terça-feira, 30 de novembro de 2004

CRÍTICA: OLGA / Olga, o clichê

Depois de passarem o trailer de “Olga” 572 vezes, pelos meus últimos cálculos, finalmente chega o filme em si. E o filme é uma decepção. Quer dizer, eu imaginava que o trailer era cheio de lugar-comum pra chamar público, mas supunha que o longa fosse diferente, mais complexo, mais profundo. E não é. Eu não li o best-seller do Fernando Morais, mas tudo que a gente precisa saber sobre Olga Benário tá em qualquer resenha sobre o livro ou filme: que a comunista alemã e judia se apaixonou por Luís Carlos Prestes, que ele perdeu sua virgindade com ela aos 37 anos, que ela engravidou dele, e que foi deportada por Getúlio Vargas de presente para Hitler, que a assassinou num campo de concentração. Esses são os pontos altos da vida de Olga, vamos dizer assim, e eu pensava, ingenuamente, que todo mundo soubesse deles. Aí vem o diretor Jayme Monjardim declarar que fez um filme pra quem nunca ouviu falar de Olga. Ué, o trailer até podia ser pra essa gente – se é que ela existe – mas o filme tinha a obrigação de nos dar algo mais.
Não. O drama não se cansa de mostrar tudo aquilo que a gente já conhece. E reduz o passado de dois revolucionários, Olga e Prestes, à uma mera história de amor que podia ser sobre qualquer casal. Até a minha história de amor com o maridão daria uma trama singela. Qual a vantagem de contar a trajetória de um casal de guerreiros e deixar de lado a política? O belo "Diários de Motocicleta" não nos fazia pegar em armas, mas causava uma certa nostalgia. Embora a gente não saísse do cinema querendo fazer uma revolução, a gente no mínimo saía com saudade do Che, e com tesão de ver a América Latina unida. A gente sai de "Olga" achando o quê? Ah, que o amor é lindo. E que o nazismo é mau. Eu sabia disso desde "Caçadores da Arca Perdida".
O filme comete todos os clichês pequeno-burgueses (se é que esse termo ainda vale) pra falar de uma revolucionária. Mostra um pedacinho do treinamento militar da durona Olga, antes que ela conheça Prestes, caia de amores por ele, e decida que o valor mais importante do mundo é, no fundo, a maternidade. O Vaticano ia aprovar. E tirando o sacrifício físico da Camila Morgado (perder alguns quilos, raspar a cabeça), a atriz não tá grande coisa. Ela mantém o mesmo tom de voz de discurso, ora se dirigindo a um amigo ou a um auditório lotado. Claro que, comparada à atuação da Fernanda Montenegro, a Camila merece um Oscar. Nunca pensei que algum dia eu ia desmerecer a Fernanda, mas eis a única novidade que o filme nos proporciona. Nossa grande atriz tá perdidaça na história. Dá pra notar que o roteiro aumentou o papel da mãe de Prestes pra que a Fernanda tivesse algo que fazer. Mas isso ao custo d'ela ter que ler cartas melosas pra uma menininha, ó santo Deus. Quem se sai melhor é Caco Ciocler, que faz Prestes. Fora um ou outro olhar babão que ele lança a Olga, ele ao menos cria um personagem interessante. Não sei se ele se parece com o Prestes, mas tá a cara do Ralph Fiennes.
Alguns espectadores que amaram "Olga" andam dizendo que ele é tão maravilhoso em termos de fotografia, som e cenários que... nem parece filme brasileiro. Eu não posso compartilhar de um argumento preconceituoso desses porque, afinal, acho que o cinema nacional tá indo muito bem, obrigado, inclusive na técnica. E "Olga" é o filme mais caro já produzido por aqui (8 milhões de reais, assim, uma porcentagem do que recebe o empresário do Tom Cruise), a gente espera que ele esteja no mínimo bem-feito. Mas a gente também espera mais. Pô, eu que choro em documentário sobre vida de tigrinho nem me emocionei com o filme. Houve um só momento em que verti duas ou três discretas lágrimas. Mas também, nessa hora surge uma mulher em close gritando em câmera lenta, enquanto a música enche a sala e os malditos nazistas lhe tiram o bebê. Só chorando mesmo.
Espero sinceramente que uma multidão lote os cinemas pra ver "Olga", ainda mais agora em que se discute o meio século da morte de Getúlio. Nem que seja pra essa multidão sair falando "Olha só! Os comunistas também amam!" e "Uau! Filme brasileiro pode ter padrão americano!". E como pode... Aliás, é só reparar na confusão de línguas ouvidas no filme. A Olga passa pela Rússia e Alemanha, mas todo mundo fala português. Isso é ou não é tipicamente americano, onde até os marcianos falam inglês fluente?

4 comentários:

  1. Herculano.san@gmail.com3 de maio de 2009 às 09:42

    discodo de voce, muita gente nao conhece Olga e mesmo eu que ja conhecia do livro, sei que a revoluçao nao dependeu apenas de dela e de Preste. Só acho que antes de voce falar devia tentar fazer algo melhor. Pois se é o que esta na história é o que se tem que mostrar, ou entao é melhor assistir Romeu e Julieta.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Cara não entendi o seu comentário, pois é justamente disso que ela falou,se fosse pra ser um romance fizesse um filme de Romeu e Julieta,essa historia é de cunho totalmente politico,agora o fato de muita gente não conhecer a historia é verdade infelizmente o nível de conhecimento da população brasileira é baixíssimo mas a casalzinho apaixonado eu vejo todo dia em novela o filme merecia mais mesmo.

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  4. Eu vi esse filme na escola com 13 anos, me assustei com tanta violência, achei horrível. Hoje eu ainda acho horrível, mas pq ele é absurdamente mal feito aahhha!

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