“Capote”, o filme, pra mim também deixa a desejar. Conheço bastante gente que amou o drama, inclusive os críticos americanos, que o elegeram um dos bambambãs do ano passado. Mas, não sei, não me acrescentou nada. A trama se resume a uma frase – Truman Capote foi um escritor famoso que nunca mais se recuperou após criar seu mais notório romance. Se bem que comparado às produções médias de Hollywood, “Capote” implora pra ser visto. Certamente é uma história inteligente, só que a maior tensão da trama – a diferença gritante entre o interior dos EUA e a metrópole – poderia ser melhor explorada. Agora, lógico que o oscarizado Philip Seymour Hoffman tá perfeito, mas ele tá sempre maravilhoso, vide “O Talentoso Ripley” e “Missão Impossível 3”. É um tremendo ator. Só que ouso dizer que um papel como Capote não é tão difícil. Basta imitar um sujeito cheio de maneirismos, o que, convenhamos, não é tarefa árdua pra um ator.
O mais interessante nisso tudo é analisar a responsabilidade do jornalista. Capote não apenas narrou os acontecimentos, como também interferiu no processo, arranjando advogados pros assassinos e, depois, torcendo pra que eles fossem executados logo. Mas o que ele fez parece fichinha se a gente pensar no que aprontou o Caco Barcellos. Segundo Katia Lund, co-diretora de “Cidade de Deus”, o célebre repórter da Globo escreveu “Abusado”, sobre o traficante Marcinho VP, e não o deixou ler o livro antes de publicado. Pior, como o livro está narrado em primeira pessoa, fica a impressão que Marcinho entregou todos seus ex-comparsas. Pra se vingarem por algo que ele não cometeu, os presos mataram o traficante na cadeia em 2003. Hmm... E aí, a vida de um biografado pertence ao próprio ou ao escritor que a põe num livro? É uma questão polêmica, mas que Caco não sai bem na foto, não sai mesmo. E nem Capote.
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