quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

CRÍTICA: SUPERBAD / Endurecer sem perder a ternura

Tá, vou dizer com todas as letras: “Superbad – É Hoje” é a melhor comédia do ano. Sei que é difícil de acreditar, principalmente com esse nome que remete a, sei lá, “Porky's”. Mas essa não é apenas a minha opinião, e sim a da maioria dos críticos. Um crítico americano proclamou que 2007 será lembrado como o ano em que Judd Apatow e Seth Rogen salvaram a comédia cinematográfica. Pra quem nunca ouviu falar nesses nomes, Judd é diretor de “Ligeiramente Grávidos” e produtor de “Superbad”, enquanto Seth é o protagonista de “Grávidos”, e não apenas tem um papel importante em “Super” como também é um dos roteiristas. Na realidade, vendo os dois filmes juntos, “Super” parece quase uma prequel (o oposto de sequência, uma espécie de capítulo anterior) de “Grávidos”. Em “Super”, um adolescente conta pro amigo que, quando uma garota bebe até cair, acaba transando com alguém que normalmente consideraria um erro. “Nós podemos ser esse erro”, sonha o rapaz. Em “Grávidos” é justamente isso que acontece. Uma linda mulher bêbada vai pra cama com um bobalhão, e, como se um erro só não bastasse, ainda por cima engravida dele.

Em “Super” o bobalhão em questão ainda é um garoto. Um garoto gordinho, burro e tarado que só pensa em ter uma noite de “P e V” (use sua imaginação pra decifrar as letrinhas), e que está preocupado porque seu melhor amigo, que é um pouquinho mais sensível e esperto, irá pra uma faculdade diferente assim que ambos terminarem a escola. Esses desajustados são finalmente convidados pra uma festinha, com uma condição: trazer bebida alcoólica. Nos EUA, você precisa ter 21 anos pra comprar bebida, e esses garotos realmente aparentam ter uns quatro anos menos. Então pedem ajuda pra um outro nerd amigo que tem uma carteira de identidade falsa, e a aventura começa. Não sei se alguém ainda se lembra daquela assustadora fantasia do Scorcese dos anos 80. “Super” é um “Depois de Horas” teen.

Bom, se rir é um critério adequado pra medir o sucesso de uma comédia, eu ri do começo ao fim. É brilhante a parte em que o gordinho Jonah Hill imagina tudo de ruim que pode acontecer com ele por roubar bebida de uma loja ou pedir pra uma velhinha comprar pra ele. Seguem-se degolações tiradas de filmes de terror, essas coisas. Ninguém segura o público do cinema quando os dois policiais loucos (um deles interpretados pelo Seth) fogem de um outro carro da polícia. Ou quando um diz pro outro, “Honre a sua instituição”, antes de atirar em placas, beber, furar sinais vermelhos, ou qualquer uma das inúmeras infrações que a dupla dinâmica comete. Adoro quando um deles passa a mão na frente do carro, certificando-se que o vidro não existe mais. Ou quando ambos afirmam que se juntaram à força esperando encontrar sêmen, tipo CSI. Como eles explicam pro nerd: “Se o ladrão tivesse roubado a loja e em seguida ejaculado em cima de alguma sacola, aí sim poderíamos pegá-lo”.

Mas não há dúvida que a sequência mais engraçada é mesmo a dos desenhos de pênis, ao som de bossa nova. Os desenhos em si são fofíssimos e inventivos, mas mais hilária ainda é a preparação pro que vamos assistir: o gordinho narrando que, quando criança, tinha um probleminha, nada sério, 8% da população tem (e a gente pensando que seria fazer xixi nas calças ou algo do gênero), que constitui em não poder colocar um lápis num papel sem desenhar um pênis. Aliás, um só não. Um monte. Isso é feito com tamanha ingenuidade e ternura que não fica nem grosseiro.

Assim como não há dúvida que “Super” no fundo é uma história de amor, obviamente não entre os nerds e as meninas que eles desejam, mas entre eles próprios. A dupla de adolescentes tem vontade de proclamar esse amor gritando do alto de um telhado. Isso de dois amigos declararem seu amor sem sentir vergonha “Eu os Declaro Marido e... Larry!” também promove. Pois é, parece que a vida não é tão fácil pros homens. Apesar de dominar o mundo e ganhar mais que as mulheres, o machão que se preza não pode nem se dar ao luxo de adorar seu melhor amigo. Tsc tsc tsc.

“Super” é um filme pra meninos, especialmente praqueles que estão na fase em que encontrar sexo e bebida é prioridade na vida, ou praqueles que ainda não cresceram (os policiais na comédia). Mas achei que trata bastante bem as meninas. Elas não são pintadas como monstros. Mesmo assim, fico com a impressão que, entre namorá-las e louvar o próprio pênis em mil e um desenhos, os adolescentes de “Super” ainda fecham com a segunda opção.


P.S.: Vários críticos vêm chamando “Super” de “clássico instantâneo”, e é verdade. Vem se juntar a uma galeria de filmes sobre adolescentes, coisas como “Picadias Estudantis”, “Clube dos Cinco”, “Curtindo a Vida Adoidado”, entre outros. Nunca entendi o culto a “Picardias”. Claro que o Sean Penn tá marcante como o chapadão da escola, mas o resto não me convence.

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