Após minha lista dos nove melhores filmes da década de 90, seguida pela lista das menções honrosas, chega a vez das menções horrorosas. Ou seja, as piores produções faladas em inglês desta década que não deixou saudades. São muitas, e por isso decidi agrupá-las em categorias. Se antes ofendi alguém por omissão, agora certamente serei ofensiva por inclusão. Escandalosamente ofensiva.
Prepare-se.Categoria "Fé demais não cheira bem":
"Ghost – Do Outro Lado da Vida" (90) e "Amor Além da Vida" (98)
Devem haver outros representantes esquecidos nesta categoria que prega que a maior paixão é aquela que já morreu. Faz sentido. Idealizamos os que passaram desta para melhor, inclusive os políticos. Até o Serjão e o filho do ACM viraram santos. Por que esperar que o fogo ardente se apague e que tudo acabe num divórcio litigioso se podemos amar nosso parceiro platonicamente pelo resto de nossa existência (e além)? É bem isso que fazem esses filmecos, abusando sempre do moralismo, do melodrama, do açúcar e da nossa boa fé.Categoria "Spielberg já foi melhor":
"Ghost – Do Outro Lado da Vida" (90) e "Amor Além da Vida" (98)
Devem haver outros representantes esquecidos nesta categoria que prega que a maior paixão é aquela que já morreu. Faz sentido. Idealizamos os que passaram desta para melhor, inclusive os políticos. Até o Serjão e o filho do ACM viraram santos. Por que esperar que o fogo ardente se apague e que tudo acabe num divórcio litigioso se podemos amar nosso parceiro platonicamente pelo resto de nossa existência (e além)? É bem isso que fazem esses filmecos, abusando sempre do moralismo, do melodrama, do açúcar e da nossa boa fé.Categoria "Spielberg já foi melhor":
"Hook, A Volta do Capitão Gancho" (91) e "Amistad" (97). Eu sempre preferi o Spielberg infantilóide e hiperativo... até ver "Hook". Nos 90, ele enfim ganhou o Oscar, com "A Lista de Schindler" e os brilhantes 20 minutos de "O Resgate do Soldado Ryan", mas manteve-se longe do encanto de "ET" e "Caçadores da Arca Perdida". "Amistad" traz o politicamente correto Spielberg anti-escravidão neste que tem de ser seu pior filme até hoje. O tema é nobre; a realização não. "Hook" ele fez mesmo pra ganhar dinheiro e pra assumir de umavez por todas seu lado Peter Pan. Não precisava. A gente já desconfiava.
Quando a crítica americana Pauline Kael anunciou sua aposentadoria, alguém quis saber qual a maior vantagem de seu retiro. A crítica, já velhinha mas não senil, disparou: "é nunca mais ter de assistir a um filme do Oliver Stone". De fato, o Stone é dose. Tento evitá-lo o máximo possível. "JFK" não é um filme. É uma tese de mestrado onde Stone trata de convencer o mundo que uma enorme conspiração matou seu adorável presidente. "Reviravolta" é menos ambicioso, mas nem por isso menos pior. "Assassinos por Natureza" (94) não é tão ruim. Sobre os outros que Stone filmou nesta década, posso dizer orgulhosamente que não os vi.
Adendo: cinco anos depois de escrever isso, revi JFK. Agora sou fã do filme.
Fui quase apedrejada em praça pública ao escrever que a comédia dramática do Benigni era uma bomba. Me chamaram de ufanista, disseram que eu estava injustamente torcendo por "Central do Brasil". Pois bem. O italiano ganhou o Oscar de melhor ator na época e fez aquele teatrinho de subir nas cadeiras e discursar em inglês macarrônico. Se o filme não houvesse caído no esquecimento, Hollywood estaria corando de vergonha até agora. Um jornalista disse que a Academia, após perceber a besteira que havia cometido, se portou como a amante que se espanta ao notar com quem fora pra cama na noite anterior, quando estava embriagada. Hollywood não quer ver o Benigni nem pintado.Uma categoria dedicada àqueles que não desviam o olhar do próprio umbigo e fazem filmes para se auto homenagearem. É o caso de "O Espelho tem duas faces" (96), onde Barbra Streisand assume que se ama de paixão; e "O Guarda-Costas"(92), que também leva a honra de conter o pior penteado dos 90, com Kevin Costner e Whitney Houston subindo às estrelas (depois, no auge do amor próprio, Costner filmou "O Mensageiro". Eu não vi, graças a Deus, mas me contaram que ele chega a declarar "I love my ass" – algo como "amo meu traseiro" ou "amo meu asno", dependendo da interpretação). "Psicose" (98), a refilmagem de Gus Van Sant para o clássico de Hitchcock, é outra egotrip. E "Showgirls" (95), amplamente reconhecido como a ruindade da década, exibe a vaidade suprema do diretor Verhoeven e seu roteirista Eszterhas. Riu-se bastante desta brava gente. Pelo menos eles tornaram os anos 90 mais divertidos, apesar de mais sofríveis.
Categoria "Quanto mais idiota melhor"
Pra quem gosta de profundidade filosófica do tipo "a vida é como uma caixa de chocolates. Você nunca sabe o que vai encontrar dentro", "Forrest Gump, O Contador de Histórias" (94) é um prato cheio. Nunca vou me esquecer de quando fui ver este drama vencedor do Oscar, e a sessão estava lotada de escoteiros e bandeirantes. É a espécie de filme feito sob encomenda pra eles. E pro público americano, que se identificou de corpo e alma com um homem de QI negativo. Tudo em "Forrest Gump" é mastigadinho, explicado e repetido dez mil vezes para que ninguém se perca. Se existisse uma "história dos EUA for dummies", este seria o volume um.Quando a crítica americana Pauline Kael anunciou sua aposentadoria, alguém quis saber qual a maior vantagem de seu retiro. A crítica, já velhinha mas não senil, disparou: "é nunca mais ter de assistir a um filme do Oliver Stone". De fato, o Stone é dose. Tento evitá-lo o máximo possível. "JFK" não é um filme. É uma tese de mestrado onde Stone trata de convencer o mundo que uma enorme conspiração matou seu adorável presidente. "Reviravolta" é menos ambicioso, mas nem por isso menos pior. "Assassinos por Natureza" (94) não é tão ruim. Sobre os outros que Stone filmou nesta década, posso dizer orgulhosamente que não os vi.
Adendo: cinco anos depois de escrever isso, revi JFK. Agora sou fã do filme.
Fui quase apedrejada em praça pública ao escrever que a comédia dramática do Benigni era uma bomba. Me chamaram de ufanista, disseram que eu estava injustamente torcendo por "Central do Brasil". Pois bem. O italiano ganhou o Oscar de melhor ator na época e fez aquele teatrinho de subir nas cadeiras e discursar em inglês macarrônico. Se o filme não houvesse caído no esquecimento, Hollywood estaria corando de vergonha até agora. Um jornalista disse que a Academia, após perceber a besteira que havia cometido, se portou como a amante que se espanta ao notar com quem fora pra cama na noite anterior, quando estava embriagada. Hollywood não quer ver o Benigni nem pintado.Uma categoria dedicada àqueles que não desviam o olhar do próprio umbigo e fazem filmes para se auto homenagearem. É o caso de "O Espelho tem duas faces" (96), onde Barbra Streisand assume que se ama de paixão; e "O Guarda-Costas"(92), que também leva a honra de conter o pior penteado dos 90, com Kevin Costner e Whitney Houston subindo às estrelas (depois, no auge do amor próprio, Costner filmou "O Mensageiro". Eu não vi, graças a Deus, mas me contaram que ele chega a declarar "I love my ass" – algo como "amo meu traseiro" ou "amo meu asno", dependendo da interpretação). "Psicose" (98), a refilmagem de Gus Van Sant para o clássico de Hitchcock, é outra egotrip. E "Showgirls" (95), amplamente reconhecido como a ruindade da década, exibe a vaidade suprema do diretor Verhoeven e seu roteirista Eszterhas. Riu-se bastante desta brava gente. Pelo menos eles tornaram os anos 90 mais divertidos, apesar de mais sofríveis.
Categoria "Decifra-me ou Devoro-te":
Há quem adore estes filmes de arte ultrapretensiosos. Eu, felizmente, não sou uma dessas vítimas. Gosto do Cronenberg dos anos 80, mas não me divirto vendo gente entediada transando nos escombros de um acidente de trânsito, como ocorre em "Crash – Estranhos Prazeres" (96; foto) (prefira "Christine, O Carro Assassino", esta sim uma boa discussão sobre o relacionamento sexual entre homem-máquina), ou encarando uma barata gigante imitando máquina de escrever em "Almoço Nu" (91). Tampouco me tornei uma pessoa melhor por ter suportado "Além da Linha Vermelha" (98) sem roncar. O mesmo não ocorreu em "A Última Loucura do Rei George" (94) – neste eu dormi sem dó. Depois disso, evitei filmes com temas monárquicos. Nada, nem Kevin Spacey, salva "Meia-noite no Jardim do Bem e do Mal" (97), do Clint Eastwood. E nada, nem o Edward Norton, salva "Clube da Luta" (99). Aliás, não sei se este último se enquadra na categoria filmes de arte. Deve haver uma legião de psicanalistas tentando entender por que os homens amam esta queda livre. Por favor, se alguém decifrar o enigma, avisem-me.Categoria "Ueba! Vamos explodir a Casa Branca!"
É com um carinho todo especial que dedico esta categoria aos blockbusters dos anos 90, que foram mais caros, mais burros, mais barulhentos e mais fascistas do que qualquer coisa que se teve notícia anteriormente. É verdade que "Independence Day" (96), "Armageddon" (98), "Impacto Profundo" (98), "True Lies"(94) (o machismo no seu clímax), e "Godzilla" (98) fizeram o que toda a humanidade tinha vontade de fazer, que é despachar os Estados Unidos pro espaço, mas nem esta ideologia positiva compensa o sofrimento que esses filmes-catástrofes infligem a seus espectadores. Perto deles, "Anaconda" parece até simpático.É isso aí, pessoal. Espero ter ofendido todos os gostos. Numa lista destas, a gente sempre comete a injustiça de se olvidar de algum filme importante. Aguardo cartas e e-mails de ódio. Favor enviar os carros-bomba pra redação.
So falta agora explicar porque mudou de ideia sobre JFK.
ResponderExcluirNossa, esse post eh antigo...
ResponderExcluirTo me sentindo a ultima das ultimas...
Eu adoroooo um monte de filme q vc colocou na sua lista... hahahahah mas só pq eu não analiso nada do filme, as vezes eu gosto de ver filme só pelo entreterimento. Eu sento, e receeeebo! hauhauahauhaua
e tem filmes ai q eu adoro simplesmente por serem TÃO idiotas!
Mas acho q vc esqueceu da categoria dos dançantes, q foi a coisa mais anos 80 q os anos 80 produziu....
Oi, Lola.
ResponderExcluirO Vítor tem razão. Quais os motivos principais que fizeram você mudar de opinião?
Acho isso legal. Nós torcemos o nariz quando vemos pela primeira vez, e tempos mais tarde olhamos sob uma ótica diferente. É como se déssemos uma segunda chance a algo que normalmente deixaríamos para trás. E às vezes só temos a ganhar com isso.
No caso do JFK, eu sempre achei um bom filme. Aceitei o fato de contarem as coisas de maneira quase mastigada, afinal, o filme trata de um acontecimento que mudou os rumos da política americana e ainda vive na memória de muitas pessoas. Minha mãe por exemplo, sempre acompanhou desde os tempos da faculdade (anos 70) a vida dos Kennedy.
Até hoje, eu acho o filme relevante. Talvez seja mais por causa do assunto tratado, e não pelo estigma que muitos têm para com o Oliver Stone (e é incrível como ele alimenta isso nas pessoas, vide "Alexandre"). Mas devemos dar uma chance. Afinal, uma puta pesquisa histórica foi feita em cima do caso.
Bjos. Ótimo blog.
Torres.
a lista de 2000-2010 vai sair quando? heeeein?
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirBom, interessante ler sua interpretação sobre os filmes da década de 90. No entanto, qual motivo de não gostar de "A Vida é bela"?
ResponderExcluirPessoalmente, gosto bastante do filme. Apenas o final me deixou desapontado, afinal são os americanos que bancam os salvadores. Há um nítida intenção de comprar os espectadores americanos com isso.
Só postei este comentário pq fiquei muito curioso pelos seus comentários sobre a academia e as repercussões desse filme. Mas o que faltou foi a razão, em termos de conteúdo, para que vc não goste desse filme.
Victor, a Lola tem um texto só pra A Vida é Bela. É só procurar no índice que você vai entender suas razões.
ResponderExcluirNão acredito que você classificou Forrest Gump desta forma negativa... O filme é maravilhoso, e só pela apresentação da história musical americana já merecia uma crítica positiva. O filme na verdade mostra que muitos aspectos da história americana poderiam ter sido feitos por idiotas, e por acidente, mostra diversas críticas aos militares, principalmente quando o Forrest se dá super bem no exército: "Gump você deve ter um QI gigantesco!", fala o militar ao Forrest quando esse monta uma arma de forma veloz e eficiente. Bem, essa classificação de Forrest Gump dessa forma me decepcionou, o filme é um dos meus preferidos e de nenhuma forma merecia essa classificação...
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