembrar o Allan Poe... Acho que ela seria atormentada pelo resto da vida, até que não consegueria esconder o remorso que seria impelida a sentir... contaria ao marido, e a outras pessoas... Imagino que ela seria agredida de todos os lados. E talvez até se matasse...
Pois é, aí entra o que o Giovanni falou,né?!.Não podemos analisar um casamento do sec.XIX com olhos do sec.XXI. De qualquer forma, só o fato de nos fazer refletir, de nos proporcionar uma auto-análise, já é muito louvável.
ResponderExcluirConcordo com o Giovanni, jamais devemos usar a história como um tribunal... Ela viveu no século XIX e casamentos eram eternos.
ResponderExcluirO que mais me chama a atenção é que mesmo que nao fosse século XIX creio que ela permaneceria no casamento. Porque é dito que ela o amava, algumas vezes, mas o amava.
É apenas com a morte dele que ela percebe que pode ser mais feliz, muito mais feliz. Ela sabe que sentirá sua falta, mas sabe que será livre. Mas a volta dele é a certeza de que tudo que ela imaginou nesses poucos minutos jamais se concretizará.
Simplismente magnífico e atual!!
Ai, ai se meu marido morrer eu choro, a vida é tao mais gostosa com ele ao meu lado.
ResponderExcluirDe que ano é o conto, em que epoca se passa? Como disse a Amanda, quem nao ta feliz que se divorcie, mas se a historia de passa num tempo em que isso nao existia, ou nao era possivel pq mulher nem profissao nem mercado de trabalho tinha (minha sogra ao invés de ensino medio, fez tres anos de uma escola que preparava a mulher pra ser dona de casa: costurar, bordar, cozinhar, horta, decorar, etc), ai, sim, pra muitas, a morte do marido seria algo ideal em caso de casamento infeliz, especialmente se o cara tinha dinheiro (o q devia ser o caso: " Carregava com elegância a pasta e o guarda-chuva") aí seria ainda melhor: liberdade com recursos pra usufruir.
Acho que ela sofria do coracao por guardar a amargura de um casamento infeliz e sua condicao de submissao natural, mulher que era.
E morreu pq a autora expressa o julgamento da sociedade: quem descobre que melhor estaria sem seguir as regras(contentar se em ser a mulher de alguem)= pena de morte.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirLola, difícil comentar. Você já tinha descrito tudo... Gostei da autora (não a conhecia), mas li sobre ela um pouco e os estudiosos relutam em dizer se é feminista ou a qual tipo literário pertence. Sobre o conto, é lindo ver como ela se sente livre e o faz percebendo detalhes que até então pareciam desapercebidos. A primavera, o cheiro da chuva, uma música distante. É meio como se ela fosse se apercebendo do que vinha perdendo no casamento. Arranjado? Não dá para saber. O que se sabe é que ela não é 100% feliz, até houve momentos bons, mas a possibilidade da liberdade que ela nunca vivera é muito melhor. Assusta. O choro inicial seria de saudade ou seria de alegria? Ou seria por se sentir mal por se sentir tão leve?
ResponderExcluirO conto diz que ela era jovem. Imagino que deveria beirar os 30 apesar do longo casamento. Ela poderia ter se casado aos 13, 14, 15...Poderia imaginar também que talvez ela ainda tenha 13, 14 ou 15. Na adolescência tudo parece demoarar mais, msa aí ela não teria problemas no coração.
Interessante também como ela leva o nome do marido. Ao longo do conto ela não tem nome. É referida como Mrs Mallard ou she/ela. Não importa quem seja. É uma senhora casada. Quando finalmente percebe a liberdade torna-se Louise e quando morre volta a ser wife/esposa.
continuando
ResponderExcluirO marido? havia mudado os planos. Não viajara para onde informara? Onde estaria? Ora, desde quando o homem dá satisfação dos seus atos? O importante é que voltou para sua "esposa".
Ela morre. Não vi aí a morte como liberdade. Vi como morte. É melhor morrer do que ter que viver tudo aquilo de novo. É como receber a notícia de que ganhou na loteria, mas perdera o bilhete. De que encontrou um doador de medula e apesar de compatível não deu certo. Fazer mais o quê?
Hoje, poderíamos sugerir que já que ela vira a liberdade perante seus olhos, porque não dar um basta e seguir livre? Mas naquela época?
Esse conto me lembrou de um filme brasileiro chamado "Ângela". Nele um pai perde tudo o que tinha no jogo e entrega a Dinarte. Ao conhecer a propriedade que herda, Dinarte conhece Ângela (filha do perdedor) que informa que sua mãe morrera enquanto seu pai estava fora jogando. Ângela acaba se casando com Dinarte e eles têm um filho. Dinarte também é viciado em jogo e a vida de Ângela torna-se um inferno. Mas o filme é de 1951 e pela data dá para imaginar o enredo...
Continue postando contos interessantes...
A morte de Louise caiu bem para o fecho do conto, na minha opinião. Quer dizer, se "A história de uma hora" fosse um romance dificilmente teríamos notado o fim trágico, porque seriam centenas de páginas para esclarecer como foi o casamento, quem era o marido, quem era Louise. A não ser que a autora fosse uma Lispector da vida, provavelmente o enredo não teria se resumido a "uma hora", teríamos uma vida inteira de reminiscências para analisar.
ResponderExcluirMas não, trata-se de um conto. Ação. A notícia da morte do marido. A reação externa, para as visitas. O refúgio no quarto e no interior. A natureza, os sons de fora fazem eco à felicidade que Louise tenta reprimir, mas não reprime. O despertar de um sentimento imprevisto, reprovável. Louise se dá ao desplante de assumir o alívio que sente, contempla um futuro de liberdade e regozija. Então, no conto entra a “mão do destino”, moralizadora, originada provavelmente dos pré-conceitos de sua autora: o castigo. A armadilha para testar e punir a ânsia de liberdade escondida em Louise.
Louise morre. Terá sido libertação? Seu corpo poderia viver em clausura, mas não sua alma. A alma se libertou então? Imagino que a intenção da autora foi dar a Louise uma liberdade da qual ela não poderia gozar em vida: a liberdade do espírito. Mas essa liberdade foi conquistada por Louise, pois ela se permitiu sentir ao negar-se a reprimir a felicidade.
E a” história de uma hora”? A história de uma única hora de liberdade na qual uma mulher se permitiu sentir mulher, sentir-se livre, viu sentido em sua vida humana e limitada. A primeira e a última hora.
O que mais me chamou a atenção no conto foi a concisão: por meio de flashes e breves descrições, a autora conseguiu nos dizer muito sobre Mrs. Mallard/Loise e seu marido, Mr. Mallard. Em pouquíssimas linhas, o conto consegue atingir uma profundidade psicológica impressionante! E o fim, com uma boa pitada de ironia, não podia ser melhor!
ResponderExcluirClube da Leitura!
ResponderExcluirEu li e achei maraviilhoso, contei pras amigas da ginática, para o pessoal de casa etc e tal!
O caso é que eu compreendo muito bem o conto, em primeiro lugar estamos falando de uma mulher de dois séculos atrás, não existia divócio, a viuvez era a única alforria do casamento.
Não sei se todo mundo tem a noção exata das questões que estão envolvidas num casamento de longa duração, às vezes a mulher queria só um pouquinho, não ter obrigação com os outros, depender do humor do marido, ah tudo bem tem o divórcio, mas também não é assim, mesmo hoje, o divócio ainda é muito complicado.
Vejo que há a tendencia de casais há muito casados, passam a morar em casas separadas, para manter o casamento...
Quando a gente é novinha tem uma sensação de que tudo é possível que a felicidade está ao alcance das mãos, e está, no entanto, muitas vezes é preciso fazer concessões... a viuvez é um caminho mais econômico!
Gente, quando eu comentei, não estava falando do conto, mas da ideia da Lola de que todas as mulheres "entendem" o que a Kate quer dizer com LIVRE! Eu sei que naquela época não tinha divorcio e as coisas eram muito mais complicadas!
ResponderExcluirAlguém lembra de um comercial/chamada/institucional... recente, em que mostra os desejos das mulheres, e aparece uma que diz: "Sempre sonhei ser viúva"...?
ResponderExcluir"ENFIM VIÚVA" é ótimo!
ResponderExcluirAgrada crianças, jovens, adultos e idosos!
Acho que todo mundo se identifica um pouco, pelo lance de manter as aparências...
"Quando os médicos chegaram, informaram-lhes que ela havia morrido de ataque do coração – de felicidade fulminante."
ResponderExcluirEntão... esse final... pra mim fica difícil ter certeza se ela morreu de desgosto e os médicos é que erraram ao falar que foi de felicidade ou se realmente ela ficou feliz ao rever o marido, apesar dos últimos pensamentos que estava feliz em ser viúva. Pra mim não tem como saber.
Essa questão do ser humano nunca estar satisfeito veio à minha cabeça. Sou solteira, em alguns momentos fico pensando que seria bom ser casada, mas em outros momentos quando chego em casa e quero ficar sozinha, fazer coisas que não gosto de fazer com ninguém olhando, me sinto privilegiada. Vai ver a gente nunca fica cem por cento satisfeita.
Sobre a sinestesia do conto, me chamem de maluca, parece que a maioria das pessoas gostam, mas eu não gosto muito de contos que tentam me direcionar a ver tal coisa, sentir tal coisa... Prefiro eu mesma imaginar, então acabo preferindo contos menos descritivos e que não tem sinestesia.
Abçs Lola e tomara que o clube de leitura dê certo.
Lola, achei incrível este texto. Ele tem síntese. Fiquei com vontade de examinar cada detalhe dele, do que é um exemplo de escrever bem. Sobre o significado geral, acho que a descrição dos sentimentos dela na janela, que é o recheio da estória, mostra que o mais importante é que ela percebe a verdade sobre si mesma ("começando a reconhecer" e "desistiu de lutar" até "momento de iluminação"). Essa descrição de sentimentos é "nenhum sinal de raciocínio" uma reação emocional sem repressão. Você conhece alguma técnica em especial, alguma metodologia pra se fazer uma "autópsia" de um texto?
ResponderExcluirGente, vcs são @s melhores! Estou adorando todas as reações e interpretações por aqui. Fico feliz tb que a maior parte de vcs gostou do conto. Eu queria estar aqui pra comentar, mas... não estou. Hoje o dia tem sido tão corrido que mal deu tempo de chegar perto do computador. E o fim de semana promete... Preciso escrever um artigo pra um congresso na quinta. Fora todas as outras atribulações do final do semestre!
ResponderExcluirLaurinha, pra mim não resta dúvida que Louise morre do susto e da frustração em ver seu marido vivo, e que o diagnóstico dos médicos (felicidade fulminante) é apenas uma entre várias ironias do conto. Existe chance pra ela mudar de ideia tão rápido e ficar feliz por rever seu marido? Eu não consigo ver isso no conto, mas é uma interpretação. O que vcs acham?
Autópsia de um texto, Movienarratives?! Mas o texto tá vivo! Autópsia é pros mortos, há ha! Mas sim, eu adoro como o conto é curtinho e como consegue passar tanto em tão pouco espaço. Há várias formas de analisar um texto. Eu sou meio limitada, principalmente pra este conto, e não consigo ir muito além do ponto de vista feminista. No outro post que escrevi sobre o conto (tem o link logo no começo), eu falo de como uma estudiosa da Sistêmica Linguística Funcional decidiu analisar o texto – contando cada referência! Vc viu?
ResponderExcluirAcho que a minha parte favorita do conto é esta: “She knew that she would weep again when she saw the kind, tender hands folded in death; the face that had never looked save with love upon her, fixed and gray and dead. But she saw beyond that bitter moment a long procession of years to come that owuld belong to her absolutely. And she opened and spread her arms out to them in welcome”. Eu adoro o contraste entre as mãos do marido fechadas na morte (em típica posição de defunto), e como, ao pensar nisso, a protagonista abre seus braços para dar as boas vindas pra vida. E também adoro como, neste trecho - “And yet she had loved him--sometimes. Often she had not. What did it matter!”-, Louise tenta se decidir, bem na nossa frente, se ela amava ou não o marido. É como se ela estivesse decidindo isso naquele mesmo momento. Nessa parte eu sempre me lembro do narrador louco em “O Coração Delator” do Poe, decidindo bem na nossa frente por que matou o velho.
Gostei muito do texto...
ResponderExcluire apesar de ter se passado tanto tempo e estarmos no Sec. XXI, ainda existe muitas mulheres que vivem um casamento infeliz e mesmo assim não tem coragem de se divorciarem, às vezes por pura acomodação mesmo...
Perguntei-me agora se sou machista, pois a primeira coisa que veio a esta triste mente foi "coitado do marido...!". Imagine a situação dele ao chegar em casa sem saber de sua própria morte! Ainda por cima vê o súbito falecimento de sua (acredito eu) amada!!!! Pobre homem... :D
ResponderExcluirFora isso, ainda pensei que o dito amigo fosse oferecer o "ombro amigo" à moda Nelson Rodrigues.
Tá. Já sei. Mente pútrida e maliciosa que nem pensou na recém alforriada moça que enfim enxergara-se para o mundo sem os evidentes grilhões que o marido lhe impunha. Acho que acreditei no óbvio quando o conto derreteu-se nas descrições bucólicas do ambiente. Bem. na verdade o óbvio não aconteceu e para minha grande surpresa ela morreu. Definitivamente eu não desejava este fim pra ela...
Dirceu, acho que a maior angústia do marido foi a de ter que providenciar o enterro e o de encontrar uma nova noiva.
ResponderExcluirEu acho que o conto é bem claro, o final irônico só mostra o que já pressentíamos junto com as emoções da personagem...
ResponderExcluirA mensagem é linda e profunda. Para as mulheres que se sentem assim e para que possamos refletir sobre este tipo de sentimento.
Obrigada por postar essa tradução, eu enviei esse link para uma pessoa que eu acho que precisa de uma felicidade dessas ;)
Depois volto aqui para contar o resultado.
Cris, você esqueceu que ele ainda teria que tomar um banho... :D
ResponderExcluirAi, Lola, que delícia!
ResponderExcluirAcabei de chegar da cerveja com azamiga, e vou postar com o superego totalmente diluído no álcool.
Primeiro: me divirto horrores quando vejo que na literatura/ cinema/ etc, quando querem descrever alguém como desinteressante ou chato, o sujeito é sempre médico, vide o marido da Madame Bovary, ou o marido da comédia Enfim Viúva(eu sou médica,meu marido também).
Segundo: vamos falar do conto, do casamento, do XIX?
O conto é maravilhoso, descreve com poucas palavras um sentimento que literalmente não cabe em palavras.
Do casamento: quem nunca viveu um casamento não tem embasamento para opinar. As amigas solteiras que me desculpem. É uma relação muito complexa, que só vivendo pra saber. Se eu lesse isso nos meus tempos de solteira, eu seria a primeira a jogar pedra, mas é um fato.
É a relação mais importante da sua vida, que define quem serão seus filhos, seus amigos, como a sociedade vai te ver daqui pra frente. E por mais feminista que se seja, não adianta nadar contra a maré, achar que isso não é tão importante assim. Me casei com meu marido porque o amava de paixão, já vivíamos juntos, o casamento era apenas uma afirmação de um para o outro que aquilo era sério, pra sempre, não tinha noção do valor social do casamento. O amor, a relação a dois continua sendo trabalhada no dia-a-dia, podo qualquer manifestação incipiente de machismo aqui em casa, e até que o marido se sai bem.
Mas, mesmo sendo uma esposa do século XXI, eu compreendo perfeitamente a sensação de liberdade da Sra Mallard. Casamento é mesmo uma relação que desgasta, consome energia. Não que ela não o amasse. Às vezes. Mas, afinal, quem é que ama a qualquer coisa todo dia? A si mesmo, ao menos?
Ai, que lindo comentário, Rafaela! Adorei! Só pra registrar, eu realmente adoro o maridão, com quem estou junto há 20 anos. Se não nos amássemos, não estaríamos juntos. É muito simples no nosso caso (sem filhos, ambos independentes, adultos, cada um com suas economias). Se ele morresse, eu ficaria desolada. Minha vida é melhor com ele. Eu definitivamente não passaria pela transformação de Louise, nisso de se sentir “Free! Free! Free!”, porque já me sinto livre agora. Mas eu consigo me colocar (ou tento) na mente de Louise, e de outras mulheres casadas que, por um motivo ou outro, tanto no século 19 quanto atualmente, não conseguem se separar, simplesmente por serem financeiramente dependentes do marido. Dá pra gente imaginar como é esse sentimento, até mesmo sem avaliá-lo, não é? A gente não precisa necessariamente julgar Louise. Ela SABE que seu sentimento de liberdade e felicidade não é apropriado naquela hora, mas prefere não pensar nisso. No curtíssimo espaço de tempo que tenho com Louise, eu gosto dela. O que não quer dizer que preciso aprovar todas suas ações e pensamentos!
ResponderExcluirHa ha, Dirceu e Cris! Vcs me fizeram rir. Obrigada, tava precisando disso hoje, depois desse dia carregado (quer dizer, eu ri bastante nas aulas, pensando bem).
Duas coisas me vieram na cabeça:
ResponderExcluirEm um filme chamado "Quilombo", que conta a história do Quilombo Dos Palmares, tem uma cena onde alguns brancos estão indo destruir o quilombo e matar os moradores de lá. Alguém questiona se não seria mais lucrativo, em vez de matar, aprisionar os quilombolas e vendê-los. A resposta? "Negro que viveu em Palmares não serve mais pra ser escravo."
Em uma antiga história em quadrinhos do Hulk, Banner finalmente consegue se livrar da maldição de se transformar no monstro verde. Ele salva uma criança, é bem recebido numa cidadezinha do interior, a mãe da menina é viúva e demonstra algum interesse por ele... mas na história acontece uma reviravolta típica das HQs da época, e no final ele volta a ser o Hulk, sem lar, sem amigos. O monólogo final é de arrepiar: "Seria melhor nunca ter conhecido a felicidade, do que encontrá-la e depois perdê-la para sempre."
Voltando ao conto, o que eu entendi sobre a morte da protagonista é que ela já tinha conhecido a felicidade que teria na vida. Estando o marido vivo, dificilmente as coisas seriam as mesmas a partir dali. Se ela era infeliz antes, agora seria muito mais. Dificilmente aconteceria um segundo acidente de trem, um que "desse certo". Posso estar errado, mas a impressão que tenho é que ela não teria mais pelo que viver, e a morte até que foi bem-vinda.
O conto é lindo. Dá vontade de ficar a refletir longamente sobre solidão e não-solidão.
ResponderExcluir#####
Lola, só uma pequena sugestão: para um clube de leituras dar bem certo, para ter participações muito mais ricas, creio q o ideal é vc sugerir o conto, livro ou afins com um tempinho de antecedência. Aí os leitores podem preparar reflexões, escrever em seus blogs, arrumar outros textos para comparar com aquele. Se posso dar o meu pitaco, eu diria para, no próximo, escolher um conto e marcar uma conversa com os leitores para, no mínimo, uma semana depois.
Claro, é só uma sugestão.
Bjs.
Ulisses.
Olá Lola,
ResponderExcluirSou professor do Curso Superior de Tradução em SP.
Fiquei contente em ver que você deu visibilidade a este pequeno, e tão profundo e representativo texto da Kate Chopin.
Vamos trabalhar na tradução dele semana que vem em sala de aula, e usarei a tradução da Cláudia Silva que você postou!!
Obrigado por compartilhar!!
;)
E sobre o Richards? Alguém tem um palpite? Me parece que ele tinha uma paixão velada pela mulher do amigo e ela, no seu momento se devaneio ponderou ter algum tipo de relação mais livre com ele, como se já soubesse ou sentisse que Richards guardava por ela um sentimento contido.
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