Por que o público tem fascinação por gênios? Qual a função de economistas e matemáticos no mundo? Por que atores que interpretam personagens com problemas mentais são sempre favoritos ao Oscar? São questões que vêm à tona após ver “Uma Mente Brilhante”, que, se não fosse um título meio clichê, também serviria pra minha autobiografia não-autorizada. Ih, já tá parecendo que odiei o filme. Não é verdade. Espero que ele bata aquelas bombas épicas, “Senhor dos Pastéis” e “Mula Ruge”, no Oscar. Gostei muito mais de “Mente” que daqueles dois. Como assim, isso não quer dizer grande coisa? Olha, é difícil e até desagradável não gostar de “Mente”, uma produção recheadíssima de boas intenções.
O filme fala de um homem que ganhou o Nobel em 94, John Nash. Se você não cursou Economia, tá como eu: nunca ouviu falar nele. O cara enche janelas com numerinhos e descobre uma fórmula notável ao analisar possibilidades de encontros com uma loira. Ou seja, é genial, já que encontrar utilidade pra loiras não é pra qualquer um. Ele não é exatamente um sujeito sociável. Seu passatempo é analisar artigos de jornais e revistas pra decodificar mensagens cifradas dos russos. Mas ele se casa com uma bela aluna e, em seguida, é internado para curar sua esquizofrenia. Ou, se você quiser sentir o drama por outro lado, imagine que o garotinho de “Sexto Sentido” cresceu, dá aula em Princeton, tem talento pra códigos, e continua vendo pessoas mortas. É quase isso.
“Mente” é bonitinho, tem algum humor, e traz um bom ritmo. Porém, é também convencional, como, aliás, todos os filmes do Ron Howard (apesar de eu adorar “Parenthood – O Tiro que não Saiu pela Culatra”, e, menos, “Apollo 13”). E o final é simplesmente horrendo, com direito à musiquinha com coro e tudo. Eles precisam até apelar pra uma legenda informativa. Agora, tem algo de errado em realizar uma cinebiografia de um premiado com o Nobel e a gente sair da sala sem saber no que ele ganhou. Economia? Matemática? Decoração de janelas? Se te perguntarem, desconverse. Mude de assunto. Sugestão: “O Nobel? Ahn, uhm, pena que a Lady Di tenha morrido antes de receber o dela da Paz, né?”. “Mente” não mostra nada pra gente acreditar que John Nash é um crânio. Em compensação, mostra bastante pra gente saber que ele é esquizo. A não ser que a “matemática for dummies” passada no filme te impressione, como fez com a moça sentada atrás de mim. Era só aparecer um quadro repleto de rabiscos incompreensíveis pra ela exclamar: “Nossa!”. Surgia mais uma equação e a moça: “Oh!”. O que é isso, trauma das aulas de matemática na escola?
Em alguns pontos, “O Grande Mentecapto” também é um épico. Cobre décadas da história de um homem que, aparentemente, na vida real, teve momentos mais descontraídos. Ele era bissexual, e sua mulher tão fiel no filme manteve distância dele durante uns 40 anos, o que não vem ao caso. A trama começa em 1947 e termina em 94, mas o início da complicação chega em 78. A maquiagem do Russell Crowe é bárbara, de dar inveja ao Murilo Benício em “O Clone”. Mas sua esposa, interpretada pela linda Jennifer Connelly (“Réquiem para um Sonho”, “Labirinto”) não acompanha o processo. Como mulher bonita não envelhece no cinema, a madame Nash, no fim, parece a bisneta do Russell. Só que com peruca grisalha, o que me remeteu ao penteado da mãe em “Psicose”.
Falando no Russell, ele está cotadíssimo pra levar seu segundo Oscar consecutivo, já que, em “Rainman Nobel”, ele faz uma pessoa com distúrbios mentais e penteados esquisitos. E faz muito bem, diga-se de passagem. Internação em asilo psiquiátrico é meio caminho andado pra receber a premiação. Terapia de choque, então, e o Russell já tá quase com a mão na estatueta. Ele deve estar se visualizando na noite da cerimônia. Russell faz discurso. Aparece o verdadeiro Nash. Público aplaude de pé. Nash toca o piano e... Não, não, esse foi outro, o de “Shine”. Às vezes, não te dá a impressão que Hollywood está virando um grande show de aberrações?
Esse filme foi maravilhoso para mostrar como é o mundo de uma pessoa com esquizofrenia... Doença dificil e desgastante ... Adorei o filme.
ResponderExcluirForte abraço...
Lolinha, tô passada com seu comentário "arrumar uma utilidade pra loiras", isso foi ironia ou em um passado não tão distante a senhora contribuía para a propagação de estereótipos machistas e azedos? Eu choro com essas suas críticas antigas, viu? Vc falando mal da Angelina Jolie pq ela era sex symbol tb está no hall dos meus favoritos... e hj vc a elogia pela coragem de arrancar os peitos para prevenir um câncer. Como o mundo dá voltas né? Graças a Deus. Espero tb q vc tenha descoberto a utilidade da matemática e da física nesse meio tempo. Abraços.
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