terça-feira, 29 de novembro de 2005

CRÍTICA: BATMAN BEGINS / Uma nova bat-chance pro homem-morcego

Antes de falar de “Batman Begins”, preciso compartilhar o que me lembro dos Batmen anteriores. Olha, muito pouco. O da TV em que o Robin dizia “Santa qualquer coisa, Batman!” eu nunca vi, apenas ouvi falar porque, sabe, entrou na galeria da cultura pop. Do primeiro do Tim Burton, recordo a Kim Basinger gritando a toda hora e eu torcendo pro Coringa matá-la, pelamordedeus. Do segundo, o grande início dark mostrando a trajetória do Pingüim. Só. Finito. Logo, eu não tava esperando mil maravilhas deste novo Homem-Morcego, não. Mas não é que o filme é ótimo?! De verdade, é uma das melhores adaptações de histórias em quadrinhos, no mesmo nível de “Superman” (1 e 2) e “Homem-Aranha” (1 e 2). Mas o que mais me surpreende é essa capacidade de Hollywood de pegar uma franquia morta e reinventá-la. E quem eles contratam pra essa árdua missão? Um diretor independente, o Christopher Nolan (do incrível “Amnésia” e do bonzinho “Insônia”). E aí chamam um ator que não é nenhum astro, o Christian Bale, por quem tenho o maior respeito desde “Psicopata Americano”, se bem que pra nós, brasileiros, sua semelhança com o Collor seja sinistra. É como se o Collor se vestisse de morcego e saísse por aí arrasando Gotham City. Mas as coisas dão certo em “Batman Begins”.

Como o nome revela pra quem sabe inglês, “BB” trata das origens de Bruce Wayne, de como vê seus pais serem assassinados, do seu passado de pobre menino rico. É interessante como nos quadrinhos o Bruce é um milionário, mas por causa da inflação, tiveram que fazer dele bilionário pra poder quebrar todos aqueles brinquedos caros. Após um longo treinamento com o Liam Neeson declamando dicas de auto-ajuda em algum lugar da Ásia, Bruce passa a se moldar como Batman. Gosto de quando o Bruce se recusa a cortar a cabeça de um criminoso, dizendo que não é carrasco. Ao invés disso, decide explodir tudo, matando todas as pessoas ali presentes, incluindo, imagino, o criminoso. Na realidade, a linha que separa o Batman de ser um Charles Bronson com orelhinhas pontudas é bem tênue. Pensando bem, todo super-herói é fascista, porque faz justiça com as próprias mãos, e, pensando bem mesmo, essa é a premissa de todo o cinema americano. Então vamos nos render e nos deixar entreter por um carinha trajando preto em nome da liberdade.

Agora, perdoe a minha ignorância, mas sempre pensei que o Batman tivesse sido mordido por um morcego e, assim, adquirido seus poderes. Mas não. Ele é só um bilionário que treinou bastante luta e tem uma capa modeladora, um carro-tanque, uma batcaverna, uma armadura de 300 mil dólares, e no mínimo dois empregados (Michael Caine como o serviçal-modelo que desconhece direitos trabalhistas, e Morgan Freeman como inventor) eternamente à sua disposição. Ou seja, é uma visão democrática: qualquer um pode se tornar super-herói.

Não tô reclamando! Gostei de quase tudo em “BB”, principalmente do elenco, que traz o Gary Oldman e Cillian Murphy roubando a cena como um psiquiatra. Tem inclusive o Rutger Hauer posando de monstro corporativista, e é tão bom ver que ele segue vivo e sexy. Defendo até a Katie Holmes. A próxima felizarda a se casar com o Tom Cruise é uma gracinha. Toda torta, mas é. Seu papel em “BB” como única mulher do filme não é fácil, mas pelo menos, ao invés de emitir gritinhos histéricos, ela trabalha como promotora e dá bronca no Bruce. Claro que não rola nenhum batsexo, mas, se não me falha a memória, super-herói não transa com meras mortais. O Superman só vai pra cama com a Lois Lane depois de desistir de ser super. O Demolidor faz sexo sim, mas com a Elektra, que é uma heroína. E o Aranha só fica suspirando por sua Mary Jane. Parece que não sobra tempo pra coisas mais excitantes na agitada rotina dos super-heróis. Aqui em “BB” a cena mais sensual é justamente uma que nos remete a “Homem-Aranha”: um bandido pergunta “Onde está você?”, e o homem-morcego surge de cabeça pra baixo ao lado dele, na altura do rosto. No ato lembrei do beijo na chuva entre o aranhudo e sua quase namorada. Acho que não é mera coincidência. Ah sim, há um momento em que o Bruce aparece sem camisa que não tem nenhuma outra utilidade além de fazer o carinha atrás de mim exclamar: “Nossa, olha o braço dele! Que forte!”.

Um dos triunfos de “BB”, a meu ver, é que não haja um super-vilão, porque super-vilão não faz nada na vida fora ser muito mais instigante que super-heróis, se bem que o Coringa já está convidado pra dar o ar de sua graça na seqüência. Também gostei da edição. A gente mal vê o Batman batendo em alguém. Ele só se mexe um pouco e derruba todo mundo, como se fosse um bat-elefante numa loja de cristal. Um monte de socos ficaria monótono. Melhor ser uma bola de boliche com asas, né? Tá, tô sendo maldosa, mas não faz mal: “BB” é o Batman definitivo.

4 comentários:

  1. Ontem passou na tv aberta este filme, e por preconceito contra o Batman simplesmente ignorei. Se tivesse lido sua crítica antes teria assistido, que pena deixa para outra vez.

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  2. e por falar em Cillian Murphy, recomendo: café da manhã em plutão (http://www.imdb.com/title/tt0411195/)

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  3. Gostei da crônica. A parte do "Qualquer um pode ser um super herói" foi genial, Lola.

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  4. Fico feliz que tenha gostado do filme, mas, como fã de quadrinhos, e, acima de tudo, do Batman, achei meio preconceituoso em alguns momentos.
    Sei que você pediu 'me desculpe pela minha ignorância', e eu estou tentando, mas está difícil. Como assim você achava que ele foi mordido por um morcego radioativo? Ele não é o Homem-Aranha! Essa é a visão de alguém que não conhece muito sobre super-heróis e acredita que são todos iguais.
    E como assim não tem super-vilões. Nenhum com poderes, é verdade, mas se você considera Batman um super-heróis e Coringa um super-vilão, não precisa de poderes para ser chamado de 'super'. Espantalho e Ras Al Ghul são vilões do Batman, desculpe se não são tão famosos quanto Coringa.
    Sobre Alfred, maior parte do que ele faz não é por ser empregado do Bruce, e sim por vê-lo como um filho. Mesmo antes de Bruce perder os pais, Alfred sempre esteve por perto, e foi ele quem cuidou do menino após a morte de Marta e Thomas.
    E a parte final também soou bem preconceituosa. não sei se você notou, mas ele bateu em muitos criminosos no filme. Naquela parte que você zoou porque lembrou a cena do Homem Aranha (que merda de comparação foi essa?!) ele nocauteou vários criminosos um por um. Não apareceu claramente porque ele fez isso nos locais mais escuros, o que faz parte da ideia de usar a ilusão e o medo ao seu favor, você não entendeu isso?

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