Eu amei algumas observações, como aquela que diz que uma pessoa branca olha pela janela de um restaurante étnico e só entra se lá não houver outras pessoas brancas. Ou que, pra você se enturmar com uma pessoa branca, é de bom tom admirar a bicicleta que ela tem (pessoas brancas gostam de andar de bicicleta pra ajudar o meio ambiente), fazer um gesto de “Boa!”, e dizer pra ela, “Obrigada! Sinceramente, a Terra”, porque isso fará com que a pessoa vá pra casa com um sorriso de orelha a orelha. E me identifiquei muito com um post apontando que pessoas brancas gostam de reciclagem, já que trata-se de um meio fácil de nos iludirmos que não estamos agredindo o planeta. O site diz que, se uma pessoa branca está na cozinha da casa de alguém e quiser jogar fora uma garrafinha d'água, ela vai perguntar ao dono da casa onde está a lata de reciclagem, e ele deve dizer “Nós não reciclamos”. A pobre pessoa então vai ficar muito confusa, segurando a garrafinha sem saber o que fazer. Só aí o dono pode admitir que foi brincadeirinha, e mostrar-lhe onde está a lata de reciclagem. Eu também fico sem rumo se não tiver como reciclar.
Ultimamente, no entanto, venho achando que eles estão de perseguição pessoal contra mim. Por exemplo, lembra que eu indaguei se eu sou a única que acha o Jon Stewart (que foi o apresentador do Oscar) sexy e lindo? Tá lá no Stuff: todas as mulheres brancas acham o Jon Stewart sexy e lindo, o homem mais perfeito do mundo. Eu fiquei meio arrasada. Pensava ser autêntica. Mas a pá de cal veio quando o site colocou o post “Pós-graduação”. Lá eles explicam que pessoas brancas adoram fazer mestrado e doutorado em matérias que lidam com cultura inútil, como Artes, Filosofia, Literatura, Letras... Que pessoas brancas podem então sentir-se pobres por passarem seis anos sem receber salário (chuif), que podem citar Foucault e Zizek (eu tô lendo Zizek!) ao falar de Big Brother (eu mais ou menos já fiz isso!), e que, após terminarem a pós, podem se mudar para uma cidadezinha e reclamar como todo mundo lá é burro. Essas observações soaram mui familiares. Contei pro maridão que, obviamente, concordou com o site em número e grau (ele vive achando todo estudo que não tem a ver com a cura do câncer inútil). Fiquei revoltada e devolvi: “Amor, eu não acho Literatura inútil. Nem Artes, nem Filosofia. Pra mim tudo é útil. ATÉ XADREZ, seu verme rastejante!”. E ele, com sarcasmo escorrendo pelo canto da boca: “Xadrez é muito útil. Se não fosse o xadrez eu não teria conhecido alguém tão meiga e carinhosa como a minha Lolinha”.
Eu ainda estava meio abalada com tudo isso, pensando: “Será que esse pessoal do site entende português e tá lendo o que escrevo, só pra usar contra mim?”. Aí eu e o maridão fomos ao supermercado e, como sempre fazemos, levamos nossas sacolas de pano. É muito mais fácil carregar as compras no meio da neve com sacolas de pano. Mas aqui é Michigan, não Califórnia, então o pessoal que trabalha no supermercado (e que não é branco) nos olha como se fôssemos alienígenas excêntricos, e sempre querem nos entupir de sacolinhas de plástico. Menos hoje. Hoje quem tava no caixa era um homem branco, quiçá o dono do mercado. E ele nos agradeceu por usarmos sacolas de pano! Imediatamente me lembrei do carinha falando com o sujeito da bicicleta. Se eu não tivesse visto o site, eu também voltaria pra casa com um sorriso de orelha a orelha. De-tes-to aquele site hilário!
Adorei este post. Tanto que até comentei a existência dele em outro blog, cujo ultimo post foi sobre o mesmo tema:
ResponderExcluirhttp://www.interney.net/blogs/lll/
Lola, fugindo meio do assunto, vc poderia escrever um post como vc conheceu o maridão. Deve ser um história romântica. Foi jogando xadrez?
ResponderExcluirUps!
ResponderExcluirAgradeceu por usar sacolas de plástico ou sacolas de pano?
É, já faz duas semanas que quero escrever sobre o Stuff. O post eu escrevi na quinta, mas só publiquei ontem. Su, obrigada pela correção! Tava duas vezes no texto "sacolas de plástico" ao invés de "pano". Dois erros! A gente lê, lê, lê e não vê... Corrijam sempre, por favor!
ResponderExcluirOk, Clau, vou escrever sobre como conheci o maridão. Foi num campeonato de xadrez sim.