sexta-feira, 28 de novembro de 2003

CRÍTICA: HULK / Sopa de ervilha irritada

Chegou o “Hulk”. Lembra que, no trailer, surge uma criatura verde e você pergunta, decepcionado: “Eca! O Hulk é esse defeito especial?!”. É. A vantagem do filme é que ele demora pelo menos uma hora pra aparecer, e você pode, enquanto isso, se entreter com o trauma de infância do rapaz. (Bocejos). Assim, a gente fica sabendo que o cientista Bruce foi cientificamente molestado pelo pai quando criança. Num acidente, ao receber raios gama, ele vira o Shrek, quero dizer, o Hulk. E sai dando pulinhos saltitantes por aí. Ahn, tirando esta última parte, alguém já ouviu falar de “O Médico e o Monstro”? Convenhamos, o Hulk está longe de ser a maior criação do Stan Lee. Nunca fui muito fã do Homem-Abacate nos quadrinhos, mas confesso que me divertia vendo o Lou Ferrigno pintado de verde na TV. O maridão jura que, antes do seriado, existia um desenho-animado com musiquinha e tudo, que ele cantou pra mim: “Da força vive o Hulk! Hulk!”. Só parou quando ameacei chamar os homens de branco com a camisa de força.

Não é incrível que o diretor deste exemplar de cinema-chiclete seja o chinês Ang Lee, o mesmo de “Razão e Sensibilidade” e “O Tigre e o Dragão”? Não sei, não me surpreendo com mais nada. Ele tenta fazer algo um tiquinho original com a montagem do filme, que lembra bem as histórias em quadrinhos. É o que “Hulk” tem de legal. Pena que o roteiro seja tão panaquinha. Olha, eu até gosto da idéia que existe uma dinamite de raiva dentro da gente prontinha pra explodir. Porém, depois que o Hulk vem à tona, a trama não se desenvolve. É o clímax da história, e todo o resto é anti-climático, o que explica os momentos-mortos da aventura. Os dois começos já são fraquinhos, e os seis finais, então, nem se fala. Num deles, o Hulk duela contra um monstro, só que tá tudo escuro e a câmara usa filtro verde. Vamos ver: um legítimo bicho verde contra um fundo verde? Não dá pra ver nadinha da silva. O maridão tem certeza que essa cena inútil foi colocada só pra esticar o filme pr’além das duas horas. O motivo? Conluio com o estacionamento do shopping. A gente fica mais tempo e paga mais. Uma cena corroborou sua tese. Um comandante americano aponta prum lugar montanhoso e dá as mesmas ordens que deve ter passado pros soldados no Afeganistão e Iraque: “Transforma isso aí num estacionamento!”. O soldado diz: “É pra já, chefe!”, e solta fogo. Nessa hora, o maridão gritou, triunfante: “Ahá! Aí tem o dedinho do estacionamento do shopping!”.

O contexto militarista é um dos pontos que mais desgosto no Hulk. Até entendo que, se o Bruce virar King-Kong no laboratório e destruir tudo a toda hora, o orçamento estoura. Por isso fazem o Hulk sair rapidinho de qualquer espaço fechado e perder a esportiva no meio do deserto, onde o máximo que ele pode causar é terremoto na Califórnia. Outro ponto que sempre achei estranho foi o Mistério das Bermudas. Sem entrar no mérito do preju que o Bruce tem com roupa, o que eu não engulo é como o grandão Hulk consegue caber nas calças do magricela Bruce, e como a calça vira uma bermuda com bainha. Na metamorfose, o pescoço dele incha, os pés triplicam, o tórax se agiganta, e a calça dele permanece o mesmo manequim 42?! Que falta de imaginação! Não há mudança bem na parte mais interessante da sua anatomia? Pro maridão, este é um detalhe, uma obsessão minha, e o verdadeiro problema do filme é que o crescimento do Yulk é irregular: “Ele cresce em tamanhos diferentes. Às vezes cresce mais pro lado, e no minuto seguinte diminui”. Mas tive que interrompê-lo: “Amor, se alguém ouvir essa conversa, vai pensar o quê?”.

Antes do Bruce virar Boneco Inflável, ele é interpretado pelo Eric Bana(na). E o interesse romântico do Mutante-Espinafre é a Jennifer Connelly que, pobrezinha, vê uma montanha verde à noite e sua primeira palavra é: “Bruce?”. Tudo que ela tem que pedir pra parar este pandemônio é: “Olha o gênio, Bruce. Se controla aí”. Mas não, e a enorme Sopa de Ervilha vai continuar imitando feijão saltador no deserto.

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