segunda-feira, 26 de novembro de 2001

CRÍTICA: O DIÁRIO DE BRIDGET JONES / Querido diário,

Por incrível que pareça, hoje vi um filme que gostei. Chama-se, coincidentemente, "O Diário de Bridget Jones", e é baseado num livro com o mesmo nome escrito por uma inglesa, uma tal de Helen Fielding. É um romance que fez muito barulho entre a mulherada, mas não vou fingir que o li. Como a comédia romântica é dirigida por uma moça e roteirizada pela escritora, ela logicamente traz um ponto de vista todo feminino.
Pra começar, me identifiquei com a protagonista: ela tem 32 anos, está um pouquinho acima do peso, é solteira, trabalha numa editora e bebe e fuma quando sente-se só. Nada a ver comigo, diário. Você bem sabe que desconto minhas angústias no chocolate. Mas é tão raro ver um filme estrelado por uma atriz que não seja puro osso que não pude deixar de me identificar. E a personagem faz sucesso entre os homens. A propósito, diário, se os homens da vida real fossem como os do filme, a gente não perderia tempo indo ao cinema. Mesmo que o Hugh Grant esteja meio passadinho, e aqueles olhos caídos dele comecem a desmoronar, ele ainda dá pro gasto. Digamos assim, não o expulsaria da minha cama. E ele é um ator corajoso por aceitar fazer um papel em que não seria o galã principal. Agora a gente entra na questão: o que o Colin Firth andou fazendo fora da minha vida? Tenho a impressão que a última vez que o vi como ator central foi em "Valmont", um singelo drama de 89 que ninguém conhece. Depois disso, ele fez pontinhas em "Shakespeare Apaixonado" e "O Paciente Inglês", duas produções com tantos garanhões por metro quadrado que eu nem percebi o potencial do Colin. Aposto que, se "Bridget" atrair público suficiente, o Colin terá uma confortável carreira de galã até se aposentar. Aliás, diário, nem sei o que estou fazendo escrevendo pra você. Poderia estar usando este esforço na minha carta/proposta indecorosa pro Colin.
E não é que o Colin e o Hugh brigam pela Bridget? Nós, mulheres, somos da paz, mas fantasia feminina de verd
ade é ter dois machos maravilhosos duelando pela gente. Vê como somos diferentes dos homens, diarinho? Pra eles, fantasia é só sexual, algo na linha de duas moças pra um. Pra gente, é dois carinhas trocando socos. E nem precisamos nos dar ao trabalho de torcer por um deles – qualquer um, o Hugh ou o Colin, já é lucro. Durante a batalha, a trilha sonora toca "It’s raining men". Quem falou que a canção das Pointer Sisters é um hino gay? Considero-a um dos grandes cânticos da celebração feminina. Acho que as espectadoras poderiam entoar um coro e gritar "aleluia" nesta cena.
Está no filme o maior elogio que um homem pode fazer a uma mulher. É "eu gosto de você do jeito que você é". Sabia, diário, que pedi ao maridão repetir isso quando voltávamo
s pra casa e o cretino, o biltre, não abriu a boca?! Os advogados já estão lidando com a papelada do divórcio.
Agora, diário, não entendi duas coisas. Uma é quando a Bridget diz que morrerá solteirona e será encontrada pelos vizinhos, dez dias depois, semi-comida pelos cães. Meu cãozinho sequer me lambe – acho que ele não se atreveria a me mastigar. A outra dúvida é por que, no poster de divulgação, a atriz que interpreta a Bridget está uns quinze quilos mais magra que no filme. Isso não é propaganda enganosa? A Renée Zellweger, apesar de ser texana, está be
m como britânica. O nome é esquisito, mas talvez você se lembre dela de "Jerry Maguire" e, argh, "Eu, Eu Mesmo e Irene". E dizem que ela brilha em "Enfermeira Betty", mas desconfio que este nunca chegará até aqui. É claro que todas as entrevistas da Renée giram em torno do peso que ela ganhou pro personagem. E que não foi tanto assim, só uns 7 quilos. De lá pra cá, ela já emagreceu uns 13, só pra garantir. Tá uma vara. Bom, cachorro gosta de osso, né? Às vezes, parece que o maior pecado que alguém pode cometer não é ser gordo. É ser gorda.
Mas tudo bem, caro diário. Graças à "Bridget Jones", hoje dormirei aliviada sabendo que o Colin ainda está vivo e que existe mercado para as cheinhas – e que mercado!

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