Agora, pra quem não conhece a maior parte desses filmes, se você tiver que ver apenas um, que seja A Marca da Maldade. Não tanto pelo Charlton, que está bem (em Ed Wood há uma piadinha a respeito: o pior diretor de todos os tempos encontra o melhor, Orson Welles, que reclama de ter que contratar o Charlton pra fazer um mexicano por imposição do estúdio), mas porque Marca é um dos grandes filmes da história do cinema. Já escrevi sobre ele aqui, logo não vou me repetir. Só fico chateada que hoje só dê pra encontrar a versão do diretor, que eu considero pior que a versão original, lançada pelo estúdio. Aquela incrível sequência inicial, sem cortes, sem edição (aqui: um dos tracking shots mais longos e bem executados de todos os tempos) só tem a ganhar com a musiquinha do Mancini usada no original. Às vezes, quem diria, o estúdio faz a coisa certa (pra mim a narração displicente do Harrison Ford no Blade Runner original é outro exemplo. Dá mais clima noir!).
O Planeta dos Macacos de 1968 é muito, muito superior ao do Tim Burton. Veja os dois e compare. E o Charlton tá melhor que o Mark Wahlberg (o mesmo não pode ser dito sobre A Útima Esperança da Terra. Ainda que Eu sou a Lenda, com o Will Smith, não vá deixar saudades, é melhor que aquela bomba).
E sobre Ben-Hur, bem, a corrida de bigas é um dos momentos clássicos do cinema (veja aqui). Mas a verdade é que nunca vi o filme inteiro, e depois de ver o ótimo The Celluloid Closet, vai ficar mais difícil. Neste documentário único (aqui, e trailer em alemão aqui), que conta a história de como o homossexualismo foi retratado por Hollywood (quase nunca favoravelmente), Gore Viday, gay assumido e roteirista de Ben-Hur, narra como, por achar a história sem graça, decidiu incluir no épico um subtexto gay. Há uma grande conexão homoerótica entre o herói e seu melhor amigo. Mas Charlton Heston não podia saber! (não entendo muito bem porquê, se ele ainda era mais ou menos de esquerda na época). De qualquer jeito, Charlton – e o público – não devia ser muito esperto, porque o subtexto gay fala alto pacas.
Ah, e mais uma coisa: a Suzana fez um comentário sobre sua fixação por astros másculos como Burt Lancaster, Kirk Douglas e o próprio Charlton (ela é tão velhinha quanto eu), e chegamos à conclusão que a imagem que nos vem à mente desses três atores é sempre deles sem roupa. Eu nunca tinha reparado. Com os astros de hoje em dia, a imagem mental que tenho deles é com roupa (tirando, claro, ator de novela das sete). E aí, mudei eu ou mudou Hollywood?
Nossa o que é aquela sequencia inicial, muito legal mesmo. Achei super bem produzido, e olha q torço o nariz para filmes sem cor, mas morri de vontade de ver o resto do filme.. jah tah na minha lista de downloads.
ResponderExcluirEssa cena inicial de Marca é o máximo! Se encontrar a versão original (dá pra saber porque nela a musiquinha acompanha a cena toda, enquanto aqui ela é só ambiental) me avisa, por favor.
ResponderExcluirÀs vezes a pessoa não se dá conta do subtexto gay. Pra vc é óbvio porque você é ligada nisso, quem não é não percebe MESMO!!! POsso te falar isso porque assisti esse filme na aula do Burgoyne e Nuara e eu percebemos na hora, e a gente se olhava, ria,enfim, leu de cara que eles tinham tido um caso na juventude. Na aula seguinte, o Burgoyne falou justamente sobre esse assunto, usando um artigo acadêmico não me lembro de quem, e disse que ele mesmo só reparou após ter lido o tal artigo. Na turma, tinham uns 3 ou 4 só que já tinham reparado nisso. Depois que ele repassou aquela cena do reencontrou, foi quase que um "aaaaaaaaaaaaahh" coletivo.
ResponderExcluirTem razão, Ju. E se pouca gente percebe aquela tensão erótica EXPLÍCITA hoje, imagina nos anos 50, em que homossexuais tinham que viver dentro do armário ou submeterem-se a choques elétricos pra "curar" sua orientação sexual? Realmente, não havia a menor chance de alguém se dar conta do teor da cena na época.
ResponderExcluirAhn... Oi? Velhinha? Eu? Tá falando comigo?
ResponderExcluir:o)
Um dos filmes que eu gosto com ele (não é um clássico e ele tá meio canastra, mas eu gosto da história) é "Soylent Green", de 1973. Passa às vezes na madruga, e eu sempre assisto.
Bjs
Opa, não conheço esse filme. Mas filme sobre fim de mundo (mezzo) muito me interessa. Vou ver se tem no Netflix. Faz tanto tempo que não vejo filmes de madrugada... Lembro quando a Globo passava filmes bons, clássicos mesmo, o que não acontece faz tempo.
ResponderExcluirAliás, como é o título em português, só por curiosidade? Porque esse nome em inglês é bem estranho pra mim...
ResponderExcluirÉ tenebroso: "No mundo de 2020". Aqui passa no TCM, que é um canal onde só passa filmes de 40, 60 anos, além de séries clássicas, como "Chaparral", "Besouro Verde", "Mulher Maravilha", "O Agente 86"...
ResponderExcluirTá, eu sou velhinha, tá bom.
Já entendi.
Aliás, eu ainda vou fazer um post de como alguns títulos de filmes te chamam tanto quanto uma capa de livro. Porque "O ódio será tua herança", "Assim caminha a humanidade" e "Os brutos também amam" não são demais?
Eu acho. Me faz pensar em... homens viris sem camisa!
Aqui o trailer (bem anos 70):
ResponderExcluirhttp://www.youtube.com/watch?v=SVpN312hYgU
Bjs
O trailer é bem tenebroso também. Nunca ouvi falar nesse filme! Mas a mulher vem com a mobília, é? Espero que muitas feministas dos anos 70 tenham reclamado...
ResponderExcluirHa, é verdade. Esses títulos são ótimos. "Assim Caminha a Humanidade" e "Os Brutos tb Amam" viraram até chavão. Convenhamos, muito mais criativos que os títulos originais, Giant e Shane. Já não se fazem mais títulos como antigamente... Agora, tudo bem, "Brutos" faz pensar em homens viris sem camisa, mas "Assim Caminha" é bem genérico. Vc só tá pensando nisso pela associação com o Rock Hudson. E TALVEZ pelo James Dean.
Tô pensando, Lola. Só pensando. E o meu maior problema hoje em dia é exatamente esse: fico só pensando...
ResponderExcluir:op
eu recentemente revi o 'Celluloid Closet' e de novo achei o maximo o Gore Vidal falando do subtexto gay do filme... hilario...
ResponderExcluire as pessoas nao percebem mesmo... a gente sempre brinca q hetero as vezes eh cego... tem coisas tao obvias, q super passam despercebidas... exemplos de homoerotismo q passou em branco pra muita gente sao as protagonistas de 'Tomates Verdes Fritos' e os vampiros de 'Entrevista com o Vampiro', duas producoes baseadas em romance, onde no original a relacao entre eles eh super explciita e no filme nao ficou tanto.
mas se me permite fazer uma pequena correçao: a gente atualmente usa o termo "homossexualidade" em vez de "homossexualismo", pq o ultimo carrega o sufixo caracteristico de doença no linguajar medico, de onde veio.
Um abraço e desculpa o post imenso... me passei
Rê
Tadinha, Su. Sucesso pra que vc saia do plano teórico, se é isso que vc quis dizer...
ResponderExcluirRê, obrigada pela correção! Eu sempre fico em dúvida se o termo correto usado hoje em dia é homossexualismo ou ...dade. Sei lá, pra mim o ...dade tem mais carater de doença que o ...ismo. Mas pelo menos rima com sexualidade, então. Olha a Lolinha aqui falando besteira! Bom, eu sou um ótimo exemplo de como hetero é cego. Não tenho o menor gaydar e, se alguém me diz que duas moças moram juntas, penso que são roommates. É que eu realmente não penso muito na sexualidade alheia. Acho que em Entrevista com o Vampiro o negócio é bem escancarado, difícil passar batido. Já em Tomates me parece que o estúdio deve ter cortado ao máximo qualquer cena mais explícita. Acho que nesse caso a culpa é do estúdio censor, não tanto do público. Mas sabe, geralmente adolescente homofóbico capta tudo isso muito bem. Quer dizer, eles fingem não ver o homoerotismo de 300, mas qualquer coisinha em Tróia ou Alexandre é motivo pro cinema vir abaixo. Acho que infelizmente tem gente atenta DEMAIS pra qualquer subtexto gay. Ah, o Gore Vidal é hilário! Eu peguei raiva do John Waters, tá? Preciso colocar o post que escrevi sobre ele...
(só tô falando dos dois juntos porque ambos são gays assumidos e em todo documentário que vejo sobre sexualidade e/ou censura eles sempre estão presentes... Se bem que o John não tava em Celluloid Closet, ou tava?)
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