Eu sou fã número um dos Coen, “Fargo” é uma obra-prima, “Arizona Nunca Mais” quase, e até seus projetos mais comerciais, como “O Amor Custa Caro”, são agradáveis. Mas “Matadores”, sobre um grupo desastrado que assalta um cassino, certamente pertence ao lado B da filmografia deles. Cinco minutos de “Um Peixe Chamado Wanda”, em que a ex-trupe Monty Python tem que liquidar uma velhinha e acaba, sem querer, eliminando seus três yorkshires, já são infinitamente superiores a qualquer cena desta última investida dos Coen. Tom Hanks se sai bem num papel atípico, mas seu personagem de fala erudita dá nos nervos por contribuir com a enrolação. Como eu disse, eu gostei do terço final, se bem que até lá metade da platéia já tinha deixado o cinema xingando a mãe dos Coen.
O segundo filme do Festival Tom Hanks que assola o país é “O Terminal” que, apesar de não ser uma comédia deslavada, faz rir muito mais que “Matadores”. Nessa aventura do Spielberg, o Tom faz um pacato carinha de um país fictício que chega a Nova York e acaba morando no aeroporto durante meses. Ou seja, uma situação à la Capra em que o Tom encarna o James Stewart direitinho. Dizem que a trama é baseada numa história real de um iraniano que tá vivendo no Charles de Gaulle há quinze anos. Olha, eu até posso acreditar que isso aconteça na França, mas nos EUA pós-11 de setembro, com toda aquela paranóia e trogloditice com os estrangeiros?! Duvido. Todo mundo é bonzinho com o Tom, tirando o chefe de segurança interpretado pelo Stantey Tucci, que também não é má gente. E mesmo assim vem um superior dele pra recordar que os EUA são a terra da oportunidade, um país famoso pela sua, ahn, compaixão (diga isso pros iraquianos que tiveram sua nação salva, embora alguns milhares deles tenham tido que morrer no processo, mas é o preço da liberdade etc). A vida do Tom no
aeroporto é melhor que a vida na maior parte dos países subdesenvolvidos. Ele até arranja um emprego ganhando 19 dólares a hora e, de lambuja, tem um caso com a Catherine Zeta-Jones. Quer dizer, é coisa de cinema, sem a mínima semelhança com a realidade. E no entanto “Terminal” é bonitinho, e a última linha diminui um tiquinho a patriotada. O filme é o contrário de “Matadores”: aqui a peteca despenca no seu terço final, mas até lá o Tom já nos conquistou.
Não é um grande Spielberg, claro, apesar de ser mais “autoral” que seus dois últimos (e ótimos) filmes, “Minority Report” e “Prenda-me se For Capaz”. Pelo menos o diretor consegue destilar toda sua confiança na natureza humana. E quem mais adequado pra fazer um sujeito puro e simples que o Tom? Em “Matadores” ele também faz um sujeito puro e simples, só que com um vocabulário um tanto esquisito. Quando ele põe seu desempenho puro e simples no nível mais avançado a gente recebe a carga tóxica de “Forest Gump”. Mas, com exceção desses momentos difíceis na história da humanidade, o Tom é sempre bom.

Um comentário:
uai
qual seu problema com Forrest Gump?
( procurei uma resenha nas listas e não achei...)
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